CAPÍTULO XVII
— Você está sendo muito complacente. Precisa demonstrar um pouco mais de força.
Foi a primeira coisa que o pequeno Joe ouviu ao entrar na sala de reuniões. Calisto estava sentado sobre a mesa, falando para Cibele, sentada na cadeira, na ponta. Agatha e Nicolao estavam sentados do outro lado do móvel em silêncio. Os dois conselheiros, Doris e Aristeu — que só davam o ar da graça em situações extremamente complexas — também estavam ali, encarando a rainha com total desprezo. O menino soube que havia motivo para se desesperar quando os viu ali. Só havia os visto uma única vez na vida, cinco anos antes, quando apareceram para questionar o porquê Cibele havia o recebido no palácio.
— E o que sugere que faça, Calisto? Mande executá-lo?
— Sim. Não é a lei? Uma vida por outra?
— Ninguém matou ninguém.
— Mas tentaram. Quanto tempo vai levar até conseguirem, de fato, assassinar Melina? Hoje foi o estopim! Uma completa vergonha e quase uma tragédia.
— Não vão matá-la. Conseguimos impedi-los, não conseguimos?
— Não nós. Joe. E por muito pouco. Mas, que respeito impõe em apenas prender um homem que sequestrou a herdeira da coroa? A morte ainda seria um ato de misericórdia. Seu crime é punível com exílio e você sabe disso!
— Eu não vou exilar um incapaz! O general Nero tornou-se um completo tonto. Não consegue nem mesmo falar.
— Perdão — falou, ainda na porta da sala, chamando a atenção de todos para si.
— Não tem pelo que se desculpar, ele mereceu o castigo que teve — disse Calisto.
— Você simplesmente honrou sua função — Agatha o confortou. — Deveria estar orgulhoso de si mesmo.
Era verdade. Mas, ainda assim, sentia que toda aquela confusão que acontecera mais cedo era sua culpa. Já estavam a meses trancados naquele palácio, cada vez tendo contato com menos pessoas. Melina parecia prestes a explodir com tudo aquilo. Era apenas uma criança assustada que não entendia direito o que estava acontecendo. Então, quando ela cismou que queria passear, Joe não teve escolha a não ser implorar para Cibele que os deixasse sair por um dia.
Foram para Thalássa. Melina adorava brincar nas fontes de água salgada. Estavam fortemente escoltados, em público, à luz do dia, o que poderia dar errado?
De fato, foram uma manhã e um começo de tarde perfeitamente agradáveis. Até a hora de ir embora. Melina insistiu que queria ir nadando até a capital. A pobre criança não entrava no mar há meses, apenas nadava nas infinitas piscinas do palácio. Joe não poderia seguí-la dentro d'água, mas ela era realmente muito insistente e teimosa. O general de Thalássa, Nero, se ofereceu para acompanhá-la de volta. Era um dos poucos homens de confiança, foi escolhido a dedo pela rainha para escoltá-los, então, novamente: o que poderia dar errado?
Porém, aquele se tornou o pior dia de sua vida quando retornou ao palácio e ela não estava lá. Quando todos perceberam o que ocorria, o caos instalou-se. Cibele parecia estar presente apenas em corpo. Não conseguia chorar ou tomar atitude alguma. Apenas se ajoelhou e o abraçou, dizendo que a culpa não era dele. Nunca havia visto Calisto minimamente fora de si, mas, naquele dia, a fúria o dominava por não conseguir localizá-la. Ela não estava na água, ele não conseguia sentí-la.
Não sabia ao certo quanto tempo havia se passado enquanto tudo funcionava sob os gritos do príncipe e de Nicolao, que havia sido promovido a general da capital depois de ter perdido a ilha (coisa que Joe ainda considerava ser nepotismo escancarado). Agatha consolava a rainha e uma busca intensa se dava por toda Anamar. Aos soldados foi dada a ordem de não permitir a passagem de ninguém e de nada pelas barreiras, mas já parecia ser tarde demais. Um fluxo considerável de embarcações saía de lá diariamente para pesca, comércio com o exterior e afins. Rastrearam todos eles, mas ela já não estava em nenhum.
Não encontravam absolutamente nenhuma pista. Todos pareciam sem norte até que Calisto pousou os olhos na delicada joia que Cibele carregava no pescoço. À primeira vista, era simplesmente uma fina corrente de ouro com um pingente de pérola. No entanto, aquela era a margaritis, um presente do próprio Poseidon para a primeira rainha de Anamar, que simbolizava a aliança e o bom relacionamento entre as sereias e os deuses. Mas, não era apenas um enfeite. A pequena pérola concedia ao usuário um poder descomunal. Ampliava a níveis quase divinos as habilidades do portador.
A rainha entendeu o olhar e arrancou a joia de seu pescoço, a entregando para ele. Então, ele ouviu. Escutou a voz dos pensamentos de Nero em meio a uma multidão de mentes e o localizou no interior da Itália, muito longe do oceano, onde, supostamente, o poder de ninguém o rastrearia.
Ao ouvir onde exatamente eles estavam, Joe desapareceu, de uma maneira que ninguém entendia muito bem como ele fazia, mas sabiam para onde ele estava indo. Foi o primeiro a chegar. Trazia nas costas seu arco, escondido na floresta que cercavam o casarão isolado. Não era tão imprudente, sabia que deveria esperar que os outros chegassem. Esperou cerca de vinte minutos no topo de uma árvore, até que não resistiu mais. Não poderia perder tanto tempo.
Cerca de dez pessoas estavam ao redor do imóvel, pessoas que ele reconhecia. Estavam espalhados o suficiente para que ele acertasse duas delas, liberando uma entrada, sem que as outras percebessem. Mirava no pescoço, para que morressem sem gritar, antes que se curassem. O arco era uma arma silenciosa e ele sabia ser furtivo. Conhecia toda a técnica necessária, isso não era problema. O difícil foi ver rostos conhecidos caindo mortos no gramado.
Entrou na casa, praticamente vazia, se esgueirando pelos cantos até encontrar a princesa desacordada em um dos quartos. Infelizmente, quem a vigiava era o general.
Eis a desvantagem de um arco e flecha: numa luta de curta distância, ele é praticamente inútil. Lutou contra ele, dando o seu melhor, mas não parecia ser o suficiente. Anos de experiência o tornaram um adversário implacável. Já estava com um ombro deslocado e nocauteado por uma chave de braço quando fez uso de sua carta na manga. Não treinava aquilo e não usava desde a luta contra Nicolao. Então, quando desejou que Nero ficasse louco, não sabia direito do que era capaz. Não conseguiu controlar o dano. O condenou a ser um completo demente inválido pelo resto de sua vida.
Mesmo com o homem caído no chão como um completo abobado, os outros haviam encontrado os companheiros mortos e já podia-se ouvir seus passos apressados se aproximando. Não poderia lutar contra todos ao mesmo tempo. Abraçou Melina e desapareceu dali.
Caiu no chão da sala do trono, onde Cibele ainda estava completamente em torpor. O príncipe, junto com o general e os soldados haviam saído, atrás deles. A rainha agarrou a filha, que acordou completamente atordoada. Quando esta se lembrou do que aconteceu, a tempestade começou. Ela sempre fazia isso quando perdia o controle de suas emoções. O que era um terrível incômodo para quem tinha uma cauda. Por isso, a rainha era responsável por manter o clima estável e sem chuvas dentro das barreiras. Normalmente, Melina descontava apenas sobre o palácio e sua mãe conseguia pará-la rapidamente. Mas, naquele dia, choveu em toda Anamar e Cibele também não estava em seu melhor momento para contê-la.
Felizmente, tudo acabou bem. Alguns dos que estavam na casa fugiram, outros foram presos junto com o general Nero e Joe conseguiu acalmar o espírito de Melina com música para que Cibele fizesse a tempestade parar.
— Como ela está? — perguntou a mãe da menina.
— Mais calma. Saí de lá quando ela dormiu.
— O príncipe tem razão — Doris declarou, voltando ao assunto. — A falta de punição adequada é um incentivo para que outros façam o mesmo.
— Já executamos o primeiro que tentou matá-la, o criado que estava envenenando sua comida. De que adiantou? — a rainha argumentou.
— Não nos lembre de mais um exemplo de sua incompetência! — falou Aristeu. — Não foi esse o episódio em que a princesa passou semanas adoecendo e ninguém sabia o motivo? Foi necessário que o pai dela viesse pessoalmente curá-la. Só então você ficou sabendo do envenenamento.
— Apelou aos deuses pois não foi capaz de resolver sozinha — Doris continuou. — Deveria se envergonhar!
— Não há necessidade de serem grosseiros. — Calisto saiu em defesa da irmã. — Vieram para ajudar ou para apedrejar sua majestade?
— Estamos ajudando! — disseram os dois ao mesmo tempo.
— Bom, e o que sugerem que eu faça? — Cibele perguntou, levemente indignada.
O silêncio pousou sobre eles. A verdade é que nada assim nunca havia acontecido. Ninguém sabia direito o que fazer. Bem, Joe tinha uma ideia, mas não haviam simpatizado muito com ela.
— Eu tenho uma ideia — falou o menino, quebrando o climão. — Mas vocês não querem, né...
— Eu não vou exilar minha filha!
— É só por um tempo.
— Mesmo assim!
— Joseph — Calisto tomou a palavra — , eu realmente não consigo ver algum benefício em viver entre os humanos. Mesmo que temporariamente.
— A gente tem internet.
— Não parece um bom motivo para jogar uma maldição sobre minha filha.
— Eu sei! Mas quer fazer o que? Trancar ela numa torre pelo resto da vida? — Exaltou um pouco o tom de voz, mas sentia liberdade de fazer isso com Cibele, mesmo que ela fosse a rainha. — Já faz quase um ano. Ela não aguenta mais. Nem tu aguenta.
— Minha resposta ainda é não. Lamento.
— Ele está certo — Nicolao falou, pela primeira vez na reunião. — Ninguém aqui é confiável. Ela não está segura.
Joe estava em choque ao ver Nicolao apoiá-lo, mas não iria reclamar.
— Eu não vou me afastar da minha filha! O que deu em vocês dois?
— Ela tá vivendo igual uma bandida numa solitária. Bah, isso não é vida.
— Vamos lá, Cibele, Calisto, vocês sabem que seria muito mais seguro — completou Nicolao.
— Essa sua ideia é loucura — constatou Calisto.
— Mas é uma ideia burra?
Ponderou sobre a pergunta do garoto. — Não. Não é.
— Viu? — Se virou para a rainha, implorando. — Por favor, se ela ficar aqui vai acabar morrendo.
A mãe de Melina sabia bem disso. Sabia que aquela era a alternativa mais segura. Mas, doía só imaginar viver sem a filha por tempo indeterminado.
— Não é tão simples... Precisaríamos de um adulto de confiança para cuidar dela, um feiticeiro, documentos falsificados, um local estratégico...
— Eu cuido de tudo isso! — Joe interrompeu. — Juro pra você que vai dar certo.
— Ótimo, jogue a responsabilidade sobre uma criança — Aristeu bufou.
— Vem cá, e tu já não passou da idade de morrer, não? — Sabia que não deveria desrespeitar os mais velhos, mas não gostava nem um pouco de ser chamado de criança. Já era um pré-adolescente.
— Caso não saiba, garoto — falou Doris —, é com a idade que vem a sabedoria. Temos muito orgulho dos nossos cento e oitenta anos bem vividos!
— Não sei que sabedoria. Enfiaram ela no cu né?! Porque vocês não ajudaram em nada, vieram aqui só pra falar merda.
Viu os olhos da rainha e dos conselheiros se arregalarem, enquanto o restante das pessoas ali seguraram o riso.
— Voltando ao assunto! — exclamou Cibele, elevando a voz, antes que os dois velhos infartassem de raiva. — Temos muito a resolver. Quem mandaremos para cuidar de Melina?
— Eu vou. — Para a surpresa de todos, Nicolao se voluntariou.
— Você não pode ir. É necessário aqui — disse Calisto.
— E quem mais há disponível que seja confiável o suficiente para a função? Vocês podem arrumar outro general.
— Tio, você sabe que teria de se submeter ao exílio também, não sabe? — a sobrinha de Nicolao perguntou.
— E quanto aos seus filhos? — indagou Agatha.
— Não criei homens moles! Eles vão sobreviver sem mim. Sei ao que estou me propondo e estou disposto.
— Disposto a morar comigo? — o loirinho questionou, incrédulo.
— Ah, não. Você não vai — Calisto o advertiu.
— Como assim eu não vou?
— Ele não deve ir? É o juramento que ele e eu fizemos.
— Eu sei, Agatha. Mas ele seria a primeira pessoa de quem iriam atrás para encontrá-la — Calisto seguiu explicando. — E ele tem um agravante. Ele existe. É muito mais fácil de rastrear.
— É claro que eu existo. Mas o Nicolao também, ué.
— Legalmente falando? Não. Nenhum de nós existe. Mesmo falsificando seus documentos, você ainda tem uma digital no sistema, um passaporte, um rosto que saiu nos jornais e uma família relativamente conhecida. Um alvo fácil demais para alguém empenhado em uma busca.
— Ele está certo, Joe. Sinto muito — proferiu Cibele, tentando confortá-lo. — Mas, se vamos realmente cometer essa loucura, quero que organize tudo. Deixe-me saber apenas o essencial. Quanto menos pessoas souberem, melhor.
O menino suspirou de alívio ao ver a rainha se render. Ele havia sugerido isso desde o começo do atentados e ela nunca aceitava. Porém, julgou que o desespero de perder a filha por algumas horas tenha a ajudado a reconsiderar a proposta.
Ouviram Doris e Aristeu murmurarem em desacordo.
— Agradeço os "conselhos", mas eu ainda sou a rainha! Se eu decido confiar nele, resta a vocês dois acatarem minha decisão.
Pôde ver o príncipe sorrir com o canto dos lábios, orgulhoso da irmã. Aqueles momentos em que ela se posicionava com firmeza eram raros. Geralmente, se portava apenas como uma mulher gentil e maternal. Não como a mais alta autoridade de Anamar.
Assim, a partir daquele fatídico dia, foi organizado todo o plano para manter a princesa escondida e em segurança.
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Calisto explicou isso tudo para Melina, enquanto almoçavam. Sempre foi um bom mestre. Joe sempre nutriu uma profunda admiração e respeito por ele. Ele quem havia o ensinado a falar grego e italiano, além de ensiná-lo a lutar. Também se responsabilizou por sua educação básica enquanto morava no palácio. Se aquele menino passou no vestibular para medicina quando ainda estava no primeiro ano do ensino médio, foi graças às infinitas horas que o príncipe investiu na sua formação intelectual.
Também havia ensinado Ikaro. Mas o tritão não era tão genial quanto o semideus. Joe tinha a impressão de que Sua Alteza Real gostava de apadrinhar crianças e transformá-las em projetos pessoais. Naquele mesmo momento, olhava para a princesa com um olhar sonhador enquanto discursava sobre as infinitas possibilidades do que ela era capaz.
Mas ela não parecia prestar muita atenção. Ainda aparentava estar reflexiva sobre tudo que havia sido falado até então.
Sobre como prenderam o primeiro a envenená-la, e como ele disse que fazia parte dessa organização, a Rhíza, mas ninguém acreditou. Então, envenenaram sua roupa, e ela só sobreviveu por muito pouco, graças às mãos abençoadas de uma curandeira (nesse dia, Joe decidiu que seria médico). Certo dia, encontraram a piscina do pátio de sua oikós recheada com peixes mortos e a cabeça de uma estátua de Apolo em frente a ela, junto com um manifesto.
O texto dizia basicamente o seguinte: detestavam como as coisas funcionavam. Acreditavam piamente que deveriam voltar para o fundo do mar, de onde nunca deveriam ter saído. Acreditavam que não deveriam ter toda essa dependência dos deuses. Acreditavam que todo o conforto proporcionado estava os tornando cada vez mais fracos.
Infelizmente, não estavam errados quanto à última parte. Antigamente, todos eram telepatas, controlavam o clima, possuíam força e velocidade sobre humana, seu canto era capaz de pôr os humanos em completo transe e viviam muito mais do que a média de cento e cinquenta anos. A comodidade de viver na superfície fez com que as novas gerações fossem nascendo cada vez mais fracas. Afinal, quem precisa ler a mente do outro se pode apenas pôr a cabeça para fora d'água e falar normalmente?
A esmagadora maioria em Anamar não era nem mesmo capaz de vencer um tubarão branco — como foi o caso da esposa de Nicolao, quando se aventurou em mar aberto —, apenas alguns entre o povo conseguiam fazer coisas como manipular a água, ler o primeiro nível da mente (onde se aprende o idioma e outras informações sobre alguém), e afins. Tanto era, que foi necessário criar uma segunda barreira. A primeira foi posta pelos deuses e impedia que humanos achassem as ilhas. Mas, a segunda, teve de ser criada por eles mesmos, para impedir que animais marinhos ou monstros passassem. Alguns seguidores de Hécate a sustentavam, mas nem sempre eram fortes o suficiente. Como quando a Hydra resolveu atacar.
O poder verdadeiro, aos poucos, foi concentrado na linhagem real e nas famílias nobres e de senhores de ilhas. Estes, precisavam provar seu valor para manter o título. Em uma emergência, precisariam defender Anamar. Não havia espaço para fraqueza.
Mas, o restante da população, simplesmente não se importava. Adorava cegamente aos deuses e eram fascinados pelos humanos. Como os primeiros cidadãos eram.
A Rhíza repudiava Cibele por ser uma fiel devota das divindades. A tal ponto, que ela chegou a renunciar seu direito ao trono para ser sacerdotisa de Apolo em Ilíakos. Quando ela foi obrigada a voltar e se tornar rainha, todos sentiram uma posição muito mais liberal da parte dela. Deixava que todos fossem livres para viver aquela utopia, mesmo que isso os enfraquecesse.
Mas a gota d'água foi quando descobriram que ela estava grávida de um deus. Pode não parecer tão estranho, já que os deuses têm como hobby fazer filho desde os tempos antigos. Mas eles nunca haviam tido esse tipo de relação com uma sereia ou tritão (talvez pela possibilidade de nascer um ciclope). Os deuses desciam para um banquete em Anamar a cada cinquenta anos, para manter a boa relaçã. E, na última reunião, Apolo e Cibele resolveram se aventurar, concebendo a princesa.
Assim, Melina tornou-se a representação de tudo que a Rhíza abominava e jamais aceitariam tê-la governando sobre eles. Juraram matá-la, como símbolo da nova era que pretendiam inaugurar. Ninguém sabia ao certo como eles fariam isso. Após a princesa ir embora, atacaram templos, sacerdotes e nobres, mas pararam de repente. Joe acreditava que estavam se organizando para algo muito maior.
— E por que ninguém pode saber que eu tô sem memória? — perguntou após finalizar o prato de espaguete de tinta de lula com camarão.
— Porque é uma fraqueza — elucidou Calisto. — Se a pessoa errada descobrir, pode usar isso para lhe contar as coisas de um jeito diferente de como realmente aconteceram. Manipulando suas lembranças.
— Entendi… E quem sabe?
— Apenas nós aqui e o tio Nicolao — falou Cibele.
Na sala de jantar estavam ele, Melina, a rainha, o príncipe e Agatha. A garota assentiu com a cabeça.
A mãe se levantou ao ver que todos já haviam terminado de comer e os chamou para se encaminharem para o plenário.
Saíram da casa, caminhando pelos corredores do palácio quando Joe parou e disse:
— Linda — chamou apenas Mel, que estava ao seu lado, mas os outros três pararam para prestar atenção.
— Oi!
— Toma cuidado na reunião. Aquilo lá é cobra comendo cobra.
— Também não é para tanto! — contestou Cibele. — Há pessoas muito boas ali! É só que…
— A maioria são abutres esperando pela oportunidade de devorar o seu fígado.
— Agatha!
— Ora, Bel… Ela já é adulta, não há necessidade de suavizar a verdade.
— Tudo bem… mãe. — Ainda parecia relutante em dizer essa palavra. — Posso lidar com isso!
— Se deseja um conselho — disse o tio —, não abaixe a cabeça para ninguém! Você não é uma donzela indefesa em um conto de fadas. É a herdeira do trono. Não tenha medo de agir de acordo com a sua posição.
Mel concordou com a cabeça e assumiu uma postura confiante. Mesmo assim, Joe conseguiu ver um lampejo de medo em seus olhos. Ela se esforçava para não demonstrar, mas ele a conhecia muito bem. Detestava vê-la nessa posição delicada. Por isso, decidiu que conduziria a própria investigação, já que, pelo visto, o exército da capital era formado por incompetentes. Conversaria com Melina após o jantar. Achava justo envolvê-la nisso, já que era a vida dela que estava em jogo. Não sabia direito por onde começar, tinha apenas a mesma intuição que Thálles. Mas iria começar!
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Olá, pessoinhas! ❤️
Como puderam perceber, esses dois últimos capítulos foram mais explicativos, mas espero que não tenho ficado cansativo.
Deixem um votinho, caso estejam gostando e comentem suas teorias para o futuro da nossa princesa sofredora!
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