Capítulo 29 - O Ministro da Máfia
Depois que Valentim se retirou, Maresca ficou parada no meio da sala durante alguns momentos. Como era possível que as coisas tivessem dado tão errado? A irritação de Valentim a surpreendeu, e Maresca não conseguia encontrar uma explicação plausível para a atitude dele.
Ao mesmo tempo recriminava-se, pois, em vez de mostrar-se solidária a Valentim, praticamente o acusara de ser responsável pela invasão do chalé. Portanto, precisava pedir desculpas.
Decidida, caminhou em direção à porta, mas parou ao notar que no chalé vizinho havia apenas silêncio. Um silêncio muito mais preocupante do que a explosão de raiva anterior...
Sem saber como lidaria com a situação, caso ele permanecesse zangado, resolveu dar-lhe um tempo para se acalmar. Lembrou- se da caixa que ele deixara na cozinha e foi examinar o conteúdo.
Tratava-se de uma encomenda aérea, enviada dos EUA. Num impulso, ela pegou uma faca e abriu a caixa, examinando seu conteúdo: panquecas de milho, latas de feijão em conserva e pimenta mexicana, além de pacotes com batatas fritas. O melhor de tudo, porém, era o chocolate com amêndoas, coisas típicas México, haviam um selo de uma das empresas especializadas em comidas importadas.
Percebendo que havia estragado a surpresa que Valentim pretendia fazer, recolocou tudo de volta na caixa, imaginando uma boa desculpa para dar. Nesse momento, dois braços fortes a enlaçaram pela cintura. Instintivamente, Maresca assumiu uma atitude de ataque e acertou uma boa cotovelada em quem a segurava.
—O que é isso? — Protestou Valentim, dando um passo atrás com uma careta de dor. — Você quer me matar?
— Valentim... Não sabia que era você. Eu ia à sua procura para lhe pedir desculpas.
— Sou eu que devo me desculpar. Não tinha o menor direito de agredi-la daquela maneira.
— Não, a culpa foi minha. Valentim, me desculpe.
— Pode fazer as perguntas que quiser.
— Mas não há nada a perguntar. Conforme Sakamoto disse, talvez alguém que se hospedou no chalé tenha deixado algo escondido lá. Isso poderia perfeitamente ter acontecido comigo. Agora diga uma coisa: onde você descobriu essas comidas deliciosas?
— Pedi a minha família que as mandasse por avião.
— Não posso comê-las.
— Por quê? Não me diga que está de regime!
— Não seja bobo! Lembrei um velho costume que pratico a anos, segundo o qual é preciso retribuir em dobro tudo o que se recebe... Já lhe devo mais de um jantar.
— Deixe-me entender melhor como isso funciona. Se eu lhe der um beijo, então você terá de retribuir com mais dois, não é mesmo? — Ele se inclinou e começou a beijá-la no rosto, queixo e nariz. — Pronto! Agora você é minha escrava. Jamais conseguirá recuperar a sua liberdade!
— Valentim, você é impossível!
— Quer dizer que aceita o meu pedido de desculpas?
— Por favor, não vamos mais tocar nesse assunto. Acho que nós dois andamos meio assustados com o que vem acontecendo, desde que chegamos aqui.
— Continua recebendo ameaças?
— De modo algum. Creio que eles apenas queriam me assustar, ou então não sabem onde me encontro hospedada.
— Mas então como a seguiram até Cayman Brac? Não, Maresca. Passei horas pensando em tudo que lhe aconteceu e não me sinto nem um pouco satisfeito. Ficaria bem mais aliviado se você partisse. Você estaria mais segura em seu país e ao lado de sua família.
— Valentim, acho que você está exagerando.
— É mesmo? Até que ponto o acidente e a ameaça não estão, de certa forma, ligados à invasão do meu chalé? O que Deltan Sakamoto pensa de tudo isso?
— Sakamoto tem certeza de que a invasão é obra de algum profissional e, fora isso, tenta localizar o carro preto que tentou nos atropelar. Mas por que estamos perdendo tempo falando desse assunto? Vamos ao nosso banquete!
— Hum, maravilha!
Quando finalmente sentaram-se para jantar, Maresca suspirou, aliviada.
— Não aguento mais os meus colegas de trabalho, que só sabem falar de Macarrão e queijo, pudim de arroz e torta de morangos. Quando sinto saudade, só consigo pensar em comida mexicana. E você, Valentim?
— Bem, eu cresci apreciando as delícias americanas, mas reconheço que isso é muito mais gostoso do que tudo que provei até hoje... Mesmo sendo descendente de italianos, amo comidas de outras culturas também.
— Confesse que, pelo menos no que diz respeito à comida, as americanas apanha dos quitutes apimentadas do México de dez a zero!
Valentim sorriu e começou a organizar o jantar.
— Será que você não está tratando com pouco caso sua mulher preferida, Valentim? —
Perguntou Maresca, enquanto terminava de lavar a louça.
— Mas ela se encontra ao meu lado!
— Ainda bem que minha assistente não o ouviu!
— Tem razão! Ela seria bem capaz de morrer de ciúme. Vamos tirá-la do armário daqui a pouco.
— Vá indo, enquanto ajeito as minhas rosas no vaso.
Valentim retirou-se e daí a pouco Maresca foi ao seu encontro. Ajoelhado, ele tirava um micro clip de dentro do robô e guardava-o no bolso.
— Você roubou o cérebro dela?
— Não, de modo algum. — Disse ele, um tanto tenso.
Invadida por uma onda de ternura, ela sentou-se no chão, ao lado dele.
— Ensine-me a operar Rosie, Valentim.
— Claro! Primeiro, você precisa aprender o código que permite ativá-la. — Ele apertou vários botões, explicando os seus significados à medida que as luzes se acendiam. — Alô, Rosie!
— Bem-vindo, senhor Salvatore. Passou algum tempo desde o nosso último contato: seis dias, cinco horas, trinta minutos e quinze segundos.
— O quê! Mal acredito nisso! — Declarou Maresca, com os olhos arregalados. — Como conseguiu programá-la para fazer tudo isso, Valentim?
— É quase um artesanato, Maresca. Quando estava no ginásio, Rosie e eu éramos contratados para fazer apresentações em feiras comerciais. No início a coisa era simples. Eu a operava por meio de controle remoto, com um microfone escondido dentro dela. À medida que ia aprendendo mais coisas a respeito de computadores, comecei a programá-la e torná-la mais requintada.
— Entendo...
— Maresca quer ser sua amiga, Rosie!
— Amiga?... — Repetiu o robô. — Companheira?... Camarada?... Chapa?... Confidente?... Alma irmã?... Ou Colega?... Especifique se quer saber as palavras correspondentes em francês, espanhol, alemão ou japonês, mandarim, grego...
— Negativo!
— Acho que ela está me evitando. — Disse Maresca, com um sorriso. — Vamos ver se consigo atravessar essa barreira. Rosie, o que Valentim faz todas as manhãs?
— Valentim Salvatore, programa matinal. O despertador toca às cinco. Ele não se mexe. Volta a tocar às cinco e meia. Levo o café dele na cama. Sacudo-o, para ele acordar. Ponho a xícara em sua mão. O obrigo a tomar banho e fazer sus higiene. Ele faz exercícios físicos, além de seu treinamento de segurança. Acrescentarei outros detalhes mediante pedido.
— Ela é inacreditável, Valentim.
— Pare de se exibir para Maresca. — Ordenou Valentim em voz bem alta.
— O nível de voz não é aceitável. Reconsidere o seu tom autoritário ou irei entrar com o protocolo de segurança amarelo.
— Ela é bem espertinha, não acha? Quer vê-la dar alguns passos?
— Sem dúvida!
— Dê três passos adiante. Faça duas voltas completas. Volte para onde estava, Rosie.
O robô obedeceu no mesmo instante e Maresca aplaudiu.
— Obrigada.
— Parece que Rosie está começando a gostar de você!
— O que mais ela sabe fazer?
— Quando estamos lá em casa ela realiza uma série de operações. Espere até voltarmos para nosso país. — Valentim apertou vários botões e uma pequena tela verde surgiu no mesmo momento em que, do interior do robô, saía um pequeno teclado. — Preste atenção, Maresca. Vou ensiná-la a organizar um cardápio. — Ele mostrou quais teclas deveriam ser apertadas. — Rosie também está programada para alguns jogos controlados por vozes e creio que você vai se divertir bastante com isso. Agora aperte a tecla indicando o número da operação que você deseja e todas as instruções surgirão na tela.
Maresca obedeceu as instruções e aguardou os resultados.
— Rotinas de linguagem, expressões relacionais, mapas de memória, fichário em sequência... Ei, aí está uma coisa que eu finalmente entendo. — Observou Maresca. — Sistemas de alarme! Dicas de beleza e outros temas que ela está aprendendo. Entendi...
— São os favoritos de Rosie. Ela adora brincar de detetive também. — Valentim fez surgir na tela o sistema de alarme e explicou todo o processo, em detalhes. — Com esta programação os sensores de calor e luz contidos em Rosie são ativados. Se alguém entrar em seu campo de ação, ela imediatamente solicita que mostre sua prova de identidade. Se não reconhecer a pessoa intrusa, começa a correr de um lado para outro, gritando: "Saia imediatamente! Raios mortais! Saia imediatamente!" Um colega meu quase teve um ataque do coração, pois esqueci de informar a Rosie que ele tinha permissão para entrar na minha casa.
— E qual é a prova de identidade?
— Isso varia, de pessoa para pessoa. Vou programar Rosie para reconhecer o seu nome, por exemplo. Mas ela tem em seu banco de dados outras formas de reconhecer uma pessoa.
— Ora, mas outra pessoa pode usar o meu nome.
— Não. Rosie reconhece os tons de vozes, mesmo que tente disfarçar ou imitar. Como eu lhe disse, ela tem um banco de dados ilimitado.
— Confesso que fiquei impressionada, Valentim!
— Era exatamente esta a minha intenção!
Mais tarde eles sentaram-se em um sofá, na varanda, e Valentim propôs com ar sério.
— Vamos deixar Rosie no seu chalé com o sistema de alarme ligado.
— Você está preocupado com a segurança de Rosie ou com a minha?
— Nunca se sabe... Além disso, Rosie pode lhe ajudar indicando onde estão os supostos inimigos graças ao seu sistema de rastreio térmico.
— Duvido que o assaltante volte à sua casa. Acho que ele teve todas as oportunidades de me assustar na sua ausência. Sakamoto está quase convencido de que eles conseguiram o que queriam.
— Segundo Sakamoto, o que procuravam?
— Drogas, diamantes, pequenas barras de ouro, qualquer coisa de grande valor. Acho que o Caribe é o paraíso dos contrabandistas.
Maresca sentiu o calor do corpo de Valentim e aninhou-se ainda mais nos braços dele. Queria evitar de falar sobre aquele acontecimento intrigante e assustador.
— Vamos levar Rosie para a cama? Em seguida cuidarei de levar você também...
— No seu chalé ou no meu? — Perguntou Maresca, em tom de brincadeira.
— No meu, sem dúvida!
1725 Palavras
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