Capítulo 13: Ana Flora
Eu chego na recepção no meu horário. O dia foi totalmente diferente do que eu esperava e para minha surpresa, não é Vicente que está na recepção, é Benício. Eu olho o relógio e percebo que estou em minha hora. Fico aliviada porque geralmente quando ele fica aqui é porque quem vai ficar na recepção está atrasado. Ele me dá um sorriso irônico.
—Então, o que aconteceu? Você já assustou seu empresário?
—Eu não sei do que você está falando.
—Ele veio aqui mais cedo avisar que ia embora. Saiu tem quase uma hora. Ele disse que teve um imprevisto familiar, mas não colou. Agora vendo sua cara de choro, cola menos ainda.
—Você está imaginando coisas. Não estou com cara de choro, é sono. Eu dormi demais agora de tarde. Nós tivemos algum prejuízo?
—Não. Ele deixou pago as três semanas que ficaria.
Isso não me surpreende, soa como Erik, eu penso, mas não digo nada. Benício, porém, parece ter muito o que falar e continua:
—E também, me fez um pedido inusitado. Ele quis comprar aquele quadro que você pintou. Ele sabe que foi você? Está levando de lembrança?
—Não. - Eu minto. - Não acho que ele saiba. Ele não comentou nada e o quadro não tem assinatura.
—De qualquer forma, ele pagou um bom preço por ele. Sabendo ou não. Tanto faz. Pena que você aproveitou pouco. - Ele sai do balcão - Hoje vou dormir aqui, se precisar de algo, estarei em meu quarto ou no escritório.
Ele vai até o cômodo que usa quando fica. Depois de uns minutos, Margarida aparece.
—Margarida! Você não foi ainda?
—Estava te esperando, menina, eu não queria esperar até amanhã.
—Esperar para que?
—Ele deixou isso. - Ela me entrega um envelope. Pediu para eu entregar.
Eu pego o envelope com mãos trêmulas. Meus olhos se enchem de lágrimas. Eu esperava tanto dessas semanas. Eu sonhei tanto ontem quando ele disse que pegaria qualquer coisa que oferecesse. Desejei tanto que realmente conseguíssemos viver em paz.
—Não sei o que houve, mas acho que uma semana é muito pouco para causar esse choro em você.
Eu não digo nada, apenas olho para o papel em minhas mãos. Eu não sei se quero ler.
—A gente se conhecia. De muito tempo. De uma vida que não é minha mais.
Eu digo, não explico mais nada e Margarida não força, mas ela diz:
—Mas e ele? Ele também não é seu mais? Até amanhã, Ana.
Quando Margarida já está quase saindo. Eu digo.
—É Ana Flora.
—Desculpe?
—Meu nome completo, é Ana Flora. Bizarro, não? Mais flores.
—Então você está no lugar certo.
Quando ela sai, eu suspiro e abro o envelope. Nele há um pequeno coração de origami e uma carta.
Ana Flora,
Eu sei que essa não é a despedida que combina com o dia de ontem e o almoço de hoje. Sinto tanto por me acovardar e partir sem cumprir as promessas que fiz nesses dois dias. Sinto muito por não ter cumprido várias das promessas que eu te fiz ao longo dos anos.
No entanto, nossa última conversa me fez ver que somos dois lagos que as águas não se misturam. A mágoa que carregamos do passado ainda é muito presente em nós e enquanto esse fardo existir, não conseguiremos.
Quando eu disse que não era um adeus, eu não quis te impor uma espera de Penélope. Eu não quero que você viva uma prisão por mim. Eu preciso que você seja um cisne livre e não um animal com a asa cortada.
Você tem meu contato, não hesite em me chamar se você precisar. Não é necessário ser verão para eu ir até você.
Carinho,
Erik
Eu deixo as lágrimas caírem em meu rosto. Dessa vez não tento escondê-las porque ele não está aqui. Meu peito dói e eu me sinto perdida, pela primeira vez em alguns anos. Eu não sei o que fazer.
—Ana? O que houve? Está tudo bem?
Eu olho e vejo uma Violeta preocupada. Eu me esqueci que ela sempre vem fazer sua tarefa aqui quando estou no turno da noite. Estou tão cansada de mentiras.
—Não, Vi. Não estou bem. Eu estou triste.
Ela se aproxima de mim e me abraça.
—Foi meu irmão?
Meu coração aperta em saber que a primeira coisa que ela pensa é isso. Essa garota sabe que o irmão dela não é legal.
—Não. Eu me despedi de um amigo.
—Alguém que eu conheça?
—Não. Ele não é daqui.
Ela limpa minhas lágrimas e beija minha bochecha.
—Eu sinto muito.
—Obrigada, querida!
Ela se senta ao meu lado e começa a fazer suas tarefas. Meu pensamento viaja até Erik. Eu devia ter pedido para ele ficar. Ele é orgulhoso, depois de dizer três vezes que iria embora, ele não mudaria sozinho de ideia. Pego meu celular. Estamos em abril.
Ana Flora: Nós temos um festival de inverno maravilhoso. É sempre feriado dia 20 de junho. Venha conhecer. Tem fogueira, pescaria, comidas típicas, seresta.
Eu releio e apago desistindo de enviar. Eu seria meio louca de mandar algo assim como se nada tivesse acontecido e como se a gente já estivesse conversado. Droga, eu preciso conversar com um adulto. Preciso de uma amiga. Eu me sinto mais sozinha do que nunca.
Ana Flora: Obrigada pela carta. Eu entendi você. Espero que chegue bem em casa. Se em junho você se sentir melhor, temos um festival excelente dia 20. Abraços!
Dessa vez eu não releio e apenas envio. Penso que ele não vai responder, mas algumas horas depois, eu vejo a notificação em minha tela:
Erik: Obrigado. Cheguei bem.
Sua resposta seca me destroçou.
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