Capítulo 34: Um Novo Poder
Flashback - 09 anos atrás
Eu era bem nova, mas me lembro bem daquele dia. Eu estava brincando com a Luísa no quintal de casa, montando uma cabana de lençóis com ela. Estava no final da tarde e a nossa imaginação ia longe. Quando terminamos, entramos na cabaninha e brincamos de casinha. Luísa gostava de fazer o papel da vizinha fofoqueira e fingia estar na minha casa apenas para descobrir as coisas. Ela preparou um chá imaginário enquanto falava da vida alheia, porém, nossa brincadeira chegou ao fim quando uma bola atingiu e destruiu a nossa cabana.
Saí da casinha frustrada e vi Samuel abrir o portão, procurando pela bola dele.
— Você viu o que você fez? Estragou a minha casinha! — Digo revoltada, então ele coça a cabeça. — Seu piolhento!
— Desculpa, viu? Não precisa ofender. — Ele pega a bola no chão e parece chamar alguém do portão. — Ô Pedro, entra aí.
— Quem é Pedro? — Luísa se aproxima confusa e cruza os braços.
— Meu amigo novo. Ele se mudou aqui pra perto e a gente tava jogando bola. Ele chutou e caiu aqui sem querer. — Samuel explica, e logo um garoto surge no portão, com o semblante tímido. — Esse é o Pedro. Essa é a Mari, minha irmã super chata. A outra é a Luísa, super chata também.
— E você, mané? — Luísa dá língua para ele.
— Oi. Foi mal a bola. — Pedro diz, ainda tímido, mas estranhamente pareceu que eu o conhecia de algum lugar, só não lembrava onde.
— Vai ficar na escola com a gente? — Pergunto e Samuel concorda. — Ah não.
— Por que não? — Pedro pergunta confuso.
— Porque... nada! — Corro para dentro de casa, me afastando de todos.
• • •
— Filha, acorda. Chegamos. — Meu pai diz me cutucando aos poucos, então vejo que estávamos na rua de casa.
Coço os olhos e abro a porta do carro, pegando minha mochila e caminhando na direção do portão. Entro em casa e vejo tudo em silêncio, então me viro para o meu pai que entrava logo após.
— Estão todos de quarentena. Parece que tem alguma doença na cidade, só aqui em Três Luas. — Ele explica, colocando a chave em cima da bancada.
— O senhor está bem? — Pergunto preocupada, mas me lembrando que Vitória havia dito sobre essa doença.
— Eu estou ótimo. Sua mãe e seu irmão não.
— Merda.
Vou até meu quarto e guardo minhas coisas. Tomo um banho demorado e coloco uma roupa leve. O céu de Três Luas estava exatamente igual à visão que tive no mercado. Lembro-me de ter visto Débora.
Será que era ela quem estava causando tudo aquilo?
Pego meu celular com meu pai e ligo para Eduarda, que atende depois de chamar algumas vezes.
— Alô? — Ela atende.
— Oi, Eduarda. Como você está? — Me sento na cama com o celular no ouvido.
— Mal. Todos estão. — Ela tosse algumas vezes. — Vitória falou da sua visão. Os hospitais estão lotando, mas a recomendação é ninguém sair da cidade.
— Eu vou tentar um feitiço de cura e ir atrás da Débora, é ela quem...
— Não, nenhum feitiço funciona. O coven já tentou de tudo, nem mesmo sua magia vai fazer efeito. Isso parece... parece a peste. — Ela me interrompe e eu levanto uma das sobrancelhas.
— Peste bubônica? Nessa época? Aqui na cidade? — Questiono extremamente confusa, mas ela parece ter uma resposta.
— Eu andei pesquisando e vi que naquela época as mulheres eram acusadas de espalhar a peste durante a noite, passando gordura dada pelo diabo nas portas das casas. Acreditavam que elas eram mais suscetíveis ao demônio, estabelecendo pactos com ele. Tudo isso ligado às bruxas... isso não é uma coincidência.
Fico em silêncio do outro lado da linha por alguns segundos, absorvendo a informação que Eduarda acabou de me passar.
— Eu preciso encontrar onde está o corpo de Débora e dar um jeito de... sei lá, preciso de um feitiço para fazer com que isso pare.
— Eu vou com você! — Eduarda se propõe, mas eu nego imediatamente.
— Não. Tá doida? Olha seu estado, você não pode sair assim!
— Eu vou ficar bem. Além disso, eu tenho uma ideia de como prender a Débora. — Ouço ela respirar fundo do outro lado. — Eu andei tendo umas... visões.
— Visões? — Pergunto confusa. — Isso é sério?
— Sim. Eu vi uma forma de prendê-la, só que não conseguiria sozinha. Só tenta confiar em mim.
— Espera, por que você está tendo visões? Do nada? — Questiono ainda perplexa.
— Está indignada por não ser a única especial? — Ela debocha. — Relaxa, princesinha. Você continua sendo a única com a magic Winx aqui.
— Vejo você mais tarde, Eduarda. — Respondo indignada e desligo o telefone antes que ela pudesse me responder.
Assim que desligo a chamada, deito na cama e encaro o teto por alguns segundos. Eu não sabia o que estava fazendo da vida, deixando Eduarda me ajudar desse jeito. Ela estava certa. Talvez eu não fosse a única especial aqui.
Algumas horas se passaram até finalmente a lua estar no topo do céu. Era a melhor hora para resolver as coisas, na minha opinião, pois ajudava a fortalecer meus poderes.
Eduarda e eu nos encontramos exatamente no lugar em que vimos Débora pela última vez: no cemitério.
— E então, qual o seu plano? — Pergunto me aproximando.
Ela usava uma roupa leve e estava sem maquiagem. Era mais uma garota comum com um coque frouxo no topo da cabeça, prestes a esbarrar com o Shawn Mendes na saída do Starkbrucks. Fora isso, dava para perceber os diversos acessórios encobertos de símbolos mágicos. Um deles, a lua tríplice.
— Um ritual. Bem aqui. É, igual a chapeuzinho vermelho fez. — Ela diz, e só então percebo que Eduarda havia trazido uma mochila consigo, a qual ela joga no chão e tira alguns objetos de dentro.
— Você quer fazer um ritual para invocar a tríade da morte? — Pergunto em choque, mas ela apenas revira os olhos.
— Estamos em duas. Elas são três, isso se a galinha despenada da Kátia a sonsa não aparecer aqui. — Eduarda puxa uma athame e entrega para mim. — Você mal consegue deter a Cassandra. Seria perigoso trazer as três juntas, então vamos apenas invocar a Débora.
— E você sabe que tipo de feitiço vai fazer com que a Débora apareça aqui? — Questiono intrigada, dando por convencida sobre seu plano.
— Eu lembro bem do feitiço que Cassandra fez para trazer a tríade da morte para a Terra. O que vamos faz é semelhante, só que levando em conta de que ela existe. — Duda se ajoelha no chão e abre um livro. Ela espalha algumas velas pretas ao redor de um símbolo que eu reconheci imediatamente como um símbolo de invocação demoníaca.
— Eu escolho Deus. Eu escolho ser amiga de Deus. — Sussurro baixinho, só pensando na possibilidade de algo der errado.
Se lidar só com bruxas já era difícil, imagina lidar com demônios?
Débora, Natália e Marinete não deixavam de ser demônios. Bruxas demoníacas, este é o termo correto.
— Vamos dar as mãos e repetir o feitiço de encantamento. Débora representa a segunda fase da lua, e ela virá quando a lua no topo do céu estiver cheia e da cor de sangue. — Eduarda explica, parecendo tentar forçar a memória. Visivelmente ela se referia a sua visão, então apenas assenti e me ajoelhei na sua frente.
— Quando ela aparecer, o que faremos?
— Isso. — A garota tira uma caixa preta coberta de símbolos de proteção e a abre, colocando bem na minha frente. — Quando conseguirmos invocá-la, vou fazer um outro ritual para que a alma dela entre na caixa. Enquanto isso você a destrai e tenta prendê-la quando ver que está dando certo.
— Você é meio insana, mas tenho que admitir que é inteligente. — Confesso e seguro as mãos dela. — Infelizmente é minha cunhada.
— Cala a boca. — Ela ri fraco e limpa a garganta, soltando um suspiro, prestes a começar o ritual.
— In nomine animarum capti apud inferos, invocamus animam pestilentiae veneficae. Oramus propter praesentiam tuam et invocamus nomen tuum.
Olho para o céu e vejo que a lua ainda estava do mesmo jeito. Movo o olhar na direção de Eduarda, que pareceu persistir.
— De novo!
— In nomine animarum capti apud inferos, invocamus animam pestilentiae veneficae. Oramus propter praesentiam tuam et invocamus nomen tuum.
Uma ventania fria sobrevoa ao nosso redor. A lua no topo do céu agora assumia uma coloração avermelhada, enquanto sua fase brilhava completamente cheia. Sinto calafrios quando murmúrios atravessam a nossa volta, murmúrios de dor, angústia, agonia.
Parecia que estávamos dentro do inferno.
Débora estava próxima.
— Morte! — A voz arranha de Débora passa por nós, trazendo uma poeira escura que nos faz tossir algumas vezes.
Crio uma barreira de proteção ao redor de mim e de Eduarda, tentando impedir que aquela onda de virose nos atingisse.
— É agora. Vai! — Eduarda me alerta e começa a preparar o próximo feitiço. Seguro a caixa que ela me deu e saio de dentro da barreira, procurando Débora pelo cemitério.
— Eu estou aqui! É a mim que você quer! — Grito bem alto, vendo um espectro surtir bem na minha frente.
O corpo de Débora era completamente demoníaco. De perto dava para ver seus olhos profundos, sem cor, sua pele pálida e completamente ferida como se tivesse sido queimada. Seus ossos pareciam ter se alongado, o suficiente para rasgarem a pele e ficarem expostos. Débora emitia uma energia caótica que eu nunca vi, nem mesmo com Cassandra. Ela não estava com os pés no chão, e sim flutuando de forma torta e curva.
Tento lançar um raio de energia na sua direção, mas ela não parece ser afetada. Isso foi apenas o gatilho para ela urrar furiosa e me atacar. Desvio de um possível arranhão e rolo no chão até ficar por trás dela. Tento usar um feitiço de hipnose, mas era inútil.
— Dor! — Ela sussurra, e então meu coração parece acelerar involuntariamente e doer. Doía muito, talvez fosse uma das piores dores que eu já senti na vida.
Eu não consegui reagir, apenas coloquei a mão no peito na tentativa de parar, mas o desespero tomava conta do meu corpo. Por um momento, pensei estar morrendo.
Então era assim que eu iria morrer? Depois de passar por tudo o que passei até chegar aqui? Não era a primeira vez que eu quase morria, só que agora minhas esperanças pareciam estar escassas. A dor me consumia aos poucos, mas tudo aliviou quando meus batimentos começaram a voltar ao normal.
— Oro atque obtestor potentiae reginae inferorum! — Eduarda recita as palavras em latim e olha para Débora, presa por uma espécie de plasma escuro. — Ut potentia Lilith defendat me ab injuriis!
Lilith?
Débora se solta e ataca Eduarda. Tento impedir, mas meu corpo não respondia aos meus comandos enquanto meu coração não voltava totalmente ao lugar. Temi que algo pudesse acontecer com Eduarda, algo que eu poderia ter evitado.
Poucos segundos antes de Débora atingir Eduarda com suas unhas enormes e podres, que mais pareciam garras, uma onda de energia a atingiu. O corpo de Débora voou alguns metros para trás, o suficiente para dar espaço para que Eduarda mantivesse o foco e voltasse a recitar as palavras do ritual que iria prender o corpo de Débora.
— Ut mea virtus solidatur et invadunt te. — Recito o feitiço de ataque mágico de mana e atinjo Débora bem nas costas, pouco antes dela tentar atacar Eduarda novamente.
A bruxa se vira na minha direção, prestes a me atacar, então, faço com que surja plasma das minhas mãos e o modifico em poucos segundos no formato de uma arma branca legal, longa e afiada, como uma lança. Deixo-a se aproximar o suficiente para perfurá-la em cheio, como se fosse um churrasquinho no espeto.
Eduarda a prendeu novamente naquela onda de poder que eu nem sequer imaginava de onde vinha, só sabia que Eduarda sabia controlar.
A energia que emanava no lugar era diferente. Diferente da de Hécate e diferente da que eu estava acostumada a lutar contra. Débora tentava se soltar, mas Eduarda a mantinha presa naquele campo de força, assim como estava espetada na lança em que eu tinha em mãos.
Aproveito o momento e coloco a caixa na frente de Débora, vendo seu corpo virar poeira e entrar diretamente no objeto. O fecho imediatamente e vejo Eduarda cair de joelhos no chão, respirando ofegante.
Perda de energia.
Eu entendia muito bem.
Foi assim quando comecei a desenvolver os meus poderes.
Continua...
AI MEU DEEUUUUSSS ESSE CAPÍTULO TÁ TUDO DE BOM!!!!
O que acharam? Comentem aí.
Obrigada Sweet_bonniee pela ideia! ❤ capítulo dedicado p vc linda
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro