Capítulo 11
Entretanto na casa grande, o Doutor João Francisco Galvão Telles recebe os pais, o irmão e sua família. Dona Madalena está feliz pois a filha Mariana finalmente decidiu aceitar o seu convite para vir aos anos do irmão, mesmo que isso não o tenha agradado. Porém, em respeito à mãe, ele acabou por ceder ao pedido.
Claro que quem não gostou mesmo nada da novidade foi a sua esposa Pilar, que nunca gostou da cunhada. O que era recíproco, porque Mariana também nunca gostou da esposa do irmão.
Pilar, vinha de uma família influente de Espanh. Foi educada de uma forma muito rígida e tradicionalista, bem mais que o seu marido. Por isso o facto de Mariana ter partido sem consentimento dos pais para África, para ela foi um acto não de rebeldia mas de afronta para com os seus sogros.
Mas o que mais afrontava a Senhora foi o casamento desta com um Afro-Americano. Que para Maria Pilar Salles Galvão Telles era algo imperdoável e indigno de uma Galvão Telles. Um negro na sua família era uma vergonha, já que lhe foi incutido durante o seu crescimento o racismo (e não apenas em relação aos negros,como também em relação aos ciganos e outras etnias).
Estava de tal forma enraizada está sua forma de pensar e sentir, que com algumas palavras e uma boa argumentação conseguiu colocar essas ideias na cabeça do marido. E como é óbvio a vinda de Mariana gerou uma discussão entre os dois.
"O João Francisco hoje disse-me que a minha "querida" sogra tinha convidado aquela sonsa da irmã dele para os anos dele daqui a uma semana. E o mais impressionante é que o meu marido, não se soube impor, e dizer que não a queira nesta casa.
— Se tu achas que a vou receber na nossa casa, estás muito enganado João Francisco.
— Pilar. Eu não posso fazer nada, a minha mãe ameaçou nem aparecer. Ela disse-me que se a Mariana não pudesse vir ela não viria.
— E...? Não me digas que ainda es menino da mamã?
— Eu faço 60 anos, os meus pais têm 85 e 80 anos, eu não sei quanto mais tempo os vou ter comigo...
— Eu não quero saber, nesta casa ela não entra.
— Pilar, deixa-te de cenas pelo amor de Deus.
— Escenas? Esa chica hizo lo que hizo y me equivoco? Ah no. No la quiero en mi casa. (Cenas? Essa miúda fez o que fez, e eu é que estou errada? Ah, não. Não a quero na minha casa.)
— Nuestra casa.(Nossa casa).
— Bien, nuestra casa. Si tu madre está tan dispuesta a tenerte cerca de ella, deja que la reciba en su casa. (Bem, nossa casa. Se a tua mãe quer tanto estar perto dela,que a receba na casa dela.)
— Pilar por favor, tenta por mim. Também não estava disposto, mas...
— Mas a tua mãe pede e tu não sabes dizer que não...
— É minha mãe...
—E é a minha casa. Só espero que ela se lembre da única regra que existe nesta casa.
— Ela sabe...
— Espero que sim..."
E assim se passou a semana com uma Pilar furiosa e com humor de cão, uma Dona Madalena ansiosa e feliz da vida, um pai que apesar de tudo estava feliz e um esposo e irmão que receava pelo que iria acontecer naquela festa.
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Finalmente o dia chegará, e em casa dos Galvão Telles estava tudo num alvoroço. Pilar estava cada vez mais furiosa mas nada podia fazer, apesar de tudo o marido sempre faria de tudo para ver a mãe feliz. Era quase que uma obrigação dos filhos, fazer os pais na sua velhice o mais felizes possível.
— Francisco, a que horas ela disse que chegava?— Pergunta Dona Mariana ao marido.
— Ela não me disse as horas exatas, já que sempre existem atrasos nos voos.— Francisco olha para o relógio...— Mas se o voo não tiver chegado atrasado, ela deve estar a chegar a Lisboa por volta das 16h00.
— Ai, meu Deus. Sabes há quantos anos nós não vemos a nossa filha?
— Não a vêem porque ela fugiu, saiu da vossa casa sem dar uma justificação. Duas vezes, ela fez isso duas vezes e estão aqui a...
— Sabes Pilar, pais e filhos erram muito.Erram tentando acertar. Nós erramos, a Mariana errou. Mas o amor entre nós nunca se extinguiu.— Diz Francisco.
— Eu não conseguiria perdoar. Nunca a vou perdoar...nunca.
— Um dia, um dia irás sim. Só espero que não seja tarde...— Francisco iria continuar, mas o filho não o deixa.
— Pai podemos mudar de assunto, por favor?— Pergunta João Francisco.
— Porquê? Não sentes falta da tua irmã?
Não a vemos há 10 anos, que é a idade da Bia. Nós nem conhecemos a pequena Anna.— Finalmente Dona Madalena volta a falar desgostosa com toda aquela discussão sobre algo que deveria estar esquecido.
— Foi ela que escolheu assim.
— Não sei onde errei contigo.- diz Dona Madalena. — Nem conheces os teus sobrinhos.
— Sabes bem que por mim ela nem vinha, se vem é porque tu insististe, e apesar de tudo ver-te feliz faz-me feliz. Em relação aos filhos dela, sabes bem o que penso.
— Não te percebo.- diz André Francisco...- Juro que não te percebo. Porque raio ainda sentes tanta mágoa para com a Mariana. Já se passaram mais de 15 anos, e tu continuas com esse ressentimento todo para com ela.
— Sabes muito bem o que ela fez, ou será que não te lembras? Bolas.
— Eu sei, eu lembro-me. Não foste o único a sofrer com a loucura dela.
— Mas pelos vistos sou o único nesta família que me lembro de tudo o que ela fez.
— Todos nós lembramos filho, mas soubemos perdoar. Perdoa a tua irmã,por favor?
— Não. Bolas, ela sumiu de casa assim que fez 18 anos, ficámos uma semana sem saber dela. UMA SEMANA!
— Filho. Isso são águas passadas, hoje a tua irmã está feliz com o marido e com os três filhos.
— Um preto. Um professor preto! A Mariana poderia ter alguém ao lado dela muito melhor.
— Eu vou até fingir que não ouvi o que disseste João, porque sinceramente, não sabia que quem mandava nesta casa era a tua mulher.— André Francisco estava perplexo com o que ouvia do seu irmão mais velho.
— Vamos por favor tentar ser uma família, nem que seja pelo pouco tempo que ela está perto de nós.— Diz Dona Madalena, olhando de um filho para o outro.
E quer o Doutor João Francisco Galvão Telles quer o irmão André Francisco, concordam. De alguma forma e para fazer a mãe feliz, eles deixariam aquela conversa para depois. Mãe é mãe, e Madalena sempre tentou ser uma mãe presente na vida dos filhos. Era certo que Mariana foi algo rebelde, mas os filhos não são todos iguais, e apesar de tudo a sua princesa sempre foi uma filha maravilhosa: carinhosa, estudiosa, generosa.
— Não querendo ser chato, mas...— E Fran interrompe o silêncio que se tinha instalado.— O que vão falar à Mariana sobre a Diana?
— Nada. E peço-te que nunca mais menciones esse nome nesta casa.— Diz Pilar com autoridade e sem emoção nenhuma.
— Com todo o respeito que vos tenho, a Mariana vai perguntar por ela. João tu sabes que elas eram muito chegadas.— João Francisco olha para o irmão,ele sabe que a irmã iria sentir a falta da sobrinha.
— Se e só se for necessário eu mesmo falo com a Mariana sobre isso. Mas como disse a Pilar, não quero ninguém a mencionar esse nome cá em casa.
O dia vai passando, o almoço foi em família. E todos estavam alegres e felizes. Enquanto os mais velhos conversavam, os mais novos brincavam. Madalena, percebeu que o neto João Diogo estava meio distante, e tentou saber o que se passava.
— Diogo... estás tão pensativo filho. Queres contar à avó o que se passa?
— Não é nada avó, só a faculdade que está puxada.
— Sabes eu posso ter 12 netos, e todos diferentes. Mas eu conheço cada um de vocês: quando estão felizes,quando estão tristes, preocupados, ansiosos, com problemas...
— Tu pareces a Bà...
— Talvez porque estamos com os olhos mais abertos. Queres contar a está Senhora de idade o que tanto te faz ter esta ruga aqui bem no meio da testa?
— Há pouco...achas que um dia a mãe, e o pai, podem perdoar a Di?
— Porquê isso agora Diogo? Soubeste alguma coisa da tua irmã?
— Não. Mas, somos gêmeos. Mesmo não estando perto...
— Não me vais dizer que sentes o que ela sente, pois não?
— Não, não é nada disso. Eu só sinto falta dela, sei lá...
— Por muito que os teus pais tentem ignorar a "existência" da tua irmã, eles são pais. E os pais por muitos erros que os filhos comentam nunca os deixam de amar...
— Mesmo a Sra. Dra. Pilar de Salles Galvão Telles?
— Sim, mesmo a Senhora tua mãe, com aquela arrogância e petulância espanhola.
— Achas possível o pai perdoar a Tia?
— Talvez...
— Vó, se o pai não consegue perdoar nem a Tia por algo do passado, que foi inconsequente sim, mas também foi "bonito". Como é que eles vão perdoar a minha irmã?
— O teu pai sempre foi teimoso, e super protector com os que ama. Com a tua tia, sempre foi muito mais.
— A Di sempre foi a menina do papá. Quando tudo aconteceu, ele ficou diferente.
— Eu rezo todos os dias para que ela volte. Nem sei se ela chegou a ter os bebés.
Diogo sorriu. Imaginava a avó a mimar mais dois bisnetos. Nesse momento tocam á porta...
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