Capítulo 2
"É como se tivesse uma música na minha mente
Dizendo que tudo vai ficar bem
Porque os garanhões vão seduzir, seduzir, seduzir, seduzir
E os invejosos vão odiar, odiar, odiar, odiar
Amor, eu só vou deixar, deixar, deixar, deixar
Deixar pra lá, deixar pra lá."
Shake it off — Taylor Swift
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— Parabéns! — Amelia pulou em cima de mim. Eu me aconcheguei mais nos cobertores, porém ela não desistiu e se enfiou embaixo da coberta comigo. Protegidas pelo lençol, a encarei. O seu sorriso era radiante: — Feliz aniversário, Lisa.
Eu a abracei. A vontade era dormir de novo, tínhamos trabalhado até o dia amanhecer no restaurante. Brincando com ela, apoiei minha cabeça em seu peito, deixando-me confortável.
— Obrigada...
— Ei! — Ela começou a rir. — Quer parar de se esfregar em mim com a sua orelha?
Afundei mais a cabeça nos seus seios.
— Mas é tão macio.
— Não pode avançar o sinal sem me pagar um jantar, tá? — Amelia se levantou. — Porém, como é seu aniversário, o almoço será por minha conta.
Hum... comida! Eu me espreguicei e levantei empolgada para escovar os dentes. Sem me preocupar em perder tempo colocando uma roupa mais decente, fui direto em busca de alimento. Estava coçando a nuca e olhando minhas mensagens de parabéns no celular quando cheguei na sala.
— Surpresa! — Amelia, Will e Louis gritaram, fazendo-me dar um pulo de susto.
Oh, Deus. Amelia, sua louca, porque não me avisou? Ambos os homens não disfarçaram ao olhar para as minhas pernas nuas. Merda. Envergonhada, corri de volta para o quarto e coloquei um jeans e camiseta. Queria ficar mais apresentável para receber os meus amigos.
— Obrigada, pessoal. — Abracei cada um com carinho. — Fico feliz por ter vocês aqui.
Eu tinha entrado no Mundo achando que encontraria um lugar cheio de pedantes que se achavam melhor do que os outros, mas a maioria das pessoas eram, na verdade, cativantes. Louis, o chefe francês com a pele tão branca que ficava avermelhado facilmente me lembrava um Papai Noel menos rechonchudo e costumava dizer: "uma pessoa que trabalha com comida não pode ser infeliz", era o retrato de sua própria convicção. Ele sempre tinha um sorriso no rosto.
Já Will... eu tinha muito carinho por ele, era um grande amigo. Eu não era uma idiota, sabia que ele desejava algo a mais, porém não queria magoá-lo. Havia uma cláusula em nosso contrato que impedia relacionamentos entre colegas de trabalho. Não entendia bem o motivo, porém, o Mundo era muito rígido em relação a romance entre funcionários. Era motivo de demissão imediata. (In)felizmente, eu não tinha interesse algum em ter um namorado.
Afinal, o último quase me matou e conseguiu destruir minha carreira...
— O almoço foi feito por você, Amelia? — Levantei uma sobrancelha para ela.
— Non, ma chérie! — Louis interveio, balançando a cabeça para os lados. — Eu ainda estou me recuperando daquele jantar...
Ele alisou a própria barriga exageradamente. A tentativa de Amelia de cozinhar para nós virou a nossa piada pessoal no último mês. Nós três caímos na gargalhada e ela levantou o dedo do meio com um olhar irritado.
— E eu tenho que trabalhar hoje, não posso ficar preso ao banheiro — Will disse.
Me divertindo com a situação, complementei:
— Também é o meu aniversário, não mereço ser castigada.
— Já pararam? — Ela cruzou os braços. — Nunca mais faço comida para vocês.
Eu a abracei, afirmando que amava os seus ovos mexidos e fui recompensada com um muxoxo e mais alguns xingamentos. Entre brincadeiras e risadas, sentamos para comer, afinal, acordar com uma mesa cheia de delícias era estar no paraíso.
— Hum... Louis... a mulher que te conquistar vai se dar muito bem — falei entre mordidas sem tirar os olhos de Amelia. Como esperado, ela corou de leve e quase enfiou o rosto no prato para tentar esconder.
Uh-hum.
Desconfiava que minha amiga tinha uma quedinha pelo chef, mas ela não queria admitir de jeito algum e ele também parecia alheio a isto. Levantei uma sobrancelha para Will que tinha observado o mesmo que eu. Ele meneou a cabeça, mostrando que também sabia. Pensei na cláusula. Só seria um problema se o patrão descobrisse, certo? Os dois combinavam tanto!
Talvez, então, eu pudesse intervir...
— Acho que deveríamos sair juntos na próxima vez que tivermos a noite de folga, que tal? — sugeri a eles e recebi acenos de resposta. — Ok, vai ser a segunda comemoração do meu aniversário.
— Combinado.
Depois do almoço coloquei uma música e avisei que lavaria os pratos, já que Louis tinha cozinhado. Ele e Amelia mal me ouviram, entretidos em uma conversa sobre como garantir que o peixe era fresco e não iria causar infecção alimentar nos amigos. Will, que não se mostrava interessado no papo sobre brilho de escama e cor do olho se voluntariou para me ajudar.
— Tenho um presente para você — ele me entregou um envelope quando eu estava terminando de secar as mãos —, mas não pode dizer onde conseguiu.
Franzi a testa, quase unindo minhas sobrancelhas enquanto tirava um cartão preto e dourado com letras metalizadas de dentro. Passe VIP — classe III para Eloise Dubois.
— Quem é Eloise Dubois?
— Uma jovem francesa filha de um magnata do petróleo que está passando uma temporada no país e precisa de um pouco de diversão em um ambiente seguro — respondeu.
Eu continuava sem entender.
— Certo, mas por que eu estou com o passe dela?
— Porque você é ela — disse impaciente. — Não entendeu? Me inspirei no nome do Louis e criei uma ricaça para você visitar o Mundo. Seja evasiva, finja que não sabe falar nossa língua direito caso alguém te pergunte coisas pessoais e joga uns termos franceses no meio das frases.
Boquiaberta, encarei o passe em minhas mãos. Oh, meu Deus! Era o que eu queria há meses: a chance de matar a minha curiosidade. Dei um gritinho e pulei em cima de Will, dando um empolgado e apertado abraço. Ele enterrou o rosto na curvatura do meu pescoço e eu me afastei antes que ele pensasse que a minha gratidão dava direito a outras coisas.
— Como conseguiu? — Mordi o lábio, apreensiva. Esperava que ele não tivesse gasto horrores por um passe verídico.
— Cobrei um favor, mas cuidado. Não deixe que olhem com muita atenção e não consuma nada, não há um cartão de crédito associado a ele e só dá acesso até o décimo quinto andar, não tente passar dele. Você tem uma semana e depois perderá a validade.
Meneei a cabeça em afirmação.
— Ok.
— E se alguém descobrir pode custar os nossos empregos.
Segurei sua mão e apertei de leve.
— Se alguém descobrir, vou fingir que não te conheço.
Ele acenou concordando. Era um acordo tácito, eu poderia explorar o Mundo, mas teria que fazer isso por conta própria.
Arriscaria o melhor emprego que já tive depois da carreira de modelo, porém seria só por uma noite. Não chegaria nem a usar os sete dias do cartão, prometi a mim mesma. Afinal, meus dias de arriscar tudo tinham passado. Era só uma visitinha, que mal haveria nisso?
*****
Os dois primeiros andares do Mundo eu já conhecia, um era um ringue de patinação e o boliche, o outro era o cinema com alguns jogos arcade. Pulei esses, estava interessada naquilo que nunca tinha visto. O terceiro era o meu alvo. Em um vestido preto curto, maquiagem carregada na sombra escura e cabelos soltos, eu estava bem diferente da boa e comportada garçonete que trabalhava no térreo.
Descobri que era uma boate. Linda, elegante e moderna, um tanto impressionante, entretanto, muito abaixo do que eu imaginara. Sinceramente, esperava bem mais. Algo proibido, pecaminoso, que precisasse de tanta restrição para entrar. Eram apenas pessoas ricas e bonitas dançando.
Que anticlimático!
Eu passei por todo o "trabalho" de decorar uma ou duas palavras em francês e mostrar o passe para os seguranças falando "oui, oui" para ir a uma boate? Fiz um som de muxoxo. Ok, tinha mais doze andares para explorar antes que a noite acabasse. Talvez eu voltasse para cá depois de olhar os outros.
Subi as escadas, evitando usar o elevador panorâmico. Não queria esbarrar com ninguém em um espaço confinado. Ao lado da porta seguinte deparei-me com: "Quarto andar — Administração e enfermaria". Sério isso? Não me dei ao trabalho de entrar ali, segui adiante. "Quinto andar — lojas". Bufei, frustrada. Um andar de compras? Poxa, passei oito meses imaginando mil e uma coisas para esse prédio e começava a crer que tinha dado crédito demais aos milionários. Amelia me alertara que eles só queriam um lugar para ir sem ter que se misturar ao resto da população. Não havia grandes segredos e muito menos aventuras épicas a serem experimentadas.
Todas as minhas teorias da conspiração estavam caindo.
Trinta degraus para cima e eu cheguei ao sexto. Meus ombros estavam curvados em desânimo quando me deparei com a placa ao lado da porta. Opa! Esfreguei uma mão na outra, finalmente algo interessante. Girei a maçaneta e o fui recebida pela batida de uma música eletrônica. O corredor bem iluminado seguia em direção a algumas salas, distribuídas por gêneros.
Virei à esquerda e entrei no paraíso.
Ah, seus ricos devassos, sabia que não iam me decepcionar!
Dançarinos go-go, era isso que tinha na placa.
Escolhi uma mesa nos fundos e me acomodei na área de go-go boys. O palco tinha o formato de T e se estendia no meio do salão, terminando com um poste de pole dance. Um homem em calça jeans dançava no melhor estilo Magic Mike, com sua boxer preta aparecendo por causa dos botões abertos.
Nossa, respirei fundo. O homem ficou de quatro no chão e começou a remexer o quadril como se estivesse transando. Cruzei as minhas pernas, imaginando que era eu a sortuda embaixo dele.
— Uhuuuu! — gritei junto com as outras mulheres quando ele aumentou a velocidade.
Vai, garotão!
Puta que pariu! Ele se levantou e remexendo a bunda, começou a tirar as calças. As clientes ficaram em pé e se aproximaram do palco. Ah, foda-se a discrição! Também cheguei mais perto do dançarino e queria muito ter trazido notas pequenas para enfiar na cueca dele. Olhei para o lado e vi uma mulher com brincos que poderiam ser usados como candelabros jogando notas de cem.
Porra, fiquei mais tentada a pegar o dinheiro dele do que jogar os meus trocadinhos aos seus pés...
Deixando os pensamentos capitalistas de lado, passei a mão por sua perna, apertando a coxa musculosa. Ele se virou em minha direção e eu fiquei de frente com o seu quadril. Uau. Isso sim seria um presentão de aniversário. O homem ficou de joelhos e minhas mãos subiram por seu tanquinho. Como será que se dizia gostosão em francês?
Não fazia ideia.
Dane-se.
— Gostoson, rebola para moi! — gritei.
Ele engatinhou em direção à mulher abanando notas de cem e a beijou, sua língua invadiu com lascívia a boca dela. Salivei, sonhando em ser a atenção de suas carícias. E o meu pedido foi atendido de imediato. O homem me olhou com uma expressão de desejo e segurando minha nuca, me puxou um pouco para mais perto. Ele lambeu o meu pescoço e mordeu a minha orelha. Eu me arrepiei por completo e ainda estava sob o efeito de sua língua quando o homem passou para a próxima.
Inebriada de desejo e me sentindo mais molhada do que deveria estar, o observei ir embora após o fim de seu show. Ele era bom, muito bom. Exalei o ar que estava prendendo sem perceber e me forcei a me recompor. Eu ainda tinha nove andares para conhecer e estava tentada a passar o resto da noite ali.
Droga.
Ok, próximo andar.
Sai cambaleante de volta para as escadas em direção ao sétimo. "Salão de festas". Ah, deve ser brincadeira! Já ia passar para o outro quando pensei em que tipo de festa ocorria por trás daquela porta. Hum... Será que era algo parecido com o andar anterior?
Testei a sorte e ao invés de grandes áreas separadas por um corredor, ali tinha diversas salas isoladas. Eu podia ouvir a música vinda delas, porém não conseguia ver o que acontecia por trás das paredes de vidro escuro. Um tapete vermelho cobria o piso e ao lado da entrada de cada porta tinha uma mesinha com um vaso de flores e um segurança engravatado.
Dei a meia volta antes que algum deles resolvesse perguntar o meu nome e me deparei com um corpo quente que me segurou pelos ombros.
— Está perdida?
Minha atenção estava presa no terno risca de giz e gravata vermelha bem ajustado. Levantei mais o olhar, uma barba por fazer cobria um queixo quadrado. Olhos verdes me encaravam com curiosidade.
Será que era um dos dançarinos? Era alto, lindo e musculoso como um, eu até esqueci como falar.
— Perdida? Non, oui, perdón... — balbuciei nervosa.
Perdón era francês ou espanhol?
Merda, o homem me olhava como se eu tivesse algum déficit mental. Ao menos, era assim que eu me sentia.
— Vai participar de alguma festa particular?
Se for com você, meu bem, aceitaria tudo. Eu tinha a sensação de já tê-lo visto antes, mas não sabia onde. Se era funcionário, provavelmente a gente deveria ter esbarrado em algum corredor.
Eu, que ainda estava excitada do andar anterior, imaginei aquele homem tirando as roupas para mim. Uau! Com certeza era uma opção muito melhor do que o vibrador que eu pretendia usar mais tarde.
— Estava procurando o oitavo andar — disse imitando o sotaque de Louis e apontei para a esquerda —, mas já encontrei. Merci.
Dei um passo para o lado e me afastei do homem, tentando ao máximo não sair correndo. Respira, Elisa! Mantive os passos firmes e tranquilos, ombros retos e uma postura de quem pertencia a este lugar.
Dobrei a esquina e a saída de emergência que dava para as escadas era como um santuário. Faltava a metade dos andares, eu poderia matar a minha curiosidade e voltar para casa com uma boa história para contar para Amelia.
Isso, ótimo plano!
Subi com determinação os degraus que me levavam ao oitavo andar, mas estanquei quando li a placa.
"BDSM — nível I".
Oh, Deus.
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Ai, ai... Livro já disponível na Amazon.
Já ficou completo aqui antes, esta é apenas uma amostra. <3
It's like I got this music In my mind
Saying it's gonna be alright
'Cause the players gonna play, play, play, play, play
And the haters gonna hate, hate, hate, hate, hate
Baby, I'm just gonna shake, shake, shake, shake, shake
I shake it off.
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