CAPÍTULO 21
Tarcísio antes de sair da clínica, havia adiantando a consulta de Bianca, para manhã seguinte.
Não tenho como ir disfarçada de enfermeira, pois todos sabem que sou eu. A estratégia era simples, me mostrar interessada na mulher mais antiga da cidade, com a desculpa de que iria publicar sobre ela em algum jornal de São Paulo.
A idéia, é parecer que seria apenas sobre a história da cidade, conforme o tempo passasse, com a confiança, ela se abriria e contaria sobre a antiga Camila, sua irmã.
Na minha mente, tudo irá funcionar muito bem.
Ao chegarmos na casa do prefeito, pela manhã chuvosa, antes da nove. A empregada da família nos atende, simpática e solícita.
- A dona Bianca está esperando vocês para o café - Rita, no leva até a mesa.
A casa tem um ar colonial, tons pastéis de amarelo. Apesar da construção ser antiga, mantém uma decoração moderna.
- Bom dia, meu querido doutor! - Bianca, com dificuldades, recebe Tarcísio de braços abertos. Parecia muito vaidosa e solícita. Seus cabelos grisalhos, eram estilosos. Uma senhora bem conservada pelo tempo. Talvez, o bom humor tenha ajudado.
- Bom dia, Bianca! - Tarcísio abraça a idosa. Sorridente - Como sempre, muito bonita pela manhã.
- Que isso... Rita me deu a primeira roupa do guarda roupa - Ela sorri - Podem se sentar... E você querida, quem é? - Bianca me olha, sorrindo.
- Melanie, sobrinha de Gisa... Da pousada - Tarcísio antes de sentar, nos apresenta.
- Prazer, dona Bianca - Sem graça, estico a mão para apertar.
- O prazer é meu, querida... E pode me chamar apenas de Bianca. - Seu sorriso espontâneo, era um convite certo. - Você é enfermeira de Tarcísio? Ele nunca trouxa uma antes ... - Bianca pisca para ele, enquanto come devagar seu mamão.
- Não, na verdade ... Sou jornalista - Falo enquanto coloco o café na xícara. Tarcísio estava comendo, claramente, ele queria parecer ocupado para falar algo.
- Que bom... Então, quer dizer que Tarcísio finalmente, assinou os papéis do divórcio - Bianca implica. Tarcísio engasga e eu solto uma risada.
- Mas o que isso tem a ver ? - Sem graça, ele passa o guarnapo na boca
- Não nasci ontem, Tarcísio - Bianca rindo - Querida, não se assiste. Sempre disse à ele, que eu era a primeira da lista, mas acho que chegou antes - Todos da mesa começaram a rir. Bianca era uma pessoa engraçada.
- Bianca, eu tenho espaço para a duas - Tarcísio mantém seus olhos em Bianca, e rindo.
- Na verdade, eu usei de Tarcísio... Ele me contou que a senhora é uma lenda vida - penso duas vezes - sem ofensa...
- Tá tudo bem, querida! São noventa e seis anos bem vividos - O jovem médico fica tenso na cadeira e volta a ocupar sua boca, com comida.
- Me interessei. Gostaria de escrever sobre a senhora e a cidade... - Apoio meus braços na mesa, inclino a minha atenção total nas reações de Bianca, que se mantinha espirituosa.
- Fico lisonjeada, mas não tenho nada de muito importante. Não fiquei muito tempo por aqui - Bebe seu suco.
- Acho que um resumo, somente. Acho que a senhora vai gostar do resultado. Levarei para São Paulo. - Sorrindo, Bianca hesita na resposta. Parece pensativa.
- Tudo bem... Enquanto fazemos a fisioterapia, pode me fazer algumas perguntas.
Tive que conter a minha felicidade e empolgação. Olhei para Tarcísio, que segurou a minha mão por debaixo da mesa.
Fomos para o quarto de Bianca, como idosa, na cadeira de rodas, precisa fazer fisioterapia constante. Tarcísio a visita uma vez por semana. Ele a atende muito bem, conversam sobre várias coisas e pelo que entendi, conversaram sobre seu divórcio.
Comecei a pequena entrevista, enquanto Bianca estava deitada. Ela me respondia animada, volta e meia, dávamos risada de algo.
- Bianca, me conte um pouco da sua história - Ligo o gravador do celular, perto dela. Respirando fundo, ela começa.
- Nasci aqui em Moinho. Adorava andar pelas fazendas. Meus pais quase toda tarde tinham que me procurar. - Em um ar saudosista, pude perceber seus olhos brilharem. - Vi a cidade praticamente do zero, não tinha quase ninguém. Meu pai foi o primeiro prefeito, a eleição foi parecia com reunião de condomínio - Ela ria- Não tinha muita gente por aqui. Fui boa aluna, boa filha ....
Sua narrativa girava em torno das coisas boas. De como a cidade era pacata.
- E porque foi embora? - Eu estava sentada em uma cadeira, próxima a sua cama. Bianca fica menos sorridente, tenta fingir que está tudo bem.
- Acho que... Sempre fui a frente do meu tempo - Ela diz - Quando fiz dezoito anos, na época não era comum uma mulher decidir muito sobre si... Estamos falando de 1940 e poucos... Fui morar em Rio Grande, com uma tia.
- Seus pais deixaram ?
- Souberam um tempo depois que enviei uma carta, para casa... Em Rio Grande conheci meu namorado, que veio a ser meu marido. Rogério Lacerda, foi amor da minha vida, juntos tivemos Paola.
- Que lindo... não sei se existe romance como o de vocês, hoje em dia. Foram casados por quanto tempo ? - Não conseguia tirar a minha atenção dela
- Quase trinta anos, mas meu Rogério faleceu de insuficiência cardíaca. Depois disso, nunca me relacionei com ninguém.
- Deve ter sido difícil, a senhora recusou muitos rapazes ? - Bianca sorri
- Não teria mais nenhum outro amor. Minhas energias voltaram para Paola, Ernesto seu marido e minha neta. Camila morou comigo desde sempre, em Rio Grande então, não queria outra coisa.
- Mas a senhora voltou a morar aqui ?.
- Não... A cidade é bonita, mas gosto da minha casa em Rio Grande. Venho algumas vezes no ano e volto, apesar de Paola querer que eu fique eternamente. A calmaria me dá aflição. - Com Dificuldades e devagar, Bianca vai contando um pouco de sua história.
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