Quanto mais vos pago, mais vos devo
A febre de Harriet tinha passado pela manhã. O beijo tinha esquentado o seu coração e esfriado o corpo. Benedict sorriu quando pôs, de forma delicada, a mão no pescoço da garota e checando sua temperatura, viu que ela estava mais fria, dormindo tranquila e sem tormento.
Se afastou, abrindo as cortinas e então ela acordou. Da cama, ela o viu abrindo as cortinas e sorriu.
— Ora, ora, é o meu médico... o que faz aqui tão cedo, doutor? — A voz doce de Donaldson o chamou e ele se virou, com um sorriso no rosto.
— Vim examinar a minha paciente. Saber se ela está bem e se precisa de mais remédio.
— Eu estou em mais perfeita saúde, minha febre já passou. — Ela levantou, suada. A camisola fina encostava e marcava bem seu corpo, que era bem visível aos olhos do loiro. Harriet caminhou, com uma graça de felina e levou as mãos até a roupa do rapaz, passando-as pelo preto de seu uniforme de forma sugestiva. — Agora que já estou bem, posso lhe dar o que você mencionou ontem à noite.
Benedict segurou suas mãos, não se sentindo tão constrangido quanto antes. Ele apenas sorriu, discretamente.
— Sou eu quem devo fazer o diagnóstico, não concorda?
— Eu concordo. Por que não me toca e comprova que eu estou bem?
— Pode-se ver que está bem fisicamente, sem necessidade de toque. Eu só preciso saber se está bem mentalmente.
— Mentalmente? O que pretende, doutor?
— Hoje, vou levá-la a um lugar, fora desse consultório. Aposto que vai adorar, o que acha, Lady Donaldson?
Harriet sorriu, ainda de forma sugestiva.
— É um encontro romântico?
— Interprete como quiser. Acho que está bastante suada, não? Vou lhe preparar um banho.
Ele se afastou. Harriet não o repreendeu, porque ela não se mostrou decepcionada. A verdade é que ela estava curiosa para saber onde Benedict a levaria.
Ele voltou ao quarto antes que ela se levantasse e lhe perguntou algo.
— Milady, se importa se eu sair um pouco? Eu preciso cuidar dos detalhes de nossa consulta.
— Ah, já vai me deixar sozinha? Eu vou adoecer de novo...
— Não vai, são só alguns minutos. Por favor, eu lhe faço o que quiser quando chegarmos.
— Cuidado com o que promete, hein? — Ela riu, de forma maliciosa. — Porque eu vou cobrar o que eu quiser.
— E eu vou lhe dar, milady. Nem que seja a lua. — Ele disse, se retirando do quarto finalmente.
Harriet comemorou internamente, animada com a possibilidade de beijar Benedict o quanto ela quisesse ou até mesmo, ter algo bem mais íntimo com ele.
Afinal, diferente do que pensava seu pai, Harriet não era mais uma garota pura ou inocente.
Ela gostaria de dizer que aquele processo de perda de inocência, nos seus tenros dezessete anos, tinha sido bom, mas não tinha sido. Assim como não tinha sido sua primeira paixão, um lorde estrangeiro e mais velho, que diferente do que tinha prometido a ela, não pediu sua mão ao barão de Averminster. E ela, abandonada, teve sua primeira decepção, tendo entregado-se para alguém que não a amava e de novo, isso acontecia naquele casamento forjado.
Mas Harriet não iria aceitar.
Depois daquela decepção, Harriet não aceitaria mais as coisas ruins e lutaria pela própria felicidade.
Ela levantou, feliz para o banho que ele disse ter preparado, queria que aquele dia com Benedict realmente lhe curasse a mente.
Aquele banho a estava revigorando.
Benedict estava demorando mais do que o normal, mas Harriet se via tão empolgada naquela situação que não se importou com o seu atraso. Quando ele voltou, trancou a porta do quarto, esperando que ela saísse do banho. Porém, Harriet, com um sorriso de malícia no rosto, querendo divertir-se, o chamou.
— Benedict, acho que não me sinto muito bem... — A moça disse de forma um pouco manhosa.
De imediato, largando o que preparava para ela, ele correu até a banheira.
Ela porém, tinha saído da água, estava em pé e muito bem.
E estava nua.
— Lady Donaldson, a senhora é uma mulher muito má. — Foi o que ele conseguiu dizer ao encará-la daquela forma durante tanto tempo imaginando como aquele corpo seria sem roupas depois de tanto virar-se para não vê-lo.
— Oh, por quê? Foi porque eu te chamei aqui dizendo estar não me sentindo bem?
— Não é só por isso... Mas é porque escondeu este corpo de mim por tanto tempo.
— Eu não escondi, você não quis ver.
— Neste caso, sou eu o vilão desta história. Me perdoe.
— Já que somos ruins, por que não fazer o errado, hm? Me disse que eu poderia fazer o que eu quisesse, se te deixasse sair, lembra?
— Lembro e apesar de ser um vilão, sou um homem de palavra.
Harriet sorriu, desabotoando a roupa do outro, beijando-o com certo carinho e envolveu os braços em torno do mais alto. Harriet então, alternando entre beijos e pequenas mordidas suficientes para provocar o rapaz, lhe chupou o pescoço, deixando uma marca no local. Benedict, finalmente deixando de reprimir aquilo por muito tempo, a agarrou como se quisesse atacá-la e sem gentileza, beijou-a com certa voracidade. Donaldson gostou daquele lado mais ousado do Clement, daquele lado que faminto, não só lhe beijava, mas lhe marcava o pescoço e a fazia gemer dizendo que as pessoas poderiam ver as marcas que ele tinha causado.
— Disse que não sou bom, não disse? Então, estou sendo mau... — Ele disse, próximo ao ouvido dela. Benedict a levou até a pia do luxuoso banheiro. Agora que tinham se libertado de suas repressões e amarras, ele iria em frente sem nenhum problema.
Queria tocar, beijar e estimular cada ponto prazeroso daquele corpo e ele o faria, mesmo que não fosse apenas naquele dia e demorasse para descobrir quais eram esses pontos e como ele o faria.
Os seios da dama, tão pequenos e já tão rígidos o excitavam e ao mesmo tempo, lhe causavam admiração. Eram tão bonitos, eram melhores do que ele tinha imaginado.
Harriet não pôde deixar de gemer um palavrão, coisa que ele nunca imaginou que ouviria uma dama dizer, em volume baixo quando o viu chupando-os como se fosse uma fruta saborosa e vermelha. Ele já tinha descoberto um canto que podia ser usado para excitá-la.
— Ah, milady, sua voz é tão bonita... Deixe-me ouvi-la um pouco mais, por favor...
Ele beijou-lhe o torso, distribuindo beijo por beijo até o baixo ventre da garota. Harriet nunca tinha sido tão venerada quanto estava sendo por Benedict. Seu antigo amor não a beijava, não a sentia, admirava e queria como ele fazia. E então, ela obedeceu ao pedido do outro, clemente, quando ele beijou-lhe a vulva já tão melada e aberta para ele.
Ele chupou-a e a lambeu, repetidas vezes, aquele gosto lhe era bom e era um estímulo para continuar chupando-a.
— Onde aprendeu a fazer isso, Bene? — Ela dissera, ofegante.
Benedict riu, substituindo a boca pelos dedos, que massageavam-lhe aquele ponto que tanto dava prazer a ela, cobertos de um líquido viscoso.
— Onde aprendi é um segredo... talvez um dia eu conte, milady... — Ele respondeu, voltando a lhe lamber onde tinha colocado os dedos. Ele levou-os até a boca dela, que os chupou com um sorriso cheio de malícia e segundas intenções, que Benedict captou pela forma como ela o fez.
Aquela boca poderia explorar muito mais do que seus dedos.
A moça gemia exatamente como ele pediu que ela fizesse.
— Tem uma voz muito bonita, sabia disso, Harriet? — Ele disse, fazendo com que a Donaldson puxasse os fios loiros entre os dedos. Clement voltou a estimulá-la e quanto mais ele o fazia, mais encharcada a mulher ficava.
— Benedict, eu vou...
— Eu sei que vai. Nós dois vamos, juntos.
Benedict beijou-a ali por uma última vez antes de beijar-lhe a boca, livrar-se das roupas de baixo e entrar dentro de Harriet por inteiro e de forma rápida. Ela gemeu de forma mais alta por tê-lo dentro de si assim tão forte e tão rápido. Deslizava facilmente por seu interior molhado e quente, entrando e saindo de dentro de Harriet, que entre suspiros e gemidos o beijava e expressava todo aquele prazer que sentia nas faces mais belas que Benedict já tinha visto.
Ele próprio se via entregue e juntos, ambos os corpos se chocavam cada vez mais rápido, buscando o prazer de forma desesperada.
Quando Clement sentiu-o vir, o orgasmo de Harriet já tinha vindo e ele já não estava dentro dela.
— Acho que eu preciso de outro banho. — Ela sorriu, ao falar isso de forma ofegante.
— É, você está suada de novo. E eu também, milady.
— Eu não me importo em dividir a banheira com você.
— Dividir a banheira? Não está cansada demais para isso?
Harriet riu e saiu do lugar onde tinham acabado de fazer sexo, voltando à água repleta de sais.
— Quem diria que o mordomo ingênuo que me negava um beijo seria tão indecente, não é mesmo?
— Eu não tenho culpa se você é insaciável e não descansou até eu lhe dar o que queria.
Benedict disse, entrando na água com ela.
— Você também queria isso, Bene. Não pense que não vi como olhava para mim durante essa semana.
Benedict desviou o olhar.
— Eu? — Ele riu. — Eu não vi nada.
— Viu sim e me quis. Não minta, é uma ordem.
O rapaz riu.
— Tudo bem, se estamos falando a verdade, eu sempre a achei muito bela. Desde que a vi na igreja há cinco anos. Foi quando eu ainda tocava órgão e o barão a tinha feito soprano no coral.
— Você tocava órgão? Eu nunca tinha o visto na igreja e acredite, você é lindo demais para não reparar.
— É compreensível nunca ter me visto. Seu papel é ser brilhante e não olhar pra mim.
— Não fale assim, Bene. Meu papel também é olhar pra você. Mas já que gosta de música eu definitivamente encontrei a companhia perfeita e não apenas algo bonito de se ver.
— Milady às vezes é muito tenra, como um lírio, como uma borboleta ou uma brisa. Isso é quando não pensa em me atacar como uma fera. Não que eu não queira não ser devorado por essa fera que me causa tantas sensações...
Ele foi interrompido pela risada de Harriet.
— Primeiro me compara ao lírio. Depois à fera. Você é um homem de poesia também?
— Sim.
— Quais são os seus poetas favoritos?
— Meu favorito é Byron, mas gosto de Camões também. E você, milady?
— Bocage. Você é um romântico, não é, Bene?
— Pode-se dizer que eu sou. Eu vou sair antes, milady. Quando eu voltar, espero encontrá-la pronta para a nossa "consulta".
— Bene, espere.
Ela disse, segurando o antebraço dele.
— O que houve?
— Me dê um beijinho antes de sair.
Ele deu um riso único.
— Só um, tudo bem? Não podemos ficar mais sujos e nem fazer mais barulho.
Benedict lhe tocou com as duas mãos em sua face e lhe beijou, delicadamente. Ele se vestiu e deixou-a de novo ali.
Ele não poderia fazer nada em relação ao cabelo molhado, mas cuidou de estar bastante arrumado. Não queria que o barão ou outros empregados pudessem vê-lo desajeitado.
Cuidou para que seu plano saísse como ele tinha desejado, queria tirar Harriet daquela casa, longe das preocupações dela e dos pensamentos sobre aquele casamento forçado. Ele entendia que promover o bem-estar de Donaldson era seu verdadeiro fim. O barão de Averminster o dera à Harriet como um presente de compensação por casá-la forçadamente com Cassian, mas ele não sabia que Benedict seria o melhor presente de compensação possível.
O carro já estava ali na frente e a viagem seria longa.
Benedict entrou e Cassie o parou, chamando-o antes que ele subisse para chamar a Donaldson.
— O que foi, Cassie? — Ele disse, parando de andar em direção à escada.
— Você tomou banho de novo? E que marca é essa no seu pescoço?
— Banho?
— É, está com o cabelo molhado de novo.
— Ah, eu mesmo molhei o cabelo. Foi um acidente hoje mais cedo, antes de minha lady acordar. E a marca foi uma sanguessuga que eu encontrei hoje no jardim. Obrigado por se preocupar, Cassie, você é muito bondosa e uma ótima amiga.
O loiro voltou ao seu percurso enquanto a ruiva o via subir.
Para Cassie, tudo o que ele tinha dito, desde a história da sanguessuga até o cabelo molhado eram mentiras.
Cassie sabia bem o que era aquela marca e por isso se preocupava.
E por isso, seu coração doeu quando Clement chamou a Mills de sua amiga. Pois para ela, dentro de seu coração e de sua mente, aquilo era uma mentira.
O rapaz encontrou Harriet vestida em um vestido verde que lhe cobria até o pescoço e no qual ela se sentia livre.
Era o favorito dela.
— Podemos ir? — Ele indagou.
— Claro que sim! Estou curiosa sobre esse lugar pra onde vai me levar. Que más intenções você tem, Benedict Clement?
— Eu? Nenhuma. Eu só quero o seu bem-estar, milady.
— Vou acreditar em você.
A moça se levantou e seguiu na frente do rapaz loiro, descendo pelas escadas. Cassie Mills ainda estava lá, no mesmo lugar e lançou um rápido olhar para o casal.
Harriet notou aquele olhar e ignorou Cassandra em seguida, saindo da mansão com Benedict. O carro seguia para longe de Averminster.
Com exceção da vez que foi à casa dos Rutherford, Harriet nunca tinha saído de casa e ido tão longe.
— Estamos indo para fora de Ethela? — Ela perguntou ao loiro, que observava a paisagem e conforme a velocidade do veículo aumentava, seu cabelo secava com o vento. Ela o achava extremamente bonito,Benedict lhe era uma miragem.
— Se eu tivesse dinheiro, a levaria para fora de Ethela. Mas não tenho tanto assim.
— Gastou seu dinheiro para me levar à este lugar?
— Sim.
— Bene, não precisava. Você precisa cuidar de sua mãe e pagar suas dívidas. Eu vou pagar tudo o que gastou quando receber seu salário amanhã.
— Não se preocupe, milady. Minha dama é minha prioridade, não precisa me devolver.
— Eu farei questão de que tenha esse dinheiro de volta e não insista. Eu mando em você, se esqueceu?
Benedict se constrangeu por um minuto, mas sorriu, logo após.
— Tudo bem, Lady Donaldson. Eu não vou protestar.
— Ótimo. — Harriet disse, com os olhos voltados para a pequena janela.
Benedict riu baixo, ainda a olhando. Harriet era dominadora, ousada e obstinada até quando tentava ser doce e tenra. E ele achava aquilo engraçado e de certa forma, bonitinho.
O percurso não foi muito longo, mas Harriet estranhou o lugar onde vieram parar.
— Uma estação de trem? Por que estamos aqui?
— Ora, porque essa estação irá parar no lugar que eu tenho que levá-la.
— Aonde está me levando? Tem certeza de que não vamos além de Ethela?
— Absoluta, milady. Absoluta.
Já o percurso daquele trem, quase vazio, não tinha sido longo.
Mas o lugar em que pararam era extremamente desconhecido e remoto.
Era um campo, florido, repleto dos lírios que Benedict tinha plantado quando ela o conheceu. Os lírios de uma cor âmbar, como seus olhos.
— Harriet, me siga! — Ele a chamou por seu primeiro nome, porque ali não eram servo e senhora. Não eram Clement e Donaldson. Não havia uma relação de poder e domínio e a luxúria de pouco tempo atrás também não era o que estava mais presente entre eles.
Eram Harriet e Benedict, livres de preocupações, convenções e obrigações.
Corriam junto com o vento por aqueles lírios até uma pequena casa, à beira de um lago em um dia de sol e céu azul.
Como eram azuis os olhos dele e como eram sol os dela.
— Eu nunca tinha vindo aqui antes! — Harriet disse.
— Eu sei. — Ele sorriu. — Só eu sei desse lugar, é meu lugar secreto. Bem, agora é nosso.
Clement abriu a porta da casa, que era pequena, mas tão bem cuidada por ele.
Ela entrou no lugar, encantada pelo fato de como aquele espaço pequeno lhe era mais aconchegante do que a mansão Donaldson.
Passou as mãos pelo piano enquanto andava ao redor dele.
Benedict por sua vez, mexia numa prateleira repleta de livros.
— Você tem cuidado disso desde quando?
— Desde que meu pai morreu, há cinco anos, mantenho esta casa. Ela foi abandonada por algum rico e como ele não veio aqui de novo, se tornou meu refúgio.
O loiro tirou um livro da prateleira. Estava em um idioma estranho para Harriet, mas tinha capa azul.
— Me perguntou se era um homem de poesia e me disse que era uma mulher de poesia também. Já leu Camões?
— Não o conheço, mas adoraria que lesse para mim. — A Donaldson sorriu, interessada.
— Ótimo, sei o lugar perfeito. Se permitir que eu a leve lá, é claro.
— Se não for perigoso, eu quero ir até lá sim.
— Não é, milady, não é.
Saíram de novo do local e lá fora encontraram um barco. Era ali que ele leria para ela, enquanto os dois, pelo lago passeavam.
O lago era pequeno e cristalino e o pequeno barco só ia até uma margem e então voltava. E Harriet, encantada, ouvia-o declamar para ela aquelas palavras enquanto o vento soprava e o sol brilhava.
Vossos olhos, Senhora, que competem
Com o Sol em beleza e claridade,
Enchem os meus de tal suavidade,
Que em lágrimas de vê-los se derretem.
Meus sentidos prostrados se submetem
Assim cegos a tanta majestade;
E da triste prisão, da escuridade,
Cheios de medo, por fugir remetem.
Porém se então me vedes por acerto,
Esse áspero desprezo com que olhais
Me torna a animar a alma enfraquecida.
Oh gentil cura! Oh estranho desconcerto!
Que dareis c' um favor que vós não dais,
Quando com um desprezo me dais vida?
Harriet o olhava com os olhos brilhantes, cheios de vida em seu âmbar tão marcante. Benedict, como prometeu pela manhã, tinha curado-a física e mentalmente.
— É tão bonito... Isso tudo. Você, esses sonetos. Não me canso de ouvi-lo falar isso para mim. — Ela disse.
— Eu já li tantos. Mas sempre me pede para ler mais um. — Ele riu. — Se eu ler o livro todo, não vamos estar na mansão à tempo.
— Eu nem gostaria de voltar mesmo, mas já que insiste, paramos nesse.
A expressão dela mudou de uma felicidade e de uma paz contagiante para a de decepção e tristeza.
— Espere... Posso ler o meu preferido. Aquele que me faz pensar na moça mais linda que já vi quando o leio.
Harriet então sorriu, desfazendo a decepção em seu rosto que era lembrar-se da mansão.
— Essa moça tem sorte então e eu tenho sorte de o ouvir.
Benedict sorriu, discreto e voltou os olhos para o livro.
Mas a verdade era que a sua musa estava bem em sua frente. E como ele sabia o poema de cor e salteado, declamou-o olhando em seus olhos que como fogo, cintilavam.
Quem vê, Senhora, claro e manifesto
O lindo ser de vossos olhos belos,
Se não perder a vista só com vê-los,
Já não paga o que deve a vosso gesto.
Este me parecia preço honesto;
Mas eu, por de vantagem merecê-los,
Dei mais a vida e alma por querê-los;
Donde já me não fica mais de resto.
Assim que Alma, que vida, que esperança,
E que quanto for meu, é tudo vosso:
Mas de tudo o interesse eu só o levo.
Porque é tamanha bem-aventurança
O dar-vos quanto tenho, e quanto posso,
Que quanto mais vos pago, mais vos devo.
— Foi o poema mais lindo que já ouvi. — Ela disse, quando ele tinha acabado. Falava com seriedade e com paz, ao mesmo tempo, em sua voz. — Você lê com todo o sentimento possível, como se captasse a essência do poema e sentisse o que essas palavras passam.
— É mesmo? Eu fico bastante contente por vê-la tão feliz assim.
E então, aproximando o rosto do ouvido dele, ela riu baixo.
— Você beija bem, é bonito, é um ótimo amante, sabe declamar poemas, tem boas ideias e é um médico. Que outros talentos me esconde?
Ele também rira.
— Eu não sei. Mas se milady quiser, eu arranjarei todos os talentos do mundo para fazê-la feliz.
— Cite um que eu ainda não conheça.
— Meu pai dizia que sou um bom músico, quer comprovar?
— E eu canto e danço. Acho que formamos um duo perfeito.
Os dois voltaram à pequena casa, sem ver que o tempo tinha passado. Um deles sentou-se para tocar piano. A outra, levantou-se para dançar, liberta e alegre.
Benedict, como o próprio tinha sugerido, era músico. E Harriet, bailarina e cantora.
Harriet se sentia feliz.
Se sentia mentalmente sã.
Se sentia livre.
E acima de tudo, se sentia amada.
Quando o sol estava quase se pondo, os olhos de Harriet também se fechavam, com cansaço.
E eles se fecharam por muito tempo durante a viagem de volta.
Clement a carregou com cuidado até o quarto e com cuidado, deitou-a em sua cama.
— O dar-vos quanto tenho, e quanto posso, que quanto mais vos pago, mais vos devo. — Ele repetiu as mesmas palavras do poema que tinha lido para ela e de forma tenra, lhe beijou a testa. — Boa noite, Lady Donaldson.
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