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CAPÍTULO 13

Logo na manhã seguinte, fui para fila de espera na clínica. Sento na recepção, olho para o relógio na parede que marca oito e meia da manhã. Só tinha eu. Não demora muito, Tarcísio surge na recepção, segurando uma galinha, sorrindo e se despedindo de um paciente. É um costume comum, algumas pessoas darem animais, ovos, broas, bolos... Quando seus tratamentos terminavam.

- Doutô, essa galinha é muito bozinha! - Um senhor com certa dificuldade de andar, elogiava o presente que dera para seu médico - Chamo ela de crispinta, mas pode trocar se quisé.

-Mais uma vez seu Aurelino, muito obrigado pelo presente! - Tarcísio passava a mão no ombro do homem, e no outro braço segurava Crispinta. Foi uma cena engraça - Vou cuidar dela muito bem, tentarei cuidar tão bem quanto o senhor. Aaah e não se esqueça de tomar os medicamentos.

Logo o senhor que aparentava seus 75 anos, saía pela porta. Tarcísio se volta para mim e mantém o sorriso.

- Que belo presente... - Com sorriso no rosto, puxo assunto.

- Pois é, Melanie - Ele se aproxima com ela, e eu só sei rir daquela situação - Essa é décima segunda! - Fala animado

-Eita! você tem um zoológico ? - Fico olhando para o animal, tento fazer carinho, com receio da galinha bicar minha mão.

- Quase! Vou deixa-la nos fundos e trocar meu jaleco - Tarcísio fala enquanto terminar de adentrar a clínica. - Você pode esperar na sala cinco! - Sua voz sumiu para dentro do corredor, a recepcionista me acompanha até lá.

Entro na sala, me sento e observo uns desenhos em cima de sua mesa. Haviam algumas caixas de remédios, já amassadas mas com um sol desenhado, e outras, uma lua. Mas os papéis pareciam do atendimento anterior.

-Desculpa... - Tarcísio fecha a porta, um pouco agitado, com uma pasta na mão e coloca em cima da mesa.

-Tudo bem ... - Dou um sorriso de lado - Gostei da sua arte - aponto para os desenhos na caixas amassadas de remédio, ele sorri

- Ah! Eram do seu Aurelino - Ele pega, joga no lixo ao lado e junta os outros papéis.

- Por que desenhou um sol e lua ?

-Porque ele não sabe ler, então é mais fácil identificar os horários - O médico abre a minha pasta em cima da mesa, e puxa o raio-x colocando contra a luz e observando. - Aí, com o desenho ele consegue identificar.

- Que interessante... - Me sinto enacatada pelo jeito dedicado dele, mas parecia distraído. - Mas, ele consegue identifiar exatamente a hora que ele precisa tomar ?

- Sim, eu sempre configuro o celular dele - Tarcísio finalmente, olha para mim. Na verdade, para o meu ombro. Ele estava sério, agora.

- Ele mora sozinho ?

-Não, a esposa também não sabe ler. Ele vem aqui quase todos os dias, traz uma broa para tomar café da manhã comigo, e leva outro, para tomar café com a eposa - Volta seu olhar para o raio-x e logo abaixa a cabeça e começa anotar algumas coisas no papel.

-Não esqueça da galinha ... Onde você as cria ? - Dou um sorriso

-Você pode tirar a tipóia e ficar em pé, para mim, por favor ? - Ele fala empurrando a cadeira de rodinha e se levantando. Senti um tom frio vindo ele, então comecei a ficar na minha.

-Ok... - Levantei e tirei a tipóia, Tarcísio se aproximou. Meu coração acelerou, seu perfume era bom, mas a atenção dele estava toda no meu ombro. Ao longo do atendimento, ele mexia em meu braço, perguntava se ainda sentia dor.

-Está livre da tipóia, mas não deixe de repousar um pouco e fazer mini fisioterapia - Tarcísio se afasta e volta para sua mesa, anota mais algumas coisas e me entrega mais uma receita. - Caso sinta alguma dor, pode tomar esse analgésico.

- Que bom... - Falo sem ânimo, forço mais um sorriso, pego o papel - Obrigada, Tarcísio - Me despeço, mas ele estava distante hoje, não me senti a vontade para falar sobre a conversa de ontem.

- Melanie! - Ele chama a minha atenção enquanto estava saindo pela porta. Parecendo sem graça, dá um sorriso amarelo - Você estará ocupada hoje a noite ? - Antes mesmo de conseguir responder - É que... eu gostaria de conversar com você, sobre o que me disse ontem ...

-Tudo bem, que horas ? - Pergunto sem demonstrar muita importância. Mas no fundo, gostei de ser convidada por ele, porém, com o intuito totalmente profissional.

-Pode ser às nove ? - Ele olha para o relógio no pulso e depois para mim

-Tudo bem ... Onde ?

-Te espero aqui na frente da clínica, pode ser ? - Um sorriso tímido, surge em seu rosto

-Pode sim... Até depois, então - Aceno com a mão e logo saio pela porta. Gostei da idéia de conversarmos em outro lugar, sinto que será uma conversa produtiva.

Volto para a pousada e fico o resto do dia no quarto, fazendo pesquisas no google mas nada com muito sucesso.

-Camila Anchieta ... - Falo susussrando para as minhas anotações - Por que você não existe nessa cidade ? - Me questiono, andando pelo quarto de um lado ao outro.


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