Capítulo 9: Ana Flora
Para ninguém perceber, eu nego a ajuda que Erik ofereceu de tratar dos animais depois do passeio e digo para ele ir na frente. Meu coração acelerou quando ele olhou para os lados e me deu um beijo rápido.
Nossa manhã foi intensa. Eu sinto que ainda temos coisas a falar, mas foi o bastante. Depois da nossa explosão, nós entramos um pouco na cachoeira e falamos sobre coisas bobas. Erik entendeu que ainda estou fragilizada e arrependida, então não me falou muito da vida das pessoas. Ele me falou só da vida dele. Ele me jurou que está se cuidando e que vai repensar algumas coisas da empresa, talvez mais diretores ou algo do tipo.
Depois não teve muita conversa, mas beijos... bom esses foram muitos. Não passamos disso porque acho que nenhum dos dois sente que é o momento, mas definitivamente, muitos beijos. Quem diria ? Quem poderia dizer que isso iria acontecer de novo.
Quando entro na recepção, Zoé sorri para mim.
-Acho que você foi uma guia excelente.
-Por quê? - Me faço de boba.
-Ele estendeu por mais quinze dias a reserva!
-Isso é bom. Acabamos indo nas cachoeiras.
-Sim, eu vi sua mensagem.
Mensagens quando os caminhos mudavam era protocolo para quem estava na pousada monitorar o tempo, já que acidentes sempre podem acontecer.
-Sabe... Ele me disse para eu acompanhá-lo ao deck hoje. O que você acha?
O sorriso de Zoé é tão grande que eu fico com peso na consciência, já que não estou de fato pedindo a opinião dela e sim dando um jeito de ir com ele sem ser surpresa para ninguém. Benício não passa muitas noites aqui, já que Violeta e eu moramos na casa atrás da pousada.
-Eu acho que você vai ser uma boba se não for. Não temos uma regra em relação a isso.
-Além disso, se você não for, vou eu! -
Margarida diz aparecendo e eu sorrio.
-Tenho certeza que ele iria preferir você!
-Ah, se eu fosse mais nova, menina... - Ela ri, passa por mim e bate em meu ombro. - Ele tem os mesmos olhos tristes que você tinha quando chegou aqui. Olhos que às vezes, você ainda tem. Quem sabe uma amizade entre vocês, faça isso mudar.
Eu sorrio, mas fico triste. Eu perdi meu olhar triste porque amei cada momento da minha vida aqui, mas se Erik ainda tinha isso em seus olhos... Será que era por mim ou outra pessoa o machucou no caminho?
Quando a porta da pousada se abre, nós três nos assustamos ao ver Violeta entrar com um curativo no queixo. Ela é seguida por Igor, seu professor de educação física.
-Ai, meu Deus! O que houve? - Eu pergunto indo até ela, Zoé e Margarida me seguem.
-Calma, não foi nada. Só um acidente na aula de educação física. Eu caí e abri o queixo.
-Nós não conseguimos falar com o Benício, então eu a levei ao hospital e quis trazê-la aqui para explicar o que aconteceu. - Igor disse.
-Ah, coitadinha! - Margarida diz - Venha que vou fazer um chá.
Ela abraça Violeta e a leva para a cozinha.
-Zoé, o Benício está? - Eu pergunto porque ele precisa saber que sua irmã machucou.
-Não, ele saiu cedo e não voltou. Disse que ia ficar fora o dia inteiro e só viria amanhã.
-Eu gostaria de falar com ele. - Igor diz e seu tom me mostra que ele também não é fã do Benício.
-É algo que você pode falar comigo e eu repassar?
-Não poderia, mas quer saber, Ana? Sim. Vou falar com você porque eu sei que você é mais família da Violeta que ele.
-Certo, vamos tomar um café então? -Zoé, você pode pedir para levarem um café e bolo de cenoura para a gente?
-Claro.
Eu aponto em direção ao nosso pequeno refeitório e ele vai. Nós nos acomodamos em uma mesa perto da janela.
-Ana, preciso que essa conversa não seja oficial. Eu não tenho autorização para tratar de assunto dos alunos com pessoas que oficialmente não são os responsáveis legais.
-Tudo bem, Igor.
-E eu também só estou aqui porque agora, além de professor, sou coordenador do turno da manhã, então tenho que lidar com isso.
-Está acontecendo alguma coisa com a Violeta? Faz pouco tempo que a Rosa morreu e Benício vive aqui sendo rude com todos.
Igor solta um suspiro meio irritado e revira os olhos.
-O que ele está fazendo aqui afinal?
Eu também suspiro. Tento não julgar Rosa e nem ficar magoada. Eu gosto de pensar que ela procurou um advogado e ele disse que não poderia deixar seu único bem para quem não fosse herdeiro...
-A cidade inteira sabe que você deveria ser a dona da pousada.
-Mas nem sempre a lei concorda com o povo. Além disso, Igor, talvez seja melhor. Ele é o tutor da Violeta, se ele partir e levá-la...
-É por isso que estou aqui, Ana.
Eu estremeço, mas quando Igor vai começar a falar, Charles traz nossos cafés. Apenas depois de Charles sair, que Igor continua.
-Não há problemas de relacionamento ou comportamento, claro, ela está mais calada e triste, mas isso é normal. Estamos de olho e se percebermos que a depressão não está passando ou que está algo além do luto, nós procuraremos o Benício. E eu, me comprometo a te procurar antes.
-Obrigada! Mas então, qual o problema?
-Violeta tem feito perguntas, ela tem andado na cidade inteira querendo saber sobre sua mãe biológica.
Eu que estou com a xícara a caminho da boca paro.
-Mãe biológica?
Igor franze a testa.
-Você não sabia que Violeta é adotada?
-Eu... não, eu não fazia ideia!
-A cidade inteira sabe. Ela é filha de uma antiga hóspede. É tudo o que todos sabemos, Rosq nunca contou mais.
Eu processo essa informação e me pergunto como ninguém nunca comentou nada sobre isso. Mas talvez o único motivo seja que Violeta era de Rosa e fim.
-Provavelmente Violeta tem estado quieta sobre esse assunto porque sabe que nenhum dos funcionários da época está aqui e mais.
-E ela também não deve querer que eu saiba desse interesse.
-É provável...
Eu ainda estou um pouco chocada, não por ela ser adotada, mas por eu não saber. Ele não deve saber o que dizer porque muda de assunto, nós terminamos nosso café.
-Eu preciso ir, mas... Ana, posso dizer algo? Totalmente sem relação ao que vim fazer aqui.
-Claro!
-Vá mais à cidade. Toda a gente te adora e você só fica enfurnada aqui. Você já é da comunidade!
Eu sorrio e fico um pouco sem graça. Eu sempre ia pouco para a cidade, mas Rosa me arrastava quando ia. Agora que ela morreu, só saio se preciso resolver algo. Talvez uma das formas de me encontrar com Erik seja indo até lá. Mas será que quero virar fofoca aqui?
-Certo, obrigada!
Nós nos levantamos e saímos do refeitório. Eu o acompanho até a porta. Antes de sair, ele olha para Zoé.
-Até logo, Zoé!
Eu vejo Zoé enrubescer e não é algo que eu já tenha notado.
-Até, Igor! Boa volta.
- Obrigado.
Ele vira para mim e toca meu ombro.
-Não esqueça o que eu disse. Quero te ver mais na cidade.
-Pode deixar.
Ele sorri para mim e sai, quando eu me viro de volta, vejo que Erik acabou de sair do elevador. Ele está com um olhar bravo, mas sorrio mesmo assim.
-Senhor Barbieri, precisa de alguma coisa?
-Nada que Zoé não possa me ajudar. -Obrigado!
Ele diz isso e se vira para Zoé que parece achar algo estranho.
-Eu preciso de um número de uma farmácia. Mas, pensando bem vou aproveitar que desci e vou explorar um pouco a cidade. Obrigado!
Após dizer isso, Erik sai, passa por mim sem me olhar e nos deixa confusas.
-Será que ele está passando mal? - ela pergunta - ele não costuma falar assim.
-Eu... Não sei. Estranho!
Penso nos contatos que trocamos hoje e resolvo verificar.
-Algum problema com a Vi?
-Tecnicamente não... Zoé, vou chamar o Charles e pedir para ele ficar aqui um minuto, preciso falar com você.
-Certo!
Eu vou até Charles e enquanto isso, mando uma mensagem para Erik.
Ana: oi, você está bem?
Depois que eu volto com Charles, Zoé e eu vamos até uma pequena sala que eu uso como gerência.
-O que houve? - ela pergunta.
-Eu não sabia que Violeta é adotada!
-Rosa nunca te contou? Estranho, ela não tinha problemas com isso.
-Eu estou achando que pode ser apenas um assunto que nunca surgiu até porque quando você adota, o filho é seu. A minha preocupação não é essa.
-E qual é?
-Violeta tem perguntado pela cidade sobre sua mãe. Você sabe algo sobre isso?
-Não, eu só sei o que a cidade sabe, Rosa teve uma hóspede que deixou o bebê. Eu não trabalhava aqui ainda. Só a Margarida.
Dou um sorriso derrotado.
-Tenho certeza que se for segredo, ela não vai dizer nada.
Ela concorda.
-O que você vai fazer?
-Eu não tenho ideia. Por enquanto, não posso fazer muito e tenho que tomar cuidado para não descobrirem que Igor me contou, você sabe... Eu não sou família.
-Exceto que você é!
-Obrigada! - Penso em algo e resolvo arriscar - Então... Igor é gente boa, né?
-Sim, nós fomos juntos a escola. Quer dizer, nunca fomos amigos nem nada, só estávamos lá na mesma época. Fiquei surpresa dele saber meu nome hoje, mas talvez seja apenas porque eu tenho cabelo colorido.
-Zoé, há algo aí?
-O que? Não. Claro que não. Era só isso? Charles sempre se atrapalha com a planilha de reservas.
-Claro, pode ir.
Quando ela sai, pego meu celular.
Erik: Sim. Ainda vamos no deck?
Verão, 11 anos atrás
-Pera aí! O que você está me pedindo? - Erik diz meio exasperado e surpreso. Eu estranho.
-Estou pedindo para você me dar cobertura.
-Você está pedindo para eu mentir.
-Não! Eu vou até a mesma festa que você, mas vou sair antes. Eu só estou pedindo para você não chegar e dizer que eu fui embora.
-E se me perguntarem?
-Você diz que não viu.
-Isso é mentir!
-Não, se você não me ver sair e quando for embora não me procurar, não é mentir.
-Ana Flora, o Caíque não é boa gente.
-Você não o conhece, ele é da minha escola.
-Eu conheço a fama dele.
-Eu cruzo os braços.
-E qual a fama dele?
-Ele usa bala!
-Isso não é fama, ele usa mesmo. Às vezes.
Isso deixa Erik mais irritado.
-E isso não te incomoda?
-Ele não usa quando está comigo. Olha, é o primeiro verão que outras pessoas vieram para essa bendita cidade! Deixa eu aproveitar. Eu sei me cuidar!
-Você tem dezesseis anos, Ana Flora!
-Para de chamar meu nome inteiro, você parece minha mãe brava. - ele passa a mão pelos cabelos e suspira. - Você vai me dar cobertura?
Ele não responde de imediato e mesmo furioso comigo, preciso admitir que ele é lindo. Por um momento, eu desejo que ele diga não, que ele quer passar tempo comigo e assim eu mandaria Caíque para o inferno. Quer dizer, os beijos dele são excelentes, mas é só isso. Eu nunca teria mais nada com ele, a parte das drogas é verdade.
-Só vai sair vocês dois?
Credo! Não. Eu sei onde isso levaria.
-Não, tem mais gente e tem garotas, ok? É apenas uma festinha menor.
-Ok. Eu tenho uma condição.
-Qual?
-Você vai me mandar mensagem quando sair e eu quero que a cada hora você me avise que está bem! Além disso, me avise quando voltar para cá.
-Que saco, você não é meu pai!
Eu digo isso apenas para fazer tipo porque acho fofo que ele se preocupe. Na verdade, acho sexy. Uma confirmação de que ele é o cara ideal para eu perder minha virgindade. Um dia.
-É pegar ou largar, Ana Flora.
Ana Flora... aí o nome inteiro de novo.
-Tudo bem, Erik. Temos um trato.
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