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Capítulo Único

Mano, eu devia ter postado isso há uma semana atrás, mas só me toquei agora que eu salvei em rascunhos ao invés de publicar KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Por isso, um Feliz Natal atrasado com esse meu errinho ;)

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Robin mais uma vez se perguntou como tinha concordado com aquilo. Não parecia nada demais, era uma atitude legal de se fazer e não só ele como o resto dos Titãs também estavam animados – talvez não a Ravena, mas isso não era novidade. Mas em um piscar de olhos, aquilo virou uma confusão.

- Hã, Estelar? – ele perguntou, sentindo uma gota de suor frio descer por sua espinha – O que é isso?

O sorriso da alienígena só aumentou conforme ela levantava novamente o uniforme vermelho e fofo com pelos brancos. A animação dela seria contagiante se ele não estivesse tão confuso e receoso.

- O uniforme que o senhor prefeito entregou com o seu nome. Se eu não me engano, o nome é Papai Noel. Você sabe, aquele ladrão invertido que ao invés de roubar entrega presentes e adora biscoitos. O que anda com os animais voadores.

- É, Star, eu sei quem é o Papai Noel, mas eu não entendi porque você quer que eu use isso. Eu achei que nós só ajudaríamos com alguns preparativos. Por que usar a fantasia?

- O amigo Cyborg não te contou? – ela franziu as sobrancelhas – Recebemos uma carta do senhor prefeito. Nós seremos, hã... – tentou se lembrar – A atração. Nossos amigos e eu seremos os duendes que farão e embrulharão os presentes e você será o denominado Papai Noel para as crianças. – Estelar pegou um papel de dentro do bolso do casaco da fantasia e o entregou para Robin – Aqui estão suas instruções. É bom nos vestirmos logo, temos pouco tempo até começarmos a alegria natalina! – exclamou radiante

Estelar empurrou a fantasia de Papai Noel nos braços de um Robin atordoado e deu um rápido selinho nele, pronta para ir por sua própria fantasia de duende, mas antes que pudesse voar até a porta, uma pequena explosão arremessou um certo metamorfo para dentro da sala. O garoto verde derrapou pelo chão e só parou quando bateu com as costas na parte de trás do sofá. Ele gemeu com os olhos vesgos.

- Cara, essa realmente doeu. – gemeu

Robin deixou a fantasia no balcão e foi ao lado dele com Estelar, ajudando Mutano a se levantar

- O que você fez dessa vez? – Robin perguntou

Mutano abriu a boca ofendido.

- Por que acha que eu fiz alguma coisa?

Antes que pudesse responder mais alguma coisa, Cyborg entrou na sala com uma pequena corrida e fechou as portas automáticas com um comando no braço. Ele apontou para a porta e balançou a cabeça negativamente.

- A Ravena não é muito fã da roupa de elfo não. – anunciou

- Não é elfo, Cyb. É duende! Eu já falei um milhão de vezes!

- Duende, elfo, gnomo, tanto faz. São os seres baixinhos e estranhos como você, não importa o nome.

Estelar suspirou. Pegou a roupa de Papai Noel e a jogou de novo nos braços de Robin. Voou para o outro lado da sala e pegou um caixa com os nomes Mutano/Cyborg, deixando-as na frente dos meninos.

- Vocês três – apontou de forma acusatória para eles – Vistam as fantasias. Temos 20 minutos para chegar ao shopping antes que ele se abra.

- Acho que a Ravena deixou bem claro que não tá interessada em encarnar o papel, Estelar. – Mutano disse

- Confiem em mim, encontramos vocês no carro em dez minutos.

E voou da sala, deixando um Robin receoso com o próprio personagem e Cyborg e Mutano brigando para quem ficaria com o gorro decorado com doces.



- Eu não vou usar isso. – Ravena declarou teimosa, se sentando de pernas cruzadas na cama – E você não vai me obrigar.

Estelar a ignorou inicialmente, admirando sua figura na fantasia fofa de duende no espelho.

Um vestido verde com botões de doces, gola vermelha bordada em dourado, uma saia que chegava pouco acima dos joelhos terminando em vermelho escuro e um cinto preto de couro largo na cintura. Um gorro curvado e pontudo em vermelho e verde na cabeça, acalmando alguns fios ruivos rebeldes. Meia calça listrada em vermelho e branco e, para completar, sapatos pretos estilo boneca.

Estelar sorriu para a imagem no espelho. Era realmente uma fantasia muito fofa e estava animada para o dia que viria. Um dia inteiro dando brinquedos aos pequenos bungorfs em uma época tão feliz.

Eles foram convidados pelo prefeito de Jump City a serem a atração de Natal naquele ano, já que estavam fazendo mais sucesso do que nunca depois de derrotarem a Irmandade do Mal 5 meses atrás e de sua aventura em Tóquio há 2 meses. As crianças tinham se tornado mais fanáticas, os adolescentes mais eufóricos e até o público adulto tinha passado a ver eles mais do que um bando de adolescentes com poderes.

E para retribuir o aumento de carinho do público, eles irão ser o Papai Noel e seus duendes entregando presentes no shopping na véspera de Natal.

Mas é claro, nem todos gostaram dessa ideia.

- Amiga Ravena, é uma fantasia adorável. Tenho certeza de que você também ficaria deslumbrante se desse uma chance, e é bom ser rápida. Prometi encontrar nossos amigos em pouco tempo.

- Ótimo, tchau.

- Ravena, é um dia! Não é nada demais, é só uma retribuição pelo carinho da população de Jump City.

- Não sei porque temos que retribuir assim, salvamos essa cidade inúmeras vezes todos os dias. Impedimos 3 assaltos a banco, um ataque do Plasmus, um do Sobrecarga e, ainda por cima, mais uma tentativa frustrante do Maluco do Controle em chamar nossa atenção. Isso tudo em uma semana. Quer mais retribuição que isso?

Estelar flutuou e se sentou ao lado de Ravena. Ravena a olhou de canto de olho, mas logo desviou o olhar. Estelar tinha aprendido a lê-la muito bem e não queria que a alienígena soubesse o motivo de tanta relutância. Iria estragar o espírito natalino de toda a equipe.

- Você progrediu muito com as crianças depois que conheceu Melvin, Timmy e Teether. Sei que as emoções delas podem te sobrecarregar, mas você estará em uma tenda longe da maioria das crianças, acredito que não será tão ruim para seus poderes. É por causa disso que não quer ir?

- Não sou boa com o público, Estelar. E não comemoro o Natal, não vejo sentido em ir lá...

- Pense só nos pequenos bungorfs esperando ansiosamente para ver os heróis que eles tanto admiram, tão pertinho deles e ainda por cima, os entregando presentes.

- Estelar...

- Amiga Ravena, alguns deles nem sequer tem casa. – Estelar disse baixinho – Se lembra que é um evento aberto? Onde servirão uma ceia de graça? Tenho certeza de que apenas um presente e um sorriso nosso pode fazer o dia de uma dessas crianças muito feliz.

Ravena hesitou, olhando para a roupa no cabide em cima da cadeira. Era uma atitude legal, mas ainda sim... Estelar não entenderia, nenhum dos outros Titãs entenderia.

Certa de que sua voz não sairia frágil como se sentia, fez a melhor expressão entediada que conseguiu e se virou para Estelar.

- Eu não vou usar essa roupa. E eu não vou.



Ela foi. 

E estava com uma roupa idêntica a de Estelar, junto com um par de orelhas pontudas de borracha nas orelhas, o que a deixou ridícula, já que a cor das orelhas não combinava nada com sua pele cinza.

Mutano e Cyborg estavam na tenda junto com ela, os dois usando roupas quase iguais a dela, mas ao invés de um vestido, era um macacão que chegava até o meio das coxas. Ver aquele tipo de roupa em Cyborg quase a fez rir, já que as roupas eram pequenas demais para cobrir todas as partes de metal, mas ele não pareceu ligar. Pelo contrário, estava adorando o visual.

- Essa é a pilha de presentes que vamos ter que embrulhar? – Mutano perguntou, se agarrando aos ombros de Ravena – É menor do que eu pensei que seria.

- Essa é só da primeira parte da manhã. – Cyborg disse, lendo o cronograma – Ah, cara, é coisa pra caramba.

Ravena imediatamente se arrependeu de ir. Devia ter ficado em casa, assistindo filmes clichês de natal que fingia odiar enquanto tomava chocolate quente. Por mais que em Jump City não nevasse, o frio do invernos era real e o ar condicionado do shopping não estava ajudando em nada. Sentia falta de sua capa e seu capuz.

- Amigos Titãs! – Estelar voou para dentro da tenda, eufórica – Eu apresento a vocês, namorado Robin como Papai Noel!

Cyborg, Mutano e Ravena se viraram para ver bem a tempo de Robin entrar a caráter. Cyborg segurou uma risada ao mesmo tempo que colocou a mão na boca de Mutano quando o mesmo ameaçou soltar um comentário espertinho. Ravena se limitou apenas a arquear uma sobrancelha.

Robin estava em uma calça vermelha de veludo, uma casaco vermelho igualmente de veludo com enfeites brancos peludos no fim das mangas e onde ficaria o zíper, um grande e grosso cinto com uma fivela enorme, botas pretas de silicone com pelos brancos e felpudos, luvas brancas e um gorro vermelho e branco, mas não é isso que os fez rir.

Era a peruca branca grande por baixo do gorro e a enorme e volumosa barba falsa no rosto dele. E o volume por baixo do casaco, simulando uma grande barrigona.

Ravena admitia, ela estava fazendo um grande esforço para segurar a risada também.

O rosto de Robin estava vermelho e eles tinham certeza que, por baixo da máscara, seu olhar era de desespero. Estelar, alheia ao seu constrangimento, bateu palminhas animada.

- Incrível, namorado Robin! Somos definitivamente os personagens natalinos agora! – sorriu brilhantemente

- Eu não sei se me sinto muito bem com isso. – Robin disse

- Ah, cara, deixa disso. – Mutano disse, a voz saindo tremida enquanto um riso ameaçava sair – Você tá bonitão.

- Muito bonitão. – Cyborg zombou também

Robin apenas os encarou por baixo da máscara, já pensando nos inúmeros exercícios extras para os dois no próximo treinamento quando a campainha tocou. Estelar soltou um gritinho animado quando ouviu o prefeito começar o discurso, junto com as vozes animadas da multidão de crianças lá fora.

- Ah, que grande alegria! Vai começar! – voou para fora em menos de um segundo

- Ela sabe que várias meninas vão sentar no seu colo enquanto "pedem presentes"? – Ravena fez aspas com a mão

Robin coçou a nuca, sem graça.

- Eu meio que estava torcendo para isso não acontecer.

- Rob, você é o cara da cidade. – Cyborg anunciou, estendendo o primeiro papel de presente na mesa – O mais bonito, o mais maneiro, o mais habilidoso, o mais popular...

- Eu sou o mais bonito! – Mutando exclamou

- É claro que as garotas vão amar sentar no colo do Seu Noel e pedir coisas.

- Vai lá, Noel. O dever te chama. – Ravena zombou também, pegando um brinquedo aleatório de uma das caixas e o jogando de qualquer jeito na mesa

Robin estreitou os olhos por baixo da máscara para o trio, que estavam se divertindo demais com a situação para realmente se preocupar com o que os aguardaria no próximo treinamento.

Robin não teve escolha a não ser sair da tenda quando foi anunciado seu nome, ou melhor, o Papai Noel.

Quando ele saiu, Mutano e Cyborg imediatamente soltaram suas risadas há muito seguradas. Até mesmo Ravena ousou dar um sorrisinho, divertida.

- Ok, vamos ao trabalho. – Cyborg se espreguiçou e empurrou Mutano para a mesa entre ele e Ravena – Temos muitos brinquedos para embrulhar para um monte de crianças enérgicas em muito pouco tempo.

- Cara, eu sempre me perguntei como era ser um duende por um dia. – Mutano comentou brincando de forma concentrada com um trem de madeira na mesa – Deve ser muito legal trabalhar na fábrica de brinquedos do Noel.

- Você sabe que ele não existe de verdade, né? – Ravena arqueou uma sobrancelha

- Shhh. Não seja tão ranzinza na véspera de Natal, Rae Rae.

Ravena revirou os olhos e pegou uma boneca de pano com seus poderes e a embrulhou com os mesmos. Quando estava prestes a fazer o trabalho de novo, levou um susto com duas vozes gritando seu nome.

- O quê? – grunhiu, irritada

- Vamos, Ravena. Usar as mãos por um dia não é tão difícil. – Cyborg foi para o lado dela e deu um cutucão de leve em seu ombro – Pense nisso como se você estivesse me ajudando a consertar o meu bebê. Com carinho.

- A última vez que cuidei daquele carro com carinho foi há anos atrás por pura culpa de ter ajudado a destruir.

- Baixinha, você e eu sabemos que isso é mentira. – sorriu, bagunçando o cabelo dela por baixo do gorro – Anda. Trabalho manual, garota.



- Boa tarde aos cidadãos de Jump City! – um dos vários repórteres exclamou na multidão – Meu nome é Finn Nimbus e estamos fazendo a cobertura do evento mais aguardado do mês, a ceia de Natal com o Papai Noel! – apontou para o cameraman que o seguia – Mas esse ano, temos uma surpresa diferente. Se vocês esperavam apenas atores aleatórios fazendo o papel do bom velhinho e seus elfos, com todo respeito aos atores, é claro, você está enganado! – riu, correndo enquanto se espremia na confusão de repórteres para chegar na frente do cenário – Porque hoje, e somente hoje, teremos ninguém mais, ninguém menos que os nossos heróis para entreter a criançada, os Jovens Titãs!

As crianças gritaram mais e mais conforme Robin entrava como Papai Noel, parecendo querer estar em qualquer outro lugar menos ali. Adoraria ser apenas um elfo dos presentes como os outros

- Hã... Ho ho ho. Feliz Natal, Jump City. – disse com sua voz normal, tentando por o máximo de empolgação que pode reunir

Mais e mais gritos histéricos e animados na fila de crianças e jovens. Robin se sentou na poltrona vermelha de veludo tão quente quanto sua roupa e só relaxou de verdade quando Estelar entrou voando no cenário ao seu lado. A multidão foi a loucura quando a alienígena parou nos degraus que levavam à poltrona, sorrindo brilhantemente para o povo.

- Olá, amigos de Jump City! – exclamou, radiante

Robin conseguiu sorrir mais fácil conforme ela falava com as crianças se espremiam na fita que separava o cenário da parte comum do shopping até a abertura. A animação dela era realmente contagiante.

- Essa cordinha será aberta em 10 minutos, então se preparem para ver o tão amado líder dos Titãs e a bela alienígena elfo aqui, garantam suas senhas. – Finn Nimbus disse, praticamente hipnotizado por Estelar, mas se recompôs ao olhar para a câmera – E é claro, não percam a grande ceia de Natal aberta às 21h em ponto! Aqui é o Finn Nimbus e nos vemos depois do comercial.

- Cadê o Mutano? – um garotinho sardento perguntou à Estelar no limite da fita, não podendo ter mais de oito anos – Ele é meu preferido. Olha. – apontou para a própria camiseta, que só agora a ruiva reparou que estava estampada com o rosto de Mutano envolto de vários animais verdes

- O amigo Mutano está trabalhando com os brinquedos na tenda distante, mas posso trocar de turno com ele na sua vez, se assim você quiser.

Os olhos do garotinho brilharam com a ideia de encontrar o herói favorito. Depois disso, várias crianças começaram a bombardear a alienígenas, cada uma perguntando de seus Titãs favoritos, algumas menores não reconhecendo Robin na fantasia e perguntando por ele.

Robin impediu Estelar de falar sua identidade, não querendo que as menores pensassem que o Papai Noel não existia. Elas descobririam isso quando crescessem, por que estragar esse pensamento inocente agora?



Quase duas horas depois, Mutano, Ravena e Cyborg já se sentiam cansados. Embrulharam tantos presentes que até viam laços rodopiando por cima de suas cabeças, mas nenhum deles reclamou.

Mutano e Cyborg já tinham sido chamados para fora para conversarem com as crianças que imploravam para conhecerem mais vezes do que puderam contar. Eles, Robin e Estelar eram grande sucesso entre as crianças, que ficavam malucas só de os verem por alguns segundos.

- Esse é o quarto kit de cozinha infantil que eu embrulho na última hora. São os sinais do universo me mandando comer algo urgente! – Cyborg bateu a mão na mesa – Carne, eu preciso de carne!

- A gente não terminou essa leva de brinquedos. – Ravena disse

- Você tá ouvindo isso? – Cyborg perguntou, apontando para a barriga de metal – É o som do meu estômago tentando digerir ele mesmo. Se eu não comer alguma coisa agora, eu vou devorar um de vocês dois.

- O Mutano tem várias carnes de animais em um, divirta-se.

- Ei! Você tá me oferecendo como churrasco? – Mutano se fingiu de ofendido – Quanta baixaria, Rae Rae.

- Eu vou comprar alguma coisa pra comer. Querem alguma coisa? – Cyborg perguntou, arrumando a fivela do cinto no lugar

- Waffles. – Ravena murmurou sem nem sequer desviar o olhar do trabalho

- Que tal aquelas rosquinhas veganas, hã? – Mutano levantou as sobrancelhas várias vezes, zombando

- Você quer sacanear mesmo até os donuts? Isso devia ser crime!

- Vai comprar logo essas coisas.

Cyborg revirou os olhos e saiu, ainda resmungando sobre a tal frescura de Mutano em não querer aproveitar o que era bom de verdade. Mutano naturalmente o ignorou e voltou sua atenção para a empata, que havia parado de mexer nos brinquedos por tempo suficiente para beber um pouco da água de uma das garrafas disponibilizadas para eles.

Ele não pode evitar sorrir de novo, vendo ela naquela fantasia que a fazia parecer mais baixa do que ela já era – embora agora eles tivessem a mesma altura. Mutano nunca pensou que poderia usar a palavra fofa para descrever a empata, mas não tinha palavra melhor que aquela naquele momento.

Ainda mais com o pequeno rubor de frio nas bochechas dela por conta do ar condicionado frio do shopping, junto com a expressão irritada por estar ali há tanto tempo. Fofa era definitivamente a palavra certa.

- Você vai trabalhar ou só vai ficar parado me olhando como um psicopata? – a voz dela o trouxe a realidade de novo

Ele piscou, mas pode ver claramente que as bochechas dela coraram mais ainda. Segurou um riso e voltou a atenção ao trabalho, de vez em quando ainda dando um olhar à ela.

Isso já vinha acontecendo desde que voltaram de Tóquio, quando ele se pegava olhando para ela atentamente, como se não quisesse perder nenhum movimento dela, como se qualquer coisa que ela fizesse o hipnotizasse, até mesmo quando ela brigava com ele por qualquer besteira que ele tivesse feito. Mutano tinha parado de se importar há muito tempo.

- Amigo Mutano, um casal de bungorfs deseja tirar uma foto com você agora. – Estelar entrou na tenda – Eu assumo de novo?

- Ah, claro, Star. Vou indo. Ei, eu posso demorar um pouco? As lojas finalmente abriram, vou comprar os presentes de vocês.

- Nossos presentes? – Estelar perguntou, os olhos brilhando. Ela tinha amado a sensação de rasgar o papel de presente e descobrir a surpresa dentro

- O Natal não é Natal sem presentes. – Mutano sorriu – Volto logo.

Estelar logo tomou o lugar de Mutano na mesa ao lado de Ravena, se aproveitando de sua velocidade para embrulhar mais brinquedos em tempo recorde.

- As crianças terráqueas são tão fofas! – Estelar exclamou depois de um longo tempo em silêncio preenchido apenas pela música natalina no ambiente – Elas adoram abraços tanto quanto eu, algumas delas realmente acreditam que somos os pequenos ajudantes natalinescos e que namorado Robin é o velho bondoso. Eu adoraria que as crianças em Tamaran fossem assim, nós já crescemos aprendendo a manejar uma espada flamejante. Não que eu não goste dos meus costumes, mas a inocência das crianças daqui é sem igual, amiga Ravena. – suspirou feliz

- Uhum.

- Nunca tivemos um feriado parecido como o Natal em Tamaran. A ideia de um feriado ser tão feliz, onde as pessoas são tão legais umas com as outras e trocam presentes entre si é uma coisa tão mágica e é uma das coisas... Mais lindas que eu já vi na Terra. Talvez uma das minhas tradições favoritas até agora. Como pode ter gente que não goste dessa época tão feliz?

- Talvez porque essas pessoas não tenham nenhuma boa lembrança desse feriado. - Ravena resmungou sozinha, mas Estelar ouviu

Estelar pousou a varinha de plástico na embalagem aberta, olhando para Ravena com cuidado. Ravena, ao perceber seu descuido, tentou desviar a atenção, fingindo estar focada no boneco super realista do Batman na sua mão.

- Ravena, posso ser ingênua, mas não sou burra. Eu consigo entender as coisas.

Ravena franziu o cenho e olhou para Estelar rapidamente.

- Eu nunca disse que não conseguia. Sempre acreditei na sua capacidade.

- Que tal então me explicar o que tanto te incomoda nesse feriado? Não era só a euforia das crianças que estava te impedindo de vir, certo?

Ravena a encarou por alguns segundos, mas não abriu a boca. Ao invés disso, desviou os olhos e pegou a garrafa de água de novo, tomando um longo gole.

- Ravena...

- Estelar! Estelar! Estelar! Estelar! Estelar! – várias vozes animadas e histéricas gritaram do lado de fora

Ravena apertou os lábios, mas se virou para a melhor amiga com sua expressão neutra de sempre. Estelar estava relutante em deixá-la sozinha, ainda mais depois de saber que tinha algo sério a incomodando.

- Vai logo. As crianças vão destruir esse lugar se não te acharem.

Estelar suspirou, mas assentiu.

- Essa conversa ainda não acabou.

A alienígena pegou duas caixas cheias de presentes prontos e voou para fora, sendo recebida por aplausos e gritos de comemoração. Ravena respirou fundo e tentou se concentrar na tarefa, mas era completamente difícil quando tudo que estava em sua mente era aquela sala fria, escura e vazia, sem nenhuma companhia além da fumaça gelada que saia por sua boca a cada respiração.

Sem perceber, começou a apertar a bolinha de borracha em sua mão, afundando as unhas no material com tanta força que fizeram marcas de meia lua na estampa de flores.

- Voltamos!

Por instinto, Ravena pegou a bolinha na mão e a lançou na direção do grito, atingindo um dos olhos de Mutano. Ele gritou de susto e cambaleou para trás, colocando a mão no olho. Cyborg começou a rir imediatamente.

- Será que vocês dois não sabem falar sem gritar?

- Desculpa aí, baixinha. Nossa intenção não era te assustar. – Cyborg se desculpou, colocando algumas sacolas no chão embaixo da mesa – Trouxemos nossos presentes.

- Eu tô reconsiderando depois dessa pancada. – Mutano gemeu, ainda esfregando o olho, mas colocou seus presentes juntos com o do amigo de metal

Ravena olhou para Cyborg, procurando algum tipo de caixa térmica ou de papelão, mas franziu o cenho ao não encontrar nada desse tipo.

- Não esqueceu de nada?

- Eu?

- Algo comestível, talvez.

Cyborg arregalou os olhos quando se deu conta do que ela quis dizer.

- Ah, claro, eu esqueci!

- Esqueceu de comer? Uau, essa é nova.

- Não! EU esqueci de comprar as coisas de vocês. Bom, na verdade, os seus Waffles, eu me recuso a comprar donuts veganos pro cabeça de grama. Já volto.

- Não, Cyb, você acabou de voltar! – Mutano exclamou, mas também foi ignorado quando o amigo saiu – Poxa, eu preciso comer também. Tô sentindo meus animais agitados.

- Tem certeza de que não é só vontade de marcar território? – zombou

- Que nojo, Rae Rae!

Ela deu um sorrisinho para ele, se esquecendo um pouco do que a atormentava antes. Mutano sorriu, deixando a presa bem visível e apontou para os presentes.

- Quer saber o que eu comprei?

- Tenho certeza que vai me contar.

- Pro Robin, eu comprei várias revistinhas fictícias do Batman.

- Ele não vai gostar.

- Pra Star, eu comprei dois livros de colorir. Um das princesas e outro do sistema solar.

- Por quê?

- Porque é a Star. – disse como se fosse óbvio

- Uh.

- E pro Cyb, eu comprei alguns discos daquela loja retrô, já que ele tem uma grande alma de velho, e uma fita do Clube dos Cinco. – pegou a sacola azul e brilhante – Mas... – sorriu de forma travessa e tirou uma outra sacola de dentro da mesma – Não seria eu se não usasse essa oportunidade para zoar um pouco com o latão.

- Não transforme um evento em uma confusão.

- Um pedaço de carvão! – tirou uma grande pedra meio deformada e a levantou acima da cabeça como se fosse um prêmio

Esperou algum tipo de comentário espertinho, mas ficou decepcionado quando não recebeu nenhum. Abaixou a pedra e olhou para Ravena, que olhava para ele confusa.

- Não vai falar nada? – ele perguntou

- Por que um carvão?

A boca de Mutano quase caiu. Colocou o carvão dentro da sacola de presente e andou os poucos passos até ela.

- Como assim? Carvão!

- E daí?

- Nunca ouviu falar sobre isso?

- Não.

Mutano olhou para ela estranhamente. Pigarreando, colocou o braço em volta dos ombros dela e tentou fazer uma voz mais grossa, como se fosse um narrado, mas antes que pudesse falar algo, Ravena deu um tapa em sua mão.

- Não me abrace e fala sem enrolar! – rosnou, se afastando

- Tá, foi mal, foi mal. – levantou as mãos como se estivesse se rendendo – Resumindo a história, o carvão é um presente péssimo. Só as crianças malvadas ganham carvão.

- Ele não é criança.

- Todos somos crianças aqui no fundo, Rae. – apontou para o próprio peito – Até você.

- Como sempre, tudo que sai da sua boca é besteira. – deu as costas

- É a magia natalina, gatinha!

- Amigos, estou de volta! – Estelar anunciou voando até eles – Precisamos de mais presentes. Teremos um intervalo de 10 minutos antes de abrirem para mais crianças. O namorado Robin se juntará a nós neste intervalo.

- Temos que ficar aqui até que horas? – Robin perguntou, entrando enquanto tirava a barba e a peruca

- Até a hora da ceia! – Estelar e Mutano exclamaram

- Ah, aproveitando que minha irmãzinha e meu maravilhoso líder estão aqui. – Mutano correu para debaixo da mesa e pegou uma sacola vermelha e uma rosa brilhante – Feliz Natal para os dois!

- Ah, amigo Mutano! – a alienígena exclamou, pegando o presente – Que generoso da sua parte!

- Valeu, Mutano. – Robin sorriu – Quando foi que você comprou isso?

- Na minha pequena escapadinha. – piscou – Abre, abre, abre!

Robin foi o primeiro a abrir, seu sorriso caindo conforme ele via as várias revistinhas do seu antigo mentor, todas histórias inventadas sobre as antigas aventuras que, supostamente, Batman fez.

- Uau, muito generoso da sua parte. – zombou

Mutano começou a rir, sendo seguido por uma risada confusa de Estelar e um sorriso contido de Ravena. Robin acenou com a cabeça, guardando as revistinhas sem o menor cuidado na sacola. Mutano balançou a cabeça enquanto ria e pegou um outro embrulho menor de trás da sacola de Cyborg.

- Sua cara foi impagável. Toma, esse é o verdadeiro.

Robin o pegou, mais receoso dessa vez. Rasgou o papel decorado de renas com narizes brilhando e dessa vez sorriu mesmo. Era um desenho, estilo japonês, do beijo dele e de Estelar em Tóquio, emoldurado. Estelar olhou para o desenho por cima do ombro do namorado e sorriu também. Ravena tinha que admitir, foi um presente muito bem pensado.

- Tem várias artes lindas de fãs na internet, e essa é uma das minha preferidas. Uma fã do Japão me mandou umas semanas atrás e eu precisei emoldurar.

Robin sorriu, agradecendo, quase sem tirar os olhos do desenho, mais especificamente do da namorada.

- Abre o seu, Star.

Estelar não precisou ouvir duas vezes, praticamente rasgando a sacola. Quando viu os desenhos de colorir, soltou um gritinho agudo de animação. Ela havia criado gosto por aquele tipo de hobby depois que todas as suas outras tentativas falharam, como culinária, jardinagem e cerâmica.

Voou até o metamorfo e, logo, Mutano sentiu seus pulmões quase entrarem em colapso pela falta de ar com o abraço desumanamente forte da ruiva.

- Obrigada, amigo Mutano! Um incrível presente de um incrível amigo, obrigada, obrigada!

- Star... Eu não...

- Você vai matar o Mutano sufocado. – Ravena a lembrou

- Oh, desculpe. Sempre esqueço que os terráqueos têm ossos frágeis e corpos fracos. - soltou Mutano, que respirou aliviado

- Bem frágeis. – Mutano balançou a cabeça

Ravena desviou os olhos para a pilha de presentes de Mutano. Só mais um embrulho, o presente escondido de Cyborg. Ela desviou os olhos de novo e tentou não se ressentir, não tinha porque disso. É claro, ela devia saber.

A pilha de Cyborg não era muito visível, mas não devia ser diferente. Ela respirou fundo e arrumou o cabelo por baixo do gorro, desejando pela milésima vez ter seu capuz.

Ouviu superficialmente Estelar dizer a Robin que os dois iriam comprar presentes depois que fossem liberados para o próximo intervalo. Tentou ignorar aquele velho sentimento de novo.

- Ah, Ravena. – Mutando exclamou – Eu já ia me esquecendo...

- Quem quer Waffles?! – Cyborg gritou, anunciando sua entrada

Depois de tantos incidentes parecidos, Ravena não se assustou dessa vez. Talvez o fato de ter sentido a energia caótica tão familiar do irmão de coração pudesse ter anunciado sua chegada antes de ele entrar, mas só talvez.

- Demorou demais. – resmungou, pegando a embalagem das mãos mecânicas com seus poderes e trazendo até sua mesa

- Sempre tão simpática, maninha. – Cyborg brincou – Ei, você já deu os presentes pra eles? Achei que a gente tinha combinado de dar juntos na Torre!

- Você me conhece, latão. Eu sou cheio de surpresas. – deu de ombros – E aí? Quer me dar o meu?

- Nem pensar. Eu vou seguir com o plano de todos, de dar os presentes na Torre, em volta da árvore de Natal que eu levei tanto tempo pra fazer.

Mutano sorriu de forma travessa e levantou o presente azul.

- Então quer dizer que você não quer seu presente agora?

- Claro que quero, me dá logo! – Cyborg pegou a sacola, dando um empurrão em Mutano, que já segurava o riso – É bom que seja tão bom quanto o que eu comprei pra você, cabeça de grama.

Robin e Estelar, abraçados, olharam curiosos. Ravena desviou a atenção e esperou também. Se a história do carvão fosse verdade, uma grande cena da rainha do drama robótica viria a seguir.

Cyborg tirou o excesso de papel de dentro da sacola e, enfim, o presente. Sua animação logo se esvaindo ao ver a pedra deformada de carvão na mão, olhando para aquilo como se fosse um cubo de tofu na sua mão.

Mutano e Robin começaram a rir alto enquanto Ravena se limitava apenas a um sorriso, divertida. Não aguentou e soltou um riso nasalado, cruzando os braços. Estelar franziu o cenho, não entendendo a piada.

- Eu não entendo. O que é isso? – ela perguntou inocentemente

- É carvão! – Cyborg quase gritou, jogando a pedra na mesa com raiva – Por que me deu carvão?!

- Você tinha que ver sua cara!

- Só as crianças más ganham carvão! Não sou uma criança má!

- Ah, qual é, Cyborg. Foi uma brincadeira. – Robin disse, ainda sorrindo

- É hilário! – Mutano exclamou

- Ah, é?

Cyborg foi até sua pilha de presentes e pegou uma sacola com desenhos de bengalas doces, jogando no metamorfo.

- Abre. Agora.

Mutano, confuso e ainda divertido, abriu e arregalou os olhos ao ver o que tinha dentro. Tirou de lá a caixa e a segurou como se fosse um diamante.

- Você me comprou um Nintendo Switch?!

- É, comprei. E quer saber o que eu faço com isso depois desse carvão?

Cyborg pegou a caixa das mãos do metamorfo e a jogou no chão. Os outros quatro se assustaram, olhos arregalados. Cyborg sorriu de forma ironicamente.

- Viu só? É hilário!

Mutano olhou para o presente no chão, provavelmente quebrado e em um milhão de pedaços, chocado, olhos vidrados. Ravena soltou um riso nasalado silencioso conforme o tempo se passou.

- Eu acho que isso foi um exagero. – Robin comentou

- Não acho.

- De fato foi, amigo Cyborg. Por mais ruim que o presente indesejado tenha sido.

- Muito indesejado!

Mutano olhou para o amigo de metal, ainda chocado.

- Você arruinou meu presente!

- Você arrumou meu Natal!

A campainha tocou, anunciando fim de intervalo. Robin praticamente choramingou ao pensar que teria que vestir os adereços do bom velhinho, mais triste ainda ao pensar que agora seria a concentração do público mais jovem, ou seja, garotas adolescentes fanáticas.

No. Seu. Colo.

- Alguém quer trocar de papel comigo?

- Ninguém é mais galã que você, líder destemido. – Ravena zombou, ignorando a briga entre as duas criançonas atrás dela – Aproveite o amor das meninas.

Estelar desmanchou o sorriso que tinha ao ouvir isso, sendo substituído por um semblante confuso e cético, ao mesmo tempo em que já se mostrava incomodada. Abriu um sorriso hesitante e pequeno.

- Amor das meninas? Que meninas?

- Estelar...

- As garotas adolescentes que vão vir sentar no colo do Robin. Ah, é. Do Papai Noel. – Ravena disse, piscando

Robin a fuzilou por trás da máscara, mas sendo Ravena, ela não se abalou. Estelar se virou lentamente para o namorado, os olhos piscando entre o verde normal e o verde flamejante.

- E você nem sequer pensou em me dizer que isso poderia acontecer?

- Isso sempre acontece no Natal, Estelar.

- É meu primeiro evento de Natal, como eu ia saber?

- Eu tentei te falar um milhão de vezes no caminho pra cá, mas você ficou tão animada com tudo que não me deixou falar!

- É uma informação importante demais pra deixar passar!

- De novo, você não me deixou falar.

- Você não vai voltar pra lá, nem pensar! Amigo Cyborg, amigo Mutano, vocês troquem de fantasia com o Robin, vão!

- Agora não, Star! – os dois exclamaram e logo voltaram a brigar

- Mas... Mas...

- Por que vocês dois não estão no palco ainda? – o organizador do evento entrou, tampando o microfone perto da boca – Não ouviram a campainha?

- Sim, nós ouvimos, mas...

- Os dois pro cenário, já!

Robin murchou um pouco, mas agora parecia que Estelar era a total contra a ideia. O organizador praticamente a enxotou da tenda com Robin. Quando se certificou de que os dois estavam em seus devidos lugares, se virou para uma Ravena entediada e Mutano e Cyborg brigando, despreocupados.

- O que estão esperando também?

Ravena tombou a cabeça e um raio negro jogou o homem para fora da tenda. Ela ouviu as reclamações dele do lado de fora e sorriu um pouco com isso, mas seu sorriso caiu ao ouvir a briga dos dois aumentando.

- Chega! – gritou e, acidentalmente, explodiu o galão do bebedouro, molhando os três

- Ótimo. Agora estamos molhados. – Mutano lamentou

- Deveria ser grato por ter sido o bebedouro e não sua cabeça!

- Eu apoio explodir a cabeça dele na próxima vez. – Cyborg levantou a mão

- Eu já disse que era só uma brincadeira!

- Uma brincadeira cruel!

Ravena respirou fundo conforme a briga continuava. Decidindo ignorar, pegou um dos bonecos encaixotados e colocou em cima do papel de presente, mas parou ao ver o que era.

Um boneco de madeira, mais especificamente um quebra-nozes. Pegou o boneco na mão e o encarou com a respiração pesada, mais lembranças daquela sala claustrofóbica a invadindo.

O boneco recém-pintado parecia pesado em sua mão, que começara a tremer sem nem ao menos perceber. Perturbada, largou o brinquedo e passou a mão na bochecha molhada, que só então percebeu ser uma lágrima perdida.

Piscou confusa, passando a mão pelas bochechas de novo, garantindo que não tenha mais nenhuma outra lágrima despercebida.

- Tudo bem?

Olhou para Mutano, que a olhava preocupado. Cyborg não estava em lugar nenhum à vista. Parecendo ler seus pensamentos, Mutano respondeu.

- O Cyb foi se secar, antes que as juntas enferrujem.

- Por que não falou que era um presente falso? – desconversou – Ia evitar que ele estragasse... seja lá o que fosse aquilo.

- Eu ia esperar e dar o dele na Torre, como ele queria. Claro, a reação dele foi digna de um filme de comédia romântica dramática e... Meu lindo Nintendo se foi... Mas ele vai adorar o presente embaixo na árvore. – pensou um pouco – Pensando bem, eu devia ter esperado para dar o do Rob e da Star na Torre também.

- Gênio. – revirou os olhos



Estelar podia sentir seus olhos faiscando conforme mais e mais garotas passavam por Robin naquela poltrona. O único conforto era ele sempre evitar que elas se sentassem em seu colo e fizessem elas se sentarem no braço da poltrona. Elas não pareciam muito felizes com isso, mas era o que iam ter.

Mas, mesmo assim, aquela proximidade era demais para Estelar deixar o ciúmes de lado. A cada menina chegando, a cada risadinha, sorrisinho, tentativa de abraçá-lo deixava Estelar cada vez mais perto de largar aquela fantasia e deixar seus instintos de guerreira agirem.

Quando a garota com cabelos coloridos foi embora, ela voou para o lado dele. Robin se virou para ela, levantando a barba para cobrir a boca das câmeras, para que não soubessem o que estaria falando.

- Sabe que eu tô fazendo o possível para manter todas as adolescentes afastadas.

- E eu admiro a determinação, mas acontece que não aguento mais ficar vendo essas garotas olhando pra você como se fosse um pedaço de... Como o Cyborg disse? Um pedaço de mau caminho!

Robin tentou, mas não conseguiu segurar uma risada ao ouvir aquilo sair da boca dela. Ela ainda não aprendera a usar as gírias da Terra, mas toda vez que tentava, era ao mesmo tempo engraçado e adorável.

- Estelar, você devia ser a primeira a saber que eu não tenho interesse em mais ninguém que não seja em você. – segurou a mão dela e deu um apertão leve – Ninguém, Star.

Ela deu um sorriso de leve, olhando para as mãos dadas deles. As faíscas de seus olhos se acalmaram e tentou dar um beijo na bochecha dele, o que não deu certo, já que a barba a impedia. Os dois riram com a tentativa fracassada, mas mais leves do que antes.

Isso é, até serem separados por um impacto doloroso para ambos. Botas rosas com saltos estilo tamancos bateram com tudo no rosto de Estelar e a saia de tule com cinto de metal brilhante e pesado bateu com tudo no osso do quadril de Robin.

- Oi, Robinzinho! – a voz aguda e irritante gritou

Robin jurava que seu rosto ficou verde e rangeu os dentes, mas nada se comparava a fúria assassina no rosto vermelho de Estelar, os olhos de fato faiscando.

- Kitten. – Robin e Estelar rosnaram



- Cyborg, você pode me passar a fita adesiva?

- Não. Sou uma criança malvada demais para fazer essa tarefa.

Mutano gemeu de frustração, já cansado da birra infantil. Tinha valido a pena, mas aparentemente, Cyborg estava sensível demais com o término dele com Abelha para apreciar uma simples brincadeira.

- Ravena, me ajuda com a criança, por favor.

- Os dois são duas crianças insuportáveis que eu tô sendo obrigada a aturar. – ela resmungou, as mãos cobrindo o rosto, cansada de ouvir tantas brigas

Seus poderes já tinham se manifestado várias vezes, mas nem isso foi o suficiente para fazer os dois pararem. Sua tentativa de meditar foi frustrada tanto pelos amigos tanto pelo irritante organizador de eventos. Já estavam naquele shopping há mais de 6 horas e ainda faltava muito para poderem ir embora. Sabia que deveria ter negado até o fim.

Maldita seja Estelar e seus poderes de persuasão.

- Troknark blofgar, uretik troerq...

Falando no diabo, Estelar entrou soltando faíscas e xingando na língua nativa de Tamaran, trazendo um abençoado silêncio dos dois garotos.

- Amiga Ravena, não vai acreditar. Aquela... Aquela...

- A Kitten?

- Sim! Como sabe?

- Suas emoções estão fora de controle e sua raiva tá me deixando tonta.

- Eu não tô aguentando ficar lá! Aquela troknark, aquela florfka, ainda não saiu de lá e o namorado Robin já tentou arrancá-la de cima dele várias vezes, mas os organizadores começaram a dizer que ele não podia ignorar os fãs e... Ugh! Alguém pode ficar no meu lugar até esse pesadelo natalino acabar?

- Eu fico! Não, eu que fico! Eu! Eu vou! Para de falar tudo que digo! Chega, para de me imitar! – Cyborg e Mutano começaram a falar juntos

Estelar respirou fundo e olhou suplicante para Ravena, que como quase sempre, cedeu. Ela bufou, largando a borboleta de pelúcia na mesa.

- , eu vou. Mas eu volto rápido, é só até as fangirls irem embora. – rosnou, começando a andar até a abertura da tenda

- Obrigada, amiga Ravena. E não pense que eu esqueci a nossa conversa de garotas pendente.

- Não sei do que você tá falando. – disse saindo

A próxima hora se passou com os três brigando e reclamando entre si. Cyborg ainda indignado com o carvão, Mutano dizendo sobre ele estar exagerando, Estelar reclamando de todas as garotas adolescentes e amaldiçoando Kitten e todas as suas gerações, Cyborg e Mutano dando trégua em seus próprios monólogos para concordarem com ela infinitas vezes e logo voltando a suas birras.

E como sempre, cabeça quente e trabalho misturado não deram certo.



- Garota, você já está aqui há 33 minutos, é hora de dar a vez para as crianças. – uma repórter entediada rosnou, já tendo desligado a câmera de seu canal

Kitten, como o ser desagradável que era, nem deu bola e continuou tentando roubar um beijo do garoto prodígio, que permaneceu preso no assento graças ao ameaçador botão na mão da vilã.

O botão que liberaria vários insetos mutantes pela cidade caso tentassem tirá-la de cima dele antes de ela decidir se levantar por conta própria. Tradução: ela nunca sairia.

Os pais e crianças gritavam pela demora, os repórteres se juntaram a eles e os organizadores estavam com medo demais dos insetos para interferirem. Portanto, a cena acontecendo era uma baita dor de cabeça para a empata, que há muito tempo tinha desistido de tentar intervir, se encontrava deitada no banco com neve artificial atrás de algumas árvores de plástico perto da casinha de madeira, o mais longe possível da poltrona, mas não longe o suficiente. Estava de barriga pra cima, mãos cruzadas sobre a barriga e o gorro jogado sobre o rosto, o máximo de proteção que aquele miserável pedaço de pano podia oferecer.

A confusão era tão barulhenta que ela mesma tinha dificuldades em ouvir as coisas explodindo com seus poderes de vez em quando. Algumas coisas de vidro e talvez um ou dois celulares ao redor. Honestamente, ela não se importava mais. Dormir naquele banco era cada vez mais tentador, mas ficou acordada em solidariedade a Robin, que estava enlouquecendo através do vínculo.

- Vamos, Robinzinho. É só eu apertar esse botão e meus amiguinhos mutantes vão transformar essa cidade em uma poço de comida! Me dá um beijinho! – Kitten gritou mais alto do que um ser humano devia ser capaz

Com os ouvidos zumbindo e parcialmente surdo do ouvido direito, Robin só a afastou de novo, não conseguindo mexer o outro braço para simplesmente arrancar aquele controle da mão dela. Ele bufou de frustração, olhando em volta. Onde estavam os Titãs?

Luzes verdes e um rugido vindos da tenda responderam sua pergunta mental. Com seu braço livre, ele empurrou o rosto de Kitten para longe e o manteve afastado enquanto quase quebrava o pescoço para procurar Ravena, muito mais longe do que ele se lembrava. Uma das luzes da casinha explodiu e ele gemeu internamente.

- Ravena, por favor. – implorou mentalmente, torcendo para que ela ouvisse pelo vínculo

Eles não conseguiam se comunicar telepaticamente, como a maioria pensava, mas as emoções falavam mais do que palavras. Por isso, quando uma sensação reconfortante tomou conta de sua mente por um minuto, ele soube que ela entendeu o nível do seu desespero e impaciência.

Quando Kitten se desvencilhou do braço dele, um vórtice negro se abriu acima dos dois. A loira gritou de susto e tentou se segurar no pescoço do herói, mas uma corrente de vento anormal a sugou sem hesitação para o buraco e ela sumiu, deixando apenas o eco de se protesto escandaloso sobre nunca ser esquecida. O botão dos insetos foi explodido em um milhão de pedaços com direito a um mini incêndio.

Robin respirou fundo, aliviado. Se virou levemente para Ravena, pronto para agradecer em alto e bom som, mas a empata não tinha mexido um único músculo e nem tirado o gorro dos olhos. Ela devia estar esperando pelo comando – e a oportunidade - há muito tempo. Prometeu a si mesmo que agradeceria em particular depois.

Estranhamente, as pessoas vibraram e comemoraram o ocorrido, os repórteres ficando feliz por ter algum material interessante depois de tanto tempo só ouvindo gritos histéricos de uma adolescente vilã mimada.

Depois disso, Robin conseguiu receber a próxima criança com uma alegria de verdade, feliz demais por ter se livrado de um incômodo anterior.



No próximo intervalo de 30 minutos, os garotos compraram comida para comerem juntos na tenda, dando uma trégua da multidão, mas assim que acabaram, os três resolveram sair. Mutano e Cyborg alegando que precisavam ajudar Robin a escolher presentes adequados, mas é claro que eram só desculpas.

Por isso, quando percebeu que estava sozinha com Estelar, Ravena cogitou abrir um portal para a Torre.

- Ravena, fiquei muito boa na arte dos segredos com o tempo, devia saber disso desde a nossa troca de corpos. Você sabe que pode me contar.

- Você não pode mesmo deixar isso pra lá?

- Não quando eu sei que você está incomodada. Não te vejo triste assim desde Trigon.

Só de ouvir o nome do pai, os pêlos de seu braço arrepiaram e ela desviou os olhos. Estelar percebeu e colocou a mão sobre a de Ravena, trazendo a atenção dela. O clima tenso não combinando nada com Jingle Bell Rock tocando ao fundo em um volume alarmante.

- Tem a ver com o seu pai?

Ravena hesitou, mas acabou assentindo. Respirou fundo e olhou para cima ao sentir seus olhos começarem a arder. Estalou a língua até reunir coragem pra falar.

- O Natal é um feriado santo. É comemorado o nascimento de uma figura religiosa e importante, significa... Esperança e tempo de renovação. Pra muitas pessoas, o Natal trás pra elas um certo desejo de fechamento e início de ciclos da vida.

Um sorriso pequeno surgiu no rosto da alienígena.

- É um significado lindo, não é?

- Claro que é.

- Então, qual o problema?

- Em Azarath, por mais que os monges e o povo da comunidade... Fingissem me aceitar, o Natal era uma das épocas em que... Eles mostravam os verdadeiros sentimentos por mim.

- O que...?

- O Natal, assim como na Terra, é um feriado santo em Azarath. Então é bem óbvio que, por causa do sangue que eu carrego, o sangue do meu pai, eu não era bem vinda para qualquer tipo de celebração. A população não se sentia segura e achavam muita hipocrisia e falta de respeito da minha parte tentar comparecer e participar. Os monges concordaram, uma vez, em me deixar ficar um pouco na festa, minha mãe prometeu se responsabilizar.

- E... Você foi?

Ravena assentiu, o olhar fixo nos azulejos do chão, se recusando descaradamente a olhar para Estelar. Estando tão focadas, nenhuma das duas perceberam três garotos as espiando por uma fresta da tenda, ouvindo atentamente.

- É, eu fui. – fungou – Achei que pudesse convencer as crianças de que não tinha problema eu participar, pelo menos da ceia.

- E aí?

- Eu não lembro bem o que eu fiz, mas... Meus poderes ficaram descontrolados naquela noite. Eu explodi vários pratos da ceia, as luzes, algumas crianças passaram mal depois de experimentar a sopa que eu ajudei a servir e... Incendiei a árvore. A árvore de Natal, a árvore gigante que o povo de Azarath passava um mês decorando e o ano todo cuidando.

Estelar ficou sem reação, assim como os meninos do lado de fora. Ravena sentiu uma lágrima escorrer por sua bochecha, mas antes que pudesse limpar, Estelar a impediu. As duas já tinham passado desse ponto. Depois que passaram a meditar juntas, tinham se aproximado tanto que chorar na frente uma da outra não era mais uma coisa estranha, nem para Ravena. Era raro, mas acontecia.

- Depois daquilo, os monges concordaram com todo mundo e resolveram me manter afastada durante a semana do Natal.

- A semana toda? Não só a véspera e o dia?

- A festa durava a semana toda, era um dos feriados mais esperados do ano, era uma festa grande.

- Então... Você ficava sozinha em casa?

As duas pararam de conversar quando dois organizadores entraram várias vezes para buscar mais caixas cheias de presentes prontos para serem entregues. Elas esperaram até julgarem ser seguro. Ravena pigarreou.

- Eu... Durante a semana, eu ficava em um templo subterrâneo longe do centro. Era o templo usado para cerimônias de purificação de monges iniciantes uns anos antes de construírem um mais seguro. Era mais como uma sala de pedra escura e úmida depois de tanto tempo abandonado. – fez uma pausa, se lembrando – Eu ficava lá durante a semana, sem permissão para receber visitas. Nem da minha mãe. Ela era proibida de me visitar.

- Isso é...

- A dieta era restrita naqueles quadrados de ração, sabe? Aquela mistura de cereal, farinha e outras coisas, e água. Deixavam um estoque suficiente para durar por cinco dias.

- A semana tem sete dias.

- Eu racionava o meu suprimento. – deu de ombros – E ficava com umas... Eles diziam ser pulseiras, mas eram mais como algemas, de pedra fria. Os monges diziam que aquilo iria impedir meus poderes de se manifestarem tanto a ponto de fazer o templo cair.

Estelar estava chocada além da conta, demorando a entender que sua amiga não passava de uma prisioneira em sua cidade/dimensão natal enquanto todos comemoravam.

- A única coisa que minha mãe conseguia fazer por mim antes de me levarem pro templo era me dar um bonequinho de madeira, um quebra-nozes, já que eu sempre reclamava que a ração era dura demais. Eu nunca usei aquilo pra nada, mas achava a intenção boa. – coçou o canto da testa, como se disfarçasse o choro como algo trivial – Isso aconteceu todos os anos até eu vir para a Terra.

- Por isso é a chamada ranzinza nessa época? Por isso estava tão receosa em vir hoje?

- Nunca vi sentido em eu me animar para a época em que eu ficaria presa como uma criminosa.

- Amiga Ravena, não estamos em Azarath. Aqui as crianças adoram a gente, nenhuma delas parece ligar, nem os mais velhos. A Terra tem pessoas tão receptivas, tenho certeza de que não tem esse pensamento de você.

- É mesmo? – se encostou na cadeira – Quantas pessoas aqui pediram para me ver hoje? Conversar comigo?

Estelar desviou os olhos.

- Quatro.

- Quantas pessoas além de você e dos Titãs?

Estelar ficou quieta e se sentiu afundar na cadeira. Ravena assentiu para si mesma, dando de ombros e cruzando os braços. Os garotos também tentaram pensar, mas realmente, nenhuma das crianças perguntou pela empata. Além disso, a maioria foi com alguma roupa temática ou fantasia completa do heróis favorito. Eles não viram nenhuma delas com algo que remetesse a feiticeira.

Parando para pensar, alguns pais dessas crianças realmente falaram com os organizadores para tirarem Ravena do palco quando ela estava com Robin, porque várias crianças menores estavam com medo de chegar perto. Não melhorou nada quando a empatia de Ravena a sobrecarregou e, acidentalmente, explodiu duas câmeras de dois jornais. Foi aí que anunciaram o intervalo.

Burros, era isso que eles eram por não perceberem nada; eles se repreenderam.

- Você... Gostaria de ir embora? – Estelar perguntou, pegando a mão de Ravena e a apertando gentilmente – Eu vou entender. Posso dizer aos meninos que as emoções estão começando a te sobrecarregar e você precisava meditar. Duvido que seja mentira.

Ravena conseguiu dar um sorriso pequeno para Estelar, agradecendo por ela ser tão compreensiva. Soltou a mão dela e passou as suas sobre o rosto, limpando as lágrimas e tentando dispersar o vermelho que devia ter se alojado lá.

- Não, tá tudo bem. Falta só duas horas, não vou desistir tão perto da linha de chegada.

- Tem certeza? Tenho certeza de que...

- É uma questão de honra agora, Estelar. E eu sou teimosa demais para desistir de alguma coisa, você me conhece. – se levantou – Os meninos tão chegando, as emoções dele tão ficando bem altas. Você me promete que não vai comentar nada sobre isso?

Estelar sorriu e fez um X em cima do coração, uma coisa que ela diz ter aprendido com um programa de TV noturno. Ravena tomou isso como um sim.

Os garotos se encararam e ficaram o mais natural possível ao entrarem na tenda. Ravena, ao notá-los, se virou de costas, não querendo que vissem seu rosto abatido. E é claro, eles fingiram não notar.

- Compramos presentes! – Robin disse

- E nós nos resolvemos. – Cyborg disse, passando um braço no ombro de Mutano – Troquei o presente dele pagando uma taxa de multa por danos imediatos. Muito obrigado mesmo.

- Não precisaria pagar isso se não tivesse estragado meu presente.

- Não precisaria quebrar se não tivesse me dado um carvão e me classificado como criança má.

- Você não é criança. – Ravena comentou

- Todos somos crianças, Ravena! – Mutano e Cyborg quase gritaram

- Ei, falando no carvão, onde é que ele tá? – Robin perguntou

- Como assim? Ele tá ali na mes... – a voz de Mutano foi sumindo conforme ele viu a mesa vazia – O carvão! – pôs as mãos na cabeça, desesperado

- Cadê ele?! – Cyborg o segurou pelos ombros e o chacoalhou – Onde você colocou?!

- Eu?! Você jogou ele ali!

- Não, sério, garotos. Cadê o carvão? – Robin perguntou, agora mais preocupado

- Eu... Eu não lembro!

- A última vez que eu vi ele, eu só tava embrulhando alguns presentes com a Star e o Cyb. – se jogou no chão e começou a procurar

- Eu lembro de ter visto ele na mesa também. – Estelar disse

- Vocês não lembram onde colocaram uma pedra?

- Qual é, Rob! – Cyborg exclamou, começando a procurar – também – Nós três estávamos bravos, furiosos. Acha mesmo que a gente prestou atenção em onde jogou uma pedra? Estávamos brigando e embrulhando presentes ao mesmo tempo!

- Onde vocês estavam exatamente? Vamos com calma, vamos refazer os passos.

Rapidamente, os três tomaram seus lugares anteriores, simulando seus movimentos enquanto narravam de forma desesperada o que cada um fazia, confundindo os dois pássaros, que tentavam entender a todo custo.

- ... E então eu embrulhei mais um boneco do Aquaman aqui, um boneco mais feio do que o burro sarnento que o Mutano se transforma...

- ...Aí eu comecei a pensar na cara da Kitten e acabei derretendo o instrumento musical com furos, mas foi totalmente acidental, a menos que fosse a cara da Kitten mesmo...

- ... E eu martelei meu dedo sem querer, foi só então que eu percebi que o Cyborg tinha me feito achar que era a pistola de fita...

- ... E a gente concordou que a Estelar podia derreter o cabelo da Kitten na próxima luta e nós apoiaríamos fingir que foi acidente...

- ... Eles prometeram fingir que foi acidente quando na verdade tudo que eu queria era jogar aquela troknark na arena de gladiadores bugenkoffs...

- ... A gente começou a brigar de novo, eu virei um gambá e soltei uma grande bomba fedorenta no rosto do Cyborg...

- ... Eu quase morri com a bomba fedorenta...

- ... Senti um aroma horrendo, mas achei ser apenas a urina das crianças menores e assustadas com medo da cara feia da Kitten...

- ... E eu comecei a embrulhar uma bola meio estranha, não era exatamente redonda, mas eu ainda tava tão bravo que nem reparei...

- ... Depois eu peguei um presente meio redondo da mão do Cyb, mas meio desigual, já que não era liso, inclusive muito mal embrulhado e começamos a brigar por causa do trabalho relaxado que ele tava fazendo por causa da birra dele comigo...

- ... A confusão tava ficando muito grande, eu ouvi uma câmera quebrando, achei que a briga deles tava incomodando a Ravena lá fora, peguei o presente mal embrulhado, joguei em uma sacola, grampeei, joguei na caixa de presentes e comecei a discutir com eles por serem tão infantis e negativos em um feriado tão feliz...

- E aquela foi a última vez que eu vi o carvão. – os três concluíram juntos, imediatamente arregalando os olhos e se entreolharam – O carvão!

Robin e Ravena arregalaram os olhos também.

- Embrulharam o carvão?! – Robin rosnou

- Deram o carvão para uma criança?!Ravena grunhiu, batendo na própria testa

- Não foi por mal! – os três exclamaram juntos e começaram a falar um por cima do outro, discutindo entre si

Ravena se virou para Robin, cética.

- E agora? Se uma criança ver que ganhou um carvão, vai começar a chorar!

- A gente precisa vasculhar aqueles presentes, tirar o carvão de lá antes de alguém achar. Estelar! – chamou – Em qual sacola você colocou? Alguma cor, tamanho?

- E você acha eu lembro?! Eu tava ocupada demais impedindo instintos assassinos de reagirem para prestar atenção em embalagens bonitas, por mais fofas que elas sejam!

- Isso é culpa sua, você destruiu o meu Natal com aquele carvão e esse é o seu carma! – Cyborg exclamou, cutucando o peito de Mutano – Por favor, tocar Karma da Taylor Swift agora, por favor! – gritou para o teto, como se, de algum jeito, alguma câmera escondida transmitisse sua mensagem

- O quê?

- A gente tem que achar aquele carvão! – Robin declarou, sem brechas para discussão – Temos que ir lá antes que o intervalo acabe e...

A campainha tocou e os cinco congelaram. Não tinham mais tempo. Eles se entreolharam, sem saber o que fazer. Era o último horário, a última visita para o Papai Noel antes da ceia, nada podia dar errado agora.

O organizador, infelizmente, já estava na saída da tenda, os esperando. Robin grunhiu, colocando a barba, peruca e gorro de novo, sendo obrigado a colocar o enchimento de volta também.

- Tem duas caixas de presentes embrulhados aqui, vocês três, procurem aqui dentro. A Estelar e eu tentaremos procurar nas caixas perto da poltrona.

- Vocês não podem mexer lá livremente. – Cyborg o lembrou

- Nós vamos tentar! Achem aquela pedra!

Quando Robin e Estelar saíram, os três imediatamente começaram a dissecar as sacolas coloridas e brilhantes atrás daquele presente amaldiçoado.

Revistaram cada um deles mais de uma vez e, como o universo os ama, não acharam aquela porcaria em nenhuma delas. Ravena tinha que admitir, até ela estava começando a ficar nervosa. Imaginou Melvin naquela fila, animada para ganhar um presente novo, feliz como todos naquele feriado. Imaginou Melvin abrindo o presente eufórica só para se decepcionar ao encontrar uma grande pedra de carvão, um símbolo de mau comportamento. Imaginou Melvin começando a chorar por causa disso.

Essas imagens a machucaram mais do que ela podia explicar.

Não queria que isso acontecesse.

- Nada! Não tem nada aqui! - Mutano exclamou

- Burro, burro, burro! – Cyborg murmurou batendo na própria cabeça com as mãos repetidamente – Eu devia ter prestado atenção, eu devia ter notado.

- Não, Cyb. Eu não devia ter te dado o carvão aqui, pra começo de conversa. Por minha culpa, é capaz de uma criança super boazinha e bem comportada ganhar um carvão e achar que todo o esforço pra ser legal foi pra nada!

- E pra ser legal precisa de esforço?

- É claro! Olha pra Ravena!

- Rato.

- Viu? É por isso que você não é legal.

- O quê? Não, não tô nem aí se eu sou legal ou não. Rato. – se virou para eles – Nós não podemos ir lá e começar a xeretar os presentes, o Robin não pode sair da poltrona e eu já ouvi o organizador geral brigar com a Estelar toda vez que ela começa a mexer neles. É o seguinte, Mutano.

- Sim, senhora.

- Você vai se transformar em um rato e se esconder nas caixas, procurando essa pedra de qualquer jeito, o mais rápido possível!

Ele piscou, raciocinando, mas um longo sorriso cresceu em seu rosto. Correu ao lado dela e a segurou pelos ombros.

- Ravena, você é tão genial que eu podia te dar um beijo!

- Faça isso e outra dimensão te espera!

- Relaxa, eu não vou! – sorriu mais e a encarou por um tempo

Sem aviso prévio, deu um beijo na bochecha dela e correu para fora da tenda, se transformando no roedor, mas não sem antes gritar um:

- Foi mal, não resisti!

Ela piscou, atordoada. Olhou para Cyborg e o viu sorrindo de orelha a orelha. Rapidamente desviou o olhar e o amigo robótico já tinha visto o rubor em suas bochechas.

- Não pense que eu não vi isso, maninha!

- Não pense que eu esqueci que você arruinou o Natal de uma criança. – contra atacou e ficou satisfeita quando a resposta de Cyborg foi só um muxoxo triste



- Você já tá nessa caixa há muito tempo, amigo Mutano. – Estelar sussurrou, mantendo o rosto sorridente para frente e para não denunciar as façanhas do roedor – O namorado Robin já está deixando as outras crianças com ciúme por esta ficar tanto tempo conversando com o Papai Noel.

Um pouco mais à esquerda, Robin havia puxado uma conversa aleatória sobre a máscara da fantasia do garoto, de no máximo 10 anos, ser muito bem feita, dando tempo a Mutano, mas depois daquilo, o garotinho animado começou a tagarelar até não poder mais, deixando um Robin meio desnorteado – mas não incomodado – e várias crianças ciumentas.

Estelar desviou os olhos para a caixa de presentes por segundos, mas viu a cabeça de um rato verde aparecer entre os embrulhos e balançá-la negativamente. Nada ainda.

- Como não? Você tem um bom faro, por que não o usa agora?!

Como não podia falar na forma dos animais, Mutano não falou, mas soltou uma série de guinchos histéricos e balançou o rabo longo de forma acusatória, parecendo ofendido. Aquela caixa cheirava a alho e cebola, não era nada fácil achar um cheiro diferente disso e dos plásticos e papéis perfumados que atacavam seu nariz, fazendo seus olhos lacrimejarem o tempo todo que esteve lá.

Robin e Estelar olharam para a fresta se abrindo da tenda, não muito longe dali. A cabeça de Cyborg apareceu, uma expressão comicamente desesperada, negando várias vezes. Nada nas caixas lá de dentro.

Então agora eles tinham certeza, o carvão estava entre aqueles presentes.

- Estelar!

Ela gritou de susto e se virou para um dos organizadores de eventos, abrindo um sorriso amarelo e entrando na frente da caixa bem a tempo de impedir que ele visse o rato verde mergulhando no monte de brinquedos.

- Por que tá tão concentrada na caixa de presentes? Tem algum problema com elas?

- Hããã... Não.

- Você parecia aflita, eu posso olhar se tem...

- Não! – segurou os braços do homem quando ele começou a mexer na grande caixa, mas se lembrando de tomar cuidado com a força – Eu só... Eu adorei o trabalho do velho Noel e... Estava me perguntando se eu... Poderia assumir esse manto no ano que vem.

O organizador, o crachá dizendo John, franziu o cenho. Ninguém gostava de ser o Papai Noel, era um trabalho exaustivo, frustrante e nem um pouco lisonjeiro. Normalmente, o pessoal do shopping tinha que oferecer uma fortuna para alguém assumir o manto por pelo menos uma noite.

- Eu... Posso tentar falar com o meu gerente antes de te dar a confirmação.

- Claro, claro. – sorriu educadamente

Quando John foi embora, ela olhou para a caixa de novo e, para seu alívio, viu o rato verde cair da caixa para o chão, segurando uma sacola verde com flocos de neve entre os dentes. Um pequeno portal negro se abriu atrás da caixa, longe da vista de todos. Mutano, agora na forma de coelho, balançou o rabo de pompom animado, jogou o presente do portal e se preparou para pular de uma maneira gloriosa, mas acabou tropeçando nas próprias orelhas e caiu de cabeça no portal. Estelar jurava que ouviu a queda dolorosa no chão da tenda. Esse pensamento foi confirmado quando ouviu a risada escandalosa de Cyborg.

Ótimo.

Voou até o braço da poltrona, fazendo os olhos do garotinho mascarado brilharem. Robin aproximou a orelha dela, já sabendo que deveria ser secreto.

- Amigo Mutano achou o carvão. Ele acabou de sair. – sorriu

- Ótimo. – suspirou aliviado

- Vocês dois estão namorando? – o garotinho perguntou

Robin deu um sorriso amarelo e Estelar se virou de costas, andando até seu posto para não precisar responder. Sim, estavam namorando, mas ao contrário do que muitos achavam, não estavam prontos para levar isso a público ainda. Era apenas o começo de uma relação e não queriam que a pressão do público estragasse o que tinham. Era, como Cyborg e Mutano afirmaram uma vez, "Como Tom Holland e Zendaya, o namoro é sagrado demais para o olho gordo do público".

- Vai lá, garoto. Vai abrir o presente. – Robin deu um tapinha em suas costas

O garoto não precisou ouvir duas vezes, gritou de animação e pulou do colo de Robin com seu presente na mão, correndo para os pais. Robin quase deu outro suspiro de alívio, mas considerando que faltava 1 hora para todo aquele evento acabar, de alívio não tinha nada.

John e outro organizador trouxeram as caixas restantes e logo, o que na verdade pareceu uma eternidade, estavam na última caixa, com poucas – em torno de 60 – crianças na fila.

- Vou beber água e falar rapidinho com a Ravena. Volto já.

- Traz água, por favor, Star. Minha garrafa secou.

Estelar voou até a tenda e Robin se virou para a próxima criança, mas acabou congelando ao ver o rosto da menininha. Cabelos ruivos volumosos, rostinho sardento e olhos azuis enormes brilhando de empolgação. Quando ela sorriu, Robin percebeu que faltavam dois dentinhos da frente.

- Ei. – ele disse, piscando

- Oi, Papai Noel! – exclamou

- Qual seu nome, pequena?

- Kira! E eu não sou pequena, já tenho sete anos!

Robin sorriu e isso só serviu para fixar na sua cabeça o pensamento de que a garotinha, Kira, era uma mistura perfeita dele e de Estelar. Poderia ser precipitado pensar isso, já que o namoro não tinha sequer três meses, mas às vezes, quando não estava pensando em suas paranoias sobre vilões e traições, ele se pegava pensando em como ele e Estelar podiam viver juntos e em como, algum dia talvez – tudo dependia dela querer, ele nunca faria nada que ela não quisesse, seria a filha ou filho deles.

Ah! – ela exclamou, arregalando os olhos

Colocou o dedo na frente da boca, pedindo silêncio e pediu pra ele aproximar o rosto. Robin assim o fez. Kira fez conchinha no ouvido dele.

- Eu sei que é você, Robin, mas fica tranquilo, não vou falar. Shhhh.

Robin conseguiu sorrir mais ainda. Kira era, definitivamente, uma personificação exata do que ele imaginou que sua filha com Estelar podia ser.

- Obrigada, Kira. – a arrumou no seu colo – Então, conta pro Noel. O que você vai querer?

- Não são presentes aleatórios?

- Hããã... Sim, mas... Eu posso passar o recado para o Papai Noel de verdade.

- Verdade? – os olhos azuis brilharam mais ainda – Porque a mamãe e o papai não podem me dar o que eu queria.

- E o que é?

- Um boneco do meu Titã favorito. – sorri de novo – Mas eles nunca acharam. Mas fica tranquilo, Papai Noel, não é você. – tentou piscar um olho só, mas não conseguiu e acabou piscando os dois – Na verdade, eu queria conhecer ele, mas eu não posso tirar os elfos da fábrica de brinquedos.

Robin riu.

Na tenda, Estelar nem estranhou a cena acontecendo quando entrou. Cyborg, sentado no chão e admirando uma fita cassete com o nome "Clube dos Cinco" e falando sozinho sobre as curiosidades do filme retrô enquanto Mutano irritava Ravena com alguma coisa, interrompendo a leitura dela.

- Quando você comprou um livro? – Estelar perguntou

- Cyborg comprou pra mim quando foi comprar mais coxas de frango. Tentei agradecer, mas ele tá entretido demais com o presente dos anos 80. – resmungou – Se você não parar com essas piadas de Natal, você vai mesmo parar no Polo Norte, enterrado em um fosso de neve e eu vou garantir que você não saia de lá tão cedo! – rosnou para Mutano

- Vamos, Ravena. Não seja um Grinch e aprecie o espírito natalino.

- Eu não sei quem é Grinch.

- É um...

- Eu não perguntei quem era também.

- Cadê o equipamento de água móvel? – Estelar perguntou depois de rodar o pequeno espaço atrás da água

- A Ravena explodiu.

- Puxa, Ravena. – Estelar suspirou

- Foi culpa do Mutano.

- Minha?! O Cyborg também tava brigando!

- Quem foi que deu o carvão pra ele, pra começo de conversa?

- Será que ninguém tem senso de humor?

- Ninguém é insensível.

- Você é!

- Eu sou insensível consciente, essa é a diferença entre nós dois.

Estelar, sem poder reabastecer á agua, começou a andar de volta para o cenário, mas acabou chutando a sacola do carvão sem querer. A sacola caiu aberta e de dentro dela, uma pedra marrom deformada saiu de lá. Estelar podia não entender muitas coisas, mas tinha certeza de que aquilo não era o carvão que Mutano tinha dado pra Cyborg.

- Amigos, o que é isso?

Os três mudaram sua atenção para a pedra marrom na mão de Estelar. Cyborg se levantou e foi até lá, analisando, até seu rosto mudar para entendimento.

- É uma almôndega mágica. É nova na área dos brinquedos, é igual aquela bola mágica que dá conselhos, mas o invés de ser uma bola, é uma almôndega. – explicou

- Por que trouxe isso, Star? – Mutano perguntou

- Eu não trouxe. Era o que estava na sacola que o amigo Mutano trouxe com o carvão.

Mutano, Cyborg e Ravena arregalaram os olhos lentamente ao entenderem o que aconteceu. Ravena deu um tapa na cabeça de Mutano que, despreparado, caiu para o lado.

- Não pensou em olhar a sacola quando chegou aqui pra conferir se era mesmo a droga do carvão?!

- Vocês podiam ter olhado também. Eu cai de uma altura alta demais para um coelho se sentir confortável. Doeu!

- Você sempre diz que seu faro nunca se engana! – Cyborg exclamou

- Aquela caixa fedia a alho, cebola e todos os perfumes e essências dos embrulhos de presentes. Tente cheirar aquilo por 20 minutos a ponto de ficar cego por conta do fedor e aí sim nós conversamos!

- Calma, ainda dá tempo de achar, é só a gente... – Estelar começou a falar

- O Papai Noel me deu carvão. – ouviram uma voz chorosa do lado de fora

Os quatro congelaram por um minuto, olhos arregalados, antes de todos praticamente voarem para fora – Estelar e Ravena literalmente. Quando saíram da tenda, deram de cara com a confusão.

Uma garotinha ruiva estava sentada no último degrau do cenário, segurando a pedra de carvão enorme nas mãos e chorando copiosamente, o rosto vermelho quase se fundindo ao cabelo. Robin olhava para aquilo chocado, saindo da poltrona e foi ao lado dela, falando alguma coisa, mas ela não parecia ouvir.

As câmeras de reportagem gravavam tudo como se fosse a melhor coisa do mundo enquanto outras crianças começavam a chorar na fila, com medo de ganharem carvão também.

Os organizadores tentavam acalmar a multidão de pais indignados, mas o foco estava nos pais da garotinha, que tentavam fazê-la parar de chorar por trás das fitas.

Robin os viu e, por trás da máscara, os fuzilou com olhos furiosos. Os quatro se entreolharam, sem saber o que fazer. Estelar foi a primeira a voar pra lá e se ajoelhar ao lado da menina.

- Ei, pequena bungorf. Não chore por causa de uma pedra. – ela disse com calma – Isso não passa de um acidente.

- É, Kira. Não foi por querer.

- O Papai Noel me deu carvão. O Papai Noel nunca se engana! – ela chorou – Mas eu me comportei bem, eu ganhei um monte de estrelas douradas na escola e arrumei meu quarto todo dia. Por que o Papai Noel me deu carvão?

Perto da tenda, Cyborg dava vários petelecos em Mutano, os dois começando uma discussão sussurrada. Ravena continuou assistindo enquanto os amigos tentavam e falhavam em acalmar a garotinha. Estelar começou a falar algo que chamou sua atenção e ela parou de soluçar por um minuto, mas conforme a tal história se desenrolou, Robin começou a fazer gestos desesperados, mandando a namorada parar, mas foi ignorado.

Quando Estelar terminou, ela deu um soco na palma de mão e sorriu com a conclusão de sua história, mas a ruivinha logo começou a chorar de novo, mas mais alto dessa vez. As câmeras se aproximaram, se desvencilhando das tentativas de Robin de pará-las.

Foi empurrada levemente para o lado quando Mutano e Cyborg correram para o lado dos amigos e da criança no cenário, com o robótico sofrendo para se sentar no chão de novo com a roupa nada adequada para as partes de metal. Era complicado de mexer.

- Ei, o Rob-Papai Noel de chamou de Kira, né? – Mutano começou – Vamos, não chora por causa do carvão. É... É só uma pedra boba.

- É uma coisa sem sentido, garota. – Cyborg disse suavemente – Era só uma piada.

- Piadas são para a gente rir. Eu não quero rir. – ela soluçou, mais lágrimas caindo – Eu fui bem comportada o ano todo, bem mais que meus irmãos, e eles ganharam um carro de controle remoto, um boneco do Cyborg e uma nerf maior que o meu braço, e eles nem tiram boas notas. – apertou os olhos quando uma onda de novos soluços tristes veio – E eu ganhei carvão. – chorou mais alto

Os quatro se entreolharam, sem saber o que dizer quanto a isso, Robin mais ainda, já que tinha falado com os irmãos dela e, diferente de Kira, nenhum deles era muito comportado. O mais velho, que parecia ter uns 10 ou 11 anos, disse que quando doaram comida para a ceia de Natal comunitária foi uma perda de tempo, já que os "mendigos só vão entrar aqui pra roubar e sair correndo quando conseguirem o querem". Robin só lhe deu o presente porque o organizador o lembrou das câmeras o filmando e ele tinha mesmo que fingir ser o Papai Noel para as crianças menores.

- Hããã... – Cyborg sorriu com a brilhante e perversa ideia que teve – Você quer uma piñata? Meu amigo Mutano aqui pode se transformar no animal que quiser e ser sua piñata!

Estelar e Robin olharam para eles assombrados e chocados enquanto Mutano abria a boca ofendido. Tá bem, ele já tinha entendido que deu mancada, mas por favor, ele já estava farto!

- Qual é o seu problema? – os Titãs perguntaram

- Nem os elfos são bonzinhos? – Kira chorou – Eu achei que o Natal era mágico, a época de ganhar presentes e comer biscoitos de pijama. Por que tá tão errado hoje?

- Ei, Kira, não...

- Vocês acabaram de presenciar em primeira mão na casa de vocês, senhoras e senhores. – Finn Nimbus exclamou – Um carvão como presente de Natal e agora os elfos oferecendo violência como solução? Olha, eu não sei vocês, mas pra mim, o Natal dessa garotinha foi oficialmente arruinado!

Ao ouvir isso, Kira chorou mais alto e ignorou o que os Titãs diziam. Vendo isso, Ravena nunca quis tanto explodir a cabeça de alguém como queria explodir a daquele repórter intrometido e mentiroso.

Olhou para dentro da tenda e viu a almôndega mágica em cima da mesa. Cyborg tinha dito que aquilo dava conselhos? Suas ideias se confundiram um pouco com a enxurrada de emoções em sua cabeça e ela ouviu mais alguma coisa explodindo. Ela esperava que fosse a câmera de Finn Nimbus.

Suspirou colocando o gorro de novo e saiu da tenda, flutuando até onde a menininha estava. Os quatro Titãs estranharam ela aparecer enquanto algumas crianças e afastavam da fita conforme ela se aproximava. Ravena fingiu não ver, ignorando-as completamente e se sentou no degrau ocupado anteriormente por Mutano.

A ruivinha ergueu a cabeça e arregalou os olhos ao vê-la. Ravena ignorou, achando que ela estava com medo, então tentou ser rápida.

- Sabe, não precisa chorar por causa disso.

- Mas... O Papai Noel me deu carvão. – Kira choramingou

- Mas... Isso... não é carvão.

Nem só os Titãs, como todo mundo em volta piscou, confusos. Kira fungou e olhou para a pedra na sua mão, dando para Ravena quando ela pediu.

- Ah, eu reconheço isso. Isso não é mesmo carvão. Isso é uma... – pensou – Pedra mágica do Natal!

- É? – Kira piscou, nem mais nenhuma lágrima nova caindo, se acalmando

- Eu nunca me engano. Essa pedra mágica é muito rara e só pode ser encontrada na época de Natal.

- Mas ela parece um carvão.

- Isso é para disfarçar das outras crianças esse presente tão raro, já que quem recebe a pedra mágica do Natal são só as crianças mais especiais.

Um sorriso começou a crescer no rosto da garota. Os Titãs ficaram chocados, Ravena estava confortando uma criança e a fazendo sorrir. Ela tinha pegado jeito com crianças depois de Melvin e os meninos, mas não esperavam que fosse tanto.

- Sério? – o sorriso ficou maior ainda – E o que essa pedra faz?

- Hããã... Ela... Te dá um prêmio! – deu um sorriso pequeno e sem dentes para ela

- Tá brincando! Que prêmio?! – pulou no degrau, se levantando e limpando o rosto

A boca de Ravena parou aberta, se amaldiçoando. Ela não havia pensado em tudo. Os Titãs e Kira a olhavam com expectativa, as crianças na plateia também.

- É, o prêmio é... O prêmio é... Qual é o prêmio, Mutano?

Mutano foi pego de surpresa, arregalando os olhos. Agora as expectativas caíram sobre ele. Certo, sua chance de se redimir por quase arruinar o Natal de uma criança. Será que foi isso que Ravena pensou? Ele duvidava, mas gostou de acreditar que sim.

Ravena se levantou e foi para o fundo do cenário, agora deixando os outros resolverem. A menina já tinha parado de chorar, ela fez a sua parte.

- Claro, o prêmio... – olhou para o rosto sardento de Kira e sorriu – Vai poder aproveitar os poderes do seu Titã favorito!

Os olhos de Kira quase saltaram das órbitas de tanta animação. Ela olhou chocada para os pais, que sorriram para os Titãs, agradecendo por resolver a situação. Os outros sorriram e, agora, várias crianças gritavam, querendo a pedra mágica também.

- Sério? Sério? Sério?!

- É! E aí? Quer uma carona em um magnífico cavalo verde? Posso me transformar no que você quiser. Quer um cachorro? Adoro brincar de pegar a bolinha!

- O cabeção, você nem sabe se é o favorito dela! – Cyborg o empurrou e se ajoelhou na frente dela – E aí, garota? Quer atirar com o canhão do meu braço? Ou voar na velocidade da luz com a Estelar? Aposto que o Robin também não se importaria de deixar você usar um pouco os brinquedos dele.

- Meus brinquedos são perigosos demais. – Robin apontou – Mas eu posso te ensinar alguns movimentos com o bastão.

- Ravena! Ravena! Ravena! – Kira gritou, pulando

Todos congelaram, Ravena mais do que todos. Kira se desviou de Mutano e Cyborg e correu para a empata atrás deles, mas diferente do que achavam, não a abraçou. Kira pareceu respeitar um certo espaço.

- Eu falei pro Rob... Pro Papai Noel que eu queria um boneco seu, mas eu nunca achei. – ela resmungou – Mas agora você vai brincar comigo? Com seus poderes? É muito melhor!

- Meu boneco?

- Você é minha Titã favorita! É a mais legal de todas!

O rosto inteiro de Ravena se franziu de confusão, espantada. Ainda pega de surpresa, se ajoelhou lentamente na frente da menina, ignorando as pessoas ao redor.

Estelar foi a primeira dos Titãs a começar a sorrir com a cena. Os Titãs assistiram Kira tagarelar sobre porque a feiticeira era a favorita entre todos os outros e porque os poderes dela eram os mais legais. Não levaram para o pessoal quando Kira disse que a bruxa era a melhor do time e que os poderes eram os mais legais de se ver.

- E como eu nunca achei uma fantasia sua, eu pedi pra mamãe fazer essa blusa pra mim. – Kira se atrapalhou com a cordinha e os vários botões do casaco peludo que usava, mas quando a menina abriu a blusa, Ravena sentiu o fundo dos seus olhos arderem. – Com todo respeito, mas a senhorita não tem tantas fotos de boa qualidade na internet. A mamãe fez o podia com o material que tinha. – falou em um tom de repreensão, fazendo muitas pessoas rirem

Era uma simples camiseta preta, mas com a foto de Ravena fazendo a propagando do chiclete japonês e, real e provavelmente, a única foto boa dela na internet. Olhou de novo para o rosto brilhante de Kira e conseguiu dar um sorrio. Um sorriso maior do que os anteriores.

- Nós temos 30 minutos até a Ceia comunitária. Acha que dá pra aproveitar um pouco até lá?

- SIM!

Ravena se levantou e Kira pulou em seu colo. Ravena a arrumou para que conseguisse segurá-la com segurança e não reclamou quando Kira pegou seu gorro, colocando em cima dos cabelos ruivos rebeldes. A criança elogiou o cackra em sua testa e disse que também queria ter cabelos roxos, já que era a cor favorita dela.

- Precisa de reforço? – Robin perguntou, sorrindo e já sabendo a resposta

- Eu aguento. – um vórtice negro começou a engoli-las lentamente pelos pés e Kira gritou de empolgação, mas parou por um momento quando chegou à cintura – Ah, antes que eu esqueça.

Os olhos de Ravena brilharam em branco e o microfone de Finn Nimbus explodiu, juntamente com a câmera do cameraman ao seu lado. Todos se afastaram do repórter e ofegaram.

Kira riu e os Titãs quase se juntaram à ela, mas sabiam que não podiam. Ravena deu um sorriso malicioso, arqueando a sobrancelha para as câmeras restante, estas imediatamente desligando. E enfim, Ravena e Kira sumiram no chão.



Duas horas depois, depois de ajudarem a servir a Ceia comunitária, os Titãs finalmente voltaram para a Torre. Cada um correu para seu próprio quarto e tirou as fantasias, substituindo pelos pijamas felpudos de Natal que Estelar achou divertido comprar na semana passada.

Ravena tinha acabado de se jogar na cama, exausta, quando alguém bateu na sua porta. Ela apertou os olhos, frustrada, e pensou seriamente em mandar a pessoa do outro lado da porta para fora.

Tarde demais.

Uma barata verde passou por baixo de sua porta, se transformando no metamorfo vestido com uma calça verde com desenhos de renas e uma blusa longa branca, também com uma rena gigante estampada. Ele sorriu quando não teve uma reação negativa.

- Sério? Eu não voei pela porta? Admito, fiquei decepcionado.

- Tô cansada demais. A Kira tinha energia demais para gastar. – resmungou, colocando um braço sobre os olhos

Mutano estudo o pijama dela e não pode deixar de rir. Estelar tinha escolhido um tipo diferente para cada um e o de Ravena foi logo o de boneco de neve. Calça azul escuro com flocos de neve e uma blusa de manga longa azul bebê com um boneco de neve usando cachecol rosa e um chapéu verde.

- Pijama charmoso.

- Igual sua cara. – contra atacou

- Adorável como sempre, Rae Rae. Levanta, vamos.

Ravena tirou o braço dos olhos e o olho de relance. Ele a encarava com expectativa, os olhos verdes quase dilatados. Ravena se sentou e arqueou uma sobrancelha.

- Onde?

- Como onde? Na sala! A gente vai finalmente trocar os presentes!

- Você já deu o presente pra todo mundo.

- Sim, mas vocês têm que dar os presentes de vocês e eu tenho que receber os meus, e nós não podemos começar sem você.

- Eu não vou fazer falta, vocês já têm todo mundo que precisa.

- Não, eu acho que não. Falta a feiticeira assustadora que fez uma criança parar de chorar hoje, a favorita dela. – sorriu mais ainda – Eu acho que essa feiticeira é você.

- Obrigada pela consideração, mas duvido muito que tenham comprado algo pra mim.

O sorriso de Mutano vacilou, tentando entender. Se lembrou que não deu presente pra ela no shopping com os outros. Se lembrou de ver de canto de olho ela espiando a pilha de presentes dele. Ela realmente pensou que ele tinha esquecido dela?

- Claro que compramos, Rae. Todo mundo. – ela o encarou – Se é por causa do shopping, eu ia te entregar o seu, mas aí o Cyb chegou, eu fiz a piada com o carvão, deu a maior confusão e eu não te entreguei. E... Eu achei meio bobo. Eu acabei indo comprar outra coisa depois quando você tava com a Kira, porque achei que você não ia curtir. A história que você contou pra Star ajudou na escolha. – arregalou os olhos ao perceber que falou, tampando a boca, mas já era tarde demais

- A história? – semicerrou os olhos – Estavam espiando a gente?!

- Não, não, não, não, não! Desculpa. É que, quando nós chegamos na tenda, vocês pareciam estar tendo um momento mais íntimo e não queríamos interromper.

- E ouvir a conversa escondidos foi melhor do que interromper? – perguntou ironicamente

Ele suspirou e assentiu com a cabeça. Ficou surpreso dela não ter reagido mais brava ainda, pelo contrário, ela parecia calma e... Envergonhada?

- Sinto por termos ouvido, mas... Sinto muito mais por tudo que aconteceu com você em Azarath.

- Não precisa. Já faz tempo.

- As coisas doem mesmo depois de 100 anos, gatinha. E tá tudo bem em se sentir mal por isso de vez em quando. Não precisa se fingir de aço com a gente. – sorriu levemente – Acho que você, mais do que ninguém, sabe o quanto nossas cabeças são uma bagunça de dores do passado. – apontou para ela de forma acusatória – Principalmente, com esse vínculo estranho com o Robin. Não é?

- Talvez.

- E, nós pensamos em... Ajudar a melhorar essas memórias.

Ravena franziu o cenho e olhou para a mão que ele estendeu, esperando por ela ansiosamente. Ela continuou imóvel, apertando os lábios em uma linha fina.

- Eu não comprei nada pra vocês.

- Isso é o de menos, gatinha. Você pode compensar isso outro dia. – continuou com a mão estendida – E aí? Vamos?



Robin com seu pijama de Papai Noel – o que fez todos rirem – foi o primeiro a recebê-la na sala. Ela olhou ao redor e viu que os Titãs haviam tirado toda a decoração de Natal da sala e da árvore. Na TV, um vídeo repetitivo de lareira passava, fingindo um fogo crepitante.

- Por que desfizeram tudo? – ela perguntou

- Sabe, é que a gente percebeu que faltava alguma coisa. – Robin comentou, abraçando Estelar por trás – Quem sabe a ajuda da nossa salvadora no Natal?

- Ou de coisas explodindo? Eu amo quando as coisas certas explodem. – Cyborg bagunçou o cabelo dela – Mas por favor, tenta não incendiar essa árvore. Eu construí ela do zero e deu muito trabalho.

Ravena sorriu um pouco, entendendo o que eles queriam fazer. Estelar tinha dado algumas escapadas no T-Car sem querer, mas Ravena estava tão chocada com os acontecimentos da noite que não prestou tanta atenção.

- Não prometo. Muitas pessoas aqui me estressam.

- Eu não duvido.

Os próximos minutos se passaram com os cinco redecorando a árvore, com Robin explicando para Estelar porque não podiam colocar duas bolas da mesma cor juntas na árvore e Mutano tentando convencer todo mundo que os piscas-piscas coloridos eram superiores às brancas e laranjas. Spoiler: Ninguém ligava.

Quando acabaram, Cyborg em seu pijama de bengalas doces se ofereceu para fazer os chocolates quentes enquanto Mutano e Robin escolhiam o filme para depois da troca de presentes.

Foi uma coisa caótica e confusa, então Ravena resumiu os fatos em sua cabeça e arquivou as memórias, anotando mentalmente que sairia amanhã de manhã e compraria presentes para todos e agradeceria pelos que ganhou de novo.

Olhou para os três presentes em sua pilha, sorrindo um pouco. Estelar havia lhe dado um Scooby-Doo de pelúcia – ela não sabia o que era Scooby-Doo, mas parecia fazer sucesso -. Robin lhe deu um jogo de velas aromáticas, uma de canela, uma de lavanda e uma de baunilha. Cyborg lhe deu um globo de neve bem maior do que o normal, com uma cidadezinha cheia de neve – ele havia a pego olhando atentamente para o globo em uma vitrine. Ela nem havia notado quanto tempo perdeu olhando para aquele simples objeto, mas pelo visto devia ter sido uma eternidade. Ela adorou todos.

Enquanto colocavam o filme, Ravena foi encher a caneca com mais líquido quente quando Mutano apareceu na frente dela. A empata olhou de relance para ele.

- O resto dos mini marshmallows são meus, nem tenta. – ela resmungou, divertida

- Não, não é isso... – ele coçou a nuca e colocou uma caixa embrulhada no balcão – Você não abriu o meu.

Ela arqueou uma sobrancelha, mas pegou a caixa e ficou surpresa com o peso. Não era pesada considerando o tamanho da caixa. Rasgou o papel com cuidado e abriu a caixa, sentindo os olhos de Mutano queimarem sua cabeça.

- O que... O que é isso? – tirou da caixa e a colocou no balcão

Era uma rosa transparente, esculpida com o caule meio torto, em cima de uma pequena plataforma preta com um minúsculo botão vermelho. Ela franziu o cenho, inspecionando o presente com cuidado, tentando entender o que era. Apertou o botão e tanto o caule quanto as pétalas se iluminaram com luzes fracas e coloridas.

- É uma luminária. – disse hesitante

Ravena o olhou cética.

- Acha que eu tenho medo de escuro? Prazer, Ravena.

Ele riu um pouco, afastando a mão que ela estendeu com ironia.

- Não. É que, depois que eu ouvi sobre... Azarath, sobre o templo vazio, escuro e frio...

- Eu sei sobre o templo, desembucha.

- Achei que, ter um pouquinho de luz em algumas situações ajuda a... – sorriu de forma travessa – Iluminar suas ideias e a sua perspectiva sobre vários assuntos, tipo o Natal.

- E... Por que uma rosa?

- Porque rosas são lindas e, você... – parou de falar, suas bochechas ficando vermelhas – Você também. – disse timidamente

Ravena o encarou em silêncio, se esquecendo de como falar e, mesmo que se lembrasse, não saberia o que falar. Sentiu suas bochechas corarem também, desviando o olhar para a rosa. A flor brilhando em tons de rosa, roxo e azul de forma delicada e discreta.

Ficaram em silêncio por um momento, mas não era o silêncio constrangedor e tenso, era mais como um confortável e calmo, como se não precisassem falar mais nada.

- Ei, pombinhos. Vocês vão ficar aí ou vão vir assistir o filme? – Cyborg gritou do sofá

Ravena viu a tela da TV e segurou um sorriso. Na grande tela da Torre, a imagem do verde e mal-humorado Grinch aparecia. Uma bela maneira de homenageá-la, ela diria.

Mais tarde, enquanto a icônica cena de Grinch procurando uma roupa para sair passava, Ravena sentiu uma caixinha de veludo tocar a sua mão. Ela olhou para baixo e viu a de Mutano se afastando lentamente.

O presente que ele ia descartar, ela percebeu.

Devagar e discretamente, ela abriu a caixinha, respirando fundo com o que viu.

Era uma simples correntinha de prata, com um pequeno pingente de corvo. Um corvo com bordas douradas e olho com uma pedrinha brilhante. De forma discreta para não chamar a atenção dos outros, pegou a correntinha nas mãos e passou o polegar pelo pingente. Seu animal espiritual, um dos animais mais inteligentes do mundo que muitas vezes era visto como símbolo de azar. Um animal que Mutano constantemente se transformava toda vez que tinham que voar. Comprimiu os lábios, pensando no significado e olhou de canto de olho pra ele.

Ele achou mesmo que ela não ia gostar?

Era uma coisa simples e nada original, ele pensou, se amaldiçoando por ter dado aquilo para ela. O silêncio dela disse tudo. Quando ia pegar o presente de volta e implorar para ela esquecer aquela coisa vergonhosa, sentiu um dedo frio encostar em seu mindinho sem luva.

Olhou para baixo, vendo o dedo mindinho de Ravena se enroscar lentamente no dele, passando despercebido por todos. Olhou para o rosto dela, que continuava concentrada no filme e não lhe deu um único olhar, mas ele sorriu mesmo assim, retribuindo o aperto.

- Feliz Natal. – sussurrou para ela

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