03. A Traição da Inocência I
A SALA ESTAVA MERGULHADA EM UM SILÊNCIO PERTURBADOR, tão denso que parecia sufocar qualquer som. Caitlyn se mantinha alerta, seus sentidos aguçados pela tensão no ar.
De repente, um estrondo ensurdecedor ecoou do lado de fora, como se o céu estivesse desabando em uma fúria indomável. Os trovões retumbavam com uma força assustadora, fazendo as janelas tremerem e lançando flashes de luz sinistra pela sala.
Cada trovão parecia ecoar no peito da jovem babá, fazendo seu coração bater descompassadamente, como um tambor frenético em seus ouvidos. O som ensurdecedor reverberava por todo o seu corpo, causando uma sensação de opressão. Suas mãos tremiam involuntariamente, os dedos trêmulos buscando apoio em qualquer superfície sólida ao seu alcance. Ela lutava para controlar o pânico que ameaçava consumi-la a cada segundo que passava, sua mente uma turbulência de pensamentos assustadores e imagens sombrias.
Enquanto isso, a pequena Kate Pollock permanecia fixada em algo invisível para todos, exceto para ela. Seus olhos, de um azul profundo, brilhavam com uma intensidade perturbadora, como se estivessem conectados a um mundo além do alcance dos mortais. Era como se uma chama misteriosa e enigmática ardesse dentro deles, emanando uma energia sobrenatural. Cada vez que um relâmpago iluminava a sala, os olhos de Kate pareciam capturar a luz, transformando-se em dois faróis brilhantes.
A jovem babá sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao testemunhar essa manifestação inexplicável de poder oculto nos olhos da criança.
Um sorriso astuto e arrepiante se desenhou nos lábios de Kate, enquanto ela girava nos calcanhares e virava as costas para Caitlyn. A mudança em seu comportamento era desconcertante, como se uma presença sombria e malévola tivesse tomado controle da doce criança.
Caitlyn observava perplexa enquanto a garotinha, com uma leveza quase sobrenatural, saltitava pelo ambiente como se a ameaça anterior nunca tivesse existido. Seus movimentos eram graciosos e fluidos, como se estivesse sendo guiada por uma força invisível que a impulsionava. Cada passo era preciso e confiante, como se ela estivesse dançando em sintonia com uma melodia que só ela podia ouvir.
Caitlyn sentiu-se hipnotizada pela beleza e mistério daquela cena, mas ao mesmo tempo uma sensação de inquietação a dominava. Ela se perguntou o que estava acontecendo com Kate e se deveria intervir ou apenas observar em silêncio.
A babá sentia-se cada vez mais intrigada e perturbada pela dualidade daquela criança, incapaz de compreender como alguém tão jovem poderia alternar entre um estado de pura inocência e uma aura de mistério sombrio em questão de segundos.
O coração de Caitlyn errou o compasso mais uma vez quando Kate, com um movimento brusco, virou-se para olhá-la, mas seus olhos pareciam perdidos em algum lugar distante. Um arrepio percorreu a espinha da jovem quando o nome que ela não gostava nem um pouco de ouvir escapou dos lábios da criança: - Alex.
A visão do desenho perturbador invadiu a sua mente.
Era evidente que a menina carregava consigo uma mensagem divertida para seu amigo imaginário, mas sua fala foi abruptamente interrompida por uma expressão de repreensão que surgiu em seu rosto. Seus olhos, antes brilhantes de entusiasmo, agora se encheram de sombras, refletindo uma profunda inquietação.
Caitlyn observou atentamente a transformação inesperada, sentindo um medo profundo se apoderar dela, como se algo sinistro estivesse pairando no ar. O silêncio tenso se estendeu por alguns segundos, até que finalmente Kate sussurrou com uma voz trêmula:
- Alex, pare de encarar a Caitlyn dessa forma.
A voz suave da menina contrastava com a estranheza da situação, aumentando ainda mais o mistério e a apreensão que envolviam aquele encontro sobrenatural.
Caitlyn tentou disfarçar seu desconforto, mas a sensação de estar sendo observada por algo além do visível continuava a perturbá-la. Ela se perguntou o que realmente estava acontecendo e se era seguro permanecer naquela casa com Kate e seu misterioso amigo imaginário.
A jovem olhou ao redor, seus olhos vasculhando freneticamente cada canto da sala vazia em busca de algum sinal de presença daquela criatura horrenda retratada no desenho de Kate. Seu coração batia acelerado no peito, enquanto a sensação de estar sendo observada por olhos invisíveis a consumia.
Cada sombra, cada movimento do ar parecia ganhar vida própria, alimentando sua paranoia crescente. Ela se perguntou se aquela figura sombria poderia ter transcendido o papel e se materializado na realidade, pronta para trazer o caos consigo.
A sensação de perigo iminente a envolvia, deixando-a cada vez mais apreensiva e vulnerável. Seus sentidos estavam aguçados, captando os menores ruídos e movimentos ao seu redor. Cada suspiro se transformava em um arrepio na espinha, enquanto sua mente lutava para entender a natureza da ameaça que pairava sobre ela. Caitlyn sabia que precisava agir com cautela e coragem para proteger a si mesma e a Kate daquele desconhecido mal que se escondia nas sombras.
- Kate, onde está o Alex? - A voz de Caitlyn saiu trêmula, quase um sussurro, revelando sua crescente inquietação diante da situação. Seus olhos buscavam desesperadamente pela figura do amigo imaginário da pequena Pollock, na esperança de encontrar alguma resposta ou sinal de sua presença.
A menina virou-se para a babá, um sorriso enigmático brincando em seus lábios.
- Ele está bem na sua frente. Você não está vendo-o? - respondeu Kate com suavidade, apontando para um ponto vazio do cômodo.
Caitlyn sentiu um aperto no peito e uma sensação de pavor tomou conta dela ao seguir o gesto da garota e encarar o espaço vazio à sua frente. O medo se intensificou, deixando-a perplexa diante da possibilidade de algo invisível e sinistro estar ali, tão próximo dela.
- Chega! Eu não estou gostando dessa brincadeira!
No entanto, Kate continuou a dançar com uma expressão imperturbável, como se estivesse alheia aos apelos angustiados de sua babá. Seu corpo se movia graciosamente no ritmo invisível, como se estivesse sendo conduzida por uma melodia misteriosa e hipnotizante.
A criança de oito anos se afastou cada vez mais, chegando até a cozinha, onde o som de uma faca sendo afiada podia ser ouvido nitidamente. O ruído penetrante ecoava pelo ambiente, envolvendo Caitlyn em uma atmosfera sinistra.
As batidas no coração da babá cessaram por alguns instantes, seu corpo congelou em um misto de medo e curiosidade mórbida ao ouvir aquele som perturbador. Cada rangido da lâmina contra a pedra de amolar parecia ecoar em sua mente, alimentando o suspense e aumentando a tensão no ar.
- Não faça isso, Alex! - Kate gritou repentinamente, sua voz carregada de angústia e preocupação. - Não machuque a Caitlyn! Ela também é minha amiga!
As palavras da menina ecoaram pelo ambiente, revelando a profunda conexão que ela tinha com Caitlyn. O apelo fervoroso de Kate refletia o vínculo especial que havia se formado entre elas, transcendendo a relação entre uma babá e sua protegida.
Caitlyn sentiu um desespero ainda maior se apoderar dela ao perceber que Kate estava falando sozinha novamente, com aquela mesma variação de voz que a perturbava profundamente. Seus passos tornaram-se vacilantes, mas a determinação em proteger a criança a impulsionou a diminuir a distância entre elas.
Com um coração acelerado, a babá aproximou-se vagarosamente da porta da cozinha, preparada para enfrentar o desconhecido e descobrir a verdade por trás daquela situação assustadora.
- O-o que você está fazendo, Kate? - Caitlyn gaguejou, sua voz trêmula de pânico.
Seus olhos fixaram-se na menina, buscando desesperadamente por uma resposta que pudesse explicar o que estava acontecendo. Cada fibra do seu ser estava tomada pela angústia e pelo medo.
O grito enlouquecido de Kate ecoou pela cozinha, reverberando nos ouvidos de Caitlyn como um aviso sinistro, fazendo seu corpo inteiro se arrepiar. Seus olhos se arregalaram de horror ao testemunhar a transformação assustadora daquela pequena garotinha loira, que agora parecia possuída por uma força maligna.
Com um movimento rápido e preciso, a criança arremessou uma faca afiada em direção a Caitlyn, que sentiu o tempo desacelerar enquanto o objeto cortava o ar com um assobio ameaçador. Por um triz, a lâmina passou rente ao braço da jovem, deixando um fino rastro de sangue em seu caminho.
O susto e a dor imediata foram substituídos pelo instinto de sobrevivência quando Caitlyn percebeu que sua vida estava em perigo. Com o coração batendo descompassadamente no peito, ela correu desesperadamente em busca de segurança, sua mente dominada pelo medo e a urgência de encontrar uma maneira de escapar dessa situação angustiante.
O coração de Caitlyn disparou em seu peito enquanto ela lutava para processar a traição que acabara de presenciar. A sala de estar, antes repleta de risadas e brincadeiras entre Caitlyn e Kate, agora estava mergulhada em uma atmosfera opressiva de tensão e medo.
O silêncio pesado pairava no ar, interrompido apenas pelo som abafado dos passos de Caitlyn enquanto ela recuava lentamente, mantendo os olhos fixos na figura ameaçadora da garotinha loira. Cada pulsação do seu coração era um lembrete constante da quebra de confiança, deixando-a com a sensação de ter caído em um pesadelo surreal.
Desesperadamente, a jovem tentou abrir a porta, apenas para descobrir que estava trancada, como se o ambiente estivesse conspirando para mantê-la aprisionada naquela cena horripilante. Caitlyn sentiu um nó na garganta, seu coração acelerando ainda mais diante da constatação de que estava presa dentro daquelas quatro paredes, com o perigo rondando-a implacavelmente.
Uma onda de determinação tomou conta dela, empurrando-a para além do medo paralisante. Com os olhos vasculhando freneticamente o cômodo em busca de uma saída, ela percebeu uma janela no canto da sala. Era a sua chance de escapar dessa situação angustiante e encontrar ajuda.
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