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Capítulo 18

Lucas, dirige-se à minha mãe, pega-lhe no braço e dirige-se até à porta. Juan apenas os segue, tentando defende-la de Lucas. Assim que ambos estão fora de casa, e a porta é fechada sinto-me sem forças para mais nada. A escuridão chama-me como o mar chama a água de volta após a rebentação. E assim sou levada para a escuridão da minha mente.

Pov Lucas

— Di. Mãe, onde estão as injecções?

— Eu não sei filho. Achas que eu sei onde é que esta miúda guarda a medicação. Já andar com a bomba é um sacrifício...

— Esperem injecções? Como assim, que injecções? Bá!?— pergunta o João Pedro

— Agora não há tempo, mãe...por favor procura-as.

Enquanto eu levei Diana para o quarto, sendo seguido por João Pedro e pela Francisca, a minha mãe começou à procura, juntamente com Lucia. Foram à cozinha, ao quarto...mas nada. Não estava em lado nenhum. Até que me aparece Mia ao meu lado com a injecção na mão.

— Mia. Onde encontraste isso? Sabes que não podes mexer nos remédios, sem a mãe dizer.

— A mamã dixe...— ela olhou para mim e esticou de novo a mão onde tinha o remédio...— A mamã dixe que xe domi, ela pa dá o lemédo a um quexido. Tu és quexido?!

— Sou, sou crescido. Depois o padrinho quer saber onde a mamã escondeu isto.— viro-me para Diana aplico-lhe o remédio, esperando não ser tarde demais,

Depois de aplicar o remédio, ajeito-a na cama, e tapo-a. Depois do parto dos gémeos nunca mais a vi ter uma crise destas. Tanto que ela apenas tem as injecções para uma eventualidade, e graças a Deus, nunca teve que as usar...até hoje. Dou-lhe um beijo na testa, e olho para todos os que ainda se encontram no quarto. Temos muito o que conversar, mas não ali.

A única coisa positiva no meio de todo esta confusão é que conseguimos que aquela víbora não desconfiasse que Mia e Gui eram filhos de Diana. Mas a pergunta era: até quando? A campainha toca de novo, olhamos uns para os outros.

— Eu juro que se for aquela mulher de novo eu arrebento-lhe aquela cara de espanhola que ela tem. — vou falando à medida que me dirijo para a porta...— Desculpa J.P., sei que é tua mãe, mas eu já estou a ficar cansado...

— Desculpem, atrasámo-nos...— Mariana? A tia da Diana, mas quem é que vai aparecer mais?

— Menina, ainda bem que chegou.

— João Pedro? Mas os que é que se passa aqui?

— Eu também gostava de saber Tia.

— Venham, eu vou contar a todos o que se passou há quatro anos atrás.

— Mãe, a Diana não te vai perdoar. Sabes que ela nunca quis contar nada...

— Pois temos pena. Neste momento, a Dona Pilar sabe da existência daqueles dois anjos ali...— e aponta para Mia e Gui que estavam num canto a brincar com os primos Kiko e Zé.— Então a minha prioridade é defendê-los da avó...e do pai.

— Espera, Pai!? Como assim Pai? Mãe tu sabes quem é o pai dos gémeos? Eu pensei que nem a Diana soubesse?

— Bem, eu acabei de acabei de chegar, e estou meio perdida aqui. Mas, a primeira coisa que gostava de saber é onde está a Diana? E segundo quem são eles?— diz apontando para Gui e Mia.

— A Diana passou mal Tia, depois da minha mãe e do Juan terem aparecido aqui. E aqueles dois, são os filhos da Diana.— diz Joao Pedro.

— Menina por favor, eu vou contar tudo. Mas não me interrompam...— e assim Amélia começa a contar toda a história da gravidez da Diana. De todos os problemas de saúde com que ela ficou, do problema respiratório do Guilherme.

— Porque é que nunca me falaram? Porque é que ela nunca me contactou?

— Porque nós nunca mais soubemos de ti.— respondeu João Pedro.

— Como assim? Eu sempre falei com a tua avó. Eles estiveram comigo várias vezes ao longo destes anos. E o teu Tio André também sabia o meu contacto...

— Podia até ser, mas nós...— diz apontando para ela e para o JP...— Estávamos proibidos de falar o teu nome. Ninguém mais podia até pensar em si. Para os meus sogros, a Mariana não existia.— diz a Kika.

— O que aquela mulher fez com o meu irmão. Ele não era assim, o teu pai não era assim.— Ela diz a chorar...— Ele era algo protetor sim, mas amável, carinhoso. Antes de se zangar ele ouvia-nos, ele conversava conosco até percebermos que tínhamos errado.

— Eu sinceramente Tia, já não sei de nada. Estou a conhecer um lado dos meus pais, que preferia não conhecer. Estou com vergonha de...ser filho deles.

— Oh, meu menino. Você e os seus irmãos não têm culpa. A sua mãe é que foi criada para ser assim...

— Ela é um monstro Bá, podia ter matado a própria filha. Como é que ela apaga todo um historial de uma doente que podia até morrer se...a propósito para que servem as injecções?

— Depois do parto dos meninos, a Diana teve uma paragem cardíaca. Os médicos ficaram preocupados.— diz a minha mãe...— Falaram comigo na altura, e apenas contei o que eu sabia: que ela tinha nascido pequena, de uma gravidez tri-gemelar, tinha sido a bebé surpresa. E que nascera com problemas respiratórios.

— Os médicos decidiram fazer alguns exames e descobriram um problema cardíaco. Depois de recuperada do parto, eles repetiram os exames.— explicou a minha irmã.

— Nós quase a perdemos.— digo sentando-me junto da minha mãe que já tem lágrimas nos olhos...—  A Di tinha uma Cardiopatia Congénita acianótica, os sintomas podem parecer apenas um caso de problemas respiratórios, ou uma Asma mais grave.

— Lucas, como é que os meus sogros nunca se aperceberam disso, ou os médicos na altura do nascimento?

— Como disse Francisca, os sintomas podem ser confundidos com problemas respiratórios. Muitas vezes quando não há casos de Cardiopatias na família, não fazemos essa ligação. Com a Di foi o que aconteceu, apesar de ter sido a bebé surpresa e só por isso deviam ter feito exames mais detalhados...

— Será que os meus sogros não autorizaram esses exames?— pergunta a KIka.

— Não. Não Kika isso já é...eu não posso...eu não quero acreditar que eles tenham sido capazes disso.

— Menino, eu não sei se o que a menina Francisca disse foi verdade ou não. Mas quando descobrimos, ficámos todos com essa dúvida. O médico que a segue disse nos com toda a certeza que este era um problema que com exames era identificado.— diz a minha mãe.

O João Pedro e a Tia da Di, estavam completamente destroçados. E era compreensível, afinal eram família.

— O que vocês acabaram de assistir foi talvez a pior crise que eu já vi desde o parto dos gêmeos. Apesar de estar medicada, sempre que algo a desestabiliza emocionalmente ela acaba por ter estas taquicardias.

— E os meninos? Eles...— Francisca pergunta olhando para Mia que brinca com os seus filhos mais velhos no chão, como se já se conhecessem há anos.

— A Mia é completamente saudável. O Gui, tem um quadro de Asma, e está a ser seguido também por um cardiologista.

— Amélia, o que disseste à pouco sobre defender aqueles dois anjos da avó e do pai. Tu sabes quem...quem...violou a minha sobrinha?— pergunta Mariana.

— Sei menina. A Diana, no início não me contou. Mas eu fui apercebendo-me de algumas atitudes que ela tinha sempre que estava perto "dele". E quando a gravidez foi confirmada, eu perguntei-lhe directamente se o...Juan era o pai.

— O Juan!? O nosso primo Juan.— Amélia assente, e eu vejo um J.P. transtornado, em fúria...— Diz-me que estás a brincar Bá. Eu...eu não posso crer nisso.— Estou tão perplexo como ele.

— Calma João Pedro. Se perdermos a calma, não nos vai adiantar nada, e também não vai ajudar a Diana.— Diz Mariana, olhando para a minha mãe...— Tens a certeza do que estás a dizer Amélia?

— Infelizmente, sim. O próprio assumiu à Diana, ainda do hospital. Ela acabou por contar, à psicóloga e a mim.

— Amor...— Francisca chama o marido...— Lembras-te aquelas férias que fomos para Espanha?— João Pedro confirma...— A Diana chorava a dizer que não queria ir, ela até fez febre.

— Eu lembro-me. Mas a minha mãe foi implacável. Ela foi com febre e tudo...— ele olha para a minha mãe...— Febre emocional!?

— Sim, menino. A sua irmã só descansou um pouco porque a sua mãe acabou por me levar para tomar conta dela. Ela não ficava sem mim por perto tinha pânico de ficar sozinha com ele.

— Ela passou as férias todas ao pé de ti, eu lembro-me.— João Pedro senta-se...— Eu não...e a minha mãe, ela sabe? Ela sabe que foi o Juan...

— Sabe. Ou pelo menos eu acho que sabe.— ouvimos uma voz vinda do corredor dos quartos. Quando Diana vê a Tia, as lágrimas descem-lhe pela sua face.

— Tia! Ai, meu Deus Tia....

— Minha Princesinha. Que saudades...— Diana corre em direção à Tia e percebe-se de longe o amor entre as duas.

Às vezes penso que estas duas são mãe e filha, e não tia e sobrinha. O amor que existe entre as duas é lindo. Porque Tia ensina, cuida, protege e guarda os segredos. Tia pode amar como uma mãe, e comportar-se como uma amiga. Tia tem muito amor para dar, e só quer o seu bem e é como uma mãe. Uma tia é uma mãe disfarçada de amiga, sempre que os sobrinhos precisam. Ser tia é amar seus sobrinhos e estar sempre ao lado deles. É um amor puro e protetor. É querer estar sempre perto. É nos olhos dos sobrinhos, que a Tia encontra a paz e a cada dia que passa na companhia deles descobre uma nova face do amor.

E ali naquele abraço, todos nós, meros espectadores, sentimos todo o amor que ali existe. É muito mais que amor de Tia e sobrinha, muito mais que amor de amigas, é tudo e muito mais. É uma amor puro, lindo e infinito...

— Eu devia estar zangada contigo. Devias ter me ligado assim que tudo aconteceu, eu nunca iria virar-te as costas...nunca.

— Eu nem sabia onde estavas Tia. Depois de teres casado com o tio, nós fomos simplesmente proibidos de falar de ti. Eu perguntava à avó de vez em quando, mas ela não me respondia.

— Para o Pai e a Mãe tu simplesmente não existias.— respondeu JP

— Mas eu existo sim, e estou bem aqui de carne e osso. E prometo-te que não vou deixar que mais ninguém te magoe.

— Bom agora temos que falar seriamente.— digo olhando para Diana.— Não podes continuar aqui Di, não sei até que ponto a tua mãe acreditou na mentira. E se ela quiser, muito facilmente ela chega à tua ficha no hospital.— digo

— O que quer dizer que vai descobrir que a Mia e o Gui são teus, e não meus.— diz Lucia.

— E para onde é que eu vou Lucas? Eu nem um emprego tenho, perdi-o ontem e com tudo isto nem consegui ir à procura de um.

— Vais para minha casa.— diz Mariana, e ficamos a olhar para ela...— Querem lugar mais seguro? A Pilar nunca na vida irá a minha casa, acho que ela prefere morrer do que entrar "no antro da perdição".

E pensando bem, ela tinha razão. Preconceituosa como é Dona Pilar nunca irá até casa da cunhada, casada com um negro. Ela nunca gostou de Mariana, precisamente porque até ela ter o João Pedro, o marido na sua opinião sempre dava mais importância à irmã do que a ela que era esposa. Para além de tudo o que teve que aguentar de Mariana, com um sorriso na boca, mesmo com uma vontade danada de lhe bater.

Assim ficou combinado que no dia seguinte Mariana e a família a viriam ajudar na mudança. Para Diana a única coisa que a preocupava era a segurança dos filhos. Porque como ela sempre dizia Mia e Gui eram o melhor dela.

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