Capítulo 9 - O Ministro da Máfia
O calor do meio-dia, aliado à umidade do ar, tornava o ato de pedalar um tanto penoso; mas ela prosseguiu, planejando uma tarde bem repousante. Iria esticar-se na rede da varanda e leria um romance qualquer.
Maresca estava pensativa e destraída, quando ouviu seu nome ser chamado. Levantou seus olhos em direção a voz e notou Valentim caminhando até ela.
Minutos depois um carro preto em alta velocidade cruzou a rua, Valentim olhou na direção dele e por ter reflexos rápidos saltou de lado, caído no gramado. O carro acabou batendo em um carro o fazendo rodopiar no asfalto, acarretando um acidente. O segundo carro saiu da pista e bateu em várias bicicletas que estavam no estacionamento.
De modo algum permitiria que seus pensamentos a guiassem para o carro preto ou para o seu misterioso vizinho que mais parecia um gato de tão agiu.
Maresca correu juntamente com algumas pessoas até o local do segundo carro e encontraram uma jovem mulher assustada dentro de um carro conversível, seu filho também estava trêmulo.
De repente, seus instintos profissionais foram mais fortes do que tudo. Acostumada a lidar com situações parecidas, automaticamente começou a se interessar pelos detalhes do que havia sucedido, iniciando um verdadeiro interrogatório.
— Por acaso alguém viu o que aconteceu? Perguntou vendo o carro preto em disparada se afastando.
— Na minha frente ia um carro preto. — Disse uma mulher magra, que segurava pela mão um menino de oito ou nove anos. — O homem que guiava buzinou, e aquele moço voltou a cabeça.
No minuto seguinte, percebi que havia perdido o controle de nosso automóvel.
— Por acaso o homem agiu de propósito, a fim de obrigá-la a sair da estrada?
— Maresca... — Censurou Valentim, tenso.
— Não sabemos como aconteceu o acidente. — Desculpou-se a mulher. — Você ficou ferido moço? Posso levá-lo até o consultório de algum médico.
— Não, obrigado, estou bem. Por acaso conseguiram anotar o número da placa?
— Não; sinto muito... — Interveio um senhor de óculos. — Eu vinha logo atrás e vi que a senhor estava caído no gramado. Não sei porque aquele maluco buzinou antes de avançar contra o rapaz aí.
— Ele buzinou duas vezes! — Informou o garotinho.
— Cale-se, Diogo... — Disse a mãe dele. — Não interrompa os mais velhos.
— Mas eu vi o número do carro!
Interessada, Maresca ajoelhou-se diante do menino. O trabalho lhe provava com frequência que em geral as crianças eram mais observadoras que os adultos.
— E qual era o número da placa, Diogo?
— Bem, começava com um L e um 77. Não lembro o resto.
— Maravilhoso, Diogo! Isso vai ajudar e muito. E o que mais aconteceu?
— Diogo tem muita imaginação. — Observou a mãe do garoto, preocupada. — Não quero que ele se envolva com essa história.
— No carro iam um homem e uma mulher. O homem dirigia como um louco. Acho que ele não sabia guiar muito bem.
— Não se lembra de mais nada, como por exemplo a marca e o modelo do carro? Qual era a cor dos cabelos do homem ou da mulher?
— Não. Você fez uma cara engraçada quando viu aquele homem. — apontou pro Valentim que sorriu pro garoto. — Acho que deixou ele assustado também. Por acaso são namorados e estavam brigando?
— Era disso que ele precisava! — Disse Maresca, sorrindo. — E não somos namorados!...
— Obrigada, Diogo. Será que alguém pode providenciar uma lista com os nomes e endereços de vocês? A bicicleta é alugada e talvez a agência queira conversar com as testemunhas...
Olhando em volta, pois o carro da mulher acabou batendo em várias bicicletas em sequência.
—Pode deixar comigo. — Um senhor adiantou-se, tirando um bloco do bolso.
— Acho que não aconteceu nada com as bicicletas, elas apenas cairam em sequência. — Avisou Valentim, examinando-a. — Parecem em perfeito estado.
Ele pedalou alguns metros e Maresca contemplou, cheia de ternura, os reflexos loiros de seus cabelos.
— Não quer anotar o nome de algum médico? — Perguntou a mãe de Diogo. — O senhor
deve ser turista, não é mesmo? E aquele carro preto parecia querer atropelá-lo.
— Não é preciso. Obrigada.
— É necessário, sim... — Interrompeu Maresca, aproximando-se.
— Não estou machucado, nem vejo necessidade de procurar um médico local.
— Há um pronto-socorro a dois quilômetros daqui. — Informou um rapaz. — Talvez fosse bom o senhor e a motorista fazer um exame rápido. Lá são muito eficientes e, se por acaso sentirem dores no meio da noite, é bom poder entrar em contato com um médico.
Maresca sacudiu a cabeça, sorrindo, e pegou o papel com a lista das testemunhas.
— Obrigada a todos. Se tudo estiver bem com todos acho que ninguém vai ser convocado.
Os carros partiram, e quando Maresca se voltou Valentim carregava a bicicleta dela.
— Ei, aonde você vai? Preciso da bicicleta para voltar ao chalé!
— Vou colocá-la no porta-malas, e em seguida iremos até o pronto-socorro. Satisfeita?
— Não me diga!
— Pois é. Acho que você terá de confiar em mim e nos meus encantos... E sim, eu estou bem.
— Que encantos? Não notei isso em você.
— Hum, não custava nada me deixar iludido... Sabe que você fez uma proeza e tanto?
— Quando o vi voando pelos ares cheguei a pensar mo pior.
— Não me diga! Achei que isso não acontecesse com mulheres como você...
— Mulheres como eu? De onde você tirou essa ideia?
No mesmo instante, Maresca se arrependeu de suas palavras e esquivou-se de dar uma resposta direta.
— Linda e inesquecível! Afirmou ainda sorrindo.
— Bem, pelo que eu sei, as pessoas que entendem de eletrônica devem ser gênios...
—Talvez seja porque inventamos uma linguagem própria, a fim de enganar os outros... Tentou mudar de assunto percebendo que estava demonstrando demais os seus sentimentos. — Sente alguma dor, Valentim? Algumas vezes, os acidentes trazem reações retardadas.
— Fala por experiência própria?
— Bem, passei quatro anos na Marinha...
Surpresa pela informação, Maresca contemplou-o, admirando a firmeza e a tranquilidade que se desprendiam dele. Apesar da imensa vontade de se apoiar na força de Valentim, recusava-se a se entregar a esse impulso.
—Vamos ao pronto-socorro?
— Creio que é a melhor solução nesse momento. — Concordou, emocionada pela gentileza de Valentim, que parecia profundamente preocupado.
— Seus cabelos...
— Devo estar com uma aparência lastimável!
— Não. Você perdeu está um pouco sujo e tem grama em suas roupas. O que foi?
— Acho que meu cordão acabou caindo no meio da confusão. Ele era do meu pai...
— Um cordão de ouro? Indagou olhando para o local que ele havia caído.
— Não, de prata...
— Pode deixar que eu procuro.
Com um sorriso, Valentim entrou no carro e pôs-se a observá-la. Havia naquele mulher muitas coisas além do que se poderia notar à primeira vista, e seria preciso muito tempo para conhecê-la bem. Pena que ele não teria a oportunidade...
Subitamente, sua atenção foi chamada para um jornal no chão do carro. Após certificar-se de que Maresca não estava de volta, leu às pressas tanto para a notícia principal como uma notícia segundaria.
"A polícia comunicou que July Baricelli, supervisor geral da Empresa de Tecnologia de Austin, Texas, desculpou-se por envolvê-la sem necessidade nas investigações sobre o paradeiro de Valentim Salvatorre, proprietário da referida empresa. Baricelli afirmou que Valentim deixou um bilhete em cima da mesa comunicando que se ausentava do país, o qual foi encontrado pelo pessoal encarregado da limpeza. Baricelli se desculpou pelo terrível engano dias atrás... Segundo alguns observadores, a companhia planeja revelar a criação de um componente robôtico que revolucionará a exploração submarina. Se isso acontecer, é certo que a Empresa de Tecnologia encontrará muita gente disposta a financiar seu projeto."
Valentim leu as palavras imprensas e ficou pensativo, sua única chance seria firmar um acordo como o governo americano. Ele teria proteção e conseguiria proteger a sua família também. Sua mente era muito valiosa, disso ele tinha certeza, suspirou lendo mais algumas palavras antes de esconder o artigo.
"Outros afirmam que a empresa padece no momento de sérios problemas financeiros. Uma fonte, que pediu para não ser identificada, declarou que o fato de o sr. Salvatore ter desaparecido é apenas uma manobra para..."
Ele interrompeu a leitura, ao perceber que Maresca voltava para o carro. Jogou às pressas o jornal debaixo do carro, reprimindo a curiosidade para saber o resto da matéria. Provavelmente não se tratava de nenhuma especulação sensacionalista, pois o jornal não tinha fama de fofoqueiro.
Maresca mostrou a corrente, sentando-se atrás do volante.
— Posso colocá-la em você? Pois suas mãos estão tremendo, e tem alguns aranhões.
Com um gesto delicado ela afastou a gola entre aberta de sua camisa e, após ajeitar-se na poltrona, roçou os lábios nos dele. Como era possível fantasiar a respeito da rigidez daquele homem, agora que seus lábios macios e quentes lhe despertavam todos os sentidos?
Valentim se abandonou àquele contato, sem pedir nada, até Maresca suspirar de prazer e retribuir os beijos. Quando finalmente se afastaram, ele e ela não conseguiam pensar com clareza.
— Acho melhor levá-lo ao médico logo. — Disse ela com relutância, ligando o motor do carro.
Encostando-se no assento, Valentim fechou os olhos, sem ousar dizer nada. A única coisa que desejava era saborear a recordação daqueles momentos íntimos em que se abandonara à sensualidade da mulher ao seu lado.
Minutos depois, Maresca estacionava diante de um bangalô, onde havia vários automóveis.
—Por que não tira a minha bicicleta do porta-malas? Poderei voltar com ela assim que terminar a consulta.
— Eu posso esperar por você.
— Talvez demore...
— Não tenho nenhum compromisso. Maresca sorriu.
— Ainda há pouco você disse que tinha muito que fazer...
— De fato, preciso pensar. Os inventores carregam trabalho dentro da cabeça o tempo inteiro. Não se preocupe com isso.
— Deve ser muito cansativo!
— Bem, pelo menos fique no carro. A sala de espera deve estar cheia de gente.
— Isso não me preocupa, mas não quero que a sua bicicleta seja roubada. Se precisar de mim, apareça na porta e faça um sinal.
— Sem dúvida. Maresca disse o olhando saindo do carro.
Por sorte, Valentim foi atendido mais rápido do que esperava, e o médico o examinou cuidadosamente.
—Parece que está tudo na mais perfeita ordem. Talvez sinta o corpo dolorido amanhã, mas você não se machucou muito.
— É que sou tenho bons reflexos doutor. — Declarou ele, sem refletir. — Costumo praticar muitos esportes.
Por que se preocupava tanto em proteger sua verdadeira identidade?
Talvez fosse apenas uma questão de hábito. Os envolvidos com a máfia nunca chegavam a levar uma vida inteiramente normal. Tinham sempre a tendência de não se dar a conhecer, pois muitas vezes precisavam passar por outras pessoas.
Quando a consulta chegou ao fim, o médico lhe entregou um envelope com dois comprimidos para dor e uma pomada para passar nos hematomas.
— Tome isto hoje à noite. Talvez os seus músculos fiquem um pouco doloridos.
Embora achasse o remédio desnecessário, ele o aceitou sem maiores discussões.
Despediu-se do médico, pagou a consulta à secretária e foi ao encontro de Maresca.
— E então? Vai sobreviver?
— Parece que sim... O médico garantiu que não me feri. Apenas hematomas e alguns aranhões pelo corpo.
— Mas o que é isso na sua mão?
— É só para evitar que eu telefone ao médico no meio da noite, me queixando de dor. Explicou sorrindo.
— Que bom que você vinha atrás de mim na estrada, Valentim!
— Nossos caminhos estão se cruzando com uma regularidade surpreendente...
Maresca se perguntou se Valentim estaria sendo irônico, mas logo afastou essa ideia. Ele não era o tipo de homem acostumado a fazer insinuações, ou joguinhos de sedução.
Quando chegaram ao chalé, ele a convidou para tomar um drinque.
— Aceito, mas assim que terminar não vou mais importunar você com a minha presença.
— Pois espero que você esteja com muita sede... Ele disse a olhando intensamente.
1950 Palavras
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro