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A escola

Cerca de quinze anos antes...

Que estranha esta disposição das carteiras... Umas atrás das outras, formando fileiras perfeitamente alinhadas. Porque as crianças são ensinadas assim? De um jeito tão frio, tão... Mecânico.

É uma experiência nova para mim, que fui educado em casa. Meus pais foram os únicos professores que conheci. Eles não queriam me matricular na escola, mas se viram obrigados pelo Estado. Caso continuassem recusando, acabariam por perder a minha guarda. Eles estão muito nervosos diante desta possibilidade.

Eu já conhecia a função social da escola por causa de exemplos que eu assistia nos antigos filmes e programas de televisão, e também por causa dos meus pais. Eles faziam questão de me explicar tudo que achassem pertinente à minha formação. Só que para o Estado, a formação vincula–se diretamente à passagem pela escola. Meus pais discordam, mas o Estado exige. Quem vence?

Pois é.

O que será que o Estado pretende quando colocam os alunos em fileiras? Fazem isso para que os alunos não interajam? Para que só prestemos atenção aos professores? Não entendo... Meus pais me disseram que o aprendizado reside na interação humana. Na troca de experiências. Eles também disseram que existe uma diferença entre ser sábio e meramente reproduzir informações. Se não conversamos, não trocamos ideias, o que nos tornamos? Robôs? Receptáculos para um amontoado de informações inúteis, entre verdadeiras e falsas, que não sabemos como processar, nem articular com o cotidiano?

Meus pais são muito críticos sobre a convivência em sociedade. A bem da verdade, eles "nadam contra a maré", como costumava dizer o meu falecido vovô.

Quando soa o sinal, os garotos mais quietos são encaminhados às primeiras carteiras; e os mais agitados, ocupam as últimas. Como eles podem saber quem é obediente e quem, não é? De repente, eu me vejo diante das carteiras intermediárias. Deduzo que me consideram nem uma coisa, nem outra. Dou de ombros e me acomodo – meus olhos passeiam distraidamente ao redor.

O professor entra na sala. Não há agitação, apenas um silêncio desconfortável de norte a sul da sala – do tipo assustado ao invés de respeitoso.

Voltando ao assunto da disposição das carteiras, outra coisa que estranhei: as câmeras de vigilância no alto das paredes. Ocorre–me que os dois aparelhos estão se movendo como que acompanhando o professor. Ele aparentemente caminha despreocupado até a mesa de trabalho, no entanto, sinto que não é um andar natural... Ele parece rígido. Deduzo que um grupo de "seres misteriosos" esteja assistindo a aula de algum ponto remoto. Será que foi sobre isso que o papai quis me prevenir, logo cedo? Ele me preveniu pra tanta coisa que eu fiquei imaginando se a escola não era uma selva perigosa onde eu corria o risco de ser devorado. Ele me deu o seguinte conselho, antes que eu deixasse a nossa habitação, no quinto nível: "Tome cuidado com o que fala e com o que faz, pois há sempre alguém de olho".

O professor pigarreia, chamando a atenção para si. Ergo meus olhos para ele e espero. Ele abre a boca para falar, mas não mexe os lábios. As palavras saem num som distorcido.

–A primeira coisa que precisam entender é que devem desconfiar dos que estão próximos a vocês. Ninguém é confiável.

Pisco duas vezes, chocado. Uma rápida troca de olhares entre os alunos me faz compreender que não ouvi errado. E que não fui o único a me espantar. Um garoto ruivo e sardento levanta sugestivamente as sobrancelhas para mim, numa tentativa de fazer contato. Nesse instante, a câmera sobre o quadro se move em nossa direção. Eu fico petrificado, com medo de fazer qualquer coisa além de respirar. Ou até mesmo respirar...

Meu pai costumava dizer que a escola não havia mudado, embora a sociedade, como um todo, estivesse bem diferente de quando as carteiras foram enfileiradas pela primeira vez... E quando teria sido isso? Na Idade Média? Na Idade Moderna? Deve ter sido bem antes da Idade Contemporânea, ou da Idade Caótica... Aquela que levou à construção dos níveis.

Acho que vou ter de perguntar ao papai. De todo modo, tá na cara que a escola não atende aos propósitos que ele chama de "elevados".

Depois de ver as câmeras, começo a entender porque as carteiras continuam dispostas umas atrás das outras, mesmo após tantos séculos. Há uma função niveladora e controladora que, creio eu, mantém–se a mesma. Meu pai costumava falar sobre isso com mamãe, depois de acionar um aparelhinho parecido com um dispositivo de holopendrive. O aparelhinho permitia que conversassem livremente – sem que "a gente invisível" ouvisse a conversa. Eu comecei a chamá–los de fantasmas, porque nunca via a cara deles.

Papai dizia que eles viviam no Nível Sete.

–––

Olho distraidamente para a porta e vejo uma garotinha com cabelos cacheados, indecisa, parada na entrada. Ela está segurando um papel amassado. O professor suspira, pega o papel e empurra a garotinha para dentro com um gesto leve, enquanto continua falando:

–Estamos numa das torres do céu, o sétimo e último nível – diz o professor, como introdução à aula.

A garotinha passa por mim, e nossos olhos se encontram. Os dela são castanhos, com uma estranha volta amarela em torno das írises. São olhos bonitos! Ela também me avalia por um segundo, antes de baixar o exame para a minha roupa. Quando vê o emblema que diz o nível ao qual pertenço, ela faz uma careta e desvia o olhar. O professor chama a sua atenção:

–Lia, sua carteira fica do outro lado.

Não entendo a animosidade dela. Afinal, o seu emblema diz que também é do Nível Cinco. Mas ela claramente não vive com a gente. A qualidade das roupas mostra isso.

– Entre vocês, há aqueles que vêm do quinto ou do sexto nível – diz o professor. – Alunos do quarto nível para baixo não passam pela barreira de contenção. Eles recebem apostilas... Poucos são agraciados com a oportunidade de frequentar uma escola – ele caminha por entre as fileiras, antes de prosseguir: – Os alunos que vêm do quinto e do sexto níveis deverão ter cuidado durante o transporte até aqui. Vocês utilizarão o trem comum até os tubos de sucção dos metrôs verticais, que os conduzirão às torres de acesso ao Nível Sete.

Reflito sobre o que ele diz. Eu vivo com minha família no Nível Cinco, conhecido como o andar da contenção. A maioria das pessoas prefere chamar de barreira. De acordo com papai, significa barreira da miséria, da escassez e da superpopulação. Abaixo do Nível Cinco, existem os níveis que papai costuma chamar de infernais.

Na versão oficial do Estado, apresentada pelo nosso professor, o Nível Cinco faz a contenção dos maus elementos e, também, das condições climáticas violentas que assolam os quatro níveis inferiores de nosso planeta. Eu não sabia disso, até que meu pai me levou para conhecer o fosso... Um dos fossos.

É gigantesco.

Cada nível tem uma entrada para um deles, que é o vão entre as maciças placas de aço concretado que sustentam os patamares. Uma vez um grupo de rebeldes tentou explodir uma das placas para ter acesso ao nosso nível. Houve um terremoto medonho. Muitas rachaduras para consertar. O exército desceu pelos fossos e de lá para cá, tudo voltou a ficar em paz. Mas paz, na linguagem do Estado, era não ver o inferno queimar. O que não impedia que ele queimasse.

Os fossos estão localizados em todas as junções entre os níveis que recobrem a superfície inteira do planeta; só se interrompendo diante do mar. São áreas proibidas aos civis. Mesmo assim, dizem que acidentes acontecem com frequência. Pessoas despencam, cometem suicídio, são eventualmente empurradas por causa de algum acerto de contas macabro, entre outras coisas.

Na verdade, o planeta foi construído e reconstruído milhares de vezes sobre diferentes patamares com aço e ligas titânicas até chegar ao desenho atual. Até alcançar o nível sete, onde vivem os ricos. Papai dizia que os níveis foram iniciativas dos milionários de deixar para trás (ou para baixo, cada vez mais para baixo) o caos da superpopulação, dos congestionamentos ocasionados pela péssima mobilidade urbana, das manifestações climáticas, e do ataque dos menos favorecidos que também queriam conforto e segurança. Mas não há conforto, comida e segurança para todos. Só para quem pode pagar por eles. Ao longo dos séculos, por meio das grandes corporações, as pessoas decidiram se proteger da convulsão urbana dos grandes centros, da violência incontrolável, da paralisia provocada por uma sociedade saturada. Já não bastava viver em condomínios de luxo fechados, com todas as comodidades dentro. Nem alugar helicópteros para se deslocar com facilidade. Mesmo com dinheiro na mão, era impossível se esquivar completamente dos desastres que a exploração humana sem consciência vinha provocando... Os esgotos explodindo. Os terroristas tomando conta. As pessoas querendo uma pequena parcela do conforto que os ricos detinham; como a água que eles consumiam, abundante e limpa de venenos; os legumes e as frutas sem agrotóxicos; a carne macia e temperada; as roupas e os sapatos duráveis, bonitos e confortáveis... Já não havia mais nada disso disponível para todo mundo. E não ficava bem que os ricos ostentassem diante dos miseráveis que se acumulavam em suas portas. Por essas e outras razões, os ricos foram se mudando cada vez mais para cima, na medida em que os níveis ficavam prontos, deixando abaixo deles a superpopulação, os congestionamentos, o excesso de lixo, e a miséria.

Certa vez, perguntei aos meus pais por que os níveis são sete. Por que não oito, ou seis? Eles não explicaram a razão de sete níveis, mas explicaram que, na metade do século vinte e um, a população do mundo aumentou tanto, que as pessoas já não conseguiam circular livremente. Houve um apagão dos transportes, seguido de um apagão de energia. A ambição da indústria que monopolizava a energia mergulhou o planeta na "década das trevas". Foram dez anos sem conseguir se comunicar, sacar dinheiro, locomover–se, e o ser humano redescobriu os seus antigos instintos de caça. A terra ficou um lugar bem complicado de se viver.

Meu pai me diz que eu deveria anotar tudo o que o professor nos conta e trazer para ele me explicar... Mas explicar o quê? Se tudo isso foi verdade, ou não, é o papel do professor responder. Não é? Bom, meu pai diz que não.

–Vocês, que não são do nível sete, deverão circular de trem e de metrôs verticais até os limites de "extração", situados no Nível Seis – continua explicando o professor, tirando–me do meu devaneio. – Alguns vão conseguir chegar à escola... – ele lança um olhar pesaroso aos alunos. – Espero que todos... Não podemos garantir a segurança de vocês, apenas dos alunos que já residem no Nível Sete.

Como se tivessem ensaiado, alguns garotos e garotas olham para trás com um quê de superioridade, inclusive a garotinha de olhos bonitos; o que me faz deduzir que todos, mesmo ela, sejam moradores privilegiados do Nível Sete. Bom, eles vestem roupas de qualidade e limpas – uma raridade nos níveis inferiores. O engraçado é que as roupas de qualidade são fabricadas nos níveis inferiores.

Ah, então, os lugares nas carteiras foram designados de acordo com os níveis, e não de acordo com os comportamentos. Estou no meio, porque vivo no limite do... aceitável.

–Os trens horizontais dos níveis cinco e seis atravessam os quarteirões marcados pelos fossos até os metrôs verticais, que intersectam os três últimos níveis, do quinto ao sétimo. – O professor faz uma pausa, como se estivesse pensando em como dizer as palavras fatídicas: – Lamento informar, para quem depende do metrô vertical, que não é uma viagem fácil, nem confortável.

Esqueço por um instante que devo manter minha expressão sempre neutra, por causa das câmeras. Minhas sobrancelhas se arqueiam diante da obviedade da informação. Ele está querendo dizer que os vagões estão sempre superlotados? Bom, disso, já sabemos. Viemos num deles. Os administradores não permitem que muitos veículos circulem nos níveis superiores, devido à Segurança Nacional. Por isso, os horários de circulação são escassos. Eu mesmo já experimentei a viagem de metrô vertical naquela manhã. Foi barra pesada. As pessoas praticamente ficam empilhadas umas sobre as outras; não dá nem para respirar mais fundo sem correr o risco de empurrar quem que está a sua frente, ou atrás de você. E as pessoas são muito revoltadas. São capazes de matar por causa de um pisão no pé.

Logo de cara, percebi que a maioria dos usuários do trem e do metrô vertical é mal humorada. E com razão, creio eu. Não dá para ficar bem disposto tendo que utilizar o transporte coletivo.

–Vocês não podem se mover, dentro do vagão – o professor ecoa os meus pensamentos. – E, por conseguinte, não podem impedir que mãos treinadas roubem o conteúdo de suas mochilas.

Aquilo é pra ser um alerta? Soa mais como pessimismo puro. E ele ainda nem terminou...

–Ao contrário de impedir os salteadores dos metrôs verticais, vocês vão assisti–los roubarem suas coisas sem nada poderem fazer a respeito. Por isso, aconselho aos alunos que estiverem em melhor condição financeira que implantem os chips cerebrais, para não terem que carregar aparelhos passíveis de serem levados, como: iapphones, multismartphone, Hiperipods e Hiperipads, ou quaisquer dispositivos cujos componentes tenham valor no mercado negro de peças. Só os moradores do Nível Sete podem ter esses eletrônicos, porque não correm riscos aqui em cima.

Ele aponta sua vareta de hologramas para o ar e mostra um dispositivo pequeno demais para se visualizar, ao lado de uma cabeça humana normal. Ele amplia a imagem com zoom de mil por cento e o objeto gira no ar diante de nossos olhos assombrados.

–Os chips cerebrais são feitos em design nano tecnológico; carregam todas as funções desses aparelhos, dependendo apenas do poder aquisitivo de seus pais... Inclusive um GPS. Podem ser implantados pelo neurologista da escola, se tiverem interesse. Mas, é altamente recomendável que vocês dos níveis abaixo do sétimo, façam o procedimento. Não aceitaremos desculpas do tipo: "Roubaram meu Hiperipad com o dever de casa". A nota será dada, doa a quem doer.

Acho que estou tendo uma vertigem. Não quero colocar nada dentro do meu corpo. E meus pais também não querem. Eles me disseram que era para telefonar imediatamente, se tentassem me forçar a fazer qualquer coisa do tipo. E agora? O que eu faço?

–Quanto àqueles que não puderem, ou não quiserem os implantes cerebrais – o professor continua, num tom persuasivo – podem carregar os minis exoesqueletos de plástico descartáveis. São infinitamente mais baratos, e se forem roubados, pelo menos têm como repô–los.

–––

1 - Nota de rodapé: Evoluções dos dispositivos utilizados atualmente, como ipads, ipods, iphones. Os iapphones – Inteligência Artificial Portátil modo telefone. Multismartphones são smarts com mais de um sistema e múltiplas interfaces, um pouco abaixo dos iapphones. Hiperipods e hiperipads não tem iniciativa amigável, mas capacidade de memória compatível com os demais dispositivos, como se fossem super HDs externos.        

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