Capítulo Bônus: Benício
Estou terminando de organizar minha livraria. Coloco o último livro no lugar e quase posso ouvir a música tema da vitória. Eu me enterrei nessa missão desde que voltei da viagem de Natal com Violeta.
Eu devia dizer que é porque sou um cara ávido por trabalho e que quero fomentar o gosto pela leitura por toda Serra Dourada.
Quer dizer... eu preciso trabalhar. Não financeiramente porque se alguma vez na vida eu tive sorte, foi quando ganhei na loteria. Mas eu preciso porque sou um alcoólatra e eu preciso ocupar minha cabeça. Eu tive amostras o suficiente para perceber que não trabalhar, que viver apenas viajando e me divertindo tornava muito mais difícil a luta pela sobriedade.
Mas eu poderia tirar dezembro e janeiro de folga. Eu poderia deixar a organização para depois. O problema era que as duas estavam aqui: Charlene e Elaíse. Eu definitivamente precisava me ocupar para não arrumar uma desculpa e ir até a pousada. Quase fiz isso algumas vezes desde que voltei da viagem.
Claro que a porra do destino queria me colocar em cheque mais uma vez porque eu olho para o lado de fora e vejo as duas na outra calçada. Elas estão se sentando na mesa da sorveteria que fica aqui em frente. Charlene está sorrindo para a filha que segura desajeitadamente sua casquinha de sorvete. Não estou perto o suficiente para ver, mas aposto que ela está sujando todo o rosto ao lamber o doce. Sei que a mãe dela não liga. Observei o suficiente para perceber que Charlene cria a filha com autonomia e não é dessas mães que prendem demais.
Por um instante, penso em sair e fingir que é um encontro casual, que não as vi ali e saí para encontrá-las. Eu gostaria tanto de ser contagiado pela luz que emana delas. Eu quase sinto que as duas podem curar minhas trevas e, diabos, eu sei que não posso por essa responsabilidade em alguém, principalmente nas duas.
No fundo, eu sei que encontrar com elas seria inofensivo. Elas estiveram na pousada e nada demais aconteceu - exceto Elaíse cair no lago e eu salvar a vida dela. Exceto Charlene começar a povoar meus sonhos e meus pensamentos, com aquele olhar atrevido e aquela língua ferina. Exceto eu, o cara que fazia questão de ser odiado por todos, começar a desejar ardentemente não ser odiado por aquela mulher e sua filhinha...
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