08 - Caça aos Pirilampos
Derick não se separava de seu Pato, eles se tornaram melhores amigos, como se podia perceber. As outras crianças questionavam à Judith o por que de não terem também um animal estimado.
— Vocês gostam de castores? – alguns faziam que sim, outros que não, justificaram com a ideia de que ficavam sempre na água e possuíam dentes grandes e serem feios — Bom, gostam de gambás? – o não foi absoluto, “estes fedem” — ouriços?
— Estes espetam! – foi a resposta que obteve.
— Então devem gostar de esquilos!
— Mas já temos Esquilo! – Judith pensou um pouco — Por que não outro? – as crianças lhe olharam consternadas.
— Então que tal um cervo? Não são feios, malcheirosos tampouco espetam.
— São muito complicados, além de terem o nariz empinado! – disse Gosh enquanto alguns concordavam com a sua afirmação.
— Perceberam? Cada um vê um animal de forma diferente, se não se acertarem não poderão ter um, pois se ele for estimado por seu dono e desestimulado pelos outros, ele não vai ficar feliz. Então... Nada de outro animal por enquanto! – Judith disse incisiva.
— Ahn; poxa! – foram as esclamações ouvidas.
Naquele dia as crianças quiseram brincar de “caça pirilampos”, uma brincadeira inventada por elas mesmas, que ficava entre o esconde-esconde e pega-pega, no caso, os pirilampos eram as crianças e o caçador, bem, este também eram as crianças.
Quem acabou por ficar de ser o primeiro caçador foi ninguém menos que Maia.
— Ah, não, eu não! – protestou a menina. Os outros assistiram a cena de longe apenas aguardando para que começasse.
— As bolotas não mentem! – disse Esquilo.
— Não aceito! Jogue de novo! – falou emburrada para o animal.
— Olha aqui! Não tem essa de jogar de novo! É você quem vai caçar! – disse com voz de Esquilo alterado.
— Tá bom! – cruzou os braços e mostrou a língua para esquilo que chaqualhou sua calda e subiu para a casa da árvore.
— Conte até quanto conseguir... Valendo!!! – As crianças começaram a correr o mais rápido que podiam em direção à Floresta Azul.
— Um... Dois... Três... É, qual mesmo?! Ah, quatro, cinco... Seis... Ahn... Sete, oitonovedez! – Esquilo não sabia se aquilo era um novo número ou a versão velossíssimamente falada dos já existentes.
— Lá vai o caçador!!! – gritou. Judith saiu pela porta enxugando as mãos no vestido... “Não, é alarme falso”, pensou.
As crianças seguiam pelas trilhas – as ocultas também – indo cada vez mais fundo na cobertura das árvores. Rally subiu em uma árvore e se envolveu com os pequenos e finos galhos para se ocultar, Rine achou um tronco oco e sem pensar duas vezes se lançou alí, Dingo se limitou a uma moita. Cada um encontrava seu próprio esconderijo, mas também haviam aqueles com pés nervosos que não conseguiam ficar em um só lugar. Alle por exemplo, não ficou parado por mais de cinco minutos em um esconderijo e antes que pudesse correr Maia pulou encima dele o derrubando. Deu-lhe um peteleco na testa.
— Peguei! – ainda disse. — Dois caçadores! – gritou. Dingo que estava perto, pulou para fora de sua moita e então saiu correndo pela floresta. Seguido pelo ágil Alle, conseguiu se esconder novamente. Encostou-se contra um barranco de terra, seu peito subia e descia em uma respiração ofegante. Enxugou o suor da testa. A sua frente não muito distante via Helga passar correndo entre os troncos de um marrom claro, se levantou e voltou a correr, ouviu um grito distante:
— Três caçadores! – quem teria sido pego? Claramente Alle havia pego Suh, que não era lá muito boa em se esconder.
Liam corria junto à Helga, mas ao verem Alle avançando em sua direção, ambos seguiram caminhos diferentes em meio aos arbustos, Liam foi seguido e acabou tropeçando em uma raiz, teve um leve arranhão na testa, não bastou ele se levantar e dar dois passos para sentir a gola de sua camisa ser puxada.
— Caçador! – gritou o antigo.
— Arg! – grunhiu Liam. Logo este encontrou Gosh, que estava parado olhando por detrás de uma árvore, foi pego pelas costas.
A brincadeira seguiu por algum tempo até que a maioria havia se tornado caçadora, o que gerou uma confusão. Restavam dois pirilampos perdidos na floresta azul – Derick e Charle –.
Ambos caminhavam calmamente bem próximo de onde as árvores deixavam de brotar para dar lugar ao deserto, eles podiam sentir o vento demasiado quente lhes soprar. Pato estava acompanhado em meio ao emaranhado azul de fios, o menino o havia posto em meio a seus cabelos, seu Quack poderia facilmente lhe cair do ombro e ferir seus membros diminutos e amarelos,– o animalzinho tinha plumas tão macias – Derick viria a saber depois que aquela espécie de patos em especial, mantinha as características joviais na idade adulta, assim permanecendo relativamente pequenos e de cor amarelo-canário.
Os meninos já não ligavam para a brincadeira, apenas caminhavam calmamente pela mata. Certo momento Derick parou, ele e Charle estavam em silêncio por um bom tempo e o único som que se ouvira até então era o roçar das folhas.
— O que foi Derick?
— Eu ouvi alguém chamar! Veio dali! – disse com certeza apontando para o lado do deserto, seus ouvidos não mentiam. Pato concordou com um Quack do alto da cabeça de Derick.
— Tem certeza? – O de cabelos azuis escuros começou a caminhar pisando em galhos secos e foi seguindo em frente. As árvores alí estavam em sua maioria com as folhas caindo. Estavam morrendo.
— “...” – desta vez foi Charle quem ouviu, mas não conseguia entender o que a voz fraca e distante dizia. Seguiu Derick que ia exatamente na direção da voz oca.
O menino se conteve em frente a uma árvore, sem folhas, mas ainda viva, dava para ver pela sua casca, estava diferente das ao redor.
— Ei... – a árvore revelou em seu tronco uma face sofrida, de dor e desespero, que ao mesmo tempo mostrava um brilho de plenitude e calma. Complexa demais para alguns. — Tenho sede, e-estou morrendo. – Charle não acreditava no que presenciava, uma árvore falar.
— Bido? – Derick perguntou com voz distante. — Você é Bido? – os seus botões gritaram por ele, uma névoa escura se formou nos olhos do menino.
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