Eu aprendi a gostar da chuva. Quando era criança, eu a detestava, pois a chuva me impedia de brincar no quintal, de me divertir com meus amigos; então, eu sentava perto da janela e ficava observando, esperando a chuva passar. 

Eu via as gotas tocar o chão e respingar, as ouvia no telhado da casa e no vidro da janela, eu adorava ver as gotas na janela, muitas vezes, para passar o tempo, eu escolhia uma gota e a acompanhava escorrer pelo vidro, até chegar a base da janela, também apostava numa corrida imaginária de gotas d'água… coisas de criança.

Passei a prestar atenção nas pequenas coisas da chuva. Em como ela tanto pode ser estrondosa, como um show de rock, quanto suave, como uma canção de ninar.  Em como cada gota cai solitária e se junta com as outras, para  tornar-se uma única correnteza, e correndo transformar-se  num rio, que por sua vez se encaminha diretamente para o oceano, o berço de toda gota d'água, para então retornar ao céu e caí mais uma vez, recomeçando o ciclo.

Hoje eu olho fascinada em como a chuva nos conecta, do mesmo jeito que cai no meu telhado, ela cai no telhado do vizinho e cai na praça no final do quarteirão. Acredito também que a mesma chuva que cai sobre o meu telhado agora, pode ser a mesma chuva que caiu, em tempestades passada, em telhados a  milhares de distância daqui. 

São muitas as histórias que a chuva carrega. Ela me cativou e espero, um dia, desvendar todos os seus mistérios.