Capítulo 20 - O Ministro da Máfia
Como explicar a Valentim que, para ela, tudo aquilo não passava de uma brincadeira de criança?
Estava tão acostumada a lidar com ameaças e conflitos que nada a surpreendia, sobretudo coisas tão banais como o que acontecia. Será que se comportava com excessivo sangue-frio e acabaria deixando de tomar conhecimento de fatos importantes?
Quem sabe tudo não passasse de exageros de sua imaginação. De repente ocorreram-lhe mil dúvidas e, num gesto impulsivo, ela se levantou.
— Vamos, Valentim. Senão perderemos essa manhã linda.
Quando saíram do restaurante, Valentim acompanhou-a até uma loja de presentes e em seguida foi até o telefone.
Confuso, fez uma pausa na frente da cabina. Algo o intrigava, mas não saberia explicar do que se tratava. De qualquer forma, para alguém que sofrerá acidentes e recebera ameaças, Maresca mantinha uma calma muito estranha.
Até que ponto ele vinha agindo como idiota, ao se comportar como se tivesse o direito de se apaixonar?
Talvez houvesse caído numa armadilha, preparada pela mulher mais bela e mais fantástica que conhecera até então...
Será que Maresca mentia acerca da ameaça? Por que alguém Se daria ao trabalho de ameaçá-la? Estariam tentando chegar até ele através de Maresca? Só podia ser isso! Alguém estava de olho nele e usava os truques mais baixos para alcançar os seus fins.
A partir de agora tomaria o máximo de cuidado. Enquanto permanecessem em Cayman Brac, não perderia Maresca de vista por um momento sequer e procuraria convencê-la a partir das ilhas o quanto antes. Para que assim ele pudesse resolver tudo a sua maneira.
Assim que entrou na loja, Maresca dirigiu-se à balconista.
— Tem vestidos esporte?
— Alguns. Os números estão misturados e a senhorita vai ter que verificar. Se quiser provar um deles, basta atravessar aquela porta.
Após examinar algumas peças, ela finalmente descobriu uma bela túnica com listas em tons multicoloridos sobre um fundo branco. Grandes flores tropicais, também alaranjadas, espalhavam-se por entre as listas.
— É perfeita! — Falou uma voz às suas costas.
Maresca voltou-se rapidamente e quase deu de encontro com Valentim.
— Oh! Não reconheci a sua voz.
— Você parece mais assustada do que um gato.
— Não se esqueça de que estou alerta... Gostou mesmo da túnica?
— Parece feita para você. Gostaria de comprá-la, mas não estou disposto a ouvir um sermão sobre os direitos femininos...
— Engraçadinho! — Maresca voltou-se para a balconista. — Quero experimentar esta túnica.
Valentim examinava alguns vestidos quando ela saiu da saleta de provas a fim de pagar o que devia.
— E então? Serviu?
— Ficou ótima. Quais são os planos para hoje?
— Darlan nos convidou para jantar. Fiquei de consultar você e dar a resposta mais tarde.
— Você não precisa trabalhar, Valentim? — Perguntou Maresca, enquanto voltavam ao albergue.
— Só peço mais um dia ao seu lado...
Comovida, Maresca respondeu com um olhar repleto de ternura e, entrou no quarto.
Revistou os armários, olhou por debaixo da cama e chegou até a inspecionar o banheiro, antes de se despir. Não encontrou nenhum vestígio de invasão e nenhuma escuta.
Sempre tivera necessidade de ação e de aventuras. Gostava do perigo e aceitava essa característica de sua personalidade. Por isso, se algum dia tivesse de fazer uma escolha, sempre colocaria a carreira em primeiro lugar. Sabia que, por mais que tentasse, jamais conseguiria adaptar-se aos padrões convencionais de comportamento.
— Deixe pra lá, Maresca! — Disse para si mesma, em voz baixa. — Valentim pediu apenas um dia de sua vida. Por que complicar tanto a situação?
A algumas milhas de distância dali...
Num iate ancorado a uma boa distância da ilha, fechou com irritação uma pasta e chamou em voz alta.
— Masseria, venha cá!
Assim que o homem loiro e magro entrou na cabine, Giacomo o encarou.
— Acabo de ler o seu relatório.
Olhou para o rapaz com curiosidade. Masseria era um de seus braços direitos. Fora criado na Itália, mas fugira de lá a fim de fazer fortuna no mundo lucrativo e perigoso da máfia italiana aos 15 anos.
— A informação que ele nos deu é correta? — Perguntou o loiro, com apreensão.
— Correta, sim, mas completamente inútil! Não gosto do que está acontecendo. Salvatore age estrategicamente e é mais frio que um iceberg. Afinal, o que ele pretende? Eu não cai naquele papo de problemas psicológicos, se o Don Maranzano caiu, o problema é todo dele.
— No momento, nada, além de namorar uma mulher incrível ...
— Ora, só faltava essa! Repito: não gosto disso nem um pouco. Precisamos conseguir a mercadoria. O Don jamais deveria ter confiado algo tão importante ao Valente.
— Enquanto ele não revelar a localização da mercadoria, não podemos fazer muita coisa. Ele tem a total confiança do Don Maranzano.
— Mas por que precisamos esperar que ele revele o local exato de onde está a mercadoria?
— O que sugere? Todo mundo sabe que Salvatore guarda as informações na cabeça até o momento de aplicá-las. Ele não recebeu o título de O Ministro da Máfia a toa, ele é como o pai.
— Apesar disso o maldito ainda tenta passar por cima dos demais membros da organização, nõa me sai da cabeça que é ele o espião que está trazendo tanto prejuízo a nossa organização. Mas o Don se recusa a me ouvir.
— Apenas boatos e desconfianças não irão mudar a opinião do Don e nem dos demais sobre ele.
— Só precisamos de um detalhe, um passo em falso dele e pronto.
— Mas como? — Perguntou Cascio, com cinismo.
— Pressionando o homem.
— Já ameaçamos a amante dele.
— Quem é ela? Sabemos algo a seu respeito?
— Não passa de uma turista, e os dois estão tendo um caso.
— Por que ele trouxe uma mulher, se sabia que entraríamos em contato?
— Ele não a trouxe. Acontece que estão hospedados no mesmo chalé.
— Então comece a pressioná-lo. Já cansei de esperar informações, e meus aliados também. Você sabe perfeitamente como agir.
— E quanto a sombra do Valente?
— Ora essa, não pretende que eu lhe diga o que fazer com ele, não é mesmo?
Dando de ombros, Moran retirou-se do camarote e balançou a cabeça, com ar desaprovador.
— Sabe muito bem que o Valente é como um animal, difícil de eliminar. Sua mente é única, e se ele escapar, ele voltará para te matar.
— Pois ele não vai escapar de mim outra vez.
— Seu ataque anos atrás pode ter destruído o pai dele. Mas valente é cem vezes melhor. Insistiu Moran sorrindo de lado.
— A sorte dele acabou!
— Não é o que eu fiquei sabendo.
— Os seus ataques durante esses anos só o deixaram mais letal. Ou se esqueceu de seus antigos aliados, Valente os matou a todos. Também foi um fracasso total atacar a família dele.
— De que lado realmente você está Moran? Indagou Masseria enfurecido.
— Mas é claro que é o do meu lado. Estou apenas lhe avisando, se Valente não lhe matar. O Don o fará, ou você acha que le se esqueceu que mataram o meio irmão dele.
— Christian Salvatore era um bastardo.
— Não importa, ele era o legítimo Don da organização. Apenas abdicou em nome do irmão. Por isso, Don Maranzano jamais perdoará quem derramou o sangue dele.
— Por que está me dizendo tudo isso afinal? pensa em me trair por acaso?
— Estou apenas lhe avisando! Afirmou Moran saindo devagar.
Maresca e Valentim alugaram um pequeno barco a vela e passearam a tarde toda. Depois de jantarem no albergue, foram andar pela praia recolhendo pequenas conchas aproveitando o resto de sol que ainda havia. Bem no final da tarde tomaram uma ducha, vestiram-se e desceram até a portaria, para esperar por Turner.
— Que bom que você não deixou aquele sujeito assustá-la! — Comentou ele, enlaçando-a pela cintura.
— Eu também queria passar mais um dia ao seu lado.
— Durante os meus trabalhos, você bem que podia ir no barco comigo e Turner.
— Isso não prejudicaria a sua concentração. Voltarei a Grand Cayman amanhã, pois tenho o que fazer por lá.
— Claro! Creio que você acabaria se entediando no barco.
No íntimo, Valentim censurou-se por ter feito aquele convite. Os sujeitos que o perseguiam não estavam para brincadeiras, e era preciso manter-se alerta, atento ao menor sinal de perigo.
— O que você vai fazer em Grand Cayman?
— Enquanto mergulhávamos, planejei um novo desenho para as minhas joias. Pretendo fazer um esboço para ver se gosto.
— Trouxe o seu equipamento?
— Sempre carrego alguns instrumentos comigo, além de prata.
— O que a levou a escolher a especialização em prata?
— É típico da tradição vikings. Brincou ela sorrindo.
Nesse momento, aproximou-se um jipe muito velho, guiado por Turner.
— Subam... — Ele ordenou. Enquanto o jipe percorria a estrada que levava ao porto, ele se dirigiu a Valentim. — Pedi informações sobre o sujeito que você mencionou no telefone, hoje de manhã. Ninguém se lembra de ter visto esse homem. Como você cruzou com ele?
— Deu trabalho a Maresca.
— Como assim? Passou uma cantada nela?
— Não... Depois eu explico melhor. Apenas avise a minha sombra que fique atento. Estamos em perigo eminente.
— Ah, bom... Espero que vocês não estejam com muita fome. — Comentou Turner disfarçando e, mudando de assunto. — Darlan manda avisar que, se quiserem comer, terão de trabalhar.
— Com isso ele quer dizer que precisaremos pescar a nossa refeição. Sempre que a geladeira se esvazia, Turner vem com essa conversa...
— Não acredite nele, Maresca! Conheço um lugar onde é facílimo pescar lagostas gigantescas.
Maresca sentia-se no auge da felicidade. O dia estava sendo perfeito e subitamente todas as suas preocupações estavam esquecidas.
1625 Palavras
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