CAPÍTULO XXX
— O que ele está fazendo acordado a essa hora? — perguntou Joe, na língua oficial.
— Ele é assim... — explicou o guarda, também em grego. — Dorme a hora que quer, só come alguma coisa se for obrigado. Ninguém nunca sabe se ele escuta ou entende o que nós dizemos, nunca ouvi ele dizer uma única palavra. Ele só... existe.
— Uau, quanto esforço pra manter ele vivo — ciciou Melina, em português, aproveitando-se da oportunidade de reclamar em um idioma que o ouvinte não entende.
Calisto pediu para que o vigia se retirasse e ele obedeceu, alertando sobre possíveis comportamentos agressivos vindos do prisioneiro.
— Me lembrem, por favor — pediu a garota, quando finalmente estavam a sós com o antigo general —, por que não podemos simplesmente entrar na mente desse desgraçado?
O príncipe puxou o ar e caminhou até a cama, sentando-se nela, com os olhos atentos ao velho decrépito. Começou a explicar:
— Bom, você pode imaginar que a mente de uma pessoa é como uma casa. Dessas ao estilo classe média americana, sem muros nem portões e com a porta principal aberta para visitas. O quintal é como o primeiro nível. Lá estão todas as informações básicas sobre alguém. Quem são, de onde vêm, que língua falam e coisas do tipo. É como aprendemos idiomas. O interior da casa é como segundo nível. Lá estão os pensamentos corriqueiros, coisas que são pensadas no momento e logo se vão. Mas imagine também que dentro dessa casa há um cofre. Mesmo que o dono receba visitas de bom grado, o cofre permanece trancado na maior parte do tempo e só é aberto intencionalmente. Lá estão as memórias, no terceiro nível. Uma vez aberto o cofre, dentro dele há uma chave. Ela é o poder de controlar a mente e as ações de uma pessoa. O quarto e último nível. Veja bem, se você tiver o poder necessário, pode trancar a sua porta de entrada e construir muros ao redor de sua casa. Isso, é claro, em nós. Humanos são completamente abertos à manipulação e fáceis de controlar.
— Você já teve de controlar algum humano? — Melina desviou a atenção de Nero. A curiosidade era maior.
— Algumas vezes. A mais interessante foi quando tive de convencer a Polícia Civil do Rio Grande do Sul de que Joseph nunca esteve desaparecido, apenas estava morando em um internato na Itália. — Deu de ombros e voltou ao assunto, apontando com o pé para o homem. — Esse cara não tem mais o poder de proteger a própria mente. Quem ele é e o que pensa está aberto à visitações. Mas, em compensação, também não tem capacidade intelectual de abrir o cofre. Enrão, ele está eternamente trancado. — Suspirou novamente. — Eu poderia abrir, mas seria uma tortura para ele e requeriria uma atenção a mais da minha parte para que ele não tivesse um AVC e morresse no processo.
A menina analisou o tio. — Se fosse uma decisão sua, você faria isso, não faria?
— Sim. — Lançou-lhe um longo olhar. — Acha que eu sou uma pessoa ruim por causa disso?
Melina andou até o senhor inválido, e abaixou o tronco para vê-lo melhor, passando a mão na frente do rosto dele, para ver se ele esboçava qualquer reação.
— Acho que ele já fodeu demais com minha vida — ela respondeu, endireitando o corpo e olhando para o príncipe. — A pessoa ruim aqui é ele.
— Às vezes vocês dois me dão medo... — confessou Joe, sentando-se ao lado de Calisto. — No que ele tá pensando?
— Sopa.
Franzindo o cenho diante da resposta, juntamente com uma expressão de desgosto no rosto, a princesa disse: — Tá, né... Podemos?
Estendeu a mão para seu amigo, que tirou, da mochila que levava, a lira. Os dois homens puseram o velho sentado sobre a cama junto deles e assistiram com curiosidade e expectativa quando a menina ajeitou a postura, segurou o instrumento no braço esquerdo e posicionou os dedos da mão direita sobre as cordas de aço.
Era uma melodia bem simples, na verdade. Apenas cinco acordes tocados em forma de dedilhado. Toda a questão era a intenção com a qual era tocada.
E Melina sabia que precisava que aquilo funcionasse. Sua paz dependia daquilo.
Nero olhou diretamente para o instrumento quando o primeiro ré maior foi tocado. Parecia estar em uma espécie de transe, com os olhos bem focados e a boca não mais aberta. Toda a frieza da cela desapareceu naquele instante. Ainda era alta madrugada, mas algum calor preencheu a sala, dando aos presentes a mesma sensação de quando a pele se encontra com os raios de sol pela primeira vez no dia.
Então, diante da resposta positiva, a garota pôs toda a sua alma e vigor na voz e cantou a curta letra.
"Que te deleites em meu canto, arcitenente
Rebento de Zeus, chama ardente
Tu, que te assentas entre os imortais
Se do som da lira te compraz
Salve o enfermo, cure o doente
Então, te cantarei eternamente."
Terminou seu solo e esperou.
Nada.
O idoso voltou a se entreter com a parede branca e babar.
Teve, então, a atitude mais equilibrada possível. Caminhou para mais perto do tritão e flexionou o joelho direito, puxando-o para cima e o cravou no peito de Nero com furor. Não sendo o suficiente, enquanto ele curvava seu corpo para frente, com gemido e um engasgo, e punha as mãos no local atingido, Melina desferiu um pontapé mais forte do que o necessário no meio de suas pernas, o fazendo gritar de dor.
A garota se virou, com fúria nos olhos, bateu a lira contra o peito do garoto loiro, entregando-a a ele e saiu da cela, marchando pelos corredores da prisão com ódio.
🔆
As águas do lado de fora da prisão pareciam especialmente turbulentas. Os guardas informaram que a princesa havia passado por eles como um furacão e entrado no iate.
Joe encontrou Melina de braços cruzados, com a face transtornada em ira, sobre a cama de uma das cabines. Sua postura não dava nenhuma abertura para conversa, mas, mesmo assim, ele se aproximou, agachando-se sobre a planta dos pés para ficar na altura dela.
— Você foi magnífica. De verdade — começou a confortá-la. — Eu não saberia fazer melhor!
— Fui tão bem que deu errado! - Deu-lhe um sorriso cínico.
— Não por sua culpa. Tu foi muito bem! Só... não é sua área de competência, é a minha. Eu quem deveria dar um jeito na cagada que fiz ao invés de jogar a responsabilidade pra cima de você.
Melina descruzou os braços. — Não foi uma cagada. Você fez o que era necessário.
— Pode ser... — disse, pensativo. — Infelizmente, agora já era. Mas fica tranquila, não é porque não funcionou que é o fim do mundo. A gente arranja outro caminho pra seguir.
— Tá, faz sentido — bufou. — Mas agora eu quero ficar com raiva!
Joseph riu, desafiando a morte, e se levantou, saindo da cabine, deixando-a sozinha para que reorganiza-se seus pensamentos. Parecia o melhor a ser feito quando ela estava naqueles momentos.
🔆
Por volta das quatro da manhã, já estavam de volta à Áza. Melina continuava trancada em sua cabine, protestando contra si mesma, mas os outros dois estavam na amurada do barco, conversando. No entanto, conforme o iate se aproximava da mansão, estranharam ao ver um grande homem fardado sair do mar em direção à casa de Rhea. Estavam longe demais para que pudessem ver seu rosto, mas o desconhecido olhou para os lados, como se estivesse garantindo que não estava sendo seguido e assustou-se quando percebeu que a embarcação real que estava cada vez mais perto. Vendo que não tinha para onde correr, o homem se aprumou e parou à entrada da residência, os esperando, tentando disfarçar.
Quando desceram do barco, Joe reconheceu o tritão pela vestimenta e pela forma militar como reverenciou os dois integrantes da família real.
— General Otávio! — saudou o príncipe. — Senti sua falta ontem conosco. Por onde andou?
— Eu estava... em missão oficial. Assuntos de Áza, se é que me entende.
Apenas olhando para Calisto, Joe podia dizer que ele entendia. Entendia que estava mentindo, ou, no mínimo, escondendo alguma coisa. Mas ele apenas concordou com a cabeça, como se estivesse satisfeito com a resposta.
— Voltei o mais rápido possível — Otávio continuou dizendo — para não perder a passagem da princesa pela nossa ilha. É uma honra tê-la aqui, Alteza.
Curvou-se novamente e Melina lhe deu o aceno e o sorriso mais falsos do universo.
— E por que que tu tá na casa da Rhea? — perguntou o rapaz.
— Tenho de passar o relatório para ela — justificou-se.
— Essa hora da manhã? — rebateu o semideus.
— Ela é uma mulher de hábitos matinais. Logo logo deve estar acordada.
Joe estava curioso para saber o que ele aprontava. Esperava que fosse um caso secreto, seria mais divertido. Porém, suspeitava que fosse algo sério.
Após alguns segundos de um clima estranho, entraram todos na casa e o general se encaminhou na direção do escritório enquanto o restante do grupo decidiu que aproveitaria as duas horas restantes para descansar.
🔆
Quando Melina acordou novamente, estava mais tranquila. Não estava mais com tanta dor de cabeça e nem tão enraivecida. A frustração ainda a assombrava, mas tentou acreditar no que Joe havia dito para não se culpar tanto pelo fracasso da noite.
Anastasia arregalou, disfarçadamente, os olhos quando encontrou Joe dormindo junto de Melina, mas não disse nada. A ajudou a escolher uma roupa para o longo dia que teriam. Escolheu um vestido preto para expressar sua tristeza pela madrugada e seu ânimo para se encontrar com o senhor de Thalássa. Mal podia esperar para ver como seria horrível passar uma manhã inteira com Memnon.
Pelo menos veria novamente as fontes de água salgada. Haviam sido o motivo de seu sequestro, mas ainda gostava delas. Também não dormiria lá. Teria de tolerar aquilo por apenas seis horas.
Terminou de se arrumar. Acordou o garoto cansado. Tomaram café em silêncio.
Imaginou que Calisto já deveria ter informado sua mãe sobre os não resultados da empreitada à prisão, mas Cibele não disse nada a respeito. Melina preferia assim. Não queria tocar no assunto tão cedo e sua mãe a conhecia bem o suficiente para saber disso.
Já no embarque, o general Otávio estava lá para para despedir-se também. Joe havia dito para ela que descobriria o que ele estava fazendo no dia anterior nem que tivesse de descer até o Hades para isso. Sentia que parte da determinação dele era apenas para animá-la e dar a ela um novo propósito, na esperança de que ela se distraísse do ocorrido. Melina agradeceu internamente pela atitude dele. Era bom ter um novo foco e uma nova motivação.
— Alteza! — chamou Rhea, enquanto Otávio conversava com Cibele e os outros estavam entretidos em conversas corteses, alto apenas o suficiente para Melina escutasse e se vira-se para ela. — Sei que acha que minhas opiniões são radicais demais. Mas não precisa concordar comigo. Quando chegar à Mínyma, pergunte ao Tyro sobre a filha dele e tire suas próprias conclusões. Depois disso, se assim o desejar, é livre para voltar à minha casa e deixar que eu lhe explique com mais calma o meu ponto de vista.
Não sabia o que deveria responder. Tyro não havia dito nada sobre uma filha e ele parecia o tipo de idoso que gosta de se gabar de seus filhos e netos. Ou, talvez, ela estivesse errada e ele fosse do tipo reservado.
— Talvez eu realmente volte — disse, acenando com a cabeça.
Se a intenção de Rhea era plantar uma semente de curiosidade no coração da princesa, ela teve sucesso pois, foi com a mente à mil que Melina embarcou, rumo à Thalássa.
🔆
Se tivesse de escolher um termo para definir a manhã, seria: lenga-lenga.
Memnon não parecia muito disposto e nem feliz com aquilo. Não poderia julgá-lo. Se antes a princesa ia para cada cidade animada e disposta a conhecer tudo e todos, lá, quase implorou para que alguém acabasse com aquilo o mais rápido possível.
Felizmente, o governante da ilha também não queria estar lá, então encerrou tudo o mais rápido que pode.
Melina salvou algumas informações importantes sobre o lugar: pesca, muito dinheiro, muito grande, deuses bem antigos de monstros bem grandões. Poseidon era o deus principal ali e o povo parecia se vangloriar bastante disso. Ostentavam as imponentes estátuas do Olimpiano onde fosse possível. E isso era: em quase todo lugar.
Reparou que o velho tritão não quis exibir muito seu exército, coisa que achou estranha. Porém, pelo pouco que foi permitido ver e pelo que lembrava da prisão, era impressionante. Muito mais do que o necessário. Um poderio militar, de fato, preocupante caso ele quisesse começar uma revolta do nada.
Queria muito não ser neurótica, mas as circunstâncias não colaboravam. Imaginou que a paranóia dos que a cercavam tivesse sido o que a manteve viva por tanto tempo.
Agora era sua vez de também estar atenta a tudo e a todos.
🔆
Joe não era do tipo que rezava. Sempre pensou que, se seu próprio pai não estava disposto a responder suas preces, por que o resto do panteão estaria? Mas naquela manhã rezou para ir para a casa de Memnon o mais rápido possível. Não esperava ser atendido, mas foi. Agradeceu a qualquer que tivesse sido o deus responsável pelo tempo que havia lhe dado para fazer o que estava planejando.
Assim que desembarcaram na mansão, cada um se ocupou de fazer alguma coisa. Cibele e Agatha foram descansar e provavelmente falar mal do velho — na frente dos outros, a rainha jurava de pé junto que não fazia esse tipo de coisa, mas o garoto sabia que sim —, Calisto foi avisado do que o rapaz pretendia fazer, então chamou Melina para conversar e Anastasia e Hektor foram trabalhar.
Joe estava parcialmente escondido na dispensa quando a serva entrou.
— Ana! — ele a chamou, assustando-a.
— O que está fazendo atrás desses baldes? — ela inquiriu, com uma das mãos sobre o peito e levemente ofegante.
— Imaginei que viria pra cá. — Ela ainda pareceu confusa. — Reparei que tu limpa o quarto da Melina em toda casa que a gente chega, mesmo já estando limpo.
— Faz sentido. Mas...? — Gesticulou com as mãos para o pequeno cômodo, pendendo a cabeça para o lado, ainda tentando entender o que ele estava fazendo ali.
— Preciso da sua ajuda numa coisa.
— Ah, claro! De que precisa? — Voltou à atitude positiva e proativa.
— Sabe onde o Memnon tá?
— Ele está no quarto, mal dormiu esta noite.
— Ué! Por que? Me diz que ele tá passando mal e tá morrendo!
— Que horror! — exclamou, disfarçando uma risada. — Não, os criados disseram que ele passou o dia e a noite no escritório trabalhando. Estava negociando com alguém, mas ninguém sabe quem era. A general de Thalássa também estava nessa reunião e disseram que hoje ela foi resolver coisas em outra ilha, por isso não compareceu.
Não era uma obrigação que os generais comparecessem, era apenas educação da parte deles. Mas era bem curioso que apenas dois deles haviam faltado.
— Nenhuma descrição da pessoa? — perguntou Joe. — Alguém tem que ter visto.
— Posso perguntar por aí, se o senhor quiser.
Já tinha uma ideia de quem poderia ser. Faria todo o sentido do mundo. Mas, ainda precisava de provas.
— Quero, sim. Mas tem outra coisa também.
— Claro, sem problemas.
— Teria como você ficar de vigia pra mim uns minutos?
— Vi... gia? O que o senhor pretende fazer...?
— Quero entrar no escritório desse velho e fuxicar um pouco a vida dele.
🔆
Anastasia parecia nervosa. Definitivamente, a vida do crime não era para ela. Mas ficou alerta enquanto Joe abria a porta do escritório. Todas as mansões de todos os senhores tinham uma chave mestra. Por curiosidade, havia testado a própria chave na casa de Dorothea anos antes e confirmado que ela também servia para abrir as trancas de lá, já que todas as residências eram do mesmo modelo. Era idiotice. Ele havia trocado todas as fechaduras de sua casa assim que descobriu. Mas, pelo visto, Memnon não devia saber desse detalhe, pois a chave do garoto funcionou.
Havia ganhado tempo a mais, mas não podia vacilar. Não demorou para encontrar os registros financeiros de Thalássa (bem como previsto, aquele tritão gostava de ter tudo ao seu alcance), mas levou um tempo para compará-los. Não havia nenhum indício de alteração brusca no orçamento nos últimos vinte anos. Calisto estava certo, tudo ali batia com o apresentado.
Mas pelo que ele havia visto naquelas poucas horas da manhã, o general Adonis estava certo. Com certeza havia tido um investimento pesado no exército daquele lugar. Contudo, não tinha a menor possibilidade de ter feito aquilo apenas com o dinheiro previsto no orçamento.
Checou tudo mais uma vez. Geralmente, Thálles quem fazia aquela parte do trabalho, mas ele sabia como aquilo funcionava e não havia o menor vestígio de fraude nem de falsificação. Então, se o dinheiro não estava saindo dos cofres da cidade, só podiam estar saindo de um lugar.
Abandonou aqueles registros e procurou até achar os registros pessoais do senhor Memnon. O homem não aplicava muito esforço em esconder. Talvez porque não imaginasse que alguém invadiria seu escritório em plena luz do dia ou talvez porque não houvesse nada propriamente ilegal ali.
Mas ali estava.
Touché.
Pouco mais de uma década de transações com Áza. Compras de material bélico com dinheiro tirado do próprio bolso. Não entendia o motivo de tanto empenho, no entanto, se havia chegado ao ponto de gastar a própria fortuna com aquilo, deveria ter um motivo muito bom.
Definitivamente era Otávio quem estava ali na noite anterior. E entendeu o porquê da reunião ter sido longa. Rhea estava cobrando um valor absurdo e muito acima do mercado. Não entendia os motivos dela para fazer isso, cobrar 30% a mais do que cobrava de Iliakós e das demais ilhas. Talvez estivesse apenas vendo uma oportunidade de lucrar, já que Memnon havia aceitado comprar com um desconto de apenas 2% e comprava com uma frequência absurda. Talvez quisesse dificultar as coisas para o velho por algum motivo desconhecido. E também havia a hipótese de ter recebido uma proposta mais generosa pelo melhor que Áza tinha a oferecer.
Saiu do escritório com mais perguntas do que quando entrou.
🔆
Melina imaginou que seu tio quisesse conversar sobre o quão ruim era seu nado, mas não era nada daquilo.
Ele a levou à biblioteca da casa - onde os livros não pareciam ter sido tocados uma única vez. Sabia que aquele sempre seria o ambiente preferido dele sobre a terra. Tinha de admitir, o cômodo tinha seu charme. As altíssimas paredes verdes-água, os móveis em madeira e as mini tranqueiras decorativas davam a impressão de um local aconchegante. Mesmo que ninguém fosse muito ali.
Calisto sentou-se sobre uma das poltronas e indicou a outra, em frente à ele, com o braço para que a menina se sentasse ali. Quando ela o fez, ele perguntou:
— Como você está?
Imaginou que ele se referia à sua enxaqueca misteriosa.
— Melhor. De verdade!
— Onde e quando dói? — Estava certa. Realmente, ele queria falar sobre isso.
— Aqui assim dos lados. — Apontou com os dedos para parte da cabeça acima de suas orelhas. — E, tipo, não sei explicar.
— Pode tentar. Não quero preocupar sua mãe, mas preciso saber exatamente do que se trata.
— Dói o tempo todo. Mas, por exemplo, aqui com você, é bem menos. Quando tô só com o Joe e a Ana também, ou com minha mãe e a Agatha. É bem tranquilo, fica tudo quieto. — Encostou as costas na poltrona, relaxando a postura. — Mas quando eu tô com outras pessoas e tem todo aquele barulho, piora tudo, eu não consigo nem raciocinar direito!
Calisto esboçou um sorriso e balançou a cabeça positivamente, satisfeito com a resposta.
— Não é nada grave, né? — perguntou, ansiosa.
— Não, não é. Fique tranquila.
— Você sabe que diacho de trem é esse?
— Bom, eu sei, sim. Também já tive crises de enxaqueca. As suas vão passar em breve.
— Nossa, que alívio! E o que você fez enquanto elas não passavam? Queria outro remédio sem ser aquele chá horrível.
— Eu era só uma criança, não podia fazer nada. Mas minha mãe não viu necessidade em me medicar, ela sabia o que era.
— E o que era?
— Era o primeiro sinal de que eu seria um telepata.
**************************************
Bandeira de Thalássa
Gente, nem acredito que chegamos à 3k de leituras! Muito obrigada a todos vocês que estão lendo, isso me motiva muuuito!
Sei nem o que dizer.
Tô muito feliz!
❤️
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro