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Um

Pela vidraça da sacada de seu apartamento, Dylan observava a cidade que um dia foi chamada como a cidade que nunca dorme, Nova York. As ruas estavam desertas, quase ninguém circulava, e muitos policiais as fiscalizavam. A Times Square estava vazia, lojas famosas estavam fechadas, tudo havia baixado suas portas. E a culpa era de algo que se alastrava através do ar e do contato direto, o Covid 19.

— Vai ficar aí por quanto tempo? O jantar está pronto.

Ele se vira sorrindo e indo de encontro à esposa Anneliese, grávida de seis meses, e mais linda ainda do que antes.

— E quem disse que é pra ficar se aventurando na cozinha? — ele a abraça delicadamente, a beijando nos lábios. — Seus pés estão inchados, precisa repousar.

— E quem disse que gravidez é doença? — rebate ela, em sua teimosia de sempre.

Anneliese continuava com a mesma disposição de antes quando ainda nem sonhava em engravidar, porém mesmo com as recomendações médicas pedindo repouso e cuidados redobrados nesta quarentena ainda sem fim, ela teimava e se aventurava em cozinhar, arrumar a casa e a fazer qualquer coisa que a mantivesse entretida.

— Você sabe, estar enclausurada em casa sem nem poder sair está me deixando louca. Não vejo a hora desse vírus se dissipar e eu poder voltar a caminhar por Nova York e a ver toda a energia que ela tem de volta. — diz ela, enquanto caminha até a mesa do jantar.

— Me preocupo com você, está grávida. Não quero que esse vírus maldito afete nosso bebê.

— Nosso filho está bem protegido aqui dentro. — ela envolve a barriga e a acaricia.—Nada irá machucá-lo.

Pensar que seria pai de um menino fazia Dylan sonhar com o dia em que o seu filho nasceria e ele conheceria seu rostinho. Ele concordava com a esposa, estar todos os dias trancafiados era entediante, porém nada era mais importante que a segurança deles. No começo foi até fácil suportar a quarentena, porém quando ele e a esposa viram suas opções de entretenimento se esvaindo, o isolamento começou a tornar-se sufocante.

Foi em Dezembro do ano passado que surgiram os primeiros rumores sobre essa doença, porém como ninguém levou nada à sério, o vírus chegou rapidamente à América e se alastrou num salto impressionante, obrigando o presidente a colocar sua nação em quarentena. O mundo chorava por suas perdas e clamava por um socorro, uma cura. Mas até agora, nada. Tudo o que lhe restava era seguir as medidas protetivas de usar máscara hospitalar caso vá a rua, usar álcool em gel e evitar contatos diretos, nem mesmo cumprimentar com um aperto de mãos ou abraçar alguém que visse na rua.

O jantar correu em silêncio por alguns minutos, até que o celular de Anneliese apita e ela vai atender.

— Oi Cath! — ela atende animada. — Conseguiu o que te pedi?

Catherine e Anneliese haviam se tornado amigas desde o natal em que Dylan resolveu se reconciliar com a família. Fora Catherine quem dera um certo empurrão para que os dois ficassem juntos.

— Perfeito, te espero chegar.— ela finaliza a ligação, sorrindo.

Curioso, Dylan resolve perguntar.

— O que combinou com a Cath?

— Ah, ela vai me trazer aquele bolo de chocolate daquela confeitaria que eu amo. Eles estão fazendo delivery e pedidos para a viagem na quarentena.

Dylan quase deixa o garfo cair.

— E você arrisca a pele da Cath por um bolo de chocolate? Não sabe que é perigoso ficar circulando demais pela cidade?

— Amor, ela quem se ofereceu. Disse que a confeitaria era caminho do trabalho dela no hospital. Foi uma gentileza da parte dela.

— Mesmo assim, não devíamos nem receber ela aqui. Pensa só, ela está vindo da rua.

— Ah, para com essa paranóia! Cath está usando máscara e luvas, acha que ela sendo uma boa enfermeira que é deixaria de se proteger? — briga ela.

— Todo cuidado é pouco, Anne. Estamos protegidos, não devemos deixar nada de fora entrar. Pensa no nosso bebê pelo menos. — insiste ele, irritado.

— Você se tornou um chato paranóico com toda essa coisa de quarentena, coronavírus. Será que não pode parar um pouco? — ela cruza os braços sobre a barriga, irritada.

Dylan respira fundo, não queria discutir com a esposa. Era melhor não incitar uma discussão maior.

— Desculpa, só quero o nosso bem.

Ela se aproxima dele e acaricia seus cabelos, dizendo.

— Tudo bem, desculpa por minha teimosia às vezes.

— Eu te amo, apenas quero proteger você e nosso bebê.

Ele a beija nos lábios e logo já estavam de bem novamente. Quando voltaram a comer, a campainha tocou.

— Deve ser a Catherine com o meu bolo! — Anneliese bate palminhas de animação e se levanta para ir atender.

— Nada disso, eu vou! — ele faz sinal para que ela volte a sentar.

Chegando na porta, ele olha pelo olho mágico e vê que realmente era Catherine.

— Catherine, me escute com atenção. Coloque o bolo no chão, prenda a respiração e dê dois passos para trás. — diz ele.

— Mas nem que me pague! Dylan, para de ser tão chato, eu estou de máscara e luvas.—diz ela, zangada.

Ele abre a porta e recebe um olhar de repreensão de Catherine, fazendo-o rir.

— Oi, Cath. — ele sorri sem graça e acena. — Fica paradinha aí mesmo, vou pegar uma luva pra poder segurar esse bolo.

— Dylan, chega. — desta vez Anneliese surge e pega a embalagem com o bolo das mãos de Catherine sem nenhuma proteção. — Oi, Cath.

— Oi, amiga. Seu marido está ficando lelé da cuca.

— Lelé nada! Cauteloso! — defende-se ele.

— Obrigada pelo bolo, como vão as coisas no hospital? Os números diminuíram?

— Não muito. Mas os testes com a Nitazoxanida começaram, surtiu efeito em alguns pacientes.

— Que Deus nos proteja de todo mal e que logo encontrem uma cura! — ela suspira e repousa umas das mãos sobre a barriga. — Obrigada pelo bolo, se cuida viu!

— De nada, Anne. Imagina só se eu não trouxesse esse bolo, seu filho nasceria com cara de bolo.

— Ele vai nascer lindo como o pai dele é. — provoca Dylan, ganhando um revirar de olhos de Catherine.

— Só não vou até aí lhe dar um cascudo por causa do vírus, mas deixa só a quarentena passar e tudo isso acabar, vai ganhar um belo de um cascudo. Anne, você me autoriza a bater no seu marido com um taco de beisebol?

— Mas é claro! — responde ela, rindo da provocação entre os dois.

— Anne! — Dylan a olha torto.

— Calma, amor, ela só está brincando. — diz, parando de rir.

— Assim espero.

— Bem, vou indo, estarei de plantão. Qualquer coisa que precisar me peça, Anne.

— Obrigada, Cath. Se cuida e vai com Deus, bom trabalho. — Anneliese acena para a amiga, antes de Dylan fechar a porta.

Após o jantar, Anneliese imediatamente ficou no sofá se deliciando com seu bolo e pondo as pernas para cima, apoiadas num pufe. Dylan terminava de lavar a louça e limpar a cozinha, pois desde o começo da quarentena, eles optaram por deixar a empregada deles em casa e recebendo o salário normal. Não foi assim só com ela, pois os funcionários da empresa dele, a Cooper Enterprises, tiveram também que ficar em Home Office, porém Dylan também optou por pagar a todos normalmente.

— Quer? — Anneliese pergunta de boca cheia, apontando pro bolo, enquanto Dylan vinha em sua direção.

— Não, amor. Obrigado. — ele pega um dos pés inchados dela por conta da gravidez e começa a massageá-lo. — Quando a quarentena acabar, ainda quero poder entrar em meus ternos.

— Não sabe o que está perdendo. — ela dá de ombros e volta a comer o bolo.

Após ter massageado os pés da esposa, Dylan já bocejava de sono. Anneliese também sentiu o cansaço a envolver e não demorou muito para que os dois fossem dormir e aguardar se o dia seguinte traria boas notícias a respeito da pandemia.


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Primeiro capítulo postado com sucesso! Quais foram as primeiras impressões de vocês ao reverem nossos personagens tão queridos? Estou louca para saber...

Amanhã venho com o próximo, um abraço, fiquem com Deus e se cuidem...

Não se esqueçam do votinho!

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