A profecia
Sonho subiu bufando e deixou o irmão ali embaixo, Pesadelo ainda segurava o papel que fora escrito pelo seu avô, esperou que o hall se tornasse completamente silencioso para poder estalar os dedos e sumir dali.
O garoto não iria se arriscar demais, por isso preferiu se transportar para uma rua atrás da casa do portal, preferia ir andando até o lugar do que se deixar ser rastreado pela mãe.
Pesadelo passou pela rua deserta, poucas vezes fora aquele lado do Mundo dos desejos, poucas vezes se distanciou o suficiente do castelo, poucas vezes ouvira aqueles gritos vindo das casas, agora o garoto sabia que eram suplicas de ajuda, suas teorias alegres não faziam mais sentido.
— Me tire daqui! — gritou uma pessoa quando Pesadelo passou perto o suficiente de uma janela, o garoto viu o olhar distante da pessoa, a feição de desespero e o feitio de um prisioneiro que pouco lhe agradou.
Outras pessoas gritavam para rever entes ou amores na Terra, era como um último pedido daquelas almas condenadas, outras pessoas já haviam desistido de pedir ajuda e quando o garoto chegou da janela para ver essas silenciosas casas só avistava uma pessoa cansada, farta da vida ali ajoelha no canto da casa.
Pesadelo decidiu que não daria atenção aqueles gritos e aquelas pessoas, focou em seu objetivo e acelerou o passo, em poucos segundos chegara a casa do portal, estava fechada e antes de abrir a porta ele olhou para os lados, queria se certificar de que nem seus pais, nem mesmo os fiscais estivessem ali o espionando, depois de ter certeza de que estava sozinho o garoto abriu um pouco a porta e entrou rápido.
Pesadelo viu um garoto para a sua frente com um pedaço de madeira, ele parecia assustado, mas quando reconheceu pesadelo isso passou.
— É você! — disse o garoto, ele parecia querer ficar feliz, mas não conseguia, não tinha a força necessária. — É mesmo você! — Ele correu para abraçar Pesadelo.
Os dois compartilharam daquele abraço aconchegante, antes de Pesadelo perguntar:
— Você ainda tem um pouco de alegria, consegue mantê-la viva dentro de você? — Pesadelo estava feliz por ver o garoto bem, mas ele percebeu que o garoto olhava com devaneio para todos os lados: — Thomas, você está me ouvindo?
— Estou! — respondeu Thomas voltando a si. — Foi algo horrível Pe, era como se eu estivesse entrando numa escuridão sem fim, era como se...
— O brilho do dia parecesse que nunca mais fosse raia, como se nunca mais a alegria voltasse a você! — concluiu Pesadelo, sem obrigar Thomas a descrever aquela terrível experiência.
— Como você sabe? — perguntou o garoto olhando Pesadelo, sentindo tristeza também por ele.
— Papai costumava dizer que eu, ele, mamãe e Sonho não podemos ser afetados por essas duas forças, estamos além da alegria e da tristeza, mas eu acho que ele pode estar muito enganado e meu avô sabia disso... — Pesadelo lembrou de como o avô lhe contara várias histórias, como ele o tinha como um exemplo de pessoa. — Ele me disse uma vez que já conseguira sentir tristeza, quando seu irmão morreu, ele disse que foi como se seu mundo fosse cair, como se a alegria sumisse, era como se ele estivesse segurando o peso do mundo nas costas. — Pesadelo se sentou, repousando as costas na parede mais próxima.
Thomas se sentou ao seu lado.
— E, se me permite saber, como o irmão do seu avô veio a falecer?
Ouve um momento de pausa, até que Pesadelo finalmente respondeu:
— Pensando bem, ele nunca me contou e eu também nunca parei para perguntar, acho algo íntimo dele... Thomas eu acho que por um momento eu senti a tristeza que meu avô descrevera, pensei que fosse perder você, pensei que nunca mais poria lhe ver... foi como se... — Pesadelo parou para tomar folêgo.
— Eu lhe entendo... — disse Thomas pegando a mão do garoto. — Não se preocupe, eu ainda estou aqui.
— E eu preciso impedir que minha mãe te ache, você vai precisar ficar aqui por um tempo... eu virei te visitar quando possível!
Thomas só concordou com a cabeça e deu um beijo na bochecha de Pesadelo.
— Não demore, eu estarei aqui lhe esperando! — disse quando Pesadelo se levantou.
— Vamos! Elenãodeveteridomuitolonge,amadamequerqueoencontremoseumtalde Thomas! — gritava uma voz acelerada.
— Senhor, já procuramos em todos os lugares possível, esse Thomas já deve ter morrido e Pesadelo deve estar escondido! A madame está estressada ent...
— Nuncamaisdigaisso! — disse a voz acelerada! — Homensaotrabalho!
Vários pés saíram passaram pela rua marchando, quando Pesadelo tinha certeza de que estavam longe o suficiente saiu da casa.
— Eu vou voltar assim que possível!
Deu um beijo no rosto de Thomas e saiu correndo, não iria se transportar dali, não iria facilitar para a mãe. Quando estava fora da rua da casa do portal e quase ao sopé da montanha do castelo, Pesadelo decidiu se transportar para casa.
No hall de entrada sua mãe e sua irmã lhe esperavam, as duas estavam serias, como se fossem lhe bater.
— Onde você estava? — perguntou dura a mãe.
— Precisava pensar um pouco, depois de ter o garoto que eu gosto quase morto pela senhora e perder meu avô eu precisava pensar...
A mãe lhe olhou desconfiada enquanto ele passava por ela para cruzar a porta que o levaria até as escadas.
— Não pense que acabamos Pesadelo.
Quando Pesadelo passou pela porta e subiu até o quarto, sua mãe fora se certificar de que ela estava sozinha com Sonho.
— Eu tenho que lhe contar filha, devo lhe contar agora porque já fugiu ao meu controle!
— Do que a senhora está falando mãe? — Sonho vira o tom de preocupação na voz da mãe.
— Sabe por que eu estou com todo esse empenho para encontrar o Thomas?
— Por que a senhora não gosta da ideia de Pesadelo ter um namorado? — perguntou Sonho achando que aquele sempre fora o problema desde que Thomas chegara ao Mundo dos Sonhos.
— Então você é tão inocente quanto ele... — disse pôr fim a mãe. — Achei que estivesse preparada para receber o que eu tinha para lhe cotar, mas me enganei.
— Não mãe, eu só achei que...
— Vá para o seu quarto! — berrou a mãe interrompendo as suplicas de Sonho.
A garoto decidiu não insistir, não queria testar a paciência da mãe e acabar como Pesadelo. Sonho subiu correndo para o quarto e se jogou na cama sua cama, Pesadelo já dormia pesadamente do outro lado e nem percebeu quando a garota chegou fazendo um barulho ensurdecedor.
Sonho não conseguia pegar no sono, por isso ficou ali acordada olhando para o teto, virando-se de um lado a outro na cama. Quando achou que finalmente estivera pegando no sono ouviu passos no corredor.
Pela quantidade de vezes que tocavam no chão e pelo barulho constante que emitam, Sonho chegará à conclusão de que duas pessoas estavam andando apressadas, provavelmente não queriam ser seguidas.
A garota se levantou e sorrateiramente foi até a porta, abriu-a um pouco e pela fresta olhou para o final do corredor, onde os pais discutiam, a mãe fazia gestos, mas não parecia estar gritando, muito pelo contrário, falava tão baixo que mesmo com todo o silêncio que se fazia Sonho não conseguira ouvir o que eles discutiam.
Quando os pais pararam de discutir e viraram no corredor a esquerda, Sonho saiu sorrateira para não os perder de vista, a garota correu na ponta dos pés e virou também o corredor a esquerda, avistou os pais mais ao longe, parando na frente da porta da biblioteca, um lugar pouco visitado pelos dois, na verdade um lugar pouco visitado por todos.
Sonho se escondeu atrás de um vaso e ficou distante, agora ouvia os sussurros da mãe:
— Eu farei o que for possível, eles vão governar juntos... Já chegamos até aqui, não vou me deter a detora nessa altura.
— Querida, isso acontece todas as vezes, como você quer vencer, como vencer o destino? — perguntou o pai a uma mãe perdida.
— Eu não sei... Mas vamos conseguir, eu preciso reler a profecia e alguns outros livros... — disse a mulher empurrando as enormes portas, olhou para todos os lados e depois entrou seguida do marido.
Sonho correu pelo correr e antes que a porta fechasse ela pulou para dentro da biblioteca, se escondeu atrás de uma estante e acabou derrubando um livro.
— O que foi isso? — perguntou a mãe assustada do outro lado da biblioteca, ela estava com um livro velho em mãos, as páginas pareciam se soltar da capa.
O pai foi até a estante onde Sonho estava escondida e pegou o livro do chão.
— Faz tanto tempo que ninguém entra aqui que não me surpreenderia se os livros começassem a cair!
A mulher não deu muita importância a colocação do marido, folheou o livro e focou sua atenção em uma página meio solta.
Enquanto a mãe relia a mesma página várias vezes Sonho focou sua a tenção nos detalhes da biblioteca que visitara pela primeira vez com Pesadelo, quando ainda eram bem pequenos, as estantes ainda estavam nas mesmas posições com os mesmos livros, a poeira só fizera piorar e o que antes parecia um lugar mágico agora parecia um lugar abandonado e assustador.
O pai de Sonho se largou numa pilha de livros que estavam no chão, a mulher se virou carrancuda para olhar o marido.
— Mas o que você acha que... — Ela parou olhando para um livro azul pequeno. — Espera, talvez... — A mulher abaixou, pousou o livro surrado no chão, e puxando o livro azul já começou a folheá-lo. — Aqui! — Ela parou e começou a ler o seu conteúdo para o marido. — Se um dos governantes conseguir sugar grandes quantidades de felicidade, advindas de uma só pessoa, sua magia será equilibrada.
A mulher se virou para o marido, estava com um sorriso no rosto, um sorriso verdadeiro.
— Você não percebe, isso é exatamente o que a profecia diz que deve acontecer... — A mulher pegou o livro surrado do chão. — Um deve perecer para a magia se reestabelecer! — ela fechou o livro surrado e o jogou outra vez no chão. — Você não vê, é por isso que o poder se transfere para um humano, para a magia se reequilibrar, mas se ela encontrar alegria suficiente ela poderá ficar com os poderes.
— Mas se isso nunca acontecer?! — O marido cortou a alegria da mulher.
— Ela deverá encontrar Thomas e mata-lo, Pesadelo já se apaixonou por ele e se continuar vivo ele será o próximo Sonho, essas são as únicas saídas!
Sonho empalideceu com o que acabara de ouvir, deixou-se bater na estante as suas costas, fazendo um estrepito quando os livros caíram ao chão. Os pais não tardaram a aparecer na frente da garota, que agora estava em posição fetal no chão.
— Você entende o que está em jogo agora? — perguntou a mãe a olhando de cima.
Sonho só levantou o rosto e a encarou assustada.
— Eu vou encontrar alguém suficientemente alegre, não vou sacrificar a alegria do meu irmão, não posso...
— Vocês são uma dupla, o erra de um... os dois pagam! — alertou a mãe antes de sair da sala.
— Filha, sua mãe só quer proteger você e seu irmão, mas ela tomou muitas decisões errada, ela não quer que você acabe como a irmã dela, ela se sente culpada todos os dias, eu não quero que você se sinta a sim e nem seu irmão, por isso creio que a melhor forma é se você explicar tudo a ele, conversem como uma dupla, não deixe que isso vire uma bola de neve! — O pai foi embora.
Quando Sonho chegou no quarto ela estava decidida a acordar o irmão e contar tudo que ouvira, mas não conseguiu, algo lhe disse para guardar tudo aquilo, algo lhe disse que ela ficaria bem, que eles seriam os primeiros irmãos a governar juntos...
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