Capítulo 3 - A carta.
Esperar sua mãe e tia deixava Daniel aflito e um tanto ansioso. Suas pernas balançavam com uma certa velocidade e davam a impressão de quebrar ou até mesmo de fazer um buraco no chão.
O relógio na parede parecia avisá-lo, com vários tics e tacs que o tempo passava e continuaria passando, elas chegando ou não.
O garoto ainda estava com a carta na mão, olhava, como se fosse conseguir abri-la sem ninguém perceber ou ler com a força do pensamento. Mas até o momento, Daniel sabia que havia algum segredo na família, mas que esse segredo não envolvia poderes psíquicos.
"Filho, pode abrir, sou eu!", disse uma voz doce, enquanto dava várias batidas na porta da frente.
Daniel se levantou, ainda agarrado à carta, como se ela estivesse precisando de sua proteção, e não a dar lhe custaria a vida. Talvez realmente custasse, Atena tinha dado vários avisos, mas ele não se lembrava se algum era sobre a carta ou mantê-la em segurança.
Assim que ele abriu a porta, sua mãe pulou nos seus braços, apertando o garoto e verificando se ele tinha alguma marca. Provavelmente ela sabia que Atena não brincava com os seus avisos.
Ele olhou por cima dos ombros da mulher, sua tia ainda estava tentando fechar a porta do carro.
"Vamos, Adelaide, não se preocupe com isso agora. Vamos, entre!"
Caeme ainda cheirava a óleo e vestia seu avental amarrotado.
"Olá, querido. Quem esteve aqui mais cedo? Preciso dos detalhes.", Adelaide fechou a porta e olhou para seu sobrinho que ainda estava sendo esmagado por Caeme.
"Atena. Ela parecia ter a mesma idade que eu e sumiu em questão de segundos, deixou essa carta.", Daniel disse enquanto tentava sair dos braços da mulher.
"Adelaide, verifica se aquela monstrinha deixou algo na casa, por favor". Caeme largou Daniel e pegou a carta.
Adelaide arrancou um amuleto de dentro da sua bolsa, ele brilhava e tinha forma de uma folha, iguais a aquelas que caiam no chão durante o outono. Passeou por todos os cômodos que a garota havia passado mais cedo.
Caeme foi para a cozinha e vasculhou a primeira gaveta da estante, agarrou a primeira faca que encontrou e retirou o selo do envelope.
"Está enfeitiçada?", perguntou Adelaide, ao se aproximar novamente deles.
"Não, foi fácil até demais de abrir.", ela disse enquanto mostrava a faca em cima do balcão.
"Alguém pode me situar?", Daniel encarou as mulheres, que ao mesmo tempo encaravam a carta.
Caeme ficou em silêncio, os outros dois a acompanharam. A mulher verificava com os olhos, que se moviam de lá para cá, cada linha escrita no papel. Seus olhos se encontraram com o de Adelaide.
"É dele, não é? E então?", perguntou Adelaide.
"Querido, onde está o livro que sua tia lhe deu mais cedo?"
"Está na sala. Querem que eu vá pegar?"
Caeme balançou a cabeça, ele a obedeceu sem contestar.
"Ele ativou o livro, Adelaide. O Alto Inquisidor sabe disso e a garota foi apenas um aviso."
"Eu não deveria ter entregado o livro a ele", Adelaide começou a andar de um lado para o outro.
"Ainda bem que você sabe. Isso tudo é perigoso para ele", e antes mesmo que ela fechasse a boca, o menino entrou na cozinha.
"O que é perigoso para mim?", disse ele, segurando o livro das letras douradas com ambas as mãos.
As mulheres se entreolharam novamente.
Caeme foi para o armário, pegou três xícaras e encheu a chaleira de água. Adelaide tentou agarrar o livro das mãos do garoto. Daniel, por outro lado, foi mais rápido e tirou o livro do alcance dos dedos roliços da tia.
"Vocês vão me explicar tudo isso agora, e isso não é um pedido."
"Garoto, veja como fala com nós, somos mais velhas."
"Não, Adelaide, ele tem razão.", Caeme desligou a torneira e depositou a chaleira no fogão, ainda apagado. "Algumas pessoas querem o livro e precisamos proteger você e ele. Quando vierem, não levarão apenas o livro, mas você também. E você é tudo que eu tenho, não posso te perder.", ela acendeu o fogo.
"Ele quem, mãe? E o que esse livro tem com tudo isso?", perguntou o menino, não dando a mínima para a chantagem emocional que a mulher acabara de fazer.
"O Alto Inquisidor, querido. Ele é um homem extremamente ganancioso. Sempre quis tudo que seu pai tinha. Sua mãe, o livro, e agora você.", Adelaide foi interrompida pelo barulho da chaleira.
Caeme desligou o fogo e depositou o liquido dentro das xicaras, colocou algumas folhas de jasmim dentro e olhou pela fumaça.
"O chá está pronto."
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