Capítulo 41: Decreto Final
— Falamos da cidade de Três Luas, Rio de Janeiro. — A repórter se apresenta, com a câmera bem na frente da Avenida onde tudo aconteceu. — Na tarde do dia vinte e oito de outubro foram registradas mais de trezentas mortes em massa. O motivo ainda não é certo, mas pesquisadores afirmam que pode ter ocorrido um surto de raiva após a onda da doença da peste que esteve presentes durante a semana anterior. Os corpos empilhados pela cidade estão sendo retirados e levados para o IML, esperando que parentes possam identificá-los para serem liberados para o enterro. No momento, a ordem é que todos vão ao posto de saúde mais próximo, onde vacinas contra a raiva estão sendo aplicadas para pessoas entre cinco e sessenta anos de idade. Fico por aqui.
— Ainda bem que você e o Samuel ficaram bem. Eu liguei tantas vezes, eu tava sentindo um aperto no peito desde manhã. — Minha mãe diz ao meu lado e eu concordo com a cabeça.
Hoje é o grande dia.
Eu realmente não sabia o que esperar de Cassandra, mas hoje era o tudo ou nada. Lembranças da avenida me invadia constantemente, relembrando todo o pesadelo que vivi.
Graças a onda de energia vital que saiu de dentro de mim, Vitória e Pedro ficaram vivos.
A ambulância não demorou muito para chegar e levar as pessoas que tinham sobrevivido, inclusive a mulher que me pediu ajuda com o filho. Eles não chegaram a morrer, mas precisaram ficar em observação no hospital por vinte e quatro horas para serem avaliados. Os médicos disseram que poderia ter sido um vírus que atacava diretamente à imunidade, fazendo com que a pessoa entrasse em estado de morte instantaneamente.
Estava prestes a anoitecer. O ritual da Lua Sagrada aconteceria quando a lua estivesse no topo do céu. Eu já conhecia o lugar em que Cassandra costumava praticar seus rituais, e seria lá mesmo que eu a deteria.
Desde a nossa primeira luta, eu sentia que havia evoluído. Eu estava mais forte, com cada treinamento, cada combate que enfrentei. Eu estava mais que preparada para deter Cassandra de uma vez por toda, e cumprir o destino que foi dado de Amália para mim.
Ouço a campainha tocar e me levanto para atender. Vejo Pedro parado na porta e o abraço por um bom tempo, como se nunca mais fosse soltá-lo.
— Como você está? — Ele me olha preocupado e entra, fechando a porta atrás de si.
— Bem. Confiante. — Seguro sua mão e o guio até meu quarto, tentando passar silenciosamente enquanto minha mãe estava distraída.
— Oi, Pedro. — Ela diz sem nem olhar para trás, e ele paralisa.
— Oi, tia. — Ele responde envergonhado, e eu mais ainda.
Entro no quarto e fecho a porta assim que ele entra também. Pego o grimório e o coloco fechado em cima da mesinha, caminhando até a minha cama e me sentando lá.
— Você tem algum plano? — Ele me encara em pé, e eu o chamo para se sentar ao meu lado.
— Meu plano é impedir que Cassandra não cumpra o ritual. — Digo vendo Pedro se sentar ao meu lado. — Nem que isso custe a minha vida.
— Nem começa. Você não vai morrer. — Ele me repreende e me olha indignado. — Eu vi como você ficou quando... quando achou que eu ia morrer. Eu não quero passar pela mesma coisa. Não quero perder você.
— Eu não sei. — Admito e me aproximo dele. — Você não vai me perder.
Sinto ele me beijar e coloco a mão na sua nuca, retribuindo no mesmo momento. Me aproximo ainda mais e sinto suas mãos na minha cintura, me deitando aos poucos e ficando por cima de mim. Ele se apoia com a mão na cama enquanto ainda me beijava, deslizando a outra mão pelo meu corpo até segurar uma das minhas pernas e pressioná-la contra si.
— Que nojo! — Levo um susto quando Samuel entra no meu quarto sem avisar. — Meu Deus, perdi minha inocência toda agora!
— Seu irmão é um desgraçado. — Pedro diz ainda perto de mim e se afasta.
— POR QUE VOCÊ NÃO BATEU NA PORTA? — Pergunto revoltada e ele dá de ombros.
— EU NUNCA PENSEI QUE IA VER MEU MELHOR AMIGO E MINHA IRMÃ SE COMENDO. — Ele grita de volta e eu arregalo os olhos. — Desculpa.
Jogo um travesseiro nele com força e faço mímica pedindo para ele calar a boca antes que nossos pais ouçam.
— O que você quer, Samuel? — Pedro pergunta se sentando na cama, olhando Samuel parado na porta.
— Eu vim te entregar isso. — Samuel joga um objeto contra mim e eu o pego no ar. — A Vitória deu pra Eduarda te entregar.
Olho o objeto nas mãos e vejo que era uma pena dourada. Fico meio desconfiada, mas decido não dizer nada. Se ela me deu, algum significado tem.
— Já entendi. Obrigada. Agora rala. — Samuel revira os olhos, e antes de sair, encara Pedro decepcionado.
— Achei que tinhamos algo especial.
— Você é tão estranho. — Pedro reclama e Samuel sai do quarto rindo.
• • •
Qual roupa usamos durante um combate final?
Pensei em colocar um quimono, uma armadura e até mesmo um capuz igual o de Cassandra, mas optei por uma calça e uma blusa do Bob Esponja. Era o mais adequado para o momento, e o mais confortável.
— Hécate, por favor esteja comigo. — Suplico baixinho enquanto as entrava na floresta escura.
Por um momento, eu voltei para o corpo de Amália.
Eu estava na Igreja, sentada em uma das cadeiras principais. O pastor discursava ódio contra Cassandra e precisava da assinatura de todos os líderes que fossem a favor da sua caça.
Amália não pensou nem por um momento. Assinei o decreto rapidamente e entreguei ao pastor, em nome de Manuel. Aquele foi o ato final, antes de Cassandra ser presa e torturada como a vi anteriormente.
Pedro estava certo. Amália realmente assinou a sentença de morte de Cassandra, que infelizmente sobreviveu e se tornou uma criatura imortal através de rituais de sangue. Agora, ele sabe que eu, a descendente de Amália, sou a única que pode detê-la de uma vez por todas.
— Olha quem chegou para a cerimônia! — Cassandra, mais a frente, me recebe com um imenso sorriso no rosto.
— Não vim para dialogar. Vim para te impedir. — Respondo friamente, ficando a uns quatro metros de distância dela, a encarando nos olhos.
— Com essa blusa do Bob Esponja? — Cassandra debocha. — Vai fazer o que? Tacar um hambúrguer de siri em mim?
— Você tá piadista hoje. — Afirmo esticando os braços, pronta para começar a luta.
Sinto uma imensa dor de cabeça e uma vontade imensurável de ir embora daqui. Porém, eu já conhecia esse truque. Crio uma sombra telepática na minha mente, mas não demora muito até que eu sinta um líquido se espalhar pelo chão.
Dou um pulo e me mantenho presa no ar com a força da levitação, enquanto olhava não tão apavorada o chão virando lava vulcânica. Uma parte da lava parece criar vida e tenta me puxar, queimando meu tornozelo. Conjuro água, mas água não apagava o magma.
— Sit tibi potestas delebitur. — Lanço um feitiço de negação de energia em Cassandra, que estava concentrada em um altar enquanto falava as palavras do ritual.
Por um instante, o magma some e eu volto para o chão. Lanço uma camada de poder na sua direção, mas ela o joga de volta para mim. Me abaixo antes de ser atingida pelo meu próprio poder, então, não tenho outra escolha além de ir para cima.
Subo no seu altar e chuto tudo o que tinha pela frente. Velas, estatuetas, vasilhas, símbolos e vejo ela me encarar com raiva.
— Você não cansa de apanhar? — Ela pergunta furiosa e me olha nos olhos. — Amália era mil vezes mais forte do que você e não conseguiu me deter.
— Você é chata demais.
Conjuro uma grande quantidade de mana na minha mão e lanço contra ela. Ela é atingida, mas quase não sofre impacto. Lanço diversas vezes outras rajadas de energia, até ela fraquejar por um momento.
— Magica dea, me sancto igne benedicite, et tua me gratia protege.
Sussurro as palavras em latim e sinto o banho de lua me tornar mais forte. Ergo os pés do chão e percebo que naquele momento meus olhos brilhavam em um roxo intenso. Me cerco de poder elemental e uma forte ventania passa por mim. Ainda levitando, lanço uma chama roxa bem na sua direção, fazendo-a ser jogada para longe.
Não demora muito para ela voltar, saltar e me empurrar com força contra uma das árvores, ainda do alto. A empurro com força e moldo uma lança em minhas mãos, mirando a ponta na sua direção e tentando acertá-la. Ela desvia dos golpes e lança um raio na minha direção, o qual eu desvio e uso a deflexão para ela ser atingida de volta.
Caio no chão quando sinto minha mente ser invadida de novo, quebrando a sombra telepática que eu havia feito anteriormente. Coloco as mãos na cabeça e tento me recuperar, mas a inundação psiônica que Cassandra causava era quase impossível de parar. Memórias, lembranças, gritos, tudo de uma vez me invadindo como se o volume estivesse no máximo.
Esse surto para quando sinto algo atravessar meu corpo. Vejo que era minha própria lança, a qual Cassandra jogou contra mim mesma apenas com o poder da telecinese. Tiro a lança e grito de dor quando vejo o sangue escorrer, mas faço um breve ritual de cura e seguro a lança com mais força.
— Plantis crescere et impetum inimicorum. — Ordeno, vendo o chão tremer e um galho de árvore puxar Cassandra.
Corro até ela e tento enfiar a lança bem no seu coração, mas ela me chuta e coloca fogo nas plantas que tentavam atacá-la. Uma dessas plantas me atingem, fazendo com que um arranhão surgisse no meu braço.
— Você ainda não percebeu que cada tentativa de luta é inútil? — Ela pergunta com sarcasmo.
— Eu não vou parar até você morrer!
Faço com que meu corpo desapareça e surja com o teletransporte atrás dela. A golpeio nas costas, bem no coração, girando a lança e a ouvindo gritar. Dessa vez a peguei desprevenida.
Ela me puxa para frente e retira a lança de si, fazendo com que seu corpo se curasse. Não dou muito tempo antes de atacá-la novamente, dando um soco bem no seu rosto. Ela me empurra e arranha meu ombro, chutando meu joelho e me fazendo cair, sem força para levantar.
Moldo uma corda e passo ao redor do seu pescoço, já que usar magia contra ela era difícil. Puxo para trás até que ela caia também, tentando enforcá-la. Ela da uma cotovelada no meu rosto e se afasta, tentando se arrastar até o altar com o propósito de continuar o ritual.
Olho para o céu e vejo que a lua estava quase atingindo o topo. Lanço outra rajada de energia em sua direção, mas ela contra-ataca com uma bola de fogo escura. Crio uma barreira ao redor de mim e tento me levantar, segurando bem a lança e apontando para ela.
Miro bem na sua cabeça e a jogo com força, mas Cassandra se vira na mesma hora e segura a arma, quebrando-a no meio.
— Você me faz perder tempo. — Ela reclama.
— Esse é o meu objetivo. — Respondo, mas logo sinto uma dor insuportável no meu braço.
Vejo que vinha da planta que me arranhou e imagino ser veneno. Tento me curar, mas o veneno já circulava pelo meu sangue. Com o outro braço, crio uma espécie de "bomba mágica" e lanço contra a mulher, causando uma grande explosão em onde ela estava.
— Obrigada pela ajuda, querida. — Cassandra ergue as mãos para o céu e eu a olho confusa.
Obrigada pelo o que?
Vejo uma grande quantidade de sangue meu espalhado por todo o círculo em que Cassandra fazia o ritual. Ela fez com as velas se acendessem ao redor e uma enorme fogueira fosse acesa bem no centro.
— Meu sangue... — Sussurro incrédula e tento andar, mas o veneno paralisava todo o meu corpo e causava uma dor angustiante.
— Você é ingênua. Eu disse, mas você não acredita. — Ela ri vitoriosa e ergue as mãos para o céu. — Seres das trevas que habitam neste altar. Eu invoco todo o seu poder! Eu faço da Lua Sagrada, a nova Lua de Sangue! Que o sangue da filha de Hécate derrame todo o seu poder para mim, que o poder da grande magia divina se torne um só!
Ela começa o ritual, e a fogueira estava cada vez mais quente. Aquele fogo não parecia um fogo normal, havia algo de muito ruim nele. Tento me apoiar e reagir, mas minhas forças se esgotaram.
— Sua louca! — Grito indignada e lanço uma onda de poder na sua direção, mas ela me olha e absorve tudo para si.
— Olha lá. — Cassandra aponta para o céu, onde uma lua cheia vermelha brilhava intensamente. — A benção divina é toda minha! O ritual da lua sagrada finalmente está pronto!
Eu estava fraca, me sentia como na avenida, quando Natália me fez esquecer os encantamentos. Só que dessa vez, eu sabia muito bem quais eram, apenas não conseguia usar. Eu era... uma pessoa normal.
Eu falhei miseravelmente.
Antes de tentar ao menos sobreviver, senti meu coração parar.
Cassandra me encarou fixamente e se aproximou aos poucos, com as mãos cobertas de fogo negro.
— Adeus, filha de Hécate. — Ela disse, por fim, tirando de mim a única coisa que restava.
Minha vida.
O fim.
TO BRINCANDO GENTE, CONTINUA NOS PRÓXIMOS CAPÍTULOS KSKSKSKKSK
Continua...
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro