Capítulo 14
Eu achei que a jovem Ellouise ficaria brava comigo até o almoço. No máximo, até o jantar. Mas a menina ficou com cara de cu por dois dias! E não é só ela não; também tem a Ireland, o namorado da Ireland, a Jojo e a Stela. O tanto que aquela Stela não me encheu o saco, dizendo que eu só queria o mal da Ellie, que eu não prestava, etc... E eu nem sei o motivo de ela estar brava, cara!
Bom, meu pai sempre diz pra mim: mesmo que você esteja certo, quem sempre está certa é a mulher. E eu, querendo não ter que ligar pra ele pedindo conselho, fui pedir ajuda pra todo mundo. Pedi pro presidiário, pro namorado da Ireland (que eu já esqueci o nome), pra Ireland, pros caras do time... Mas não teve jeito. Tenho que ligar pro especialista. Depois de um bom tempo, ele atendeu.
- Filhão! Oi! Que bom que está me ligando! Você nunca liga!... Por que está me ligando?
- Então, é, pai... É sobre eu e a minha namorada...
- Engravidou ela? - Pude ouvir minha mãe gritando um "O que?" - Pois é, amor, não posso fazer nada, a vida é dele. Lembra quando todo mundo achou que você tava grávida na viagem de formatura? O que a gente tem que fazer é apoiá-lo... - Vou poupar vocês do resto do discurso do meu pai. Acho que esse foi o primeiro discurso que ele fez pra minha mãe, sem que ela o interrompa. E o mais legal, é que eu tô gastando os meus créditos no celular pra ouvir isso! Ah, quer saber? Não preciso de conselho nenhum.
- Oi, pai! Eu ainda tô aqui! Foi bom falar com você, tchau.
- Não! Espera! Me diga como isso aconteceu.
- Primeiro: você sabe como engravida uma mulher, pai. Não faça perguntas bobas. E segundo: não engravidei ela não. É que eu não sei o que eu fiz, aí eu deixei ela brava, aí ela não fala comigo já faz dois dias.
- Primeiro você explica o que você não fez pra sua mãe, depois a gente conversa... Amor, ele está encrencado. Precisa falar com você.
- Oi, filho!
- Oi, mãe.
- O que foi? Fala pra mamãe o que está afligindo esse seu coração, meu amor.
- É que assim, a dois dias atrás, eu e a minha namorada estávamos super de boa, aí nós fomos tomar café da manhã, aí ela me mostrou um jogo, aí eu não me assustei no jogo, aí ela ficou brava comigo...
- Calma, ok. Que jogo era esse? E por que ela ficou brava?
- Não, é que assim, ela colocou um jogo de labirinto, com três níveis; o primeiro eu passei normal, o segundo também, e quando chegou no terceiro, apareceu uma foto de uma menina meio demônia.
- Ah, é da menina do Exorcista. Já joguei. Continua.
- Não faço ideia de quem é essa menina, mas ok... Então, aí eu não me assustei e falei "Amor, não dá pra continuar jogando porque apareceu uma foto sua aqui".
- Théo! É claro que ela vai estar brava! Você mexeu com a auto-estima dela! - E meu pai perguntou "O que ele fez com a menina?". - Ele disse pra namorada que ela é igual a menina do Exorcista, Zack! Me diz se isso não é motivo pra coitada ficar brava!
- O que? Me dá esse celular! Théo! Por que você fez isso com a menina?
- Ah, pai, quer saber? Eu liguei pra pedir conselho, mas não quero mais não!
- Agora você vai esperar! E se pensar em desligar na minha cara, eu vou na sua escola e converso com você pessoalmente!
- Não duvido nada. Tá bom. Ah! Eu tenho uma boa notícia! Sou o novo capitão do time!
- Verdade? Esse é o meu filhão! Amanhã eu vou na sua escola.
- Mas eu não desliguei o celular! Tô falando com você ainda!
- Eu sei. Eu iria de qualquer jeito. Preciso conversar com o diretor, pois ele quer falar sobre a Ekena. Você sabe que ela não passou na prova e tal, mas ele viu as suas notas e como você é irmão dela, ele a deixou entrar... Tá, eu estou inventando assunto. Nós dois sabemos que ela fez alguma merda. Tchau, amanhã nós conversamos... Ah! Filho, uma coisa: você sempre está no controle do relacionamento, mas tem que deixar a mulher pensar que está. Você que a controla. Compra flores e chocolates, se desculpa com ela... E pronto! Já está perto de você novamente! Só que sua mãe não pode saber diss... Droga. Desculpa amor, esqueci que você estava do meu lado.
- Tchau, filho. Amanhã eu e seu pai passamos aí na escola. Isso se ele ainda estiver vivo... Como assim você que está no controle? Já que você controla tudo, vai controlar o sofá e a TV da sala essa noite! Vamos ver que porra você controla! Você não controla nada, Zack!
Desliguei o celular. Vou ter que esperar até amanhã, que bosta.
***
Tomei café da manhã e vi que a jovem Ellouise ainda estava com cara de cu. Ah, não aguento mais. Sentei na mesa em que ela e as amigas estavam, e ela se levantou e saiu. A Stela começou a rir.
- I-di-o-ta.
- Cala a boca! Não preciso da sua opinião... Não, mentira, preciso sim. O que você acha que eu devo fazer?
- Eu acho que você deve terminar de vez com ela, fazendo com que ela volte a ser minha amiga de antes.
- Como você é egoísta, Stela. Acha que a Ellie será apenas a sua querida amiga, para sempre. Que vai estar do seu ladinho, parecendo seu bicho de estimação. Que você vai ter que aprovar cada coisa que ela fizer, assim como o nosso namoro. Você não se conforma que ela está conseguindo um namorado, boas notas, que a vida dela está boa. As amigas servem para ficar felizes com a felicidade umas das outras, não com a desgraça. Não sei nem porque eu tô gastando saliva com você.
- Você não sabe de nada, seu idiota. Só fica aí, com suas putinhas caindo aos seus pés, "novo capitão do time". Pra mim, você é um monte de bosta. Só isso. Eu estou tentando fazer com que minha amiga enxergue que te namorar é uma furada.
- Quem tem que resolver isso é ela! Eu tô namorando ela! Quer saber? Vou procurar uma coisa útil pra fazer, porque conversar com você não é.
Saí do refeitório e fiquei meio passeando, até dar o horário da aula. Uns dois minutos antes de começar, eu vi um carro branco muito parecido com o do meu pai parando perto do prédio da secretaria. Aí eu vi uma mulher muito parecida com a minha mãe e um homem muito parecido com o meu pai saindo do carro. O homem-muito-parecido-com-o-meu-pai estava lendo um jornal. Bateu um vento, o jornal voou, a mulher riu... São eles. Certeza. Tenho duas escolhas: ir conversar com eles ou correr até meu pai me alcançar. A segunda opção é mais vergonhosa, então eu fico com a primeira.
- Zack, é você? Saia desse corpo que não te pertence! - Minha mãe começou a me chacoalhar e me abraçou. E depois me deu um tapa na cara. Doidinha essa mulher.
- Eu sei, eu mereci. Ainda não me resolvi com a Ellie, alguma ideia?
- Vai, Zack! Continua aquele discursinho ridículo de que o homem controla o relacionamento!
- Não, meu amor, não foi isso que eu quis dizer. É só que...
- Não adianta. Você vai continuar dormindo no sofá, até que eu resolva que você pode voltar a dormir no quarto.
- Mas isso é um absurdo. Você está grávida, vai que acontece alguma coisa enquanto está dormindo! Não dá pra você descer as escadas pra me chamar!
- Eu grito. Aí a vizinhança inteira me ajuda. Porque quando eu estava grávida do Théo e a bolsa estourou, você desmaiou! Eu tive que pedir ajuda pro vizinho!
- Pelamor. Por que quando vocês vão conversar comigo, sempre tem que haver uma briga de casal? Eu só quero ajuda!
- E aí, gente!
- Isso! Tio Owen, estou precisando da sua ajuda!
- O que você está fazendo aqui? - meu pai perguntou, colocando o braço no ombro da minha mãe, para marcar território.
- O diretor me chamou para conversar a respeito do Anthony. - Eles se olharam e sacaram tudo. Anthony, Ekena... Fizeram cagada. - Grande Théo! Me diga porque precisa de mim.
- Porque eu estou namorando. Mas eu fiz cagada.
- Entendi. Dá um buquê de flores, com chocolates.
- Ela não tá podendo comer chocolate.
- Ela está se achando gorda, filho? - minha mãe me perguntou. - Você tem que elevar a auto-estima dela, já falei isso. Fala assim: "Não, minha jovem, você está linda, está magra, está perfeita pra mim".
- Não mãe, é que ela tá com diabetes.
- Ah... Então dá uma salada.
- Ariel, amor, você gostaria de ganhar uma salada? - meu pai perguntou. - Larga de ser sem noção.
- Eu gostaria de ganhar uma salada sim, ok? Eu gostaria. É um presente muito criativo.
- Jura? Espera aí então. - Meu pai saiu.
- Então, Théo... Ahm, dá só as flores mesmo. Você sabe tocar violão?
- Não, tio.
- Mas eu sei! E eu vou te ajudar a fazer uma serenata pra ela! Eu fiz uma pra Ariel, mas não deu certo! E eu me fodi! Mas aí eu me apaixonei pela Lucy e fiz uma serenata pra ela! E me fodi de novo!
Meu pai voltou, com uma salada do refeitório nas mãos.
- Ariel, meu amor, você me perdoa por ter falado aquelas merdas para nosso filho ontem? Eu não queria dizer aquilo. - Ele se ajoelhou e entregou a salada para ela.
E eu e meu tio fomos andando, porque aquilo estava muito constrangedor. Muito. Muito constrangedor.
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