Capítulo 10: Erik
Qual é a porra da minha idade? Eu dei graças a Deus de não ter encontrado Flora logo depois que voltei do meu passeio forçado pela cidade. Estou envergonhado. Eu pareço um adolescente. Nós combinamos de nos encontrar no bar do deck, então também não tive que encará-la enquanto vinha.
-Você já quer pedir? - Alane pergunta.
Eu olho o relógio e está quase na hora que marcamos.
-Hoje eu quero um vinho, o melhor que vocês tiverem e duas taças.
Ela sorri para mim.
-Tivemos algumas mudanças no cenário?
Eu retribuo o sorriso.
-Sim, mas não sei o que isso significa. Eu só sei que tenho mais três semanas aqui. É loucura dizer que amanhã faz uma semana que estou aqui e não lembro de como é minha vida antes disso?
-É sim, mas acho que todos precisamos de um pouco de loucura às vezes. Vou trazer seu vinho.
Quando ela se vai, percebo que Flora já está chegando. Ela é um espetáculo. Ela está com seu cabelo solto, mas há uma trança contornando sua cabeça como se fosse uma faixa. Está com um vestido florido, ele é bege, mas as flores rosa e azuis dão vida a ele. Ele é mais curto na frente e longo atrás, me dando uma visão desse belo par de pernas que ela tem. Eu sorrio para ela, me levanto quando ela se aproxima, e ela encosta rapidamente seu rosto no meu.
-Baunilha...
Eu digo e ela sorri. Ela se senta.
-Boa noite. Eu estou nervosa.
Isso me alivia.
-Eu também.
-Por que você está nervoso?
Antes que eu responda, Alane traz o vinho.
-Vocês precisam de algo mais?
-Bom, eu já conheço seus quitutes. Por que você não escolhe? - Flora diz para Alane e depois para mim.
-Alguma sugestão? - Pergunto para Alane.
-Bom, Erik, talvez você hoje devesse pedir uma salada caesar e fugir do hambúrguer. Além disso, combina com o vinho que escolhi para vocês.
-Excelente!
-Alguma entrada?
-Os canapés que comi ontem estavam divinos.
-Certo! Vou trazer deles. Com licença.
-Alane! - Flora diz. - Eu não gosto muito dos seus canapés. Você pode trazer uma tábua de frios?
-Claro!
Quando ela sai, Flora já se serviu do vinho e eu reparo que ela morde levemente a bochecha. Inferno! Ela me conhece. Sabe que eu fiz uma cena mais cedo e está brava.
-Ok. Vou tirar esse band-aid. Você está brava, me desculpe.
Ela franze a testa.
-Eu não disse nada.
-Essa mordida na bochecha. Eu conheço. Sério, eu não me controlei, Flor, mas me dê um desconto, nós tivemos uma manhã excelente. Eu juro que não fui lá hoje querendo beijar você, mas beijei e tive pouco tempo para processar isso, então eu me excedi.
A testa ainda está franzida.
-Hum... você está falando do que exatamente?
Como ela serviu o vinho apenas para si mesma, eu sirvo para mim. Percebo que ela não bebeu então respondo antes de beber também porque não quero perder o brinde por uma imaturidade.
-Da cena de ciúme que eu fiz mais cedo. Eu meio que odiei aquele cara com a mão em seu ombro dizendo que quer te ver na cidade e fiquei meio homem das cavernas.
A carranca sai de seu rosto. Ela parece pensativa, mas depois ela ri.
-Eu me preocupei, você falou sobre farmácia e saiu.
-Eu estou bem, aliás, você precisa dizer isso aos seus funcionários. Eu não aguento mais a Alane me recriminando com o olhar sempre que peço hambúrguer e Zoé mandando indiretas sobre usar mais as escadas e Margarida com os chás...
-Você não está bravo de verdade com eles.
-Não, não estou mesmo. Você me conhece. Então, estou desculpado?
-Está e para ser justa... Não era por isso que eu estava brava.
Minha vez de franzir a testa.
-Então, por quê?
-Eu estava com ciúmes também. Alane não é obrigada a tratar ninguém como nossos funcionários tratam, ela apenas aluga o espaço daqui, mas eu já percebi que vocês se deram bem e eu também fiz uma cena. Eu adoro os canapés dela.
Minha vez de rir e fico aliviado.
-O que estamos fazendo, Erik?
-Eu não sei, Flor, mas quero descobrir isso com você.
-Eu também. - Ela diz.
-Então... - ergo minha taça - Um brinde ao nosso reencontro. - ela junta a dela na minha.
-Um brinde, Erik.
Verão, 11 anos atrás.
Quinze minutos! Há 15 minutos ela devia ter me mandado outra mensagem dizendo que está bem. Eu não paro de olhar meu celular. Inferno! Eu não devia ter concordado com isso.
Desço para a varanda da fazenda. Vou esperar mais dez minutos e se ela não me mandar alguma mensagem vou sair. Eu sei onde eles estão. Estão em uma festa de fogueira aqui perto. Não foi difícil descobrir. Um arrepio passa por minha espinha. Imagens de Flora em perigo passam por mim. Decido não esperar os dez minutos e logo abro a porta para sair. Eu paro porque vejo Flora sentada em um banco.
-Desde quando você está aí? - pergunto raivoso.
-Shiii! Fala baixo, alguém pode te ouvir.
-Foda-se, você deveria ter me mandado uma mensagem há dezoito minutos!
-Meu celular descarregou e eu já estava vindo, então não vi problema. Eu só quis sentar aqui um pouco antes de entrar.
Então, eu a observo. Por que ela não se levantou? Ela tem os olhos vermelhos de choro.
-O que está errado?
-Nada.
-Flor...
-Não me chama de Flor. Apenas meu pai e minha mãe me chamam assim. Eu acho brega, mas deixo porque eles me amam incondicionalmente.
Ela morde a bochecha e aí está o sinal de que ela está com raiva, mas que raios eu fiz? Só estava tentando saber se ela estava segura. Eu me aproximo e noto que há um ralado em seu braço e a alça da sua camiseta rosa está pendurada em seu ombro. Vou matá-lo.
-Quem fez isso com você? Foi o Caíque?
-Não se preocupe. Eu estou bem.
-Ana Flora, se você não me disser o que aconteceu, vou agora acordar seus pais!
-Você é um idiota!
-Por que você está com raiva de mim? Eu não te machuquei!
-E nem ele, tá bom? Mas você estava certo. Ele tentou. Eu resolvi não beber porque ao contrário do que você pensa, eu sei me cuidar e eu ia em uma festa com pessoas que conheço, mas não convivo tanto. Então pedi drinks sem álcool, mas eu vi quando ele estava preparando um e colocou cachaça. Depois ele colocou leite condensado, acho que para disfarçar o gosto. Aí quando eu joguei a bebida na cara dele, ele tentou me agarrar e beijar a força. A alça do vestido agarrou na corrente brega que ele estava usando e eu tive que puxar com força e acabou arrebentando. Consegui sair de lá porque eu dei um chute no saco dele, mas eu corri o caminho todo porque tive medo dele me seguir e porque, porra, estava escuro e eu estava com medo. Então caí, daí o ralado. Tentei te mandar a mensagem, mas meu celular descarregou. Só estava aqui sentada tentando me acalmar.
Minha respiração é pesada. Eu não sei explicar o que sinto agora. Raiva daquele filho da puta, orgulho que ela soube se defender, culpa por não insistir que aquela ideia era absurda, culpa porque penso que ela correu sozinha por uma estrada de terra. Porra, eu tenho 19 anos, Flora tem apenas 16. Eu devia ter insistido que ela ficasse. Eu devia ter me posicionado melhor.
-Eu sou o culpado. Desculpe. Eu sabia que isso ia ser ruim.
-Eu insisti com você. Como você sabia?
-Ele é homem, Flora.
-E daí? Você também é. Você tentava embebedar garotas quanto você tinha 17 anos?
-Não, claro que não, mas nenhum homem sem segundas intenções chama uma garota que ele fica para uma festa privada e isso é ok. O problema é que ele é um dos caras ruins e achou que se você aceitou o convite, tinha que fazer algo. Você está bem mesmo?
-Eu só estou um pouco nervosa e meu ralado dói.
-Vamos, vou te ajudar a limpar.
Nós vamos até o banheiro do quarto dela e eu a ajudo com o machucado. Ela diz que quer tomar um banho e eu saio, mas espero no quarto apenas para verificar se ela está mesmo bem. Quando ela sai com um conjunto de pijama rosa com corações pretos, eu vejo a mulher linda que ela está se tornando. Um dia terei que me afastar dela já que não vou ceder aos nossos pais e isso vai ser ruim pra caralho.
-Fiquei para ver se você está bem.
-Eu estou, obrigada.
-Certo, boa noite...
Quando estou quase na porta, eu ouço:
-Lembra quando meu potrinho morreu e você escapuliu do seu quarto para dormir aqui e eu não ficar sozinha?
-Eu lembro. Você era uma bagunça de lágrimas e ranho. - brinco.
-Você pode fazer isso de novo?
Já faz um tempo que eu descobri que não nego nada para Ana Flora.
-Claro.
Eu vou em direção ao sofá.
-Aí não te cabe mais, pode deitar aqui comigo na cama. Eu confio em você, Erik, sei que estou segura.
Eu só rezo para não ter uma ereção matinal, mas fico feliz ao ouvir isso. Eu nunca faria nada que machucasse ou desrespeitasse Flora.
Ela deita, eu apago a luz e também me deito. Ela não se aproxima, mas segura minha mão.
-Erik? - sua voz é sonolenta.
-Sim?
-Obrigada por me proteger.
Eu aperto a mão dela ligeiramente.
-Hoje eu não fiz isso, Flora.
E nunca vou me perdoar. Mas ainda vou acertar as contas com esse cara.
-Poderia ter sido desastroso e eu seria o culpado.
Ela rola um pouco na cama e encosta sua cabeça em meu ombro.
-Você me avisou e tentou de todas as formas. Eu fui a teimosa, além disso...
Ela para de falar.
-O que?
-Eu não ia transar com ele, mesmo se eu não tivesse visto ele colocando álcool no meu drink. Sei que fiz parecer o oposto.
-Fico feliz.
A questão é: não estou feliz apenas porque o cara é um babaca, eu estou feliz porque a ideia de Ana Flora transando com alguém faz meu estômago embrulhar. Preciso dizer, meu pai ganhou esse jogo, quis o universo que eu me apaixonasse por essa garota.
-Eu só achei que ia beijar na boca hoje.
Ela diz com voz divertida, eu rio e ficamos em silêncio?
-Flora?
-Sim? - Dessa vez a voz dela é suave e eu sei que ela está quase dormindo.
-Quando você quiser só beijar alguém, você pode me chamar.
-Urrum...
Ela diz e eu acho que ela nem escutou. Que bom! Não foi algo legal de se dizer aqui.
-Erik? E quando eu quiser perder minha virgindade, posso te chamar também?
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