CAPÍTULO 17
No resto daquele dia, não vi mais Plínio. Quando apontava a lua no céu, decidi sair e procurar algum lugar para pelo menos me distrair. O único lugar que poderia oferecer alguma bebida pelo menos, era a padaria.
Troquei de roupa e fui até lá na busca de algum vinho. Chego na padaria, seu José estava sentando na mesa conversando com alguns amigos, receoso ele me atendeu e disse que não tinha vinho, o máximo era uma cachaça.
Aceitei uma dose de cachaça, que muito tempo não tomava. Visitar o passado não foi fácil, mas sou uma pessoa que costumo pagar qualquer preço, para ter o que eu quero. Plínio não vai tirar a minha história.
- Dia difícil ? - uma voz suave se aproxima e senta ao meu lado no balcão da padaria.
- Mais ou menos... - Termino de virar meu terceiro copo. Faço cara feia por conta do sabor da bebida forte.
- Vou te acompanhar... - Tarcísio vai para trás balcão me servindo mais um gole de cachaça e colocando para ele. - Um, dois, três e já - Viramos juntos, aquilo fizemos de shot. Rimos - Meu Deus, não tomo desde a faculdade - passa a mão na boca.
- Também não lembro qual foi a última vez ... Põe mais um pouco - Levanto o copo e Tarcísio se recusa. Faço cara feia.
- Vamos esperar mais um pouco... - Retira meu copo e coloca um bombom em cima do balcão e volta para o meu lado e se senta. Após três ou quatro copos de cachaça pura, sinto que estou tonta.
- Você e sua esposa, pensaram em ter filhos ? - Falo com a língua pesada, abrindo o bombom.
- Por que? - O rapaz sorri e apoia o braço no balcão. Ele vai carregar o assunto pra ver até onde vai.
- Escuta ... - Me aproximo e falo baixo, perto dele - Não sou uma boa pessoa, sabe ? Eu matei uma pessoa - Coloco o dedo na boca dele - Shhhhhhiu. Você não pode me julgar.
- Mas eu não estou fazendo nada - Querendo sorrir, ele tira minha mão de sua boca - O que você fez ?
- Eu fiquei grávida. Do Plínio. A gente tinha sei lá - Coloco a mão no rosto, tentando lembrar - alguns anos atrás. Quando voltei pra São Paulo, meus pais me obrigaram a tirar. Agora, Plínio não fala comigo direito.
- Você se sente culpada por conta disso ?
- Não sei - Dou de ombros - Ele achou por anos, que eu tinha perdido de forma natural. Mas, se você pensar bem, foi melhor assim... - Coloco por fim o bombom na boca e mastigo.
- Por isso demorou anos para voltar ?
- Sim! Pensa só comigo... Ele estava começando a estudar e eu ainda ia fazer vestibular. Nossas vidas estariam no lixo, agora..
- Como pode ter tanta certeza?
- Tarcísio... Não sei, mas foi melhor assim. - Olho para os lados - José, quero mais! - Estico o braço.
- Não! - Tarcísio abaixa meu braço e me ajuda a sair da padaria. - Você precisa andar um pouco.
- Poxa, eu queria mais! - cruzo os braços e faço cara de brava.
Tarcísio me guiou até seu carro, me levou para sua casa. A casa dele ficava mais afastada da cidade, era em sítio pra falar a verdade. Apesar de ser afastada a estrutura era bem moderna, muita madeira e grandes janelas de vidro.
- Sua casa é de revista. - Falo abrindo a porta do carro. Ao descer vomitei. Fico sem graça - Desculpa... - Passo a mão na boca e olho pra ele, que só riu e me acompanhou.
Conseguia ouvir todos os animais possíveis, sapo, rã, cigarra... E fazia muito frio.
Ao adentrar, ele me deixou sentada na sala, um sofá de couro preto com uma coberta de couro marrom. A cozinha não ficava longe, tudo de muito bom gosto. Ele não demora muito e volta com um chá para eu tomar.
- Vai ser bom pra você melhorar - Se senta no sofá ao lado, apoia os braços na perna e fica me observando. Ele parecia tímido, mas era um rapaz que mostrava carinho.
- Eu já disse, tenho spray de pimenta na minha bolsa - Falo brincando e tomando devagar
- Essa bolsa ? - Tarcísio segura e me mostra, sorrindo, a coloca no chão. Silêncio estava tomando conta, meu estado normal estava voltando.
- Agora entendi, quando disse que tinha quase um zoológico - Dou um sorrisos tímido olhando em volta.
- Pena que não tenho muito tempo durante o dia para aproveitar os animais - Ele sorri, abaixa os olhos. Acho que não estava acostumado mais, com uma presença feminina.
- É uma pena mesmo... Tarcísio, espero que não leve a mal o que te contei - coloco a mão no rosto, respiro fundo - É muito íntimo, não é algo que contaria as pessoas
- Tudo bem, Melanie ...
- Pode me chamar de Mel - Dou um sorriso - Já vomitei na sua casa, então acho que já temos essa liberdade. - Ele sorri, fofo.
- Tudo bem, Mel - Repete a frase - Ninguém vai saber. A cidade não costuma ter fofoca, não sei se reparou.
- Que bom! - Suas palavras me chamaram atenção - É verdade... - Sento na ponta do sofá, pensando - Realmente, nunca ouvi vizinho falando sobre outro vizinho
- É um costume antigo - Tarcísio se levanta e pega a minha caneca
- Provavelmente antigo, da idade do sumiço de Camila Anchieta ...
- Você não desistiu disso ? - ele vai em direção a cozinha. Levanto para ir atrás dele
- Não mesmo! - Falo com convicção
- Determinada... - Ele coloca a xícara na pia - Gosto disso. - Minha atenção se jornalista investigativa, caí ao ouvi-lo. Abro um sorriso sem graça e apoio na mesa. Coloco o cabelo para trás da orelha.
- É uma história que vale a pena - Falo sem graça.
- Está com fome ? - Tarcísio se aproxima, seu olhar era intenso, meu coração acelerou.
- Sim - Falo com dificuldades.
- Vou preparar algo para nós... - Tarcísio para bem próximo a mim e abre a gaveta de talheres, minha perna treme, meu corpo estava pegando fogo. Sua voz era intensa.
- O que ? - Tarcísio enrolava para pegar os talheres, ora olhava pra mim e ora para gaveta. Acho que está me provocando. Começo a engolir a seco, ele se encaminha para a pia.
- Surpresa ...
- Precisa de ajuda?
- Só na hora da sobremesa... - Ele se vira brevemente e responde. Com um olhar insinuate. Estou gostando do rumo dessa prosa. Minha perna está bamba, me sento na cadeira. Fico admirando o jovem médico, cozinhar para mim.
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