Capítulo 20
Assim ficou combinado que no dia seguinte Mariana e a família a viriam ajudar na mudança. Para Diana a única coisa que a preocupava era a segurança dos filhos. Porque como ela sempre dizia Mia e Gui eram o melhor dela.
Pov Diana
Quando abri os olhos, estava no meu quarto. Estava cansada, parecia que tinha corrido uma maratona. Fui tentando lembrar-me de tudo o que aconteceu: O João Pedro e a Francisca apareceram com os meus sobrinhos. O Kiko. O meu Kiko está tão crescido. Zangaram-se com os meus pais? Ou será que foi o contrário?
Depois apareceu quem eu pensei nunca mais ver na minha vida: O Juan. E a minha mãe. Meus Deus, eles vão levar os meus filhos, eles vão...o ar começa outra vez a faltar. Tento acalmar-me. Estou sozinha, não está aqui ninguém, ou será que está...
— Ei! Ei! Calma, respira...respira devagar. Di, abre os olhos pequena. Está tudo bem, estás segura...
— Os...meus...filhos...
— A Mia e o Gui estão bem. Estão a brincar com os primos no quarto. Di, abre os olhos...por favor. — Devagar abro os olhos. O Lucas, é o Lucas...
— Lucas.
— Sou eu sim. Calma, respira devagar. Inspira, expira...— ele vi dizendo isto enquanto me leva a minha mão para o seu peito, para eu sentir a sua própria respiração.— Inspira, expira...isso. Devagar.
— Foi tudo real, não foi?— digo tanto um pequeno sorriso, tentando com ele suavizar não só o momento, como também o meu estado de espírito.
— Acho que sabes a resposta a essa resposta Di.— Ele chega-se mais perto...— Já começámos a arrumar algumas coisas, roupas e alguns brinquedos. Vai dar pelo menos para os primeiros dias, depois vamos levando mais.
— A que horas saímos? Acho que nem me lembro se combinei horas com a Tia Mariana.
— Só saímos à noite, achamos que seria melhor. A tua mãe pode ter colocado alguém por aí de vigia.
— Achas mesmo que ela...Lucas...e se ela vier de novo e me levar os meu filhos.
— Calma. Eu estou aqui, e não vou para lado nenhum. Diana, eu...
— Mamã...ola o que a Titi Nana deu a nós.
— Tia. vais estragar esses dois de mimo.— olho para o sorriso dos meus dois tesouros.— Mais do que eles já são pelo Dindo, pela Dinda, pela avó Mia....
— Já ouviste dizer que as tias são para estragar com mimos o que os pais educam. Pois, imagina uma Tia-Avó...posso mimar os dois a duplicar.
— É acho que vocês vão ser as crianças mais mimadas do Universo macaquitos.
— Dindo...ola— diz o Gui mostrando algo para o Lucas...— tem um ó...agola somox tês.
— Olha...Tem um macaco...temos que arranjar mais dois...assim ficamos com a Mia, o Gui e a mamã.
— Naum...máx tês, tem que tê: a Mia, o Gui, a Mamã e o...— A Mia cala-se, sei que ela está a pensar no pai. Todas as famílias normais têm pais, mães e filhos. A dela é meio esquisita: tem mãe, tem dindos, tem dindas, tem uma avó postiça e agora tem tios e primos. Mas falta-lhe o Pai.
— E o Dindo.— diz o Gui...— O Dindo pode sê o papá, naum podes dindo.
— Posso?— pergunta a olhar para mim...
— Pode. O Dindo pode ser o papá...a brincar.
Lucas olha para mim com um olhar, não sei se surpreso, se meio triste, se tudo junto. Não sei o que ele queria que eu dissesse. Não posso confundir a cabecinha dos meus anjos. Sei que sentem falta de um pai, sei que quanto mais velhos mais perguntas me vão fazer, perguntas que não tenho ideia de como responder. Já me dei a pensar na infinidade delas, desde: Porque é que nós não temos pai? Porque é que não vivemos com o pai? Onde está o pai? O pai não gosta de nós? Porque é que o pai não volta? E mais uma series delas.
Se sei responder a algumas delas? Todas. Se quero responder? Não. Como é que eu lhes digo, que o pai delas me fez mal, como é que eu digo que nunca quis que eles acontecessem, como é que eu lhes digo que o avós me expulsaram de casa quando descobriram que eles estavam a caminho?
Sei que por agora eles sentem que têm a figura masculina presente nas suas vidas, quer seja pelo Lucas, quer seja pelo Beto. Contudo, um dia, as perguntas vão começar a ser feitas, e não sei se vou estar pronta para as responder.
Enquanto estou nestes meu mundo interior, vejo o Lucas sair com os dois agarrados a ele: o Gui ao colo e a Mia pendurada no seu braço como um macaquinho. Sorrio para a imagem à minha frente: a família que sempre quis para os meus filhos sempre foi esta. Mas, nem sempre a vida nos dá o que queremos.
— Hmmmm. Essa tua carinha, porque é que não lhe contas?
— O quê? que cara? Contar o quê e a quem?
— Diana, podes enganar toda a gente, menos a tua tia. Meu amor conheço-te melhor a tia do que às minhas próprias filhas. Então...desembucha...
— Tia...
— Está nas vossas caras, acho que só vocês é que ainda não perceberam nada.
— O Lucas nunca será meu. Ele vê-me como uma irmã mais nova.
— Uma irmã mais nova a quem se queria agarrar e dar um milhão de beijos.
— Acho que andas a ver muitas novelas.— ela aproxima-se mais um pouco de mim, pega nas minhas mãos e aproxima-as do seu peito.
— Diana, ouve alguém que nunca desistiu do seu amor, que também ela teve dúvidas em seguir o coração ou a razão, ou o preconceito. A primeira vez que voltei de África, que foi quando tu e os teus irmãos nasceram, eu já conhecia o teu Tio. Não tínhamos nada, éramos amigos, mas por vezes rolava um clima meio estranho.
— Tu nunca nos constaste como conheceste o Tio?— ouvimos a voz do João Pedro na porta, com ele estava a Francisca.
— Porque nunca houve oportunidade, entrem, acho que também vos pode ajudar como casal. Ainda por cima agora que têm a Dona Pilar contra vocês.
— A mãe não está contra nós...ela...
— João Pedro, eu juro que se voltas a abrir essa boca para defenderes a tua mãe eu sumo da tua vida e levo os meus filhos.
— É minha mãe. Mesmo eu sabendo aqui...— e aponta para a cabeça...—...que ela errou e muito. Aqui...— diz e aponta para o peito, onde está o coração...—...ela continua a ser minha mãe. continua a ser a mulher que me deu à luz. Não é fácil...porra...não é nada fácil Kika.
— Kika...— eu chamo a minha cunhada...— Eu percebo o que o JP está a dizer. Mãe é mãe, assim como os filhos são filhos. Por muita asneira que façam, nós não conseguimos desligar o botão. Não existe ON e OFF.
— Tudo bem. Desculpa amor, mas...eu não consigo tirar a imagem dela a tentar agarrar o Kiko, só porque ele falou da Tia.
— Tudo bem.— JP aproxima-se da Kika a abraça-a, e sem a largar olha para a Tia Mariana...— Continua lá a tua história de amor, estou curioso.
— Bem, quando o vosso pai me ligou e contou sobre o nascimento dos gémeos e que afinal havia mais uma bebé, pediu-me que viesse ajudar a Pilar. Na altura o João David estava na UCIN, e não sabiam se ele sobreviveria. A vossa mãe vivia no corredor, olhando para o vosso irmão pela janela.
— Então e o João Diogo e a Diana, quem é que...
— A Amélia, a vossa avó Madalena. Para a Pilar era como se só existisse o João David. Eu regressei no primeiro voo que consegui arranjar, infelizmente demorou dois dias, e quando cheguei o vosso irmão já tinha falecido, e a tua mãe estava segundo o vosso pai com uma depressão. Quando eu vos vi Diana, logo me apaixonei por ti. Eras diferente, não tinha nada da tua mãe, eras a cara do teu pai mas com feições femininas.
— Lembro-me de ouvir a avó Madalena dizer que a Diana se parecia contigo em pequena.
— Porque eu sou muito parecida com o vosso pai. E essa frase, foi motivo de muitas zangas. Durante o tempo que fiquei em Portugal, sempre falava com o vosso tio, por msgs, por videochamadas, e mesmo à distância havia algo que ambos sentíamos, mas nenhum de nós assumia.
— Por quê? Vocês não eram adultos?— pergunta a Francisca que entretanto já se tinha sentado ao meu lado na cama, enquanto o JP, se sentara nos pés da cama, do lado oposto da Tia Mariana.
— Se querem saber, nem sei. Talvez porque no fundo eu sabia que ele nunca seria bem visto nesta família. Ele era negro e muito mais velho que eu...
— O avô Francisco e a Avó Madalena nunca iriam...
— Talvez. Mas, naquela altura estavam todos chateados comigo por ter ido para África sem avisar. Bom, avançando um pouco no tempo, acabei por falar do Ben ao vosso pai. No início ele não me disse nada, até foi compreensivo, disse que se o amor fosse forte ele viria atrás de mim. Na altura nem percebi o que ele disse, porque na minha cabeça eu apenas estava a passar uns meses em Portugal para ajudar a vossa mãe.
— Então tu sempre quiseste regressar? Por causa do Tio?
— Sim. Mas porque eu gostava muito do que estava a fazer em África. Era gratificante ver finalmente a escola que tanto sonhamos e trabalhamos para ter finalmente estava erguida. Ver a felicidade daquelas pessoas: dos adultos e das crianças. Eu sempre tive tudo, nunca me faltou nada. Eu pedia, e o teu avô dava-me. E mesmo quando ele não me dava, eu ia ao vosso pais ou ao vosso tio. Eu era a princesinha da família e nunca tive que trabalhar para ter algo para mim.
— Em África sentiu-se útil.— afirmou a Kika.
— Sim. Lá eu não era só a filha de papá. Lá eu era alguém que podia fazer acontecer. Eu ia à procura de patrocínios, ia falar com o governo local para pedir autorizações que demoravam séculos a chegar, porque era sempre preciso mais um papel, ou subitamente os papeis sumiam. Mas o que mais me dava prazer era colocar mãos à obra e ver algo ser construído do zero.
— O que aconteceu quando contaste ao pai do tio Ben?
— Aconteceu a vossa mãe. Ela não gostou nem um pouco de saber que eu estava a "enrolar-me" com um negro. Começo a mandar-me indirectas, fez os teus avós proibirem-me de voltar, e para cumulo arranjou-me um noivo...um primo espanhol qualquer.
— E os avós concordaram?
— Não só concordaram, como apoiaram. Marcaram o casamento para o verão desse ano, nós estávamos no final do Inverno, finais de Fevereiro.
— Está a brincar não está?— a Kika está de queixo caído, e para falar a verdade até eu. A minha mãe fazer isto, nem me surpreende, mas os meus avós serem coniventes com os planos dela!? Isso sim fez-me ficar de boca aberta.
— Quem me dera estar. Tentei argumentar, explicar que eu e o Ben éramos só amigos, o que não fugia da verdade, nunca nos tínhamos nem sequer declarado um para o outro. Mas estavam irredutíveis. Eu não queria casar com alguém que nunca tinha visto, e muito menos primo da vossa mãe.
— Eu sei que o lado espanhol da família é...complicado?! Mas, ainda assim, não são criminosos...— diz o João Pedro indignado
— Não sei se são ou não JP, mas nunca gostei deles, sempre os achei...estranhos.
— Bem, casar com o tal primo tu não casastes.
— Não. Fugi.— ficámos à espera que ela continuasse...
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