O mundo dos desejos II
Quando Pesadelo e Sonho estalaram os dedos faíscas voaram, vindas de todos os lados, e iluminaram o caminho a frente, uma trilha levava a um lugar lindo, brilhante e encantador. Rafael ficara boquiaberto, olhava vislumbrado para o topo de enormes prédios com lamparinas douradas, brilhantes, e para as pequenas casas, abaixo dos prédios, com uma iluminação discreta. Ao longe se via um ofuscante brilho que o rapaz não sabia destinguir direito o que poderia ser.
Pesadelo e Sonho tomaram uma forma física. Pesadelo vestia roupas roxas e tinha uma pele meio acinzentada; Sonho tomou um vestido preto com detalhes avermelhados nas mangas e na bainha.
— Você é sempre extravagante! — Pesadelo a olhou com ceticismo.
Sonho devolveu o olhar, mas acrescentou um certo tom de desprezo ao reprovar o look de Pesadelo.
— E você deveria escolher algo além da mesma calça e camisa roxa!
Rafael sabia que se não interrompesse Sonho e Pesadelo aquela discussão iria durar uma eternidade, já que um queria ser melhor que o outro.
— Vocês são um casal? — O rapaz decidira perguntar, sem pensar muito no que estava dizendo.
Sonho e Pesadelo pararam com a discussão e encararam, com dúvida, Rafael.
— Como é que você acha que eu namoraria, ou casaria com essa chata?! — Pesadelo olhou de esguelha para Sonho.
— Já lhe disse irmão... — começou Sonho. — Não seja tão indelicado.
— Então vocês são irmãos? — Rafael ainda tentava entender o que estava acontecendo ali, o rapaz estava em choque.
— Sim! Os melhores no que fazemos!
— Até melhores que nossos pais! — Pesadelo fez surgir duas minúsculas figuras na palma da sua mão.
— O que vocês fazem? — perguntou Rafael. — Além de fazerem coisas surgirem por todos os lados?!
— Venha conosco! — chamou Sonho andando em direção à um enorme portão dourado brilhante, era como se aquela fosse a passagem para o paraíso e os dois irmãos fossem os anjos que levariam o rapaz para dentro.
Quando passaram pelo portão um brilho circundou Rafael, como se desse boas-vindas, uma brisa balançou o black do rapaz e o deixou mais aliviado, era como se a brisa levasse todos os seus problemas embora; depois de todas as boas-vindas Sonho começou toda a explicação:
— Este é o mundo dos desejos...
— Chamamos de mundo, mas não passa de uma cidade, é tipo aqueles filmes...
— Ele já entendeu Pesadelo! — interrompeu Sonho irritada —, voltando... Eu e Pesadelo realizamos os desejos de todos os que aqui vivem ou vem parar aqui!
— Então vocês podem realizar meus desejos? — Rafael estava estupefato e incrédulo.
— Claro! — Pesadelo flutuou na frente de Rafael. — Qualquer coisa! — sussurrou Pesadelo. — Ele fez surgir um bolo e o entregou a Rafael, mas sumiu antes que o rapaz pudesse pega-lo. — Mas saiba que são três de cortesia, se você optar por ficar terá infinitos desejos, contudo...
— Já chega irmão! — interrompeu-o Sonho. — Ele já deve ter entendido. — Sonho comprimiu os olhos para Rafael.
— Na verdade eu ainda tenho uma pergunta! — disse o rapaz meio acuado.
— E qual seria? — perguntou Sonho colocando um sorriso sínico no rosto.
— Como e porque eu vim parar aqui?
— É simples... Você desejou algo com muita força e tadam! — Sonho fez tudo a sua volta se iluminar. — O universo lhe trouxe aqui. Se lembra o que foi?
Rafael não precisou pensar muito para descobrir o que ele desejara.
— Eu queria ficar na escola, meu pai queria me tirar, mas eu queria ficar!
— Mas por que você iria querer ficar na escola, aquilo é um pesadelo! — Sonho se virou para o irmão e antes que ele falasse qualquer coisa ela o alertou: — Sem piadas!
— É um garoto! — respondeu Rafael sem jeito. — Eu... Ele... É inexplicável...
— Eu sei bem como se chama isso... — Pesadelo estava pequeno no ombro da irmã, e sua voz saiu fina quando sussurrou no ouvido de Sonho, mas alto o suficiente para que Rafael ouvisse.
Rafael sentira saudade naquele momento, queria voltar, queria ver Vinícios outra vez, mas não queria enfrentar seu pai, não conseguia ter tanta coragem assim, não sabia o que o pai seria capaz de fazer caso ele admitisse que gostava de Vinícios, caso ele admitisse que era gay. O pai iria expulsa-lo de casa? Onde ele iria morar? O pai iria parar de lhe ajudar com sua educação? Todas essas perguntas fervilharam na cabeça do rapaz e só foram embora quando sonho tornou a falar.
— Vamos deixar essas coisas para trás... Qual será o seu primeiro desejo? — perguntou a mulher transformando Pesadelo em sua forma natural.
— Vocês podem me deixar rico, né?
— Sim! — responderam Sonho e Pesadelo em uníssono e fartos de tantas perguntas óbvias.
— E podem me tornar um grande lutador? — Rafael só pensou em Vinícios, em querer vencê-lo.
— É claro!
— Então podem trazer Vinícios?
— Receio que...
— Podemos! — Sonho interrompeu Pesadelo.
O irmão ficou pequeno outra vez e pousou no ombro de Sonho e sussurrou:
— Não sei qual é seu plano, mas de uma coisa eu tenho certeza: como irá trazer alguém por livre e espontânea vontade?
— Tudo é possível com um sonho irmão... — Sonho encarou Pesadelo, e este não voltou a falar.
— Então vocês podem trazê-lo?! — Rafael estava ansioso, depositando sua fé na resposta dos irmãos.
— Claro! — Desta vez os dois responderam em uníssono, mas Pesadelo não falara com o mesmo entusiasmo de Sonho.
A mulher estendeu as mãos, fechou os olhos e uma fumaça rosa escapou por entre seus dedos, a fumaça rodeou Rafael e depois parou na sua frente, um pé escapara para fora, Rafael roía as unhas e a ansiedade só aumentava, quando Vinícios saiu completamente da fumaça e olhou para o rapaz com o mesmo rostinho fofo de sempre, a alegria nos olhos de Rafael era indescritível, era como se uma chama ardesse em seu coração, como se ali tudo pudesse ser diferente, era como se o mundo dos desejos pudesse ser o lugar certo para o rapaz fazer sua declaração à Vinícios.
— É você mesmo! — Rafael abraçou Vinícios com tanta força que sentiu seus finos braços rangerem para envolver o forte corpo do garoto.
— Você está bem? — Vinícios estava preocupado com Rafael, afastou o garoto e o olhou dos pés à cabeça. — E que lugar é esse?
— Eu estou bem sim... Esse é o mundo dos desejos... — respondeu Rafael, um brilho surgiu no alto da sua cabeça, de início ele estranhou, mas estava tão feliz e desconcentrado com a presença de Vinícios que logo se esqueceu. — Aqui podemos ser nós mesmo sem ter que nos preocupar com ninguém! Não é fantástico?!
— Você quis dizer: nós podemos nos esconder sem ter que nos preocupar com o meu pai?! — Pesadelo imitou a voz de Rafael.
O rapaz ficou um tanto pensativo sobre o sermão que acabara de levar.
— Não seja indelicado Pesadelo! — rosnou Sonho olhando feio para o irmão. — Não tire a felicidade do rapaz! Venha, vou lhes mostrar um lugar que com certeza fará com que fiquem...
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