Amor de mãe
— Precisaremos desligar os equipamentos! — disse a médica olhando o prontuário de Elisa e fazendo anotações apressadas. — Avise a família! — Ela pediu para um enfermeiro ali parado a encarando.
Contudo, antes que qualquer um dos dois saísse do quarto Elisa acordou, piscou várias vezes antes de correr o lugar com um olhar curioso, procurava entender o que estava acontecendo, onde estava. Elisa começou a se levantar, sentia um incomoda dor nas costas à medida que ia levantando.
— Fica calma! — A médica correu para manter Elisa na cama, empurrou o ombro da mulher delicadamente e a fez voltar a deitar. — Vamos ligar para o seu marido e seu filho, eles ficaram felizes com essa notícia.
Elisa se lembrou de Rafael, lembrou onde o filho estava e que ele precisava da sua ajuda, lembrou de Sonho, Pesadelo e do Mundo dos desejos, lembrou das atrocidades que lhe foram feitas naquele lugar, e a tristeza voltou a lhe perturbar, Elisa não sabia se um dia voltaria a ser feliz outra vez, se um dia iria escapar da imensa tristeza na qual fora jogada, mas ela precisava garantir a felicidade do filho, precisava tirar forças de onde não tinha. A mulher se descobriu apressada, todas as juntas doíam, mas não tinha tempo a perder, ela tinha de encontrar o filho, arrancou tudo que a amarrava aos equipamentos e empurrou a médica que insistia em empurra-la para a cama, Elisa estava de pé, tripudiou um pouco antes de andar, mas conseguiu manter o equilíbrio.
O enfermeiro ficou na frente da mulher, impedindo sua passagem e insistindo para que ela se acalmasse e voltasse para a cama.
— A senhorita está confusa, é normal depois de passar tanto tempo em coma, por favor, volte para a cama!
Mas Elisa deu pouca importância, empurrou o enfermeiro para o lado, o homem caiu sobre um armário, e saiu andando, a Medica ainda tentou dar uma puxada no pé de Elisa, mas a mulher fora mais rápida e desviou. Elisa não se preocupou com a roupa que estava vestida, só tinha que achar um relógio e o dia, desta forma iria saber onde Rafael estava; a mulher cruzou corredores, se escondeu de seguranças e médicos e muitas das vezes fingi, aos enfermeiros, que fora liberada para ir ao banheiro, aquele hospital era enorme e Elisa só queria encontrar a recepção, depois de uns dez minutos ela chegou a uma recepção, vazia para a sua sorte, olhou a hora num relógio de parede, 13:30, e a data no BATV que passava na televisão, era segunda-feira.
Elisa sabia que o filho deveria estar na escola, aquela seria a hora que ele deveria estar voltando para casa, só torcia para ainda ser a mesma escola. A mulher agora corria pelos corredores já que nos alto-falantes soou a voz de uma mulher alertando sobre a sua fuga:
— Paciente Elisa Silva Medeiros fugiu, repito, paciente Elisa Silva Medeiros fugiu!
Elisa tinha de dar um jeito de sair dali o mais rápido possível, não poderia perder tempo com uma perseguição. Ela quebrou a esquerda, entrando numa porta com uma placa: lavanderia! Era um lugar vasto, várias maquias de lavar empilhadas e num canto duas cestas, uma escrita: Roupas sujas! E outra escrita: Roupas limpas! Mas Elisa não podia sair com as roupas de um paciente, tinha que encontrar qualquer outro tipo de roupa, vasculhou a cesta de roupas limpas, mas só haviam roupas brancas e verdes-limão, as cores do hospital. Não iria procurar nas roupas sujas, não seria nada higiênico.
— Ele deve ter passado por aqui! — gritou uma voz fora da sala.
— Ela não pode ter ido muito longe! — gritou uma outra voz.
Elisa ficou ainda mais desesperada, correu o olho por toda a lavanderia e viu uma bolsa sobre uma das máquinas de lavar, aquela poderia ser sua salvação, ou ela talvez estivesse depositando sua esperança em algo inútil.
Correu para a bolsa e a vasculhou, dentro havia um uniforme com o nome do hospital e um crachá, exatamente o que Elisa precisava naquele momento. Tirou a roupa que estava vestida e no minuto seguinte já estava com o uniforme, prendeu o crachá e saiu da lavanderia, sem correr.
A mulher passou por diversos seguranças, médicos, enfermeiros e até recepcionistas desesperados, Elisa avistou a saída, mas ela estava cercada de segurança, como ela iria sair? Tinha que pensar rápido em alguma solução.
Ela olhou ao redor e viu uma fila de pacientes prontos para sair, Elisa fora os seguindo, evitando ao máximo olhar para os seguranças, os pacientes primeiro tinha sua identidade confirmada e depois eram liberados, aquilo gelou um pouco Elisa, ela sabia que seria reconhecida. Quando chegou a sua vez o segurança colocou uma máquina sobre o seu crachá e ela apitou, depois emitiu uma luz vez.
— Pode sair! — ele disse com uma voz dura.
Elisa não esperou, passou correndo pelo segurança e partiu em disparada para o ponto de ônibus mais próximo, naquele momento ela sentiu um filete de alegria, teve consciência que tinha saída daquela tristeza profunda.
Já eram 14:00 horas quando Elisa chegou na escola preparatória de Salvador, na lapa, a mulher precisou pegar um ônibus para sair de Nazaré e chegar na escola, o percurso fora rápido, mas incomodo, a mulher recebia olhadas de pessoas pouco confortáveis com suas vestes, algumas até tentavam se afastar, evitando se sentar ao seu lado. Quando seu ponto chegou e ela ia soltar o cobrador do ônibus segurou sua mão.
— Onde você pensa que vai?
— Cheguei no meu ponto... — respondeu Elisa com inocência.
— Não está esquecendo de nada? — O cobrador apontou para a catraca do ônibus.
Naquele momento Elisa se lembrou de que deveria pagar a passagem, mas também se lembrou de que não tinha dinheiro.
— É... Desculpa senhor, mas eu não estou com dinheiro aqui nesse momento... — Elisa esperava que o cobrador fosse deixar para lá, mas ele apertou ainda mais o seu pulso.
— Então eu terei de chamar a polícia, você acha que pode dar uma de esperta? — O cobrador estava ficando com raiva.
— Não eu só...
Mas o cobrador já estava com o celular em mão e discava o número da polícia.
— Não precisa ligar para ninguém cobrador... Aqui está o dinheiro! — Uma mulher com uma criança de colo e uma de quatro anos, pagou a passagem de Elisa.
O cobrador, de má vontade, pegou o dinheiro e desligou o telefone, mas ainda olhando mal-humorado para Elisa.
— Obrigada! — disse ela olhando para a mulher que pagou a passagem.
Elisa desceu correndo do ônibus e lá estava a escola. A mulher atravessava a rua às pressas enquanto via uma grande movimentação na frente da escola, havia um corpo estirado no chão e embora Elisa não conseguisse ver o rosto ou as roupas, ela sabia que era o filho.
A mulher começou a correr, não ligou para os motoristas que buzinavam e nem para os que lhe xingavam, abriu caminho pelas pessoas ali paradas olhando o corpo estirado no chão e se jogou sobre o filho.
— Rafael, filho... volta... por favor! — Ela sacudia o filho na tentativa de acorda-lo, assim como foi instruída por Pesadelo, mas o rapaz não acordou.
— O que você faz aqui?! — A voz do pai de Rafael saiu autoritária as costas de Elisa.
Mas a mulher o ignorou, manteve seus esforços em acordar o filho. Deu dois tapas no rosto do rapaz e voltou a sacudi-lo, mas ele ainda estava em coma, a mulher só tinha medo do que poderia estar acontecendo no Mundo dos desejos e que já fosse tarde demais.
No Mundo dos desejos:
Sono já se aproximava e Rafael sentia um frio na barriga, o castelo representava a sentença que ele e Pesadelo estavam prestes a receber.
— Precisamos de mais uma distração... — sussurrou Pesadelo a si mesmo, mas Rafael ouviu.
— O quê?! — perguntou o rapaz.
— Então você vai forçar o garoto a ficar?! — perguntou Pesadelo ignorando, de certa forma, a pergunta de Rafael.
— Você acha mesmo que seria simples assim, depois do que você fez eu só iria lhe perdoar e obrigar o garoto a ficar? — respondeu Sonho, parando e olhando, muito mal-humorada, para Pesadelo, a mulher estava a ponto de explodir. — Estou mais para sugar toda a felicidade do garoto, não deixar nada, fortalecer meus poderes e transferir você para o corpo dele, assim os dois estarão presos pelo resto da ETERNIDADE!
Pesadelo parou, não podia acreditar no que acabara de ouvir da irmã. Sonho, vendo o desespero do irmão soltou aquele seu riso cínico.
— Você sabe que isso é extremamente perigoso, o corpo do rapaz pode não aguentar e...
— Você ficará no corpo dele para sempre?! — Sonho completou continuando a andar. — É isso que eu espero, sua magia só será usada para o propósito que ela foi feita!
Rafael encarou Pesadelo e viu o medo nos olhos dele, o homem tentou estalar os dedos, talvez para sumir dali, mas as algemas que envolviam suas mãos não permitiam magia.
— Fiscais, vocês não podem ir contra um dos seus líderes! — suplicou Pesadelo ao dois fiscais acompanhavam enquanto eram arrastados por Sonho.
— Eles não estão indo contra os seus líderes! — Sonho se virou mais uma vez, mas agora ela andou na direção do irmão e o encarou olho a olho. — Eu irei fazer tudo! E já chega de perguntas ou histórias, fiquem calados!
Eles continuaram sendo arrastados, cada vez mais se aproximando de Sono, cada vez mais próximos do destino cruel.
— Espero que sua mãe consiga! — Pesadelo sussurrou ao ouvido de Rafael.
De volta à Terra:
— Eu perguntei o que você está fazendo aqui?! — O pai de Rafael puxou Elisa pelo braço.
— Tira a mão de mim! — A mulher de virou dando um tapa no rosto do homem. — Quem você acha que é para falar assim comigo?!
O pai de Rafael alisou o rosto, o tapa de Elisa foi tão forte que fizera uma marca no rosto do homem. Todos ao redor ficaram boquiabertos, mas nãos e afastaram.
— É por isso que seu filho está assim desse jeito! — berrou o pai de Rafael. — É por isso que ele está assim, fretando com um garoto! — O pai de Rafael apontou para Vinícios e nesse momento Elisa teve uma ideia, talvez a ideia mais clichê do mundo, mas tinha de tentar.
— Você gosta dele né?! — perguntou Elisa se virando para Vinícios.
O garoto corou e não respondeu à pergunta da mulher, mas o sorriso alegre que ele deu foi suficiente para ela entender como um sim.
— Beija ele! Talvez isso o tire de lá!
Elisa só conseguia pensar nos filmes da Disney, se funcionavam para as princesas, por que não funcionaria ali naquela situação?
Vinícios ficou paralisado, sem entender o que estava acontecendo e muito corado.
— Tirá-lo da onde?!
— Longa história... — Elisa estava apressada, assim como Pesadelo estava no Mundo dos desejos, talvez ela tivesse pegado o desespero do homem. — Mas ele precisa sair de lá agora! — Vinícios percebeu o desespero nos olhos e no tom de voz corrido de Elisa.
— Ele não fará isso, não sou obrigado a ver...
— Então vá embora, ninguém lhe quer aqui! — Elisa interrompeu o pai de Rafael, e todos bateram palmas para o que ela acabara de falar.
Contudo, o homem não se mexeu, mas também não teve tempo para a mostrar sua indignação com a situação, num minuto, todos faziam barulho em apoio a Elisa, no outro Vinícios se debruçara sobre Rafael e o beijou, sete segundos ao todo, os melhores segundos da vida do garoto, tinha realizado o que sonhara tantas vezes antes de dormir, quando levantou ficou esperando o rapaz acordar do seu coma, mas não nada aconteceu, não havia dado certo.
— Está satisfeita?! Mandou um homem beijar nosso filho e o que deu?! Você acha essas coisas normais, ter um filho viado é normal?!
— CALA A SUA BOCA! — Não deu nem tempo para as pessoas ao redor mostraram sua indignação com o homem homofóbico. — Você tem ideia do que é amar seu filho, você por acaso já conversou com o seu filho e tentou entender o que ele sente? — Elisa não esperou que o homem respondesse, por que ela mesma sabia a resposta para aquelas perguntas. — Eu, diferente de você, que nunca mais foi o mesmo depois daquele dia, amo meu filho e não importa qual a orientação sexual dele, sempre o amarei igual!
— Mãe... — a voz de Rafael saiu fraca, mas foi o suficiente para Elisa ouvir, se virar e abraçar o filho. — A senhora conseguiu.
— Você está bem?! Eles fizeram algo com você?! — Elisa analisava cada centímetro do corpo de Rafael.
— Está tudo bem mãe, obrigado! — Rafael abraçou a mãe outra vez.
Vinícios estava parado ao lado dos dois, ajoelhado, observava, com os olhos lacrimejando, Rafael, Elisa se levantou e deixou que os dois se abraçassem.
— Eu senti sua falta, achei que nunca mais lhe veria! — disse Vinícios quase chorando.
— Eu também... — Rafael queria ficar naquele abraço com Vinício para sempre, não queria que acabasse, mas ele precisava falar olhando para o garoto. — Vinícios, eu preciso falar, porque depois de tudo que eu passei acabei percebendo que não posso mais ficar me escondendo, não posso mais esconder meus sentimentos, eu gosto muito de você e não aguentaria ficar longe de você outra vez!
Vinícios só corou e, sem perder tempo, beijou Rafael, um beijo oficial desta vez, era um beijo que ele não queria que terminasse.
Elisa ficou feliz pelo filho, deixou até escapar uma lágrima pelo canto do olho, mas o pai não estava nada satisfeito, estava fervendo de ódio, mas não tinha o que falar, ele seria lixado ali, só se virou e saiu daquele lugar.
— Então finalmente você me contou! — respondeu Vinícios quando o rosto dos dois se afastou, Rafael só riu.
Os dois continuaram ali no chão, de mãos dadas, por um tempo, até Elisa os chamar para irem para casa, um jantar para comemorar. Desta vez Rafael estava feliz e não com medo de voltar para casa.
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