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CAPÍTULO XVI

Thálles o informava sobre tudo o que estava acontecendo recentemente em Iliakós enquanto Joe se arrumava para a guerra. Detestava toda aquela burocracia, mas não tinha muito para onde correr. Nunca quis, de fato, ser governante daquela ilha ou tomá-la de Nicolao. Mas aquele homem havia duvidado dele e questionado sua capacidade de ser skopós da princesa. Para o azar do tritão, Joseph nunca se deixou ser subestimado.

O próprio Apolo havia o levado para lá sob esse propósito, mas era um cargo realmente disputado e aquela rinha de crianças era um momento importante em Anamar. Todos aguardavam pela competição com tamanha expectativa que a rainha Cibele não poderia pular a fase da disputa e nomear alguém, mesmo que esse alguém fosse uma indicação de um deus.

A rainha foi generosa com ele ao adiar por um ano a data do torneio. Era uma semana de competição onde dezenas de crianças de variadas idades e classes sociais disputavam entre si o tão sonhado cargo. Mas, aos poucos, os competidores foram eliminados, restando apenas ele, a loirinha estressada e o caçula de Nicolao. Joe tinha apenas sete, enquanto Dorothea e Ikaro tinham nove e dez, respectivamente. Mesmo assim, conseguiu levar a melhor contra os dois. Mesmo tristes por ver seus filhos perderem, a maioria já esperava a vitória do estrangeiro, afinal de contas, o deus da profecia não iria errar. Se ele dizia que aquele garoto seria o escolhido, então ele seria, independentemente de como isso acontecesse.

Além do mais, o crédito não era apenas do destino. Havia passado um ano treinando como um condenado para esse dia. Não era um tritão, não podia morar em Anamar. O único jeito dessa exceção ser aberta seria se ele se tornasse skopós da princesa Melina. Se não conseguisse, não teria para onde ir. Não voltaria para casa sob circunstância alguma.

Felizmente, o magnífico príncipe Calisto, o herói que havia derrotado a temível Hydra e salvado Anamar, enxergou naquela criança algum potencial. Apesar de não entender direito o significado daquilo naquela época, era um semideus. Coisa que o tornava muito mais forte e inteligente do que um ser humano comum. Mesmo que a força física de Dorothea e Ikaro superassem a dele, ainda conseguia ser mais ágil do que eles em terra e muito mais habilidoso com armas, já que foi treinado pelo melhor combatente daquele lugar.

O combate se iniciava em solo e ali ele o encerrou. Antes que aqueles dois fossem para água e tivessem vantagem de território. Eram três lutando ao mesmo tempo, o último a cair era o vencedor. Era insanidade competir contra aqueles dois, mas aproveitou-se dos ataques que faziam um contra o outro para levar a melhor. Era muito bom em se esquivar e contava com a benção de Apolo para uma mira praticamente impecável na hora de atirar flechas e facas. Dorothea foi a primeira a ser vencida e logo em seguida, Ikaro também foi derrotado. No fim, todos aceitaram a justa vitória. Menos Nicolao. Não admitia que seu filho perdesse para alguém que nem sequer era do seu povo e começava a incitar os outros ali para que achassem um completo absurdo o novo skopós ser metade humano. Mesmo testemunhando seu triunfo, não acreditava que em uma luta real, onde a vida da princesa estivesse em risco, o semideus ali fosse capaz de derrotar alguém que lutasse para matar.

Foi então que se irou. Pensando melhor, foi burrice. Já era o vencedor e o escolhido, não tinha porque arriscar tudo, mas se sentiu ofendido. Na frente de todo mundo, fez uma proposta irrecusável: Nicolao e ele disputariam em um duelo e, caso o menino perdesse, desistiria de tudo e a vitória iria para Ikaro, que havia ficado em segundo lugar. Mas, caso Nicolao perdesse, o senhorio de Iliakós passaria para o jovem Joseph. Claro que não havia usado essas palavras. Lembrava vagamente de dizer "Se tu perder, eu quero a tua ilha." e "Não quer por quê? Tá com medinho?". Obviamente, Nicolao aceitou. Naquela época, era orgulhoso demais para deixar que pensassem que temia perder para uma criança.

Marcaram a disputa para o outro dia e, novamente, teriam uma plateia ávida. Porém, dessa vez, ninguém acreditava na vitória do garoto — talvez nem ele mesmo. O tritão tinha um ponto: vencer duas crianças era uma coisa, lutar contra um adulto era outra. Em especial, aquele adulto ali. Nicolao não era nenhum telepata como Calisto, não manipulava o clima como Cibele ou qualquer coisa do tipo. No entanto, possuía uma força descomunal, até mesmo para um tritão, uma capacidade incrível de regeneração e era implacável com um tridente. Era uma máquina de combate. Seria suicídio enfrentá-lo e a rainha fez questão de frisar isso. Mas já era tarde demais, não poderia voltar atrás na aposta já que era igualmente orgulhoso.

Todos vibravam ansiosos pela disputa na arena. O povo de Pólemos realmente adorava uma boa briga. Mas ali também estavam nobres de todas ilhas e da Capital, apenas aguardando o resultado. Joe sabia que jamais poderia vencê-lo em um combate direto, então, só lhe restava usar de um dom herdado de uma das duas pessoas que mais odiava no mundo - seu pai biológico. A questão é que, as pessoas geralmente lembram de Dionísio como o divertido deus do vinho e do teatro, sempre cultuado com festas que destroem completamente, por uma noite, todo o bom costume. Mas esquecem, convenientemente, de outra coisa da qual ele era deus: a loucura.

Nicolao não era tão louco a ponto de partir para cima de uma criança, então esperava que Joe fizesse o primeiro ataque. E ele fez. No segundo em que o tritão olhou em seus olhos, para a surpresa de todos, deixou o tridente cair pesado no chão ao seu lado, sem parecer ter muito controle do que estava fazendo. As pessoas ali observavam com surpresa seu corpo começar a se mover de uma maneira estranha. Começaram a rir quando perceberam que ele dançava contra a sua vontade. Completamente fora de si. Como em Estrasburgo, no Séc. XVI, dançaria até morrer de exaustão ou perder um dos pés.

Mas ele não era seu pai. Não iria pagar para ver até onde conseguiria sustentar aquilo e arriscar a vida de Nicolao. Parou antes que perdesse o controle e o dano se tornasse irremediável. O velho homem assumiu a derrota e o estrago estava feito. As gargalhadas e a humilhação tomaram conta do ambiente fazendo com que o garoto se arrependesse de toda aquela cena. Prometeu a si mesmo que jamais usaria aquele perturbador talento outra vez. Bom, teve de quebrar a promessa.

Todavia, não poderia ser senhor de Iliakós e um skopós ao mesmo tempo. Seria praticamente impossível gerenciar as duas coisas ao mesmo tempo. Um exemplo disso era Agatha. Era a filha mais velha da senhora Astera de Pólemos, mas renunciou a seu direito de sucessão quando foi escolhida para ser skopós de Cibele. Além disso, Joe era uma criança e não fazia a menor ideia de como governar. Também não queria deixar a família de Nicolao desamparada, apesar de tudo, então deixou que continuassem morando na casa destinada ao governante e pediu para que Cibele mantivesse seus privilégios de nobres. Apesar disso, Nicolao quis se mudar com Ikaro para o palácio. Mas os gêmeos continuaram em suas funções e o menino nomeou o mais velho, Thálles, como seu regente. Ele resolvia a maior parte das coisas e Joe só se encarregava de dizer "sim" ou "não" para questões mais sérias e comparecer nas reuniões que aconteciam antes do começo de cada estação. Como aquela que aconteceria depois do almoço. Mantendo essa dinâmica de sucesso durante dezessete anos, acabaram se tornando grandes amigos nesse meio tempo, conforme Joe foi crescendo.

— Você sequer está prestando atenção? — A voz de Thálles o tirou de seus devaneios.

— É claro que eu tô! Tu tava falando de comprar... Comprar o que mesmo?

— Armas. O general solicitou.

— Por que? Já tem mais do que o suficiente. Ele tá planejando uma guerra por um acaso?! — inquiriu, terminando de vestir o blazer e se sentando no sofá em frente ao do jovem homem.

— A justificativa que usou é que ficou sabendo que em Thalássa estão investindo muito em armamento. Ele não confia naquela gente, quer estar preparado.

— Memnon realmente não é confiável. Mas ele é paranóico. Então, não dá pra saber. — Pegou um dos papéis que estavam sobre a mesa e começou a analisar os orçamentos.

— Pode ser... Mas qual vai ser sua resposta?

— Se Memnon descobrir vai achar que estamos nos preparando pra uma guerra civil.

— E não deveríamos estar? Com Melina de volta, quanto tempo até a Rhíza voltar a ativa?

— Mas a Rhíza é uma organização separada. Se começarmos a lutar entre nós, vai dar merda.

— O correto seria nos unirmos, eu sei. Mas não finja que não acredita no mesmo que eu.

— E no que seria? — perguntou, levantando uma sobrancelha.

— Seria na grande possibilidade de o líder da Rhíza estar naquela reunião hoje.

— E tu acredita que é o Memnon?

— Você não?

Sacudiu a cabeça em negação. — Não sei. Óbvio demais.

— Mas se for, então ele está em posse de uma das maiores ilhas de Anamar e se armando fortemente.

— Mas, se não for ele. Se ele for apenas um velho retardado. Então estaríamos fomentando um conflito a troco de nada. Vai todo mundo tomar partido de um lado numa nova guerra fria e desviar o foco do principal.

— Mesmo que não seja. Prevenção nunca é demais. Podemos simplesmente dizer que estamos nos preparando para defender a família real de uma possível ameaça. E não é mentira, você é o senhor mais próximo da realeza. Faz total sentido.

— Tu fala como se ninguém soubesse que não confiamos naquele jumento. Ninguém é burro de cair nessa, Thálles.

Cabinotto... pensa direito. Temos que estar prontos para o pior.

Suspirou fundo, jogando a folha sobre a mesa de centro. — Tá. Pode comprar, mas seja discreto. Não quero ninguém fofocando sobre isso.

— Não quer ninguém fofocando sobre o quê? — Cibele perguntou, entrando no quarto.

— A gente tá planejando matar o Memnon — respondeu Joe.

— Por favor, executem isso o mais rápido possível! — Riu e se aproximou dos dois, sentando ao lado de Thálles. — Como vão as coisas com seu pai? Queria pedir perdão por ter escondido isso de vocês por tanto tempo...

— Não se preocupe com isso, está tudo mais do que bem! Quer dizer, ainda é estranho saber que ele está vivo. Mas é bom saber disso. Então estamos felizes.

Todos estão felizes? — Levantou uma sobrancelha para seu primo.

— Sendo sincero, Ikaro ainda está um tanto chateado.

O garoto loiro nunca foi muito com a cara do caçula de Nicolao, mas compreendia. Tinha apenas quinze anos quando foi levado a acreditar que o pai havia morrido. A mãe dos rapazes já era falecida há alguns poucos anos antes disso, vítima de um ataque de tubarão-branco. A carga emocional de ser órfão de pai e mãe num intervalo curto de tempo deveria ser imensa. Ainda mais quando se é um adolescente.

— Acha que ele vai entender, eventualmente? — Joe quis saber.

— Vai, sim. Eu e Augustos entendemos que o pai fez o que era necessário. Não esperaríamos coisa diferente dele. Com o tempo Ikaro vai se orgulhar disso também, só precisa processar um pouco mais.

— Espero que sim — disse Cibele, e logo mudou de assunto. — Thálles, se não eu não estiver interrompendo, poderia nos dar licença um minuto? Gostaria de conversar com o Joseph a sós.

— Claro, Majestade. Já acabamos aqui. — Se levantou, despedindo-se com um aceno. - Vejo vocês na reunião.

🔆

— É por isso que eu sou tão grata aos deuses — disse, escorada na beira da piscina, com a longa e esguia cauda esticada atrás de seu corpo. — Você não imagina o trabalho que dá dormir dentro d'água.

Anastasia estava explicando sobre como seus corpos funcionavam. Em terra, respiravam pelas narinas, porém, na água, usavam as guelras que ficavam na lateral do pescoço, abaixo do maxilar, escondidas pelo cabelo.

— As brânquias têm de ficar em movimento para funcionarem, então só podemos dormir com metade do cérebro. — Continuou a dizer. — Uma parte deve ficar acordada para continuarmos nos movimentando. É horrível. Não sei como os selvagens conseguem.

— Que selvagens? — Melina franziu as sobrancelhas, sentada no chão da varanda com as pernas cruzadas, cotovelos nas coxas e cabeça apoiada nas mãos.

— Bom, quando Anamar foi fundada, nem todos concordaram em vir morar aqui. Alguns de nós desprezavam os humanos e queriam continuar no oceano.

— Eu viria pra cá! Não consigo nem imaginar como deve ser entediante ficar nadando vinte e quatro horas. No escuro, no frio e comendo... Comendo o quê?

— Peixes. Algas e outros animais também. — Mudou o timbre da voz para um tom fantasmagórico. — Dizem que nossos ancestrais costumavam rasgar sua carne viva com os dentes. Às vezes, até algum humano desavisado servia de refeição.

Arregalou os olhos. — Comiam seres humanos?!

— Sim. E alguns quiseram viver assim. Por isso os chamamos de selvagens. Mas não são vistos há centenas de anos. Acredita-se que foram extintos, vítimas das criaturas das profundezas. Hoje só servem de história para assombrar crianças e convencê-las de que fora das barreiras, o mar é perigoso.

— Você acredita nisso? Que estão extintos?

— Nem um pouco! São seres primitivos e imensuravelmente mais fortes do que nós. Duvido que tenham se tornado comida de Kraken.

— Krakens? Ah, ótimo! Era só o que me faltava.

— Não precisa se preocupar com isso, senhora. Não há necessidade nenhuma de ir tão fundo mar adentro. Hoje podemos usufruir da superfície a vontade.

— E não encalhar como um golfinho?

— Sim — gargalhou. — Não somos baleias que conseguem respirar, mas não suportar o próprio peso. Em nosso estado natural, conseguimos lidar com a pressão atmosférica por um tempo. Mas apenas algumas horas. Eventualmente, precisaríamos voltar para água, ou morreríamos.

— E agora podem andar ou nadar livremente?

— Exatamente! Não é fantástico?

— Nossa, mas não faz sentido nenhum.

— O que não faz sentido, Alteza? — Se escorou na beirada, cruzando os braços e observando Melina, que estava sentada no chão.

— Nada. Tipo, pra onde vão suas roupas?

— Não faço ideia. Apenas agradeço. Suponho que seja desconfortável e estranho nadar com uma roupa por cima da cauda.

— Ou ela se rasgaria igual a do Hulk...

— Provável que sim. Também seria inconveniente sair da água nua toda vez.

— Uai, mas seus peitos já tão tudo de fora.

A garota gargalhou novamente e tornou a mergulhar. Suas escamas verdes se faziam visíveis dentro d'água. Sua cauda não era como a de Nicolao. Era muito mais arredondada e ia se afinando até a barbatana caudal, que se abria de forma leve e fluída.

Ouviu bater na porta do quarto e se levantou para abrir.

— Bom dia outra vez, irmãzinha! - exclamou Thálles. — Está melhor?

— Tô, sim. Foi só um surto.

Riu da cara dela e continuou. — Escuta, vim perguntar se você não gostaria de almoçar com a gente. Com o pai, o Ikaro, o Augustus e a Agnes. Ela está ansiosa para te conhecer melhor.

— Ah... Obrigada, mas já vou almoçar com a rainha — disse, sem graça.

— Tem certeza? A gente pode juntar todo mundo.

— Tenho, sim! — falou com um pouco de agitação na voz, o que fez o homem a olhar com estranhamento. — Tá tudo bem, deixa pro jantar.

— Certo... — Continuava a olhá-la com curiosidade, mas concordou. — Até mais, então.

— Até! — despediu-se, fechando a porta.

🔆

— Ora, ora, se não é a própria Ariel?!

As duas garotas na área externa do quarto olharam para ele. A ruivinha estava na borda da piscina, conversando com Melina, que estava sentada no chão, de costas para o interior do cômodo. Ela se virou parcialmente para vê-lo melhor e dizer:

— Agora é assim? Sai entrando sem bater na porta?

— Pois, é — deu de ombros —, acontece.

— E se eu estivesse pelada?

— Não é como se eu não estivesse acostumado a ver gente pelada.

A garota ergueu as sobrancelhas e abriu a boca, logo em seguida mudando sua expressão para desaprovação.

— Seu tio e a Agatha já chegaram. Bora comer.

Melina apenas sinalizou com a cabeça, em concordância e se levantou do chão. Ofereceu ajuda para que sua criada saísse da piscina, mas ela recusou. Joe não queria nem mesmo imaginar o quão pesada uma cauda deveria ser, mas a menina não encontrou problemas em impulsionar o corpo e se sentar no chão. Jogou o restante do corpo sobre o piso e se estirou na varanda, esperando que as pernas voltassem. Melina a observava com curiosidade e o garoto pegou uma toalha que estava sobre a cama e lançou-a para Anastasia. Ela agradeceu enquanto secava o excesso de água de sua pele. Em Anamar, só se transformavam sob uma boa quantidade de água, isso permitia que eles escovassem os dentes, cozinhassem e afins. Apenas deveriam evitar que a maior parte do seu corpo estivesse molhada, coisa que Joe achava bem conveniente.

Voltou ao seu uniforme, uma versão moderna de um clássico vestido grego, o mesmo modelo que usava no navio. Era branco, a cor oficial dos servos, mesmo que ela estivesse em um patamar um pouco mais prestigiado entre eles. Era a criada pessoal da princesa, e apenas ela deveria acompanhar e cuidar de Melina no dia a dia, já que o número de empregados da oikós foi bem limitado quando as tentativas de assassinato começaram. Hektor foi tirado da chefia da cozinha principal para cozinhar ali. Normalmente, desfrutavam das refeições principais todos juntos no salão de banquetes. Porém, com toda aquela confusão, passaram a comer apenas ele e Melina, ali mesmo, onde apenas uma pessoa tinha acesso ao que comiam. Joe abriu mão dos seus servos (não precisava de três pessoas o ajudando a se vestir) e o número de pessoas que trabalhavam naquela casa dentro do palácio foi reduzido para cinco, contando com Ana e Hektor. Consequentemente, foram se isolando do restante do palácio.

Joe sentia falta do agito que aquilo era e de todas as pessoas que cuidavam da limpeza, das compras, da dispensa, das piscinas e etc. Estranhava não ver os jardineiros e os cozinheiros. Principalmente, sentia falta da antiga chefe dos criados, que cuidava de Melina — e também dele — quando eram crianças. Nos bastidores, ela supervisionava todos os outros empregados responsáveis por manter aquela casa dentro do palácio funcionando. Mas ela acabou por se aposentar alguns anos depois que a princesa se foi. Agora, Anastasia havia assumido a função e ele a admirava por conseguir o cargo, mesmo sendo tão nova. Era humilde o suficiente para dizer que foi apenas por falar português, mas ele sabia que Cibele devia ter achado algo especial nela.

De qualquer forma, esperava que tudo voltasse ao normal o mais rápido possível.

A ruivinha pediu permissão para ver seu irmão, que estava no palácio acompanhando o senhor Tyro, enquanto eles almoçavam. Após a autorização, saiu do quarto, deixando apenas os dois.

Melina o olhava de maneira estranha e sem graça, botando os cabelos para trás da orelha, como fazia quando estava nervosa ou incomodada com alguma coisa. Parecia querer dizer algo, já que não se movia para sair do quarto.

— Olha só quem entrou pro clubinho do decote em V — disse, na tentativa de quebrar o gelo, se escorando no vidro da porta.

Pareceu confusa por um instante, mas logo olhou para a própria vestimenta e se lembrou e riu.

— E essa é a primeira coisa que você repara?

— Foi inevitável — confessou. — Se continuar assim, eu me apaixono.

Conseguiu arrancar outra risada dela.

— Mas, falando sério. Tá bonita.

Sempre gostou de exaltar ao máximo a aparência dos outros, as pessoas já se autodepreciavam o suficiente. Se pudesse contribuir para a autoestima de alguém, faria. Além do que, gostava de falar a verdade. Pouco se importava se interpretariam suas falas como tendo uma segunda intenção. Se alguém era bonito, não tinha razão para fingir que não era.

— Obrigada. Faz anos que não uso salto, ainda não acostumei. — Levantou levemente a sola da bota para olhá-la. — Mas se querem que eu me vista como uma chefe de Estado, então vou ser uma chefe de Estado gostosona.

Dessa vez, quem riu foi ele. Adorava o jeito como aquele povo abusava da sensualidade, sem jamais cruzar a tênue linha com a vulgaridade. Sempre mantendo a elegância e o atrevimento lado a lado.

— O que foi?

— Nada. — Negou com a cabeça. — Tá no caminho certo.

Não mentiu, mas era estranho demais. Ainda estava se recuperando do choque que foi vê-la depois de tanto tempo e perceber que ela não era mais uma criança. Não queria pensar nela daquele jeito, mas era inegável que - deixando aparecer apenas pouco mais de um palmo de coxa e um leve vestígio dos seios no decote - ela estava mais sensual do que Selena Gomez dizendo "DJ Snake".

Ela sorriu de maneira tímida, como agradecimento e tornou a ficar séria. Respirou fundo, tomando coragem.

— Olha — disse, se aproximando um pouco mais dele —, queria pedir desculpas.

— Pelo que?

— Pela grosseria mais cedo. Fui muito desnecessária.

— Relaxa, tá tudo bem. Não esquenta com isso, não.

— Não, não tá. Não deveria descontar minha raiva do mundo em você. Sei que só tá tentando ajudar.

— É, realmente...

— Me perdoa? — pediu, fazendo cara de cachorro sem dono.

A verdade era que estava acostumado com aquele tipo de comportamento vindo dela. Sempre soube que ela era feita de excessos. Melina foi uma criança curiosa e enérgica, com um temperamento impetuoso e indomável. Era do tipo que não obedece a ninguém sem antes pôr as mãos na cintura e questionar o porquê. Fazia o que queria na hora que queria e era mandona ao ponto de Calisto apelidá-la, carinhosamente, de mini general. Na maior parte do tempo, nem mesmo Cibele — com sua abordagem delicada e diplomata — sabia lidar com ela.

Mas, pelo que Joe viu nas últimas horas, ela e Nicolao haviam voltado muito melhores e bem mais maleáveis. Supôs, que seja isso o que acontece quando duas fortes personalidades se chocam: ou elas se matam, ou se aperfeiçoam.

— Claro que perdoo.

— Tem certeza? Pareceu nervoso mais cedo.

— É que eu realmente achei que a gente tava de boa. Tu meio que me pegou de surpresa, sabe?!

— A gente tá! Prometo. Foi só um surto mesmo.

Acenou com a cabeça. — E eu fiquei um pouco chateado porque eu gosto muito de explicar as coisas.

— Adora uma palestrinha, né?

— Amo! — concordou, rindo, e olhou para ela, analisando-a melhor. — Já tá melhor mesmo? Eu sei que é muita coisa pra processar.

— Tô, sim. Quero dar uma chance pra minha nova vida, incluindo os parentes e as roupas.

Já aparentava estar muito mais tranquila e assumia uma pose relaxada e descontraída, com a tensão dos ombros indo embora. Desde que a reencontrou, ela estava muito tensa e ansiosa, sempre com um olhar de desânimo ou confusão. Parecia uma panela de pressão prestes a explodir. Não quis dizer nada, mas sabia que, até então, ela estava se esforçando ao máximo para passar uma boa e agradável imagem de princesa calma e educada, mas aquilo não era ela.

Agora, porém, havia credibilidade em suas palavras. Tinha a plena noção de que alguma coisa havia acontecido para motivar a mudança de postura, mas também tinha ciência de que ela só lhe contaria o que houve quando se sentisse pronta para isso.

— Eu não sou assim, tão instável e sensível. Percebi que eu chorei mais nas últimas horas do que durante o ano passado todinho — prosseguiu. — Chega de choro, eu hein. Uma gostosa dessas não merece sofrer assim.

Joe tornou a gargalhar e, mais uma vez, ela estava certa. Mais do que nunca sentia-se contente em tê-la de volta. Aquela era sua amiga, espontânea e desbocada de um jeito positivo. E, graças aos deuses (e talvez ao Nicolao), muito mais fácil de lidar.

— Do que você tanto ri, palhaço? — perguntou, dando um leve tapa em seu braço.

— Nada, não. Vamos almoçar. Tô com fome.

Ela levantou uma das sobrancelhas com cara de descrença. Ele, por sua vez, desencostou da porta, foi até o closet e recuperou sua pistola que ainda estava guardada na gaveta, a escondendo nas costas, no cós da calça, atrás do blazer preto que usava. Voltou até ela e apertou seu nariz, balançando sua cabeça. Soltou, em meio aos protestos de Melina, enquanto ele ainda ria de sua cara e disse o que pensava a respeito dela da melhor e mais didática maneira que encontrou:

— Tu é foda, guria!














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