Capítulo 9: Enemies to Lovers
— O que você faz aqui? — Luísa pergunta confusa, entrando e vendo Eduarda e eu olhando em choque. — O que a Eduarda faz aqui, Mariana?
— Eu posso explicar. — Digo sendo pega no flagra, sabendo que Luísa não gostava de Eduarda. — Elas estão... me ajudando.
— Você é a garota do festival. — Vitória diz fechando a porta atrás dela, ainda olhando fixamente para Luísa.
— Sinto o cheiro de couro de longe. — Eduarda sussurra para mim, parecendo estar se divertindo com aquela situação.
— É... eu não sabia que você morava em Três Luas, nem que conhecia a Mari. — Luísa explica, parecendo estar desconfortável, então olha para mim. — Vai me explicar ou não o que tá rolando?
— Trabalho da escola. — Tento mentir, mas lembrei que Luísa era a da mesma turma que eu.
— Mariana é uma bruxa, tem poderes mágicos e tem uma doida usando mulheres como sacrifício para rituais. — Eduarda diz resumidamente, dando de ombros. — O que? É melhor falar agora do que manter isso em segredo até ela mesma descobrir.
— Obrigada, Eduarda. — Luísa parecia tentar processar a situação, e eu sabia que não seria tão difícil ela acreditar. — Isso é tão confuso... — Luísa olha novamente para Vitória. — Te procurei por semanas. E você estava bem aqui.
— Eu também te procurei por semanas. Em todo lugar. — A expressão de Vitória era repleta de confusão, emoção, dúvida. — Deusa do céu!
— Vocês podem conversar sobre o romance de verão de vocês mais tarde. Agora temos um problema maior. Uma deusa, uma louca e uma feiticeira! — Eduarda diz, chamando a atenção das duas na sua direção. — A deusa é Hécate, a louca é a Mari e a feiticeira é a chapeuzinho vermelho do mal.
— Chapeuzinho vermelho do mal? — Luísa pergunta confusa, cruzando os braços na frente do corpo e se aproximando. — Vocês podem me explicar essa história direito?
— Ei! Por que eu sou a louca? — Pergunto indignada com o comentário de Eduarda.
— Porque sim. Agora faz seu misca, musca, mickey mouse aí. — A e-grilo se afasta, mas demoro um tempo até entender o que ela queria dizer.
Quando me dou conta que ela queria demonstrar a magia para Luísa, me preparo para algum feitiço. Me concentro nos objetos que estavam ao redor de mim e foco na espada de São Jorge que havia ao lado da porta, fechando os olhos e deixando as energias do ambiente se conectarem comigo. Era um fenômeno indescritível de como eu conseguia fazer aquilo, mas a adrenalina fazia com que tudo fosse possível. Eu sentia perfeitamente cada átomo do meu corpo se movendo e formando uma espécie de espiral. Ia além do físico, era como se além disso tudo, minha alma estivesse ligada a um poder metafísico. E estava.
— Crescat et crescat in terra vocationis meae.
Aos poucos, abri os olhos e vi a planta crescer lentamente e abrir no formato de uma flor. Nem sabia se isso era possível, mas como estávamos falando de magia, eu já não duvidava de mais nada.
— Você recebeu uma carta de Hogwarts e não me avisou? — Luísa questiona levemente desapontada, e então sorri empolgada. — QUE DAORA! Espera, você realmente é uma bruxa?
— Sim. Eduarda e Vitória também, mas elas são bruxas comuns. É difícil explicar, mas eu recebi um legado de uma deusa e acabei ganhando esses super poderes. Agora estou destinada a deter uma bruxa de usar pessoas em sacrifícios reais e trazer o caos à Três Luas. — Expliquei, mas sabia que Luísa iria querer saber mais detalhes.
— Essa cidade está pior que Belford Roxo.
• • •
— ESSE MOTORISTA NOS ODEIA, SÓ PODE! — Samuel grita no meio da rua, em plenas seis e quarenta da manhã, assim que o nosso ônibus passa direto novamente.
— Dá tempo de irmos andando. — Respondo.
Sem tempo de esperar o próximo, que só viria daqui uma hora, começo a andar pela rua, fazendo o caminho da escola. Meu pai havia voltado ao trabalho e sabe-se lá quando iria voltar para casa novamente. Semana que vem é o aniversário de Samuel. Esse idiota vai fazer dezoito anos, o que significa que finalmente vou poder mandar ele para a cadeia.
Samuel e eu somos da mesma turma. Ele faz aniversário dia primeiro de agosto e eu fiz dezessete no mês passado. Ele é onze meses mais velho que eu, o que significa que minha mãe me fez ainda de resguardo.
Quando eu estava no primeiro ano do infantil, diziam que eu era bem avançada para minha idade, então me colocaram um ano na frente, junto de onde Samuel estava. Não sei se isso é algo bom ou ruim, mas costumo ser a mais nova entre os meus amigos.
Coincidentemente, dia primeiro também é o Sabbath. Eu não sabia muito como funcionava, só sabia que aconteceria de manhã, no meio da floresta. Vitória disse que eu não precisava ter medo, que tudo fazia parte da Roda do Ano e minha participação seria necessária para fortalecer o coven.
Quando Samuel e eu estávamos chegando perto da escola, um fusca azul passa na rua, mas Samuel estava moscando para notar. Dou um tapão na sua orelha, como o rito dizia, e ele me olha assustado.
— FUSCA AZUL!
— MALUCA! — Ele responde passando a mão onde eu bati, e entrando pelo portão da escola.
— VOCÊS ESTÃO DOIS MINUTOS ATRASADOS! PARA A DIRETORIA, AGORA! — Tang grita para nós de longe, apontando para o corredor onde ficava a direção.
— Essa Tang deve ser de limão. Tão amarga. — Samuel sussurra para mim enquanto entrávamos na direção, esperando mais uma advertência por atraso.
Quando finalmente chegamos na sala, vejo que estavam todos em silêncio. Havia uma mulher parada atrás da mesa do professor. Ela era alta, loura e bem chamativa. Eu diria vulgar, mas não quero causar nenhuma rivalidade feminina.
Ela parecia uma prostituta.
Por isso todos estavam olhando e babando por ela.
Me sento ao lado de Luísa, que estava em silêncio. Ela não olhava fixamente para a professora igual o resto da turma fazia, ela olhava para o chão, pensativa.
— Meu nome é Kátia. Sou a nova professora de química de vocês. A Denise precisou se ausentar por motivos de licença maternidade, portanto eu irei substitui-la. — A mulher falou, e eu jurei conhecer a voz dela de algum lugar.
— Kátia. — Luisa sussurra ao meu lado. — A sonsa.
Eduarda estava na fileira do meio, bem no meio da sala, desenhando no caderno ao invés de prestar atenção na aula. Kátia se aproxima e bate com um livro na mesa de Eduarda, com a intenção de chamar a atenção da garota.
Se eu fosse ela, me arrependeria amargamente disso.
— Abre o caderno na matéria, copia e cospe esse chiclete. — Kátia diz entre os dentes, e todos da sala estavam em silêncio absoluto.
Eduarda, lentamente, abre o caderno na matéria e empurra sua cadeira para trás, quase como se fosse cair. Ela mastiga o chiclete por alguns segundos e faz uma bolha, estourando logo em seguida. Eduarda encara Kátia e sorri debochadamente.
Por que Samuel gosta dela mesmo?
• • •
— Certo. Você está falando e entendendo bem. Diria que está quase fluente, o que é ótimo levando em conta que começamos há pouco tempo. — Digo fechando os cadernos após mais uma hora e meia de aula de inglês com Pedro.
— Eu preciso ser rápido. A prova é daqui duas semanas. Preciso estar preparado. — Pedro responde, colocando os fones e pondo alguma música. — Tchau, Mari. Obrigado de novo.
Desde quando fiz aquele feitiço, Pedro tem agido estranho, o que eu achava ainda mais estranho. Eu achei que feitiços do amor fizessem a pessoa enfeitiçada ficar atrás de você, jurando amor eterno e insistindo para ficar com você. Mas Pedro estava distante.
Por trás dele, tiro seu fone dos seus ouvidos antes que pudesse sair da minha casa, e ele me olha confuso.
— O que foi? — Ele pergunta curioso, se virando para mim.
Droga! Por que fiz isso?
— Por que você está estranho esses dias? — Pergunto, a fim de matar a curiosidade.
Pedro era tão misterioso e reservado. Quase não sabíamos nada dele, ele não gostava muito de conversar sobre a vida pessoal, e eu sabia que não era nada bom. Ainda lembrava das marcas que vi no seu rosto, porém, achei que não fosse da minha conta perguntar.
— Eu não estou estranho.
— Está sim. Não implica comigo, não me zoa. Apenas vem, estuda e vai embora. — Tento explicar, mas sinto que apenas estava me embolando ainda mais.
— Você quer que eu implique com você? — Ele questiona, mais curioso do que antes. — Eu não estou te entendendo, Mari.
— É que desde quando éramos pequenos, você passava o tempo me zoando, rindo de mim e implicando comigo das formas mais idiotas possíveis! Por quê?
— Porque eu queria que você me notasse! Não importava se fosse de um jeito bom ou ruim, não importava se você me odiaria, mas ainda assim sentiria algo por mim que não fosse indiferença. — Ele diz espontaneamente, e pela sua expressão, diz mais do que deveria.
— Então você gosta de mim. — Afirmo cruzando os braços, lembrando do que Denis e Eduarda sempre diziam.
— O quê? Não!
— Você quer viver um Enemies to Lovers comigo, confessa! Eu nunca te vi com nenhuma garota, nunca te vi namorando. Por isso que todo mundo acha que você se pega com o Samuel escondido, mas a verdade é que você só vive aqui em casa porque quer ficar perto de mim. — Me aproximo dele enquanto falava, mas ele apenas se mantém parado no mesmo lugar, enquanto ouvia o que eu dizia.
— Acho que você perde tempo demais tomando conta da minha vida e preocupada demais com o fato de eu não sair com nenhuma garota. — Ele se aproxima. — Quem sabe você está com raiva porque é você quem quer viver um Enemies to Lovers comigo.
— Você é cara de pau de pensar isso? Pelo amor, Pedro! Eu estou com o Nicolas agora e você está morrendo de ciúmes. Desde quando eu comecei a sair com ele você ficou estranho. Vai dizer que é só coincidência?
Pedro ri como se estivesse desacreditado com o que eu havia dito. Ele estava negando ou afirmando? O garoto respira fundo e passa a mão pelo cabelo, me encarando novamente. Aquela discussão só estava começando.
— Minha vida não gira ao redor de Mariana Lobos. Você não é o centro dos meus problemas, você é só... a irmã chata do meu melhor amigo. — Ele dá uma pausa e continua. — Eu não me preocupo em arrumar alguém desesperadamente como você e milhares de outras pessoas da nossa idade fazem pelo simples fato de nutrir carência e se sentir desejada.
— Eu não sou assim! Eu gosto do Nicolas desde a sétima série, e agora descobri que ele também gosta de mim. Não é desespero ou carência, é só um sentimento puro que você não é capaz de sentir! — Eu estava começando a ficar irritada, mas Pedro mantinha sua serenidade.
— Ah, claro. Vocês se amam, vão casar e viver juntos felizes para sempre igual nos contos de fada. Você gosta dele por puro amor, não é porque ele é um branco padrão que absolutamente todas as meninas babam, né? Além de ser sem sal, sinceramente, não sei o que você vê nele. — Pedro parecia perplexo, mas não deixei ele terminar de falar.
— Eu vejo nele tudo o que não vejo em você.
Um silêncio toma conta do ambiente. Aquela discussão estava sendo levada a sério demais, e eu nunca havia tido uma conversa tão longa com Pedro quanto agora.
— Ele só está te usando, Mari. E você não vê isso. Quando ele cansar, vai te largar assim como fez com as outras. — Ele se vira para ir embora, mas para e me olha novamente. — Respondendo sua pergunta, eu não fico com ninguém porque não curto viver superficialmente de amores falsos igual você faz.
— Eu não vivo superficialmente de amores falsos. Você está com dor de cotovelo porque gosta de mim e nunca teve coragem de olhar para mim e admitir!
— Eu gostava de você. Gostava do que você era antes de querer se moldar completamente apenas para ser aceita no grupinho do Crepúsculo de Taubaté. Gostava quando você era você, não essa pessoa artificial que estou vendo na minha frente. — A voz de Pedro estava carregada de um tom amargo, e as pupilas dos seus olhos verdes estavam dilatadas enquanto me encaravam.
— Eu continuo sendo eu.
— Não, não continua. Você vai ver isso quando estiver no chão frio, sozinha, depois de ver o que esse tipo de gente faz com pessoas como você.
Fico em silêncio, com o sangue fervendo de ódio. Pedro caminha até a porta e coloca os fones de volta no ouvido, pega seu skate que estava encostado na varanda e se prepara para ir embora.
— Eu só quero saber, antes de você ir. Realmente não sente mais nada por mim? — Pergunto de longe, então ele me olha pela última vez.
— Não. — Pedro responde e sai, mas era visível a mentira estampada em seus olhos.
Continua...
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