Capítulo 50: Erik
Flora me olha com surpresa.
— Você fez o quê?
— Vendi a empresa. Todas essas reuniões intermináveis foram sobre isso. Assinamos tudo ontem a noite, provavelmente, amanhã ou depois isso já será público.
— Eu não acredito nisso. Erik, você vai acabar se ressentido de mim depois e...
Eu a interrompo gentilmente.
— Eu não vou. - Digo categórico. - Eu sei que disse que foi por você, mas não porque você pediria ou algo assim. É pela vida que quero com você e isso é aqui, em Serra Dourada, sem ter a preocupação de gerir um império. Todos vocês estão certos quando dizem que sou um viciado em trabalho, eu não conseguiria dar a vida que você merece. A vida que nós merecemos, como eu te disse, perdemos tempo demais.
— Deve ter sido difícil para você.
— Foi, não vou mentir, mas estou me convencendo que nossos pais iriam preferir que a gente estivesse feliz. Você e eu. A loja foi o sonho deles, Flor e eu tive conversas com você o suficiente ao longo de nossa vida para admitir que eles não nos deram muita chance de ter o nosso próprio sonho. Nunca serei ingrato à loja e aos dois, eu sempre digo que não sou um hipócrita. Eu sei como a nossa vida é bizarramente muito melhor. Mas agora meu sonho mudou.
— E qual é seu sonho? - Ela me pergunta com a voz embargada, eu faço questão de não desviar meus olhos do dela. Eu quero que ela veja a sinceridade que está em mim e nos meus sentimentos.
— Você. Serra Dourada. A Lago Encantado. Espero que você tenha um emprego para mim aqui porque não sei se consigo ficar sem fazer nada. Aliás... Eu gostaria mesmo de...
Ela me interrompe.
— Investir nos chalés.
Eu me calo sem graça.
— Como você sabe disso?
Ela sorri e me dá um selinho.
— Eu conheço você e eu não vou me fazer de rogada. Mas não quero falar de negócios hoje.
— E sobre o que você quer falar?
Seus braços circulam meu pescoço.
— Sobre como o meu namorado é lindo.
Então, ela me beija e sei que sou o filho da puta mais feliz desse mundo.
— Eu não quero esse título, Flor.
Ela estranha e vejo que fica sem graça, quase rio. Como é possível que ela pense que eu não a quero?
— Não?
Eu me levanto e pego a grande caixa de papelão que veio comigo.
— Isso é pra você.
— O que é isso?
— Abra...
Ela abre e arregala os olhos... Eu vejo a surpresa passar por seu olhar, mas há algo ali que eu não consigo bem decifrar.
— Isso é o que estou pensando?
— São 1000 tsurus. Sei que são muitos, sei lá, podemos usar para decorar, deixa o estoque para colocar no quarto dos hóspedes como você sempre faz ou até jogar fora se você quiser, mas eu sabia que você entenderia o que significa. Desde o seu aniversário que eu tenho feito, você se lembra da lenda, certo? Quando fazemos mil, temos um pedido realizado e aqui está o meu pedido. - Então, retiro a caixinha de veludo do meu bolso, eu me ajoelho - Você quer se casar comigo?
Ela me olha emocionada, sorri para mim e seu sorriso se transforma em uma gargalhada.
— Sério? Você está rindo? - Pergunto incomodado.
— Desculpa! - Ela diz e me beija. - Venha, vou te mostrar uma coisa e você vai rir também.
— Flora? - Eu pergunto quando ela me levanta e começa a me tirar do quarto.
— Já te explico e vamos de elevador para você me beijar forte e não pensar que estou recusando seu pedido.
Ela entra no elevador e quando ele fecha, me puxa para si. Eu obedeço mesmo sem entender nada, tentando não pensar que ela riu do meu pedido de casamento. Quando o elevador para, ela me leva em direção até a casa dela. Então, me leva para o quarto e ela também pega uma caixa. Espera aí...
— Eu ia até você depois de amanhã. - Ela coloca a caixa em cima da cama e a abre - Ia dizer que aceito ser uma namorada a distância, você ia me perguntar "namorada"? - Ela diz imitando minha voz e isso me faz sorrir. - Eu ia pedir para você me namorar e ia abrir essa caixa e dizer que fiz mil tsurus porque assim eu realizaria meu pedido e esse é o meu.
Eu olho para dentro da caixa e vejo.
— A gente pensou a mesma coisa? - Pergunto agora também começando a achar graça da situação.
— Ou somos previsíveis ou nos conhecemos demais.
Então eu começo a rir e ela também.
— Não quis estragar seu pedido, desculpe. - Ela diz.
Eu me aproximo, pego a mão dela e levo a meus lábios.
— Eu quero ser seu namorado, quero ser seu amigo e seu marido. Eu quero tudo, Flor, eu te amo. - Pego novamente a caixinha, eu a abro. - Posso, finalmente, colocar esse anel em você?
Ela olha e sei que a esmeralda no centro contornada por pequenos diamantes, a agrada.
— É lindo, Erik.
Ela sorri e me dá sua mão direita. Eu deslizo o anel em seu dedo e, Jesus, eu sinto um alívio enorme dentro de mim. Algo que eu não senti nem quando a reencontrei. Ela pega a aliança que estava junto com o anel e coloca em meu dedo.
— Eu te amo, Erik. Eu sabia que você ia ser sempre meu príncipe.
Então, ela me beija novamente e sei que seremos terrivelmente felizes.
— Agora, vamos voltar para a festa? Quero que todo mundo nos veja.
— Tudo bem, mas teremos uma questão para resolver depois. - Eu digo.
Ana Flora sorri maliciosa.
— Quantos orgasmos você vai me dar?
— Pode ser, mas eu estava pensando que teremos que decidir o que fazer com dois mil tsurus...
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— Eu juro que você está mais bonito. - Bernardo diz e eu seguro a vontade de mostrar meu dedo do meio porque estamos na festa.
— Você é insuportável. - Eu digo.
— Você vai sentir saudade. - Ele implica.
— Estou dando graças a Deus que estou me livrando de você.
Mas essa é uma mentira das grandes.
— Eu também!
E sei que ele também está mentindo, talvez essa seja nossa forma de dizer isso. Além disso, não estamos tão longe assim um do outro.
— Eu virei visitar, mano. - Ele diz completando meu pensamento.
— Eu sei, eu também vou.
— Por que você não tem uma máscara? - Violeta surge perguntando para Bernardo. Nós dois olhamos para ela.
— Eu não achei que precisasse.
— É sério? - Eu pergunto. - Eu disse que era um baile de máscaras.
— Achei que essa roupa já seria o suficiente.
— Você parece o Zorro. - Violeta diz e Bernardo dá um leve sorriso.
— E é mesmo uma fantasia dele.
— É sério? Você veio com uma fantasia do Zorro e não pôs uma máscara que tem na fantasia?
— Se eu viesse de fantasia, não estaria vestido para o baile, estaria fantasiado. Sabe, é curioso que você conheça o Zorro. Metade dos meus pacientes não deve saber.
— Você está dizendo que eu sou uma paciente psiquiátrica?
Bernardo ri e eu também, Violeta é sempre espirituosa.
— Não, é que minha especialidade é adolescentes. Então convivo bastante com pessoas da sua idade.
— Hum... sempre gostei de quadrinhos antigos.
— Totalmente nerd. - Eu provoco.
— Sou e isso só era ruim na época de vocês, velhos! E nós falamos geek agora.
Nós sorrimos e fingimos de ofendidos, Violeta sai para dançar. Ela ainda está na pousada, mas no próximo mês vai se mudar para a casa de Benício. Nós todo sentiremos saudades, mas não podemos dizer que estamos infelizes. Benício mudou. Ele não é o babaca que era quando reencontrei Flora. Aliás... Bom, eu confesso que uma parte de mim acha que ele nunca foi esse babaca. Por algum motivo, ele apenas fingia ser... Quem sabe agora que vou me mudar para cá, eu não descubra um pouco mais sobre ele.
Pouco depois, minha atenção vai até Alane que está de pé próximo ao barman que Ana Flora contratou.
— Venha comigo.
— Onde? - Bernardo pergunta.
— Vou te apresentar à dona do bar do deck, eu te falei sobre ela, lembra?
— Claro, boa, mano!
— Mas, pelo amor de Deus, não seja um boçal.
— Eu devia seriamente pensar em partir sua cara, Erik.
Eu rio, então nos aproximamos de Alane.
— Alane!
Ela me olha, mesmo com a máscara, tenho a impressão que seus olhos varrem todo o salão, como se ela quisesse sair daqui.
— Oi, Erik. - Sua voz vacila um pouco, mas talvez seja apenas impressão minha. - Já estou sabendo que deu tudo certo, parabéns!
— Obrigado. Então... lembra que eu te disse que eu tinha um filho da puta como amigo que arquitetou todo o plano para me trazer aqui?
— Lembro, claro.
— Esse é o Bernardo.
Bernardo estende a mão para ela.
— Bernardo, prazer, mas preciso dizer, ele é o filho da puta dessa amizade.
Ela sorri um pouco e junta sua mão a dele.
— Alane...
— Eu vou pegar uma bebida, já volto.
Eu digo e deixo os dois sozinhos. Isso foi totalmente ensino médio, mas acho que Bernardo e Alane se dariam bem. Eu pego uma taça de vinho e procuro por Ana Flora, nem acredito que posso dizer que ela é minha noiva. Eu a vejo conversando com Margarida e vou até ela, quando olho para Bernardo e Alane novamente, vejo que ela está saindo de perto dele. Ele me olha e faz um gesto de que não sabe o que aconteceu, então vai em direção a Charlene e Elaíse. Estranho.
— Então teremos um novo morador na cidade? - Margarida pergunta quando eu me aproximo das duas. Eu sorrio e meus olhos encontram o de Flora.
— Pode apostar nisso, Margarida.
— Seja bem-vindo, oficialmente, e felicidades a vocês dois.
— Obrigado, Margarida!
A festa continua e eu percebo o quanto as pessoas estão felizes por mim e por Flora, mais uma vez, sei que fiz a escolha certa e eu espero passar o resto da minha vida mostrando a ela que nunca me arrependerei.
Pouco tempo depois, quando a contagem regressiva para o ano novo começa, eu sou tomado por um imenso sentimento de gratidão. Penso na virada do ano passado. Eu nunca acreditaria se alguém me dissesse que no seguinte, eu estaria ao lado de Ana Flora, em uma pequena cidade que eu transformaria em lar.
— 10, 9, 8...
Eu coloco a mão na cintura de Ana Flora e ela olha para mim, sorri. Tão malditamente linda, como sempre foi. Eu sorrio de volta, vejo no olhar dela as promessas que sei que ela também está vendo no meu.
— 7, 6, 5...
Olho em volta. Vejo pessoas que aprendi a amar, pessoas que estou pronto para deixar fazerem parte da minha vida. Estou pronto para pertencer a esse lugar e deixar que o lugar me pertença também. Isso me faz pensar em minha mãe, em como ela, de alguma maneira, sempre soube que meu lugar não era mais em São Paulo. Sou tão grato por ela me fazer ver que meu pai também saberia disso se estivesse aqui.
— 4, 3, 2, 1...
Também vejo Bernardo, Charlene e Elaíse. Meus dois grandes amigos e a garotinha que amo como se fosse minha sobrinha. Eu teria desmoronado se não tivesse esse círculo. Eu não sei o que seria de mim sem a amizade deles. Talvez eu não estaria mais aqui. Eles me tiraram do inferno em todos os momentos que estive nele.
— Feliz ano novo!
Todos gritam e levantam suas taças! Ana Flora olha para mim novamente. Eu a beijo. De agora em diante, todos os meus beijos de ano novo serão dela. Assim como os corriqueiros, os sensuais, os de aniversário, todos. Eu sou dela. Nunca pertenci a mais ninguém.
— Eu te amo, Erik, feliz vida nova!
Ela diz com os olhos brilhando. Eu toco seu rosto sentindo nas pontas de meus dedos todo seu calor.
— Feliz vida nova, Flor!
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