Capítulo 22 - O Ministro da Máfia
Valentim também se mantinha nesse estado de constante vigilância quando trabalhava na resolução de algum caso complicado. Agora, porém, não tinha a menor razão para estar tão preocupado. O plano estava indo bem, todos estavam vindo ao seu encontro e sem ao menos perceberem estavam fazendo o que ele estrategicamente tinha planejado.
O encontro de Maresca com o homem de cabelos grisalhos não fora tão aterrorizante assim. Entretanto, era intrigante o modo como o sujeito olhou para a mesa onde ele e Maresca estavam sentados. Além disso, pela primeira vez Valentim expunha ao perigo alguém a quem começava a amar. Jamais se perdoaria, caso acontecesse algo a Maresca. Por isso, sua estratégia teria que ser mais que perfeita, sem falha alguma. Svetlana era a única que sabia de sua existência, ela era a chefe geral do FBI e trabalhava diretamente como os congressistas, além de ter livre acesso com o presidente dos EUA.
Ao ouvir o som de passos se aproximando pela escada, ele ficou tenso.
— Achei que Sakamoto não ia mais desligar. — Disse Maresca, abraçando-o. — O que está fazendo aqui no corredor?
— Deixei a minha chave em sua bolsa.
— Por que não foi me procurar?
— Fiquei com preguiça de descer.
Ela sorriu e enfiou a chave na porta. Nesse momento, Valentim gelou. Seu sexto sentido voltou a preveni-lo de que alguma coisa estava errada.
— Psiu! — Ele levou a mão aos lábios e fez um sinal para que Maresca o seguisse até um canto do corredor.
— A luz do meu quarto está acesa.
— E daí?
— Eu tinha deixado apagada.
— Quem sabe tenha sido a arrumadeira.
— Talvez. Fique de lado e quando eu abrir a porta, não apareça.
— Você é crescido demais para brincar de mocinho e bandido! Isso é ridículo! Eu não ouvi nada e nem percebi nada diferente.
— Eu sou um nerd da tecnologia, sei quando invadem o meu espaço! Afirmou ele ficando sério.
Ignorando a observação, ele se aproximou do quarto e enfiou a chave na fechadura sem fazer o menor ruído. Aguardou alguns segundos, girou-a e, num gesto brusco, abriu a porta com o pé. Encontrou a janela aberta e as cortinas afastadas.
Fez um sinal pra Maresca, e os dois entraram rapidamente. Sem dúvida, alguém havia entrado ali, deixando todas as gavetas da penteadeira abertas. Para completar, roupas e objetos de pessoais espalhavam-se pelo chão.
Sem dizer nada, Valentim observou a expressão surpresa de Maresca.
— Alguém revistou o seu quarto.
— Já Imagino o motivo? Disse friamente olhando em volta.
— Isso me parece uma tentativa de roubo. Não sente falta de nada?
Ajoelhando-se, ele puxou uma mala menor que estava debaixo da cama e revistou-a.
— Não, está tudo em ordem: meu passaporte, os cartões de crédito, o talão de cheques... Vamos checar o seu quarto agora mesmo.
Os dois sairam e foram pro quarto em frente.
— Isso só pode ser brincadeira.
Maresca ficou vendo a desordem que deixaram em suas coisas. Roupas espalhadas por todo o chão, até mesmo as suas maquiagens haviam sido remexidas.
— Trouxe alguma coisa de valor? Como jóias ou mesmo dinheiro em espécie?
— Não. Deixei tudo em Grand Cayman.
— Mas que diabos está acontecendo aqui, Valentim? Você se meteu em alguma encrenca e não quer me contar?
Valentim a encarou com precaução. Teria chegado o momento de revelar suas ligações tanto com a máfia italiana como com o FBI, mesmo sem falar com Svetlana? Embora estivesse tentado a fazê-lo, o ar de mistério que o rodeava a deixava desassossegada. Será que, de fato, ele contara tudo o que ela deveria saber em relação à sua vida?
— E então, Valentim? Vai responder ou não?
— Não gosto do tom com que você fala, Maresca.
— Ora, bolas! Quem está preocupado com o meu tom? Costuma se meter em encrencas o tempo todo, Valentim?
— Ouça, Maresca. Não sei o que está acontecendo. É bem provável que você esteja com a razão. Alguém tentou um roubo, mas não encontrou a minha bolsa e acabou desistindo.
— Não estou gostando nem um pouco disso. Vamos telefonar a Turner e pedir que ele a leve de volta para Grand Cayman, ainda hoje. Lá você poderá entrar em contato com o seu amigo Sakamoto e mudar-se para um hotel, onde não correrá nenhum risco.
— Risco? Mas que exagero, Valentim. Uma tentativa de roubo não representa ameaça ao bem-estar de ninguém.
— Não esqueça o incidente de ontem à noite...
—E se fôssemos até a recepção, comunicar o que aconteceu? Talvez esse tipo de problema já tenha surgido antes.
— Está certo.
— Por que não dá uma espiada no seu quarto para verificar se está tudo no lugar realmente?
Enquanto isso vou ajeitar as minhas coisas.
— De acordo, mas tranque a porta assim que eu sair.
—Tudo bem!
Chegando ao quarto, Valentim encontrou tudo na mais perfeita ordem. Por que haviam vasculhado o quarto de Maresca também, não bastava somente o dele? Será que se confirmavam as suspeitas de que importunavam Maresca, com a esperança de atingi-lo? Na certa, esses ataques eram uma forma de lhe dizer que esquecesse dela e continuasse a executar o seu trabalho como a organização ordenará.
Nos últimos dias, Valentim tinha compreendido que havia mais gente envolvida naquela história, além do trio que o procurava.
Descobrira também que eram perigosos e não hesitariam diante de nada para conseguir seus intentos. O acidente com o carro teria sido proposital ou não passava de uma coincidência? Sabotaram a bicicleta de Maresca e por sorte nada aconteceu, e logo em seguida tentaram atropelá-lo, um recado mais do que claro, que o próprio seria fatal.
Bom, fosse o que fosse, precisava terminar logo com aquilo. No dia seguinte começaria a fazer os testes finais com Hunter, localizaria as caixas de metal no fundo do mar onde estavam as mercadorias que tanto a organização queria e as entregaria para o FBI. O cerco estava se fechando diante dos principais chefões e logo todos cairiam. Levou muitos anos dentro da organização, mas o dia de sua vingança havia chegado.
Se tudo corresse bem, conseguiria as informações que desejava e iria embora, antes que algo pior acontecesse. Enquanto isso teria de afastar Maresca de lá. Ela passaria a noite ao lado dele e pela manhã regressaria a Grand Cayman, onde entraria em contato com o tal de Sakamoto, o que não deixava de preocupá-lo pois já envolveria a polícia local.
Será que isso não atrapalharia seu projeto?
Anos antes de partir de Austin e fundar a sua empresa ele havia procurado ajuda, mas todas as portas se fecharam. Ninguém lhe dera ouvidos, levando-o a assumir todos os riscos sozinho. Mas por um golpe de sorte acabou salvando a diretora geral do FBI de um atentado da própria organização. O que a fez abrir seus olhos para o talento dele, sem pensar muto a mesma ofereceu treinamento e o fez um agente duplo.
Ela sempre o chamava de "O Menino de Ouro, codinome Valente", o segundo apelido foi dado por seus pais e isso era outra maneira de honrá-los. No entanto, uma coisa era certa: testar Hunter como um super robô espião também era desejo do governo Americano e constituía uma prioridade, para que pudesse assinar o contrato pelo qual tanto lutara.
Valentim trancou a porta e desceu rapidamente a escada, ao lado de Maresca. Na recepção havia somente uma das proprietárias, que ele reconheceu.
— Esteve aqui a tarde toda, Dulce?
— Sim, Sr. Salvatore. Por quê?
— Não aconteceu nada que tivesse chamado a sua atenção?
— Não! O que houve?
— Alguém entrou em nossos quartos.
— Que horror! Roubaram alguma coisa?
— Não, mas espalharam tudo pelo chão.
— Oh, sinto muito! — Garantiu Dulce, torcendo as mãos muito nervosa. — Como entraram lá? Esqueceram as portas destrancadas?
— Acreditamos que não.
— Detesto que uma coisa dessas aconteça no meu albergue. E a primeira vez que surge um problema assim à anos, e meus hóspedes ficarão preocupados.
— Vamos esquecer o assunto, já que não sumiu nada propôs Maresca, preocupada com a aflição de Dulce.
— De modo algum! Isso pode se repetir! Disse Valentim irritado.
— Então, chame a polícia amanhã, com toda a discrição. Peça que enviem alguém que a ajude a melhorar a segurança do albergue, ou contrate mais segurança particular para ficarem de vigia.
— Boa ideia! Se sentir falta de alguma coisa, comunique imediatamente, pois o seguro paga.
— Obrigada. Sinto muito pelo que aconteceu. Apreciamos de mais a sua hospedagem.
Minutos mais tarde, Maresca e Valentim terminaram de arrumar as malas e estavam prontos para partir.
— Espere um pouco! — Pediu Valentim, enquanto ela se preparava para descer a escada.
— Aonde você vai?
— Acabo de ter uma ideia maluca. Quero conversar com uma pessoa. Por acaso já brincou quando criança de policial bom e policial mal?
— Eu vou com você. Não quero perdê-lo de vista hoje à noite. E já brinquei de muitas coisas quando criança! Afirmou ela sorrindo.
— Não preciso que cuidem de mim. Sei me defender! Resmungou ele nervoso.
— Paciência! Agora, você não tem outra escolha.
Dando de ombros Valentim foi até o restaurante, que estava pouco iluminado, e olhou à sua volta.
— Lá está ele! Se lembra dele? — Perguntou ao anunciar, apontando para um grupo de garçons.
— Ele quem?
Nesse instante, um dos rapazes os avistou e empalideceu.
— Quero conversar a sós com você. — Declarou Valentim, aproximando-se dele.
Muito aflito, o rapaz tinha uma expressão diferente da que exibira na véspera, ao receber a generosa gorjeta que lhe dera o homem de cabelos grisalhos.
— Agora não posso... Ainda tenho muito o que fazer e...
— Pode deixar, Glauber. Vá ver o que os nossos hóspedes querem... — Interveio uma senhora de meia-idade.
Contrafeito, Glauber os seguiu e, assim que chegaram à portaria, Maresca procurou um lugar discreto onde pudessem conversar.
— Não há nenhum lugar onde possamos ficar a sós? Olhando para Valentim pois havia entendido muito bem o que ele planejava fazer.
— Por quê?
— Talvez você prefira que sua patroa não tome conhecimento disso...
— No fim do hall existe um peuqeno escritório onde fazemos reuniões.
Assim que entraram no pequeno cômodo, Maresca foi a primeira a falar como Valentim havia orquestrado.
— Permitiu que alguém entrasse em nossos quartos hoje?
— De modo algum! — Gaguejou o rapaz, ficando extremamente vermelho.
— Acho que você está me escondendo alguma coisa. O que fez hoje à noite?
— Apenas falei um pouco a seu respeito. Creio que não há nada de mal nisso.
— Com quem?
— Não foi com o homem de ontem.
— Sabe se o sujeito era amigo dele?
— Ele se referiu à história da gorjeta...
— Quem era? — Perguntou Valentim, avançando para Glauber com ar ameaçador, mas Maresca o deteve.
Valentim desejou nesse momento estar sozinho e de posse de suas famosas facas.
— Quanto ele lhe pagou, Glauber?
— Ganhei uma gorjeta em troca de uma informação... — Confessou o garçom, trêmulo.
— Que tipo de informação?
— Disse que queria saber mais a seu respeito, pois a senhorita é uma mulher muito bonita, e o amigo dele ficou interessado.
— Ela está acompanhada ou não percebeu isso? Resmungou Valentim furioso.
— Valentim, sem drama agora. O que mais? Continuou perguntando amando perceber o quanto Valentim estava com ciúmes.
— Prometi a ele que ficaria de olho na recepção, à espera de que Dulce se afastasse. Aproveitei e folheei o registro de hóspedes, até encontrar o seu nome.
— Como assim?
— A senhorita foi a única mulher solteira a se hospedar aqui ontem. Além do seu acompanhente é claro...
— Quer dizer então que você comunicou ao tal sujeito o nome e o número do quarto de Maresca e o meu! Deu-lhe também as chaves, não?
— Ele nem sequer perguntou e foi embora cinco minutos depois de eu lhe passar as informações.
— O sujeito chegou a fazer ameaças?
— Sim. Disse que se eu tocasse nesse assunto me arrependeria amargamente.
— Glauber, quem são esses homens?
— Para ser sincero, não sei. Juro que nunca os vi antes. Mas todos tinham sotaque italiano.
— E os seus colegas?
— Diogo disse que o homem que esteve aqui ontem mora num iate luxuoso, ancorado na enseada dos Golfinhos.
— Essa enseada fica bem distante da ilha! Afirmou Valentim sabendo que só havia uma pessoa que poderia vir atrás dele.
— Qual é o nome do iate?
— Chama-se ALMA. Posso me retirar? Prometo que não tocarei nesse assunto com mais ninguém.
— Onde está Diogo?
— Foi para Grand Cayman e ficará de folga durante alguns dias.
— Você deve manter a boca fechada de agora em diante, Glauber. Quero que comunique a Dulce tudo o que sabe.
— Oh, não!
— O homem invadiu os nossos quartos, e Dulce ficou muito preocupada. Chamará a polícia amanhã. Acho melhor colocá-la a par de tudo, caso contrário farei com que você seja despedido.
— Sim... — Concordou o rapaz, contrariado.
— Não se esqueça de que tenho meios de verificar se você falou ou não com ela.
Sem disfarçar o quanto estava assustado, Glauber retirou-se.
— Sem dúvida, nós dois juntos somos uma boa euipe, o interrogatório foi bem preciso! —Declarou Valentim, pensativo. — Já teve algum treinamento?
— Não, mas desde a adolescência leio romances policiais. Foi com isso que aprendi a minha técnica.
— Pois saiba que ela funciona!
— Bem, pelo menos agora sabemos quem invadiu os nossos quartos.
— Será? A única coisa concreta é a existência de um homem que sente atração por você. Que modo mais esquisito de demonstrar a sua paixão!
— Tenho certeza de que existe uma explicação lógica para tudo isso.
— Depende do que você entende por lógica. Quero que vá embora amanhã cedo, Maresca.
— Calma aí! Não estou sob suas ordens! Nem tente empregar comigo as táticas que aprendeu sei lá onde.
— Estou fazendo um pedido. Por favor...
— Por favor o quê?
— Volte para Grand Cayman e fique hospedada num hotel.
— Gosto do chalé e não pretendo deixá-lo.
— Pelo menos converse com o policial Sakamoto então! Quando pretende ir embora?
— Ainda não sei.
— Se eu não voltar antes de você partir, por que não me deixa o seu endereço em Washington?
— Provavelmente vou ficar durante alguns dias. Seu trabalho deve terminar logo, não é mesmo?
— Ainda assim quero o seu endereço, pois posso me atrasar. Não desejo de modo algum perder o contato com você, Maresca...
— Está bem. Tem uma caneta?
— Escreva aqui!... — Disse Valentim, tirando um cartão e uma caneta do bolso.
— Pronto! E agora? Sente-se melhor? Perguntou ela irritada.
— Ainda não. Só melhoro se você prometer passar a noite comigo.
Maresca fingiu que pensava na proposta e acabou concordando.
— Hum, ótima ideia...
A expressão angustiada do olhar de Valentim se modificou, e ele tomou-a nos braços, beijando-a.
Agora ela estava prestes a permitir que Valentim a dominasse novamente, e sabia, sem sombra de dúvidas, que esta seria uma noite que ela nunca esqueceria. Ela nunca estivera tão excitada em toda a sua vida.
— Chegamos ao ponto inicial outra vez. — Uma voz disse subitamente, fazendo Maresca pular, pois estava tão distraída que não percebeu os movimentos do Valentim.
Com uma risada, Valentim se inclinou e ligosu as luzes do quarto.
— Não precisa me fuzilar assim com esses lindos olhos Maresca. Eu só quero que fique em segurança.
— Eu não disse nada. — Quando percebeu que já tinha demonstrado sua tua insatisfação, Maresca cobriu a boca com a mão. Ele pensaria que ela é a mulher mais teimosa do mundo se não encontrasse algo mais interessante para dizer.
Seu humor estava mudando abruptamente. Quando ele a tocava, ela se sentia incrivelmente sexy, e Maresca deixava seu lado selvagem brilhar, mas quando se tratava de interagir com ele de uma forma não sexual, sua língua simplesmente dava nó. Além disso, Valentim tinha um incrível poder de controlar seus instintos.
Melhor ficar com seu lado selvagem para que ele não pensasse que ela é totalmente idiota.
O ar da noite estava frio, fazendo-a tremer. Mas ela suspeitava que isso tinha mais a ver com seus nervos do que com qualquer outra coisa.
— Posso ir embora se quiser. — Ele disse enquanto a linda boca se curvava num sorriso.
Antes de ficar mais nervosa, ela fechou a porta e pegou na mão dele. Sem dizer uma palavra, ela o levou até a cama.
— Tem certeza que não vai mudar de ideia sobre me mandar embora?
— Não estou lhe mandando embora, estou te mantendo em segurança. E logo depois irei ao seu encontro. Por acaso eu tenho cara de quem não cumpre com as suas promessas?
Colocando as mãos em seus quadris, ela o encarou. — Não é legal zombar de mim.
— Estou apenas tentando aliviar o clima. — Valentim disse enquanto a puxava para perto. — Mas você fica muito sexy quando está nervosa comigo.
2745 Palavras
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