Capítulo 23: Complicada e Perfeitinha
Depois de algumas horas conversando sobre o que faríamos em relação à Cassandra, o grupo decidiu ir embora. Samuel acompanhou Eduarda, Luísa e Vitória para casa, mas antes de Pedro sair, o impedi segurando pelo pulso.
— Antes de você ir, eu queria falar com você.
Ele me olha confuso antes de sair pela porta, então volta e para na minha frente, colocando as mãos no bolso do casaco. Eu não fazia ideia por onde começar, então apenas falei o que vinha na minha mente, usando meus próprios sentimentos.
— Eu lembro bem da discussão que tivemos aqui na sala, mas eu não quis dizer nada daquilo. Na verdade foram comentários completamente estúpidos. — Desvio o olhar e continuo falando. — Você disse que aquela não estava sendo eu e você estava certo. Creio que tenha sido a única pessoa que notou que eu estava mudando.
— Bom, se eu soubesse desse papo todo de magia, talvez eu tivesse suposto uma possível manipulação mental... mas relaxa. Eu também disse muita coisa que não deveria. — Ele admite e dá de ombros. — Eu nunca achei que você fosse capaz de deixar seus amigos de lado, principalmente a Luísa, apenas para se tornar uma popularzinha namorada do...
— Crepúsculo de Taubaté? — Olho para ele e sorrio. — Belo apelido.
— Obrigado. — Ele sorri de volta. — Você estava mais insuportável do que é normalmente.
— Me dá um tempo, Pedro! — Cruzo os braços, mesmo sabendo que ele estava brincando.
— É sério. Ficava falando que estávamos com inveja, que sabia o que estava fazendo, que estávamos torcendo para sua infelicidade. — Pedro lembra rindo. — Mas me diz, Mariana. O que você está sentindo agora?
— Ai, nem me lembre. Dá até vergonha alheia. — Rio constrangida por ter feito todo aquele papelão. — Eu estou sentindo alívio por poder ser eu mesma e falar o que eu penso, e também raiva da Cassandra, mal pelo o que eu fiz. É uma mistura de emoções.
— Eu prefiro você assim. Chata por conta própria. — Ele se aproxima. — Você não respondeu a Eduarda. O que te fazia voltar à realidade?
— Você. — Admito, sem muito o que esconder. — Todas as vezes que tentei falar com você e não consegui. Antes de irmos ao restaurante, no restaurante quando Nicolas me pediu em namoro e eu no fundo não queria aceitar sabendo que...
— Que eu estava lá?
— Isso. — De repente lembro que agora Cassandra não estava mais me manipulando, e que tudo o que eu falava era por conta própria, então um imenso nervosismo bate. — Eu aceitei, no fundo não querendo aceitar.
— Eu não entendo como me encaixo nisso. — Pedro diz surpreso.
— Eu acho que entendo. — Caminho até o sofá e me sento. — Amália e Manuel iam se casar.
— Quem são... Ah, pera. Manuel é o meu acenstral, certo?
— E Amália a minha.
— E todas as vezes que você voltou no tempo, me viu lá. — Ele deduz, parecendo pensativo. — É como se Amália visse, através de você, Manuel em mim.
— Exatamente. — Confirmo, fazendo tudo parecer mais claro agora. — É quase como uma fusão de tempo, sabe?
— Ou destino. Quem sabe Amália e Manuel estavam destinados a se encontrarem... em outras vidas? — Pedro me observa parado da porta da sala.
— Não sei. Só sei que Amália e eu tínhamos o mesmo objetivo. Deter Cassandra.
— E pelo visto ela não conseguiu.
— Mas eu vou. — Digo confiante e olho para ele. — Então está tudo bem agora?
— Com? — Ele pergunta.
— Entre a gente. — Respondo.
— Pode ser. Amigos? — Ele sugere e eu me levanto do sofá e caminho até sua direção.
— Amigos. — Estendo a mão e ele aperta, como se tivéssemos selando um acordo de paz.
— Agora preciso ir embora. Minha mãe está esperando. — Ele se afasta e começa a caminhar para o quintal, mas para no meio do caminho e me olha. — "Você está com inveja da minha popularidade e do meu namorado lindíssimo!" — Pedro brinca imitando minha voz e rindo, e eu apenas reviro os olhos.
— Eu te odeio.
— Eu te odeio ainda mais. — Por fim, ele se vira e vai embora.
• • •
— A lua sagrada vai acontecer em breve. — Estefânia diz preocupada, andando de um lado para o outro na sala.
— Não temos muito tempo para impedir Cassandra. Mesmo a igreja desconfiada de mim e de Francisca estarmos praticando bruxaria... podemos ser levadas para fogueira junto à ela! — Digo preocupada, sentindo um calor fora do comum.
— É a nossa última opção. O pastor convocou Sebastião, Manuel, meu pai, o tio de Estefânia e o avô de Dominica para a reunião de sentença das bruxas de Três Luas. Ele quer reunir a cidade inteira para caçar Cassandra e as irmãs, e quaisquer outras bruxas que encontrem no caminho, para levar todas direto para a fogueira!
— Eu sei, Estefânia. Dê um tempo. — Respondo com falta de ar, sentindo minha visão embaçar e tudo girar.
— Amália! Vou chamar um médico, se acalme. — Estefânia diz nervosa assim que nota meu estado.
— Não! Sem médicos. — A impeço, tentando tomar conta do meu corpo novamente.
— Já faz dias que você vem tendo esses... — Estefânia para de falar e me olha por alguns segundos. — Amália, quando foi seu último ciclo?
— Não sei. Eu ando preocupada demais com Cassandra, com o casamento, com a fuga! Isso são só sintomas de estresse. — Respondo despreocupada.
— Ou de gravidez.
Olho incrédula para Estefânia, que pareceu não estar brincando. Só agora para pensar que meu ciclo está atrasado. Será que eu realmente estava grávida?
— Céus! Como vou contar à Manuel? E ao meu pai? — Pergunto em choque, vendo Estefânia pegar um leque e me abanar.
— Com a boca! — Ela se senta ao meu lado. — Agora, se você realmente tiver com uma criança dentro de si, precisará dobrar os cuidados. Cassandra está atrás de você há meses, e agora, se souber que carrega um bebê com você, o perigo vai ser maior.
— Eu vou lutar mesmo assim. Nenhuma mulher merece ir para a fogueira, Estefânia...
— A mulher fez rituais com crianças! Ela merece mais do que a fogueira. Merece ser torturada!
— Eu concordo, óbvio. Mas não será apenas Cassandra que sofrerá as consequências. — Lembro Estefânia, que afirma levemente com a cabeça.
• • •
Abro os olhos e vejo que estava na minha cama.
Me levanto confusa após a última visão de Amália. Ela estava grávida, mas o que aconteceu depois? Eles decretaram a sentença à Cassandra? Alguém decretou, pois eu vi o dia em que ela morreu, mas realmente foram nossos ancestrais?
Me arrumo para a escola e saio com Samuel. O ônibus passou, e quando chegamos na escola, vi as pessoas me cumprimentarem e Nicolas vir até mim, me cumprimentando com um beijo, o qual desvio.
Que nojo.
— Está tudo bem? — Ele pergunta confuso e eu sorrio sínica.
— Tudo ótimo, meu amor. — Respondo, e vejo Ketlyn caminhar até mim completamente animada.
— Guys, vai ter uma festa bombástica do aniversário de dezoito da Tainá. Vai ser no salão! — A garota anuncia completamente animada, olhando a tela do seu iPhone.
— Jura? Que legal. — Digo pensativa e vejo Eduarda e Luísa encarando de longe. — Eu vou.
— É óbvio que você vai, amiga. Você é a melhor. — Ketlyn e Nicolas andam ao meu lado até a sala de aula. — A galera tá planejando fazer uma pegadinha com a estranha Eduarda hoje.
— Sério? Como? — Pergunto me fazendo de sonsa, pois queria absorver o máximo de informação possível.
— Hoje no festival vão espalhar cartazes com imagens do Lulu Santos por toda a escola e irão passar vídeos dele no telão. O Igor mandou fazer máscaras com a cara do Lulu para geral usar e só tocar música dele. — Ketlyn diz rindo como se fosse algo super legal. — Ah, e a Tainá disse que vai ler a fanfic da Luísa hoje no microfone.
— Que ridículo. Por que não deixam elas em paz? — Nicolas pergunta perplexo, mas Ketlyn o olha com nojo.
— Não é algo que vá matar elas ou coisa do tipo. Dãh. É só uma pegadinha. Larga de ser pé no saco!
— Não, sério. — Nicolas para de andar e encara Ketlyn perplexo. — Há semanas isso está enchendo o saco, e sabe o pior? É que são só elas duas! De repente todo mundo esqueceu que teve assunto do Samuel e do Pedro também né?
— É que com elas é mais engraçado. — Ketlyn diz parando de olhar o celular. — Não vem descontar sua raivinha em mim não, Nicolas!
— Não é engraçado com elas e nem com ninguém. Não seria engraçado se fosse com você, nem com a Mari. — Ele me olha. — Vou procurar o Davi.
— Tá bom. — Respondo, ainda absorvendo a discussão.
Nicolas se vira e sai a procura de Davi, enquanto Ketlyn e eu voltamos a andar.
— Que saco! O Nicolas tem sempre que querer bancar o certinho? Eu sei que ele é seu namorado, mas às vezes ela cansa! — Ela desbafa, passando pela porta da sala e colocando a mochila no lugar.
— Pois é. — Concordo, morrendo de raiva por dentro.
Eu não sentia nada por Nicolas. Não mais. Sei que no passado eu tive um crush nele, mas não era algo que eu quisesse levar a sério. Ele é legal e sei que não é tão babaca quanto os outros, mas não consigo sentir nada além de uma admiração à distância. Eu não quero magoá-lo, mas também não quero iludi-lo.
Ando para fora da sala, indo até a quadra onde aconteceria o evento. Passo pela porta da sala dos professores, a qual apenas Katia estava dentro, mexendo em algum documento. Uma onda de energia passa pelo meu corpo, quase como um alerta. Havia algo de errado nela.
Muito errado.
— Você vem? — Ketlyn pergunta um pouco na minha frente, então volto a andar junto dela.
Quando chegamos na quadra, vimos as arquibancadas cheias e um palco no centro. Tinha muitos instrumentos e microfones e alguns músicos os testavam. Os talentos de Três Luas. Antes de subir a arquibancada com Ketlyn, caminho até um canto próximo, onde não havia mais ninguém, e começo um feitiço.
— Imagines Lulu Santos facti Ketlyn. — Repito aquela frase mais algumas vezes até espalhar a energia mágica aos poucos, alcançando toda a escola.
Assim que terminei, subi as escadas de arquibancada e fui até Nicolas e Ketlyn. A diretora foi até o palco apresentar o festival, mas a escola estava eufórica demais.
Eu não via a hora de ver se o feitiço havia dado certo.
Os primeiros a se apresentarem foi uma dupla do primeiro ano, um garoto e uma garota que cantaram música gospel. Depois apareceu cinco doidos cantando em coral, e o que Davi foi fazer lá cantando Mc Loma?
— Alguém tira ele ali de cima! — Ketlyn diz envergonhada, tampando o rosto enquanto enquanto o Davi cantava o "sento sento sento sento e quico devagar".
— Ele só está demonstrando o talento dele. — Digo rindo, assim como os outros que estavam na arquibancada.
Depois de Davi, tudo começo a ficar mais interessante. Algumas pessoas que conheci na festa foram se apresentar, e eu sabia que agora o plano de Ketlyn iria entrar em ação. O plano que eu modifiquei.
No telão atrás deles, um vídeo da Ketlyn bêbada cantando Eguinha Pocotó enquanto dançava em cima de uma mesa. Os cartazes que estavam com as fotos do Lulu Santos, foram substituídas por fotos da Ketlyn desacordada (provavelmente bêbada), com a maquiagem toda borrada e um pinto desenhado de batom no meio da testa. As máscaras que mandaram fazer estavam do mesmo jeito, e muita gente estava usando.
Os organizadores da pegadinha ficaram confusos. Eles tentavam tirar o vídeo do telão, e Ketlyn, surtando de raiva, desceu as escadas e foi tentar desligar os fios enquanto o público ria dela.
É bom ser a chacota da escola, não é, Ketlyn?
Relaxa, é só uma piada.
Não vai machucar ninguém.
— Não sei quem foi o ícone que fez isso, mas eu amei. Ela mereceu. — Nicolas diz ao meu lado, também rindo, e eu concordo com a cabeça.
Eu nem sabia que meus poderes podiam ir tão a fundo para acharem um vídeo da Ketlyn cantando Eguinha Pocotó.
— Chega de gritaria! Agora, vamos ter o... — A diretora lê o nome do próximo participante em um papel e olha confusa. — Samuel Lobos?
Oi?
Samuel sobe no palco todo feliz e acenando para o público, usando uma bandana e segurando uma guitarra.
— Ah não! — Digo vendo ele se preparando, e me preparo psicologicamente para sei lá o que ele ia cantar.
— Oi gente! — Ele acena super feliz. — Hoje eu vou dedicar uma música para uma garota que provavelmente vai tentar me matar, mas eu não ligo, porque sei que no fundo ela me ama.
Olho para o outro lado da quadra e vejo Luísa ao lado de Eduarda, tentando segurá-la para não sair correndo e quebrar a guitarra do Samuel.
— A música é Mulher de Fases, dos Raimundos. — Samuel diz antes de começar o show.
Que mulher ruim
Jogou minhas coisas fora
Disse que em sua cama eu não deito mais não
A casa é minha, você que vá embora
Já pra saia da sua mãe e deixa meu colchão
Ela é pró na arte de pentelhar e aziar
É campeã do mundo
A raiva era tanta que eu nem reparei que a lua diminuía
A doida 'tá me beijando à horas
Disse que se for sem eu não quer viver mais não
Me diz, Deus, o que é que eu faço agora?
Se me olhando desse jeito ela me tem na mão
Meu filho, aguenta
Quem mandou você gostar
Dessa mulher de fases?
Quando chegou na hora do refrão, todo mundo cantou junto na maior empolgação.
— COMPLICADA E PERFEITINHA, VOCÊ ME APARECEU [...] — Todos cantavam juntos, mas o pior de tudo, é que eu não sabia que Samuel cantava bem.
Quando acabou, o público estava enlouquecido. Eduarda tentou sair correndo várias vezes, mas Luísa a empurrou até o palco.
— Eu não acredito que você fez isso! Eu vou te matar, Samuel Lobos! — Diz Eduarda com raiva, tentando subir no palco.
— Eu não tenho culpa se eu sou apaixonado por você! — Ele diz abertamente, com um sorriso de canto a canto enquanto ela avançava na direção dele, pronta para esganá-lo ali mesmo.
— Você é um idiota, sabia? — Ela diz assim que se aproxima, e então, o beija.
O público extasiado, aplaude e assovia. Estavam todos em choque, mas extremamente agitados, animados, e eu surpresa, mas feliz com aquilo.
Havia sido uma apresentação e tanto.
Continua...
COMPLICADA E PERFEITINHA
VOCÊ ME APARECEU
ERA TUDO O QUE EU QUERIA
ESTRELA DA SORTE
EU TO APAIXONADA NESSE CAPÍTULO QUE ÓDIO!
Não consegui botar o vídeo da música. Wattpad eu te odeio!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro