Jun

Los Angeles, América
21 de Abril de 2030

...

Hoje é Páscoa. O dia do Senhor.

Meu irmão deve estar na Europa com meu sobrinho. Espero que eles estejam bem.

Eu queria passar um tempo com minha família. Com meu irmão. Meu sobrinho. Minha cunhada. Meus sócios e amigos de confiança. Mas estou aqui, em Los Angeles novamente, cuidando do último vestígio de mau que ainda existe.

Alguém que não valoriza o laço de irmandade. Alguém que não sabe o que significa ter um irmão. Alguém que se perdeu e não se encontrou.

Caim.

O irmão que matou Abel.

Estive rastreando esse verme por um tempo, e hoje ele está na minha frente.

Foram semanas e semanas seguindo pistas, lendo jornais, conversando com fontes confiáveis e pegando casos. Sua forma humana é ainda mais discreta.

Assassinato e crimes contra a família***

Caim se escondeu por séculos dos caçadores de demônios. Depois que ele matou Abel, ele passou a cometer diversos crimes. Matando pais, matando mães. Matando irmãos de sangue e, curiosamente, matando amigos que se consideram irmãos. Tudo pra provar sua sádica teoria de que família não faz sentido.

Ao me ver, ele não foi nada receptivo. Claro, sou encrenqueiro e encontrei um outro encrenqueiro nato.

Depois de muito embate, Caim diz, aflito:
— Você, mais do que ninguém, deveria me entender.

Dou risada, provocando ainda mais:
— Sei que não gostava do seu irmão. Eu também acho meu irmão um chatão...

Aponto as pistolas Ebony & Ivory bem na fuça dele. Brinco:
— ...mas não significa que você pode sair por aí matando quem não gosta.

Caim dá uma risada, dizendo:
— Sua fé em querer unificar as pessoas é ridícula. Cada um é diferente e todos lutam por interesses particulares.

Dou vários disparos, interrompendo a conversa fiada. Caim então, com sua incrível velocidade, já corre e aparece bem atrás de mim. Fico meio chocado, pois se ele é capaz de fazer isso então sinto que um embate físico seria complicado. Mal percebi ele correndo.

Caim provoca ainda mais, dando uma pista do quão ele conhece minha história:
— Você, no fundo, concorda comigo.

Faço uma expressão de raiva e indignação. Retruco, com força nas palavras:
— Todos somos irmãos em Cristo. E não precisa ter laço de sangue pra ser irmão.

Caim claramente tem um ódio de seu pai Adão, porque Adão afastou o homem de Deus. É um trauma de infância, tendo em vista que Adão e Eva viveram no paraíso com a melhor qualidade de vida que Deus tinha pra oferecer no Jardim do Éden.

Se eu fosse deixar de amar meu pai porque tive problemas na família, eu estaria descumprindo um mandamento. Não é justo julgar meu pai, ou julgar Adão, nosso progenitor. A família é o presente de Deus, e Deus é pai de todos os pais. O sacrifício de Cristo torna outros sacrifícios desnecessários.

Caim sorri, claramente não levando a sério minhas filosofias. Dou um sorriso de volta, pronto para um embate físico.

Giro 180° graus para trás, com minha grande espada Devil Sword Dante. Caim usa suas correntes de areia para acompanhar meus cortes.

Um livro com a letra V cai no chão. Tenho um pressentimento de que esse livro é interessante.

O telefone começa a tocar. É uma cabine ao lado da calçada. Acho inusitado, mas tenho um pressentimento de que essa ligação seria pra mim.

Quem será?

Dou um sorriso. O universo me presenteou várias coincidências de uma vez.

Preciso acabar com essa brincadeira logo.