Capítulo 13 - O Ministro da Máfia
Ele pareceu contentar-se com a explicação e voltou sua atenção para a lista telefônica que Maresca continha em suas delicadas mãos.
— Chegou a telefonar para alguma agência?
— Não, ainda não me decidi.
— Não se incomoda se eu acompanhá-la?
Maresca teve vontade de abraçá-lo, mas controlou-se. Sua espontaneidade incomodava muitos homens, que se sentiam ameaçados quando uma mulher tomava a iniciativa de tocá-los.
— Se você quiser...
Agora que ele dissera que não estava envolvido com ninguém, Maresca acreditava que o relacionamento deles tomaria um novo rumo. Ao mesmo tempo, relutava, pois temia se envolver excessivamente.
Em breve partiria, voltando à sua vida atribulada. Além disso, duvidava que Valentim Salvatore ou qualquer outro homem se contentasse com uma mulher que desaparecia periodicamente, sem poder explicar para onde ia ou quando voltaria.
Se por acaso se sentisse menos atraída por ele, então poderia gozar de um romance breve e inconsequente. Desses que a maioria dos jovens apaixonados tinham em verões quentes. Mas seu instinto lhe dizia que Valentim devia ser um amante perfeito, terno e sensual... Por isso, a perspectiva de entregar-se às emoções a amedrontava pois logo precisariam separar-se.
Levantando-se, ela foi até a pia a fim de lavar duas xícaras. Julgava-se uma tola por negar a si mesma os prazeres que Valentim poderia lhe proporcionar. Nesse momento, ouviu passos e voltou-se para a porta.
— Maresca, por que dormiu no sofá a noite passada?
— Ora, Valentim... Achei que você estava com uma mulher em sua cama disse, encabulada. — Como eu poderia adivinhar que você tinha ido buscar era a Rosie?
Ao vê-lo rir, Maresca ficou vermelha de raiva, e sua voz soou cheia de indignação.
— Engraçado, não? Nunca fui o tipo de mulher ciumenta e ontem quase tive um ataque por causa de uma... uma geringonça criada por você!
— E eu que julguei ser o único a sentir ciúme ontem! — Comentou ele, pousando as mãos nos ombros de Maresca e obrigando-a a encará-lo.
— Você também?
Sem responder, Valentim segurou-a com mais força e quando roçou seus lábios no pescoço de Maresca, ela jogou a cabeça para trás, proporcionando-lhe total liberdade.
Era como se uma nevoa envolvesse tudo que a rodeava dando-lhe a sensação de estar mergulhando num mundo que pertencia unicamente aos dois. Sua pele parecia queimar nos pontos que Valentim tocava, e seu corpo pedia cada vez mais.
Com um gesto rápido e inesperado, Valentim removeu a parte superior do biquíni, desnudando os seios arredondados. Acariciou lentamente os mamilos, despertando-lhe um desejo quase insuportável. Abaixando a cabeça, traçou com a ponta da língua o caminho percorrido por seus dedos.
Invadida por um prazer desconhecido, enterrou os dedos nos cabelos de Valentim e apoiou- se nele, muito excitada.
Sem se fazer de rogado ele tomou Maresca nos braços e levantou-a do chão, beijando-a com avidez, como se quisesse esgotar naquele momento todo o desejo que sentia.
Um suspiro sensual escapou dos lábios dela, enquanto a língua de Valentim penetrava em todos os recantos de sua boca, explorando e descobrindo seus segredos mais escondidos.
Valentim apertou-a com mais força, pressionando-a de encontro ao corpo, e Maresca começou a beijá-lo freneticamente, roçando os lábios em seu rosto, nas pálpebras, nas orelhas, na covinha do queixo... A cada novo beijo, a excitação dos dois aumentava e seus corações batiam acelerados.
De repente, porém, Maresca descobriu que, por mais que se sentisse atraída por ele, sua reação apaixonada era fruto de algo que ia muito além do mero desejo físico. Queria de Valentim mais do que uma simples relação sexual. Precisava descobri-lo enquanto pessoa, conhecer detalhes de sua vida e de sua personalidade, antes de comprometer-se em um envolvimento profundo.
— Valentim... — Murmurou, forçando-o a recuar. — Não combinamos de mergulhar?
Durante um breve momento ele deu a impressão de que iria protestar, mas logo sorriu.
— Está bem, Maresca. Acho que fui longe demais. Mas você está me deixando louco, mal consigo me controlar. Estou parecendo um adolescente inconsequente.
— Observe que eu não disse "não", mas apenas "ainda não".
— De acordo... Não desapareça, enquanto me visto!
— Quando partiremos?
— Digamos que dentro de meia hora. Por que não leva uma muda de roupa extra? Assim poderemos passar a noite no barco, sem apressar a nossa excursão.
Depois de alguma hesitação, Maresca concordou.
— Tudo bem. Daqui a pouco nos encontraremos.
O pensamento de Valentim não se desligava da bela figura sexual de Maresca enquanto ele tirava o calção. O corpo dela lhe transmitira tanto calor e desejo que suas mãos ansiavam por explorar, excitar, desvendar os segredos guardados por aquela mulher.
No entanto, não podia esquecer a necessidade de agir com calma, afastando-se assim que surgisse o risco de vir a envolvê-la em seus pesadelos em sua realidade cruel.
Ao conhecer Maresca tudo lhe pareceu muito simples: bastaria ignorar a atração que os unia. Surgiram então aquele jantar e os vários encontros ocasionais. E aos poucos ela foi invadindo todos os seus pensamentos, destruindo suas defesas e trazendo de volta a esperança de sonhos, coisa de que há muito tempo tinha desistido.
Ela era completamente diferente de todas as mulheres que conhecera até então, embora não procurasse analisar o porquê daquilo. Sabia apenas que estava obcecado pelo desejo de conhecê-la melhor.
Por outro lado, agiria com um perfeito tolo caso arriscasse uma intimidade com Maresca.
Se fizessem amor, ele ficaria vulnerável, incapaz de fingir indiferença, o que o obrigaria a pagar um preço alto por suas escolhas...
Enfurecido com o rumo de seus pensamentos, ele fechou a bolsa de viagem com um gesto impaciente. Na verdade, não passava de um tolo romântico, que se deixara surpreender pelo impacto de conhecer a mulher que sempre idealizara na época mais difícil de sua vida...
Mas não se desesperaria! Aproveitaria o momento presente e desfrutaria de tudo que ela lhe oferecia.
E amanhã?
E os dias que se seguiriam?
Sabia que cada segundo ao lado dela tornaria mais difícil o momento da separação.
De quanto tempo disporia para ficar junto de Maresca?
Na noite anterior o trio sinistro o havia descoberto e passaria a pressioná-lo da mesma forma como faziam dentro da organização. Eles tinham lhe oferecido mais dinheiro do que jamais poderia imaginar, encarando-o sem a menor expressão no olhar, à espera de sua reação.
Todos! Deviam acreditar que os dólares eram tão vitais quanto o ar que se respira...
Para piorar, um dos sócios dentro da organização estava espalhando boatos sobre uma possível traição da parte dele, o que havia encorajado aqueles sujeitos inescrupulosos o atacarem por diversas vezes. Além de terem ido atrás de Maresca, acreditando que ela seria um caso antigo dele. Mas depois da investigação da organização, tudo parecia estar esclarecido, pelo menos em relação a Maresca, pra eles, ne verdade ela só passava de mais uma diversão em sua vida.
— Negocie conosco e todos os seus problemas terminarão. Ainda podia ouvir a voz do Consigliere.
Sem dúvida, mesmo que Valentim continuasse recusando, alguém acabaria por tentar fazê-lo mudar de ideia da forma mais cruel possível... Por sorte a sua família estava em segurança. Pra isso o idiota do Varella servia. Talvez, mesmo alguém pertencente aos altos círculos do Pentágono, o Departamento de Defesa, Varella poderia desaparecer com sua mãe, irmã e sobrinho
Agora quanto a empresa, os projetos e todas as contas não estavam mais em seu nome. Tudo pertencia a sua irmã e seu sobrinho. A organização jamais poderia colocar as mãos nela, graças a ajuda do idiota do Varella.
Como um filho de um ex-mafioso, virou agente do FBi? Nem ele mesmo sabia essa resposta.
Apesar disso, Valentim se mantivera firme, fiel aos seus princípios. Por isso, começara aquela odiosa brincadeira de gato e rato. E agora, ao que tudo indicava, seus esforços resultariam em nada e Valentim seria obrigado a aceder.
Se tivesse alguma opção! Os testes finais com H8001 já haviam sido planejados e tornara-se inviável modificá-los. Porém, o que mais o aborrecia era o fato de o tal trio conhecer cada detalhe de seu trabalho fora da organização. O combonado era que a sua vida particular jamsi deveria ser tocada pela organização, outra promessa quebrada. E dessa amneira pelo menos ele não teria remorso pelo que aconteceria a seguir.
Por mais que pensasse, Valentim não conseguia localizar quem dentro do seu convívio social que divulgara os seus segredos.
Ninguém, absolutamente ninguém, conhecia seus planos. Ele mesmo reservara a passagem de avião e providenciara o chalé, chegando ao extremo de partir sem comunicar o fato a ninguém. Julgara que um simples bilhete dirigido a Turner seria mais do que suficiente para tranquilizar a todos, sem fornecer a organização qualquer pista de seu paradeiro.
Entretanto, eles haviam chegado à ilha antes dele, deixando um recado com o corretor da imobiliária. Uma terrível sensação de desespero se apoderou de Valentim no momento em que abriu o envelope na agência de automóveis e leu a mensagem.
Na véspera, a organização havia chegado ao chalé tarde da noite, no momento exato em que seu velho amigo, Júlio Turner, saía. Turner os encarou com curiosidade e retirou-se rapidamente, apreensivo com a tensão que pairava no ar.
Numa manobra inteligente para ganhar tempo, Valentim limitara- se a entregar-lhes uma das estratégicas ordenadas pelo Don meses atrás, complicado o suficiente para que qualquer membro demorasse um bocado de dias até colocá-lo em prática. Se a análise que H estivesse certo sobre o movimento das marés estiver correta, ainda levariam um ou dois dias antes de poder denunciar a chegado do carregamento de ópio. E só de imaginar que eles poderiam ser adiados, Valentim sentia os nervos à flor da pele.
Subitamente lembrou-se de que fora obrigado a mentir para Maresca também. Odiava subterfúgios e jurou a si mesmo que, se ela voltasse a tocar no assunto, contaria pelo menos uma parte da verdade a fim de tranquilizá-la.
Mas realmente teria a coragem suficiente para lhe revelar parte da história. Nem conseguia imaginar qual seria a reação dela.
Animado com essa decisão, trancou a porta da frente e foi assobiando para a varanda, onde deixara Rosie.
— Que tal perguntarmos a Maresca se você pode ficar guardada no seu chalé, Rosie?
— Afirmativo!
Maresca acabava de vestir-se quando se lembrou de telefonar a Deltan Sakamoto. Prendeu os cabelos num coque e tirou o aparelho do gancho.
— Não posso falar muito no momento. — Disse Sakamoto, num tom baixo.
Asiático de alguma região desconhecida para Maresca, baixo, com grandes olhos claros, o que era muito raro, mas com certeza seria por que um dos seus pais era de outra origem e uma expressão infantil, desde que começara a trabalhar para o FBI como agente duplo na região onde Maresca estava. Sakamoto adquiriu o hábito de transformar tudo numa enorme crise, cheia de suspense.
— Olá, querido! Chegou alguma correspondência para mim?
— Não. Santineli conversou com sua amiga Suzanna ontem à noite e...
— Eu sei! — Interrompeu Maresca, um tanto irritada pelo fato de ser objeto de fofocas dentro da agência agora. — Ela me comunicou o conselho dele.
— Conselho?! De quê?
Amaldiçoando-se por ter colocado o carro diante dos bois, tirando conclusões precipitadas, Maresca procurou desviar o assunto.
— Esqueça, eu estava brincando. O que Santineli lhe disse afinal?
— Perguntou por que você escolheu as ilhas Cayman para passar as férias. Com tanto lugar pelo mundo afora.
— Ora essa! Que curiosidade tola! O que está acontecendo?
— Não sei... Ele parecia preocupado, pois não fazia a menor ideia da razão que a levou até aí. Mas temos alguns boatos circulando pela agência.
—Não vejo nada de misterioso na minha opção. Apenas gosto de praticar pesca submarina e lembrei que as ilhas Cayman têm os lugares mais fantásticos de todo o Caribe. e quais são os malditos boatos dessa vez? Perguntou ficando irritada.
— Dizem que o menino de ouro dos principais figurões da agência está em perigo e que ele foi exatamente para as ilhas Cayman.
— Que história é essa de menino de ouro?
— Eu também nunca tinha ouvido falar nele. Mas dizem também que esse cara foi incorporado a agência desde de adolescente e que ele dá informações dos grandes criminosos que exportam drogas e armas dentro de nosso pais.
— Se ele é tão bom assim. Como que os criminosos não acabaram ainda?
— Sei lá, vai perguntar isso logo para mim. Esquece que temos traidores até dentro da agência e o governo está cheio de corruptos.
— Maldição, sei bem. Tanto no nosso pais como nos outros também. Afirmou ela observando com cuidado a movimentação de Valentim no chalé vizinho.
— Santineli não deu nenhuma dica em relação ao motivo de estar tão interessado nisso realmente?
— Nenhuma. Digo a ele que você foi apenas mergulhar? Ou quer que eu diga outra coisa? Estão dizendo que você foi enviada pra ilha na intenção de proteger o tal menino de ouro.
— Se vocês não encontrarem assunto mais interessante para conversar... Sakamoto, diga a Santineli que, se ele quiser falar comigo, poderá conseguir o número do meu telefone com você ou Suzanna. Por acaso chegou alguma conta para mim?
— Não, apenas um folheto de uma agência de turismo. Eu li e eles oferecem uma viagem maravilhosa através do Mediterrâneo. Imagine só, fazem escala até mesmo no Brasil!
Brasil ou Itália?... Maresca lembrou-se de seu sonho. A língua estrangeira que ouvira no chalé ao lado podia perfeitamente ser realmente o italiano.
— Está pretendendo viajar pro Brasil para investigar os peixes graúdos de lá, dizem que as facções criminosas de lá são bem diferentes das nossas. Mas as principais agências também já estão de olhos neles.
— Faça-me um favor, Sakamoto.
— Com todo o prazer. De que se trata?
— A próxima vez que verificar as fichas do computador para Santineli, localize um nome para mim.
— Seu ex-chefe a obrigou a trabalhar nas férias? — Perguntou Sakamoto, indignado. — No seu lugar, eu recusaria.
— Não se trata exatamente de trabalho.
— Duvido... Bem, qual é o nome da pessoa?
— Valentim. Valentim Salvatore. Nasceu na Itália, mas veio ainda muito jovem para o nosso país e é dono de uma companhia de tecnologia no Texas, que fabrica robôs para o nosso governo e para a agência Espacial.
— Quer um conselho, se tiver o nosso governo envolvido e a Nasa, pule fora e saia correndo. Ou quer acabar como a área 51?
— Sabe que a área 51 é uma lenda urbana, não é mesmo?
— Nem você mesma acredita no que está dizendo. Mas eu já dei a minha opinião, então...
Enquanto passava o restante do que sabia sobre Valentim, Maresca sentia-se embaraçada e constrangida. Por outro lado, achava que devia informar-se a respeito do charmoso italiano. Afinal, depois do que acontecera com o ex-noivo, todo cuidado seria pouco.
— Bem, preciso desligar. Daqui a cinco minutos parto para a minha primeira pesca submarina.
— Boa sorte! Quer que eu entre em contato com você hoje à noite?
— Não tenha pressa. Poderemos conversar no final da semana, Sakamoto.
Enquanto desligava, Maresca ouviu os passos de Valentim na varanda.
— Entre! — Disse, assim que ele bateu a porta.
— Tem lugar no seu armário para Rosie? No meu não cabe nem uma agulha, e a faxineira deve vir esta tarde. Coitada! É capaz de morrer de susto, se encontrar um robô canino falando...
Dito isso, Valentim abriu o painel do robô, encaixando nele um disquete magnético. Cheia de curiosidade, Maresca acompanhou seus gestos com grande atenção, admirando-se à medida que as luzes coloridas se apagavam.
— Depois você me mostra como funciona, Valentim?
— Com o maior prazer! — Concordou ele, examinando-a da cabeça aos pés com ar de satisfação. — Podemos ir?
— Preciso alugar um equipamento de pesca submarina.
— Se você tiver um cartão de crédito, Turner poderá lhe fornecer todo o necessário.
— Então, não há problema. Quem é Turner?
— Um amigo meu. É o capitão do barco que iremos e um amigo de longa dada... — ele sempre está pronto para bancar a minha babá, pois foi um grande amigo dos meus pais, eu já o aluguei várias vezes para fazer testes com o robô submarino que desenvolvi no passado.
Maresca ficou surpresa com a informação, pois Valentim não lhe dissera nada a respeito desse projeto, quando ela lhe perguntara o motivo de sua visita às ilhas Cayman.
— Quer dizer então que não é a primeira vez que você vem aqui?
— Costuma ser sempre tão curiosa? E a primeira vez que fico na Grand Cayman. Turner já morou aqui, mas exatamente na Cayman Brac, e costumo me hospedar lá quando realizo os meus testes. E Turner tem a idade dos meus pais e é um gay muito, como posso lhe dizer isso diferente. Tem mais alguma pergunta a fazer?
Embora mil dúvidas a assaltassem, Maresca preferiu ocultá-las. Assim que ele abriu a porta do carro, porém, o telefone começou a tocar.
— Que tal nos fazermos de surdos? — Propôs ele, malicioso.
— Mas é no seu chalé...
— E daí? Eu não quero atender!... Avisou como se fosse um adolescente emburrado e muito teimoso.
— Tem razão, Valentim. Deixe tocar!
— Ótimo! Hoje será nosso dia de liberdade total. Faremos apenas aquilo que nos agradar! — Sugeriu ele, dando a partida no carro.
— Se você se candidatar a presidente e propuser essa plataforma, provavelmente irá ganhar todos os votos.
—Hum, não me interessaria. Creio que ocupar um cargo oficial me deixaria arrasado. Já eé dificil viver como eu vivo atualmente. No passado eu fiquei durante quatro anos na Marinha, na divisão de mergulhos, e aprendi uma lição que não vou esquecer nunca.
— Executou tarefas no fundo do mar?
— Diversas vezes... E para ser sincero me arrependo de cada missão realizada.
Percebendo que seu companheiro ficara tenso, Maresca decidiu não fazer mais perguntas. Pelo visto, ele não gostava de falar sobre suas experiências militares. O que Valentim diria se, de repente, ela tirasse da bolsa sua carteira do FBI e a mostrasse, como num velho filme de TV dos anos 60? Embora achasse a ideia tentadora, Maresca preferiu não arriscar.
— Ei, qual é a razão desse seu sorriso que parece esconder mil segredos? Por acaso está caçoando de mim, Maresca?
— Não, estou rindo de pura alegria. Não consigo deixar de me empolgar com a ideia de mergulhar no mar do Caribe. Que tal procurarmos algum tesouro.
— Tem muita experiência em mergulhos? Mas acho que já descobriram todos os tesouros. Na verdade eu minto, pois eu acabei de descobrir o mais valioso tesouro deste planeta! Afirmou a olhando intensamente.
— Mais ou menos... Pertenço a um clube que mergulha uma vez por mês nos arredores de Washington, no lago Chesapeake. No ano passado fomos à Flórida, mas comparando com a sua experiência, não passo de uma amadora. Explicou ela mudando de assunto e virando seu rosto afogueado pelas palavras intensas e cheias de paixão de Valentim.
— Depende de que experiência você está falando.
— Você é incorrigível sabia!
Nesse momento seu pé roçou num jornal. Baixando o olhar, ela constatou que era o mesmo que vira na véspera e que falava a respeito do desaparecimento de Valentim.
— Preciso lhe fazer uma confissão, Valentim...
— O que foi?
— Eu já sabia quem você era, quando bati à sua porta no dia em que chegamos.
— Acho que nunca fomos apresentados, caso contrário eu a teria reconhecido.
— Vi o seu retrato no jornal. Você é mesmo um gênio da robótica?
— Não, pelo amor de Deus! Isso não passa de sensacionalismo para vender jornal barato.
— Ah, que pena! Eu já ia escrever para os meus amigos contando que fui mergulhar com um gênio.
— Não esqueça de acrescentar que sou um gênio desaparecido. Por acaso não leu a reportagem completa?
— Li que seus sócios não sabiam para onde você ia. Por que pretendia fazer segredo sobre essa viagem?
— July Barricelli é que se preocupa em excesso. Somos amigos desde a Itália e fomos juntos à escola aqui na América. Caso você esteja em dúvida, devo dizer que nenhum dos boatos em relação a minha companhia é verdadeiro. Não estamos à beira da falência, ao contrário acabamos de fechar um grande acordo como o governo e com a agência espacial. Explicou por cima os fatos, Valentim também havia sido treinado na arte da dissimulação. Conseguia mentir até diante de *polígrafo, suas emoções eram controladas. Agora nem imaginava por que havia perdido o controle de seus sentimentos e da sua vida tão facilmente durante os anos.
— Bem, agora chegou a sua vez de me fazer perguntas. O que gostaria de saber?
— Por que você não perguntou sobre o meu desaparecimento logo no início?
— Naquele momento eu não sabia o quanto isso iria me interessar...
*Polígrafo ou detector de mentiras é um aparelho que mede e grava registros de diversas variáveis fisiológicas enquanto um interrogatório é realizado, supostamente para tentar identificar mentiras num relato.
3453 Palavras
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