Capítulo 24
Quando me deito na cama improvisada que fiz no quarto dos meninos, o meu telefone toca. É uma videochamada da Diana...mas porque será que ela está a ligar-me? Será que já tem uma resposta? Será que aconteceu alguma coisa com os meninos?
Pov Diana
Duas semanas. Dez dias, escondida como se tivesse feito algo de grave. Quando no fundo eu fui a vitima há quatro anos atrás. Fui escorraçada de casa, apenas porque amei os meus meninos desde que ouvi os seus corações. Quase morri quando, por pura maldade decidiram apagar o meu registo no hospital. Estou cansada de viver assim.
— O que tanto pensas aí sozinha?— pergunta a Bia, que se deve ter cansado de andar atrás dos três piolhos que continuam a brincar.
— Já te cansaste? Ou estás demasiado "velha" para andar de escorrega e baloiço?
— Acho que as duas. Antes, eu não tinha outro remédio, a Anne não tinha mais ninguém, mas agora que a Mia e o Gui estão aqui...
— Já não precisas de ser babysitter da tua irmã!?— ela apenas dá de ombros.
— É, mais ou menos. Eu gosto mais de estar no meu canto e ler.
— Eu sou um pouco assim também...
— É estranho isto... nós somos primas, mas eu tenho metade da tua idade.
— É pode ser meio estranho, mas já pensaste se quiseres ir a um concerto da tua banda favorita, tens sempre alguém que te pode levar que não seja demasiado cota...
— Isso é verdade. A mãe odeia as músicas que nós ouvimos. Diz que é só barulho de fundo muito alto.
— Foi o que te disse, são cotas...
— Posso saber quem é que aqui é cota?— e de repente a voz da Tia Mariana surge...
— Ahhhh... ninguém mãe... ninguém.
— Vou fingir que acredito.— diz a minha tia beijando o alto da cabeça da Bia.— Podes ir ajudar o pai a arrumar as compras, por favor Bea?
— Então e o Peter? Não pode ser ele a ajudar? Estou cansada Mommy, andei a correr atrás daqueles três ali...
— Oh!! My poor Baby Girl...anda vai ajudar o teu pai.
E apesar de a refilar algo imperceptível a minha "prima" adolescente foi ajudar o pai. A minha tia apenas sorri e abana a cabeça.
— Gostava que eles nunca crescessem.— vira-se olhando agora para os três mais novos...— Porque quando chegam á idade da adolescência... só Jesus na causa.
— A Bea é uma boa menina...
— Eu sei. Tenho uns filhos de ouro, com os seus feitos, mas que nunca me deram trabalho.
— Tu és uma óptima mãe tia. A mãe que eu espero ser para os meus.
— Tinha és a melhor mãe que eles podiam ter Diana. És uma mãe guerreira...
— E solteira. E que vive como uma prisioneira...
— Bem em relação a seres prisioneira, tu sabes que...
— É para meu bem, e para a segurança dos meninos, eu sei. Mas, isso não deixa de me provocar uma sensação de injustiça...
— Eu percebo-te. E estamos a tentar arranjar uma forma de sair de Portugal, porém vai demorar um tempo.
— E isso tem a ver com as tuas saídas misteriosas com o Tio?— eu sei que a Tia Mariana nos esconde alguma coisa...— Eu não quero invadir o teu espaço, mas gostava de saber, e talvez ajudar te....
— Eu agradeço a tua preocupação, mas neste momento não quero partilhar isto com mais ninguém.
— Prometes que quando chegar a altura me vais contar?
— Prometo.— ela sorri, olha para os meus tesouros e volta a dirigir-se a mim...— Sabes que estares solteira foi uma decisão tua, certo?
— Estás a falar de quê?
— Dele. Que continua á espera de uma resposta tua.— dá um sorriso de lado, chama os meninos...— Vou-lhescdar um banho antes do jantar, pensa no que te disse.
Ela sai com os meus pequenos e com Anna e deixa-me a pensar. Passaram se duas semanas desde a nossa conversa, e a verdade é que penso nele todos os dias, tenho saudades dos abraços dele, das nossas conversas...eu sinto falta do Lucas, mais do que eu pensava ser possível.
A tarde passa, jantamos e chega a hora da nossa chamada de vídeo antes da caminha. É a hora que a Mia e o Gui mais anseiam durante o dia todo.
Deitamo-nos os tres na minha cama fazemos a chamada. Não demora muito e eis que aparecem a Amélia, o marido que agora se tornou o "vovô Luiz", a Dinda Lúcia e o fundo Lucas.
Eu e o Lucas trocamos sempre alguns olhares, mas nunca falamos nada. Ficamos apenas a ouvir os meus tesouros a falar. Mas, hoje algo em mim mudou. Sinto uma vontade de falar com ele, de lhe dizer que sim, que quero tentar. Que sim quero viver sem ser escondida, e com ele.
Quando finalmente os meus dois macaquitos adormecem despeço me de todos, e desligo a chamada. O meu olhar prende-se ao do Lucas, tentando dizer-lhe tudo o que quero apenas pelos meus olhos.
Vou colocar os dois na cama, e volto para o meu. Fico a andar de lá para cá no meu quarto. Pego no tablet para lhe ligar, mas desisto segundos depois, a minha cabeça está a mil.
Tomo coragem, afinal eu quero isto. Pego no tablet coloco o número do Lucas no ecran, e quase sem olhar clico no botão verde. Pronto. Agora já está, não vou poder andar para trás....e seja o que Deus quiser.
"— Di!?"
— Oi.
"— Oi."
— Eu...nós...nós nunca mais falamos. E...
"— Os teu filhos monopolizam as conversas todos os dias."
— Eles têm sempre muito o que contar, nem sei como porque passam os dias fechados nesta casa, tal como eu.— e uma lágrima cai...
"— Di...estás bem?"
— Não. Estou cansada da minha vida, estou cansada de ver os meus filhos envolvidos numa história que não é deles. Eles não pediram nada disto Lucas...
"— Estás a querer dizer o quê?
— Que talvez...talvez a minha mãe tivesse razão, talvez o melhor deveria ter feito aquele aborto.
"— DIANA. Nunca, nunca em hipótese alguma penses nisso. Os teus filhos são o teu maior feito, tu és forte, muito forte, és uma guerreira desde o dia que nasceste."
— Então porque é que me sinto uma fraude? Porque é que sinto que devia fazer mais por eles?
"— Di...por favor não faças isso, não te menosprezes. Por favor..."
— Às vezes preferia...preferia morrer. Pegar nos meus meninos e acabar com tudo.
"— Diana..."
— A minha mãe não vai desistir. Nem que eu vá para a China, ela vai encontrar-me e fazer da minha vida negra...
"— Não digas isso. Nós vamos encontrar uma solução, eu prometo...Di...eu prometo que te protejo."
O meu choro agora é forte, já não aguento mais toda a pressão que estou a sentir. Todos nós andamos a tapar o sol com a peneira. Todos nós sabemos que a minha mãe vai acabar por conseguir o que quer, todos sabemos que a Dona Pilar sempre tem o que quer. E se ela quer que eu me case com o Juan, com aquele que me me fez mal, ela vai conseguir.
— Lucas...eu preciso de ti...eu preciso do teu abraço...preciso que me digas que vou ficar bem...que nada vai acontecer...preciso que me digas que me amas...como...como...eu te amo.
E depois de confessar finalmente o que sinto, desligo. Não consigo falar mais...sinto o ar a faltar-me. Não consigo respirar, tento puxar o ar mas nada entra...os meus olhos começam a fechar, estou cansada, cansada de lutar, cansada de respirar. Penso nos meus filhos, eles vão ficar bem, têm o Lucas, a Lucia, a Bá, a minha tia. Eu só preciso descansar.
— Diana. Diana. Respira princesa...— ouço uma voz muito ao longe.
— Mamã...mamã...— é a voz da Mia, e um choro bem fraquinho e com soluços, que reconheço sendo do meu Gui. Os meus meninos, não...não os posso deixar. Não posso, eles são tudo o que tenho de melhor. Eles são O Melhor de Mim.
Aos poucos vou conseguindo respirar. E quando abro os olhos vejo os todos ali: os meus tios, os meus primos e os meu filhos. E de repente sem esperar, vejo-o a ele. Parado à porta, sem folego, parece que correu a meia maratona de Lisboa. Olhamo-nos durante segundos...e foi o que bastou para dizermos tudo o que precisávamos. Porque os nossos olhos são mesmo o espelho da nossa alma...e ali naquele nosso olhar vimos tudo o que tínhamos que ver: Amor.
— Lucas.— digo antes de voltar a fechar os olhos. É sempre assim depois de episódio de asma, sinto-me demasiado cansada para ficar acordada e o meu corpo parece que cede a esse cansaço e "desliga". Ainda o sinto sentar-se ao meu lado, dizer que me ama. Depois tudo fica escuro.
Quando acordo, percebo que amanheceu. As cortinas estão abertas e vejo o dia lindo que está. Lucas está a dormir ao meu lado, não foi um sonho. Fixo o meu olhar nele. Como pude demorar tanto tempo a assumir o que sinto. Ele é tudo o que sempre sonhei num homem, ele foi e é o meu grande amor.
— Estás a tentar fixar-me, para me mandares embora depois?
— Estou a olhar para o homem mais bonito que já conheci...— ele faz menção de falar, mas não o deixo, porque se o fizer, eu não vou conseguir dizer tudo o que quero dizer...—...estou a olhar para o homem que me ensinou tudo nesta vida. Estou a olhar para o ser humano mais generoso, carinhoso, brincalhão, amoroso que um dia existiu. Estou a olhar para o meu primeiro e espero que último amor. Eu amo-te Lucas Souza, e sim eu quero ser tua. Tua confidente, tua amiga, tua namorada, e quem sabe um dia tua esposa...
— Podes repetir só a última parte!?
— Que quero ser tua confidente, tua amiga...
— Não um pouco antes disso...acho que me perdi aí...— sei o que ele quer ouvir, então vou dizer-lhe com todas as palavras e bem devagar...
— Eu Diana...disse...que te...Amo Lucas Souza.
— Eu amo-te tanto Diana...e prometo-te aqui e agora que ninguém te vai fazer mal. Ninguém vos vai fazer mal. Eu morro por vocês os três...
— Lucas...eu acho bom que agora que finalmente assumi que te amo tu não me deixes nunca mais, ouviste. Nada de morte...vamos viver até sermos bem velhinhos...
— Com os nossos 10 filhos à nossa volta e os nossos 50 netos a quem iremos contar a nossa historia de amor.
— 10 Filhos? 50 netos? Não achas que estás a exagerar?
— Bem já temos dois, já só nos faltam 8.
— Doido.
— Um doido que tu disseste agora que amas.— aproximo-me dele, e pela primeira vez depois de tantos anos, volto a sentir os lábios do Lucas nos meus. É um beijo calmo, cheio de paixão, de saudade.— Queres contar aos meninos?
— Achas que devemos? Talvez seja confuso para eles...— O Lucas dá-me mais um beijo, e é nesta altura que ouvimos uns risinhos. Olhamos para a porta e vemos Anna, Mia e Gui.— Bem agora já foi. Venham aqui seus sapequinhas.
— Mamã é minha.— diz o Gui que afasta o Lucas e me abraça.
— Dindo, tu vais ser o nosso papá de verdade agora?— olhamo-nos e sorrimos.
— Tu queres que eu seja o teu papá Mia?— A Mia acena com a cabeça feliz.— E tu Gui?
— A mamã é minha, não tua Dindo.— meu menino ciumento, fica tão fofo.
— Gui, olha para a mamã. A mamã vai ser sempre do Gui, e da Mia. E agora também vou ser um bocadinho do Dindo.
— Naum. A mamã é xó minha e da Mia.
— Gui, lembras-te de há uns dias perguntares se o Dindo podia ser teu papá?
— Max ela xó pa bincá. Naum ela pa sê a sélio.
— Gui, o Dindo não te vai tirar a mamã. Sabes ela tem um coração assim gigante, e consegue amar muita gente. Ela nunca vai deixar de te amar, mesmo que ame mais algumas pessoas.
— Já pensaste para além da mamã, vais ter um papá que te vai amar muito, aliás ele já te ama muito Gui.— e olho para o Lucas que apenas confirma com a cabeça.
— Tu amas eu Dindo?
— Muito campeão. E eu amava se pudesse ser o teu papá, o teu e da Mia. Deixas? Posso ser o teu papá?
— Vais jogar à bola com o eu?— o Lucas acena...— Vais faxer puzzles com o eu? E vais pintar com o eu? E ir a pxina? E enxinal o eu a nadal?
— Vou fazer isso tudo e muito mais.— E assim o meu ciumento abraça finalmente o Lucas.
— Amo tu "Papá"...
— E eu taumbém papá...— diz a Mia atirando-se também para aquele abraço.
— E eu amo-vos aos três.— diz o Lucas, puxando-me também para aquele abraço.
E assim nasceu uma nova família. A minha família. Finalmente eu percebi, que não precisava de mais nada para ser feliz. Eu tinha o que sempre quis: uma família que me ama.
Porque família, muitas vezes não é sangue, não é ADN. A família muitas vezes é aquela que o coração escolhe. E eu escolhi há quatro anos atrás os meus filhos. Eu fiz essa escolha, eu escolhi a minha família. E hoje ela finalmente está completa. O Lucas era a peça que faltava no puzzle da família que eu comecei a construir. Hoje, apesar de tudo o que possa acontecer, sinto que nada nos pode abalar.
Porque eles são O Melhor de MIM.
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