CAPÍTULO 5
Não desci para o jantar, o cansaço venceu. Porém, acabei acordando muito cedo.
Ao me levantar, abro a cortina da janela, que dava para a parte de trás da cidade. A vista era bonita, por ser a natureza e como meu quarto é no segundo andar, de longe consigo ver algumas fazendas mais afastadas.
Vou ao banheiro fazer a minha higiene. Coloco o roupão e desço as escadas bocejando, a caminho do café, que tomava conta da pousada.
- Bom dia - Uma voz feminina fala comigo, enquanto arruma os pães
- Bom dia - Respondo com pouco ânimo - Você deve ser a Ana, certo ?
-Sim, sou eu - Ela sorri - Como sabe?
- Intuição - Dou um sorriso. Ela logo se retira. Eu pego um pão e uma xícara de café e sento na mesa. Não eram mesas separadas, era uma grande mesa.
-Bom dia, Mel! - Plínio fala comigo, entrando pelo refeitório. Estava de tênis e trajado para fazer algum exercício físico. Ele vai em direção as frutas.
-Bom dia, Plínio - Olho para o meu prato. Só haviam carboidratos. Acontece.
-Pena que não desceu ontem para o jantar, sentimos a sua falta! - Ele se senta de frente para mim, e morde uma maçã. Plínio estava determinado a ser fitness
-Pois é, falta de educação minha... - Falo tentando aliviar a situação. Mordo um pedaço do meu pão e olho para a maçã dele. - Estava muito cansada - Dou um leve sorriso.
-Tudo bem, eu entendo...
-Bom dia amor - Camila, também vestida para correr e de casaco se aproxima de nós, beija a testa do noivo. - Bom dia... Desculpa - Ela sorri sem graça - mas eu esqueci seu nome.
-Melanie - Estico a mão para ela e dou um breve sorriso.
-Isso! - Ela aperta e vai sorrindo em direção as frutas. A essa altura, já tinha terminado meu pãozinho de sal com manteiga.
-Quer correr com a gente ? - Plínio faz o convite empolgado
- Poxa, adoraria mas não trouxe roupa - Tento me esquivar
- Não é problema! A da Camila deve dar em você, né amor ? - Ela se senta ao lado dele na mesa
- Não sei, mas acho que sim - Ela come um pedaço do mamão, mas não estava muito animada com o convite.
- Que isso! - Levanto pegando o meu prato - não vou atrapalhar o programa do casal - pego mais um pão
- Não vai atrapalhar nada, Mel! Vamos...vai ser legal, como boa velhos tempos! - Plínio estava muito empolgado. Ao ouvir "velhos tempos" confesso que me deu uma certa animada. Conhecíamos quase tudo.
- Tá, pode ser! - Volto a me sentar na mesa, com o meu segundo pão - Mas vão precisar ir com calma, sou sedentária. - Plínio e eu rimos, Camila não estava empolgada.
Camila me emprestou sua outra roupa de correr e um par de tênis. Era um conjunto verde florescente, estava me sentindo o Peter Pan. Saímos da pousada, a princípio caminhando. Ainda daria 8h da manhã e a cidade, já mostrava movimento.
Fomos a caminho da estrada de chão, que dava para as fazendas. A cada lugar que passávamos, lembravámos de uma história engraçada. Camila tentava se enturmar, contando as suas histórias. Ela nasceu em Moinho.
- Mel, lembra quando subimos na árvore da casa de Dona Edite ? - Plínio fala observando as árvores.
-Claro! Você caiu, e eu achei que tinha te matado... - Falo rindo, ao lembrar da cena.
-Nunca mais meu ombro foi o mesmo - Plínio coloca a mão no ombro lesionado.
- Será que ainda sabemos subir em árvores ? - Paro a caminhada e olho para um pé de manga.
-Eu não tenho mais coragem - Camila fala, olhando para mim e Plínio.
-Ah, eu consigo! - Plínio estica os braços.
- Não começa, Plínio - a noiva se aproxima dele, para impedi-lo.
-Vai dar tudo certo - Ele se mostra determinado e começa a subir na árvore
- Eu também vou - Falo determinada e corajosa.
Logo, chegamos ao galho mais alto da árvore, se segurando em outros galhos, para não cairmos. Olho para baixo e dou tchau para Camila, que parecia apreensiva.
-Você lembra porque eu caí da árvore, aquele dia, não lembra ? - Plínio fala baixo e olhando para mim, com um sorriso de lado.
-Lembro - Ofegante, olho para ele
-Eu disse que te amava e você me empurrou - Plínio permanece olhando para mim...
-Plínio - Falo firme - Eu já disse que lembro - Olho para baixo novamente.
-Tudo bem! - Ele olha para baixo e da tchau para noiva. - Por que você nunca mais voltou para cá?
-Plínio, eu vou descer - Me sinto incomodada com ele relembrando coisas que para mim, ficaram no passado. Começo a descer a árvore.
- Espera, Mel! - Ele fala baixo e tenta segurar a minha mão. Já estava mais para baixo da árvore, quando piso em um galho fino que quabra e caio da árvore. - Melanie!! - Plínio grita.
-Ai Meu Deus! - Camila grita e vai correndo para onde caí. Olho para ela, que estava desperada, batendo de leve no meu rosto - você está bem ? - Ela assoprava. Pegou um pouco de água da garrafa e borrifou no meu rosto.
-Estou ... Bem- Respiro fundo e me apoio nela para me levantar. Me dá um ataque de risos. - Meu ombro está doendo
- Tá bom, nós vamos te levar ao médico -Camila parece desnorteada e me ajudando - Do que está rindo ?
- Plínio se vingou da queda dele - Falo rindo muito. - Aí que dor!
-Você está bem ? - Plínio termina a descida, me pega no colo rapidamente. - Depois, eu te falo como arquitetei o meu plano de vingança - ele dá um breve sorriso. - Vamos, Camila.
-Vamos amor - Camila fala baixo, mas pude ouvir. Ela parecia descontente. Não estávamos muito afastados do centro. Logo pedi para Plínio me por no chão, minha dor estava no ombro, então conseguia andar. Eles me acompanharam até a clínica da cidade.
-Aqui eles atendem só pessoas ou animais também? - Falo com dor. E ainda fazendo graça
-Só pessoas, por que atenderiam animais ? - Camila respondeu a pergunta, levando a sério.
- Deixa para lá - Dou um sorriso. Plínio corre para atendente afirmando ser uma emergência e volta com um formulário. Eles se sentam ao meu lado na recepção.
-Você lembra do sobrinho do rapaz da padaria ? - Plínio pergunta, enquanto preenche meus dados no formulário.
- Não ... - Na verdade, eu sabia sim - Quem é?
- Tarcísio Malta, ele que vai te atender, é o médico da cidade - Ao ouvir as palavras, meu coração gela.
-Lembro vagamente dele ... - Tento disfarçar meu nervosismo. Pensei que depois de anos, não sentiria isso.
Não demora muita, uma jovem vem me chamar. Plínio insistiu para entrar comigo, mas percebi que Camila estava desconfortável, então eu disse que dali, eu conseguiria dar conta.
Ao entrar na sala do Dr. Tarcísio Malta, ele não estava. Sentei na cadeira em frente a mesa, parecia que só o meu coração fazia barulho naquele lugar.
- Bom dia, Melanie! - Ouço a voz dele, pela primeira vez de perto. Uma voz agradável, ele fala sorrindo. Logo se senta de frente para mim. Coloca meu prontuário em cima da mesa. Com um sorriso largo. Eu estava com uma visão privilegiada, ele por sua vez, estava diante de uma "Peter Pan" totalmente destruída, com a franja que nem uma calopsita, com um braço arrebentado.
-Bom dia... Doutor - Falo sem graça, mexo na franja.
Tarcísio me examinou, fez algumas perguntas. Precisei fazer um raio-x, por fim havia luxado o ombro e precisava ficar com ele imobilizado.
-Pronto! - Ele me entrega uma receita - Aqui estão os remédios que vai precisar tomar. Observo a aliança de casado, confesso que senti uma certa frustração.
-Obrigada! - pego a receita e olho a lista de remédio. Logo levanto da cadeira, para sair.
-Vou precisar te ver de novo - Aquelas palavras foram maravilhosas. Abri um sorriso - Para poder saber como estará seu ombro.
-Claro! - diminuo o meu sorriso - meu ombro... - Me despeço dele e já deixei marcado para daqui três dias voltar lá. Volto para a pousada perplexa, com o que havia acontecido naquela manhã.
Ao entrar na pousada, a tia quase dá um negócio, ao me ver com a tipóia. Explico o que houve e ficamos conversando na recepção.
-Tia, eu queria te perguntar uma coisa... - Encosto no balcão, com o braço bom.
- Pode perguntar, querida - Tia Gisa me olha, na expectativa da pergunta, apoiando-se também, no balcão.
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