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CAPÍTULO 6

- Me lembro que na minha adolescência, havia uma lenda por aqui, acho quase todo mundo acreditava... - Tia Gisa respira fundo, abre um sorriso

- A lenda dos três amores, que para mim, está mais para o "mistério do moinho" - ela faz as aspas com a mão - Do que algo relacionado ao amor, propriamente - Ela troca de posição e volta seu olhar  para o computador da recepção.

- Como assim ? - Questiono curiosa

- Porque tem morte e ... - A tia hesita em sua resposta e me olha - Você quer ouvir toda a história ou só um resumo ?

- A versão estendida, pelo amor... - Aquela pausa instigou a minha curiosidade

-Te contarei mas, só depois do jantar - Dona Gisella saí de trás do balcão - Vem, vou te ajudar a com a roupa de Peter pan - Rindo, apoia sua mão em meu ombro bom, me escoltando até meu quarto.

-Não vejo a hora! - vou andando com ela. - Tia, mas só porque depois do jantar ?

-Suspense - Ela sorri, abre a porta do meu quarto e entramos.

-Porque eu não lembro dessa história? - Encosto na cama

-Porque a lenda  só pode ser inteiramente contada, após se tornar mulher - Tia Gisa me ajuda a tirar a roupa com cuidado. Sinto algumas dores no ombro, ainda.

-Por que ? - Questiono sem entender

- Mais tarde entenderá... - Após me ajudar com a roupa, ela desce para a recepção novamente.

Com dificuldades consigo tomar banho, mas acabo colocando uma camisola, mais prática por conta da tipóia. A Tia Gisa, leva para o meu quarto uma sopa, para não tomar os remédios de barriga vazia.

- Tia, por que nunca se casou novamente? - falo enquanto tomo um pouco de sopa, sentada na cama.

-Porque não, é trabalhoso - Ela ajeita o guardanapo na bandeija, porém, mantém seu sorriso

- É uma mulher bonita, inteligente, o filho já está criado ... Nesses anos todos, nunca se interessou por mais ninguém ? - Molho o pãozinho na sopa

- É complicado Mel...- Seu sorriso fica de lado, ela olha para baixo e respira fundo - Quando fiquei com seu tio, e abri mão de toda uma vida no Rio,  aceitei vir pra cá, casamos e tivemos Plínio - Ela volta seus olhos para mim - Essa era a vida que me fez feliz. - Respira fundo - Essa parceria que tive com o meu eterno marido, não encontro com mais ninguém e, honestamente, me sinto feliz e completa até hoje - Seu sorriso radiante volta

Fiquei prestando atenção em seu discurso saudosita  e apaixonada.

- Que bonito - limpo a boca com o guarnapo -  Não acredito o que exista "o amor da vida inteira", mas ao ouvir você falar do meu tio - Olho carinhosa para ela - Acho que existiu só pra vocês...

- Concordo que fomos a excessão, mas não se engane, Melanie - Tia Gisa levanta da minha cama, ajeita seu vestido longo e mexe no cabelo - Tivemos altos e baixos, dúvidas cruciais, erros e acertos - Ela pega a bandeija - Muitos mais erros, que acertos, foi uma parceria muito boa, mas não perfeita.

- Mas ainda sim, foi algo muito bem sucedido. Mas me conta, nunca rolou nenhum fazendeiro ? - Falo rindo - nenhum namorado ?

- Não esquece de tomar seu remédio - Tia Gisa saí do meu quarto rindo, sem responder a minha pergunta e puxa a porta.

- Não adianta fugir de mim, eu irei descobrir - Falo alto, rindo. Logo tomo meu remédio e tiro um cochilo.

O dia passa, não ouço mais ninguém. Acordo por volta das 20h da noite me enrolei na medida do possível em um roupão e desci para jantar. Ainda sentia dores no ombro, mas é normal. Plínio e Camila não estavam jantando na pousada, acredito na verdade, que demorarei a vê-los. O jantar foi tranquilo, não demora.muitos os poucos hóspedes vão para os seus quartos e eu permaneço sentada na mesa, esperando a hora da lenda.

-Achei que havia esquecido dessa história - Tia Gisa fala vindo em minha direção.

-Jamais! Sente aqui -  puxo a cadeira e bato no lugar para ela sentar. Em seus braços, portava uma caixa marrom, não muito grande, porém intrigante.

-Ok, vamos lá - A tia senta ao meu lado e coloca a caixa em cima da mesa.

A luz do refeitório era amarela, trazendo a sensação de aconchego, já não havia ninguém por perto. A porta principal da pousada já estava fechada.  O que predominava naquele momento era apenas a minha curiosidade...



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