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Capítulo 16

Agora eu estou famoso, não apenas como "Théo, o capitão do time", mas como "Théo, o capitão do time e o romântico que cantou uma música-que-eu-não-faço-ideia-de-qual-é-mas-que-é-fofa para sua namorada". Então, eu tô no lucro.

Achei estranho não vê-la no café da manhã. Eu esperei. Esperei mais um pouco e nada de jovem Ellouise. Perguntei pra Ireland o que tinha acontecido com ela.

- Poxa, é meio complicado te dizer isso. Ela não está se sentindo bem e... Ó, ela tá com cólica. Pronto. E parece que vai faltar o dia inteiro nas aulas.

- Só por causa de uma cólica?

- Você não disse isso, Théo - o namorado dela disse.

- Nós, mulheres, somos guerreiras. Nós sobrevivemos a um apocalipse que ocorre em nosso corpo, TODO MÊS. Ter cólica é foda. São umas explosões, com uns tiranossauros-rex... É pior do que você comer chilli.

- Mas chilli é bom.

- Eu estou falando do que acontece depois que se come o chilli. É tipo você comer chilli e não poder ir no banheiro e ficar segurando. Cólica é mil vezes pior.

- Nossa. Tá. Vou no quarto vê-la na hora do almoço então. Não posso perder mais aulas, já perdi bastante ontem, pra fazer aquilo.

- Ai, Théo, foi tão romântico. Eu não estava lá, mas a Ellie me contou tudo. E uma outra menina filmou, então... Nossa, o buquê era tão lindo... Will, você nunca me deu uma flor sequer! O Théo invadiu a aula de artes pra cantar pra Ellie e você nem pega água pra mim! Que namorado eu fui arrumar, meu Deus.

E foi assim que todos os meninos comprometidos começaram a reclamar comigo, porque suas namoradas queriam que eles fizessem o mesmo que eu. E as meninas falavam que eu era um verdadeiro príncipe. Ai, meninas, quê isso, magina. Sou apenas um adolescente normal... e muito bonito.

Fui pras aulas, me sentando lá no fundo. Constantemente, as garotas viravam e sorriam pra mim. E eu dava aquela retribuída mais ou menos. Quando o sinal tocou indicando que era hora do almoço, eu fui correndo pro refeitório e comecei a jogar meu charme pra tiazinha de lá, para me ceder uma barra de chocolate. Mas a Ellie não pode comer chocolate... Mas eu sei que o da cantina é diet.

- Me desculpe, menino, mas eu não posso! As barras de chocolate servem para fazer as sobremesas de sexta-feira!

- Mas tia, é um caso de vida ou morte. Minha namorada está de TPM e com cólica. Você sabe o quanto isso é ruim e que apenas o chocolate, amigo fiel das mulheres, consegue fazê-las sobreviverem a essa coisa do demônio.

- Tá bom. Mas é só uma. Espera que eu vou buscar. - Ela foi lá pra dentro e logo voltou. - Aqui. Esconde isso, hein?

- Ai, tia, brigadão! Como é seu nome?

- Vanderléia.

- Ok. Obrigado, tia Vanderléia. A senhora é muito legal. - Dei um beijo na bochecha dela.

Peguei um suco de laranja, a salada de frutas que era de sobremesa e fui pro quarto da Ellie. Nem bati na porta. Eu não conseguiria mesmo. Entrei, encontrando-a deitada em posição fetal e com as mãos na barriga.

- Ah, Théo, que que cê quer? Não tô num bom dia.

- Você tomou remédio? - Ela assentiu. Deixei as coisas na escrivaninha e sentei na cama dela, passando a mão no seu cabelo. - Tá doendo muito?

- Tá. Por que eu tinha que ser mulher? É tão mais fácil ser homem.

- Eu trouxe chocolate pra você.

- Nossa, obrigada. Você só se esqueceu de um detalhe: minha diabetes. Não tô podendo comer quase nada.

- O chocolate é diet. E salada de frutas é saudável, eu acho. E suco de laranja também é saudável.

- Você é um anjo. - Ela me deu um selinho. - Ah, caralho. Que dor... Ai, que dor... Vou morrer... Deus, me leva... Aaaaah... Passou. Sobrevivi a mais um ataque de cólicas. Obrigado, Senhor. Eu sou guerreira. Agora vamos comer.

- Então você vai pras aulas do período da tarde, né?

- Não. Imagina, eu tô na aula e começa tudo de novo.

- Ah, então também não vou.

- Por que?

- Vai que dá uma cólica lá na aula.

- Você é homem... né?

- É. Mas pode ocorrer de vir, porque você está com cólica. É tipo um negócio psicológico. Meu pai me disse que sentiu as dores do parto. E a criança saiu da minha mãe, não dele.

- Isso não faz sentido, meu jovem.

- Ah, agora você quer discutir sobre o que faz sentido? Não faz sentido você ter um tapete pendurado na parede e uma cortina estendida no chão! Isso não faz sentido! Aí, ó, eu já estou até de TPM! - Minha barriga fez barulho. - Já começou! Tá vendo?

- Isso é fome, não cólica. Vamos comer, porque eu também estou com fome.

Nós comemos e depois assistimos um filme pelo notebook. O filme era muito bosta. A cada dez frases, onze eram "Tudo dará certo, minha pequena".

- Vou começar a te chamar de "minha pequena", jovem Ellouise.

- Não. É ridículo.

- Por isso mesmo, minha pequena.

- CARINHAAAAAA!!! - O presidiário começou a bater na porta.

Eu me levantei e abri a porta. Ele estava meio... nervoso? Nunca vi o presidiário nervoso. Ele me empurrou, entrou e se sentou na cama da Ireland.

- Oi, tudo bem? - a Ellie disse.

- Oi. Tô bem não. Preciso da ajuda do carinha, mas você também pode me ajudar, namorada do carinha.

- O que foi? - perguntei, me sentando. Peguei uma caderneta e uma caneta e adquiri uma pose profissional. - Pode se deitar. Agora diga: o que está acontecendo?

- A Jojo me chamou pra sair no fim de semana. Ai, carinha, eu não sei o que eu faço. Era pra eu chamá-la pra sair, não era? E além disso, cara, eu sou quatro anos mais velho que ela!

- Ué, por que? - Ellie perguntou.

- Porque ela tá no primeiro ano. E eu tô no terceiro.

- Então são dois anos.

- Mas eu repeti. Duas vezes.

- Ah, tá.

- Entendo, presidi..Lenny. O senhor gostaria de dizer mais alguma coisa?

- Não, doutor carinha. Eu só quero saber se eu saio ou não com ela.

- Você gosta dela?

- Não sei. Nunca havia conversado com ela antes. Eu sei que ela é irmã de um dos meus amigos, porque eu via ela quando eu ia na casa dele, mas... A gente nunca tinha se falado. Aí ela me chamou hoje e falou do nada "Quer sair comigo no sábado?" aí eu falei "Quero", porque eu não queria deixar a menina no vácuo nem magoar ela. Só que, na minha cabeça, isso é errado. Então é meio estranho. Me diz, doutor carinha, o que eu faço?

- Vou perguntar para a minha pequena. Minha pequena, o que você acha que ele deve fazer?

- Sai com ela, pra ver se isso vai pra frente. Mas é o seguinte: se vocês saírem e você não gostar, tem que deixar claro pra ela que não dará certo. Porque ela gosta de você desde quando você começou a frequentar a casa dela.

- Verdade? Nossasinhora. Não vou sair com essa mina não. Vai que ela se torna aquelas meninas... chiclete.

- Ei! Você está falando da minha amiga, mocinho! E no meu quarto! Então pode parar por aí! Não estou gostando da sua atitude!

- Minha pequena, dorme aí, vai. - A cobri com seu cobertor. - Olha, presidi..Lenny, nós precisamos pensar e repensar algumas coisas. Lhe mostrarei alguns desenhos agora, e você me diz o que vê.

Comecei a fazer uns rabiscos em três folhas da caderneta. Nem eu sabia o que era, mas... não tem problema. Mostrei o primeiro desenho.

- Isso é um gambá rolando no mato.

- Por que tomou essa decisão?

- Porque ele está meio viradinho de lado, aí isso me induziu a pensar que ele está rolando no mato.

- Ok. - Mostrei o segundo.

- É uma caverna, com um morcego dormindo... Mas também pode ser uma árvore maligna.

- Árvore maligna, sei... Por que tomou essa decisão?

- Porque... a árvore está com garras... e tá parecendo um iglu.

- É um iglu, uma caverna ou uma árvore?

- Os três.

- Ok. - Mostrei o terceiro.

- São... cactos. No deserto. Eles estão se abraçando. É. É um casal de cactos.

- Por que tomou essa decisão?

- Porque pra mim parece um casal de cactos.

- Ok. Bom, eu vou examinar tudo isso e já te falo, ok? Pode sair. Terá sua resposta à noite. - O levei pra fora do quarto. - Cocaína... muita cocaína.

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