Capítulo VII - Salve o seu povo, rei
Desde o primeiro passo que Adriel desfere em solo russo, após descer das escadas do avião, ele sente uma gélida brisa que dança graciosamente com os ares, anunciando que o outono acaba de chegar e contrastando com o escaldante calor do deserto que parece viver em um infinito verão. As folhas são coloridas com as tonalidades do crepúsculo, como se estivessem consumidas por chamas ardentes e gradualmente elas caem das árvores, sendo o arauto da transformação de uma relva outrora verdejante para as ruínas de algo que possui as memórias da vida outrora existente que é coberta por um espesso manto de alvos cristais.
Adriel veste um casaco de cor semelhante aos diamantes das mais profundas cavernas desconhecidas, para disfarçar o fato de que não sente frio e não necessita desses agasalhos, ao contrário dos humanos, evitando destacar-se desnecessariamente. Toda cautela existente até os confins dos cosmos é necessária porque o território russo não é dominado por sua casa, ao contrário de Israel, onde ele possuía certa liberdade. No entanto, em um território dominado por possíveis inimigos, qualquer erro — ou talvez, nem seja necessário um erro, entretanto, este fato não é conhecido por Adriel —, possui o poder de revelar sua presença aos Teniov. Ainda sendo cauteloso, ele já desamarrou seus longos cabelos negros antes de viajar para evitar ser reconhecido e não está mais utilizando seu tapa-olho, no lugar dele, sua franja cobre a íris perolada e cicatriz em sua pálpebra.
Adriel entra uma casa alugada temporariamente e deixa suas malas jogadas em qualquer canto, ele não possui nenhuma intenção de perder tempo organizando-as e sai de casa para iniciar sua aventura. Ao atravessar a porta, ele encontra uma rua residencial iluminada pelo sol que domina o celestial lençol azul, reluzindo como um cristal. Os pássaros cantam, árvores adornam o redor da estrada, um pequeno animalzinho anda na rua, um grupo de belas jovens passa por ele, e uma velhinha olha por todas as direções.
Interessado em ajudar a senhorinha, Adriel caminha até ela e tenta iniciar uma conversa em russo, um idioma que ele claramente não sabe falar corretamente e possui apenas um pequeno conhecimento porque estudou no avião com um livro que havia comprado mais cedo.
— Привет, ты в порядке?
Oi, está bem?
— Привет, молодой человек, я потерялся из дома, не могли бы вы помочь мне найти мой адрес?
Oi, eu perdi, você ajudar endereço? — é o que Adriel entende
— Да.
Sim.
— Я живу в месте, полном деревьев. Я уже должен был видеть это на горизонте, но мое зрение затуманено.
Eu árvores. Eu deveria vê-lo, mas visão…
Adriel vislumbra o longínquo horizonte parcialmente escondido por casas e prédios de tons cinzas que não abrigam nenhuma chama de vivacidade, procurando por um bosque ou floresta, seu olhar é um pouco perdido até a senhorinha falar novamente.
— Mой дом на северо-западе.
Noroeste. — ele entende a direção e olha para o noroeste, encontrando uma floresta.
— Я нашел
Encontrei.
— Не могли бы вы помочь мне добраться туда?
Você me ajudar…
— Да.
Sim.
— Спасибо.
Obrigada.
A senhorinha aproxima-se de Adriel e se apoia no braço dele, porque possui noção das dificuldades físicas causadas pela idade. E devagar, eles iniciam uma caminhada rumo à floresta que adorna o longínquo horizonte, Adriel é demasiadamente paciente com a frágil idosa porque qualquer passo “veloz” desferido por ele seria o suficiente para desequilibrá-la.
As folhas das árvores que outrora receberam o sopro de vida, recebem o sopro da morte que derrubam-as dos galhos que antes eram os seus lares, caindo no chão e criando um belo tapete âmbar pelas ruas em que ambos atravessam. Cada vez mais que eles andam, mais a vida decresce. A quantidade de casas diminui gradualmente e árvores secas dominam o cenário outonal.
Um passo, dois passos, cinco passos, dez passos, cinquenta passos, cem passos, quinhentos passos, mil passos, cinco mil passos, eles continuam andando no que aparenta ser uma eternidade! A senhorinha é lenta, demasiadamente lenta, a floresta ainda está distante e a brisa gélida sussurra uma canção congelante, um dos poucos sons ainda possíveis de serem ouvidos. O caminho torna-se solitário, as pessoas nas ruas já desapareceram, as casas sumiram, os pássaros já não cantam mais e a luz decresce porque logo o sol estará repousando abaixo do horizonte.
Apenas após uma hora inteira caminhando, ambos são capazes de vislumbrar diante deles a entrada da floresta. Uma trilha reluzente, como se fosse coberta pelos líquidos do interior de uma forja lendária, está abaixo dos pés deles e entre a presença de árvores enfeitadas com folhas rubros e douradas. Encontrar-se com este sinal de que logo a senhorinha estará em casa, faz Adriel suspirar, aliviado, entretanto, a idosa pede para interromper a ida por um instante porque está cansada. Ela reclina as costas no tronco castanho de uma árvore, com as lascas de madeira arranhando seu denso chalé, deixando-o um pouco sujo e fecha os seus pequeninos olhinhos. Adriel permanece ao lado dela, em alerta, porque deve proteger a velhinha dos possíveis perigos da floresta, como um animal se esgueirando entre os arbustos, pronto para atacar, ou um criminoso planejando cometer um ato maligno contra ela.
Tudo está quieto, pacífico, é como se o tempo houvesse parado. O silêncio é longo e, mais tarde, é interrompido pela senhorinha que retorna a caminhar na trilha. Adriel se apressa para não a deixar sozinha e segura no braço dela, permitindo-a que se apoie nele ao caminhar.
A flora recolhida, que aguarda pela fúria invernal, é mais densa, dominando cada vez mais, a cada passo, o caminho seguido pelos dois. O sol já se escondeu e as árvores ocultam os remanescentes raios luminosos que insistem em reluzir no implacável púrpura, trazendo um pouco das cores encontradas nas profundezas de um feroz vulcão para a pintura celeste. As sombras dançam com os galhos e folhas, abraçam as árvores e estabelecem seu império no caminho que outrora foi alvo.
Qualquer brisa estilhaça o silêncio com seus sussurros uivantes e o caminho sob os pés deles está oculto porque a escuridão já domina toda a floresta. Adriel se aproxima mais da senhorinha, temendo que algo represente perigo a ela, e continua a caminhar. Eles prosseguem devagar na imensa trilha de cenário imutável, no entanto, posteriormente à espera que exigiu uma extraordinária paciência — incomum entre os jovens da atualidade —, uma clareira com uma pequenina casa em seu centro reluz, banhada pela delicada luz do luar. Finalmente a senhorinha está na porta de sua residência.
— Спасибо за терпение и доброту, молодой человек — ela sorri.
Obrigada paciência e bondade, meu jovem.
— Пожалуйста.
Denada.
A “senhorinha russa” retorna ao seu corpo original, tornando-se uma graciosa donzela com um longo vestido alvo como seus cabelos, capa escarlate e feições gentis. Yaga Teniova sorri para Adriel, que a reconhece. Por trás de seu olhar trêmulo, ele tenta — em vão — disfarçar o medo que acertou sua alma como uma implacável flecha afiada.
— Fico feliz em contemplar o fato de que ainda tenho a chance de possuir esperanças no senhor, meu rei — e levanta um pergaminho com suas mãos, oferecendo-o para ele — Este é o mapa que o guiará ao artefato.
Adriel hesita confiar na duquesa Yaga Teniova, talvez essa mulher detentora de uma excepcional astúcia seja aliada de Damon Okeanós, e se essa possibilidade for a realidade, ele está caminhando para a sua própria morte desde quando o esverdeado reluzente de sua íris encontrou-se com os azulados diamantes que refletem a mais alva pureza no olhar dela.
E entendendo a situação após refletir por um breve instante, que não foi maior que um suspiro, Adriel decide arriscar-se aceitando o pergaminho. Se ela for inimiga, aceitar ou recusar o mapa possuiria o mesmo resultado: fracasso, ele compreende muito bem que nunca a venceria. Entretanto, se ela for aliada, o ordinário ato de aceitar um pedaço de papel seria a chave para derrotar o seu inimigo.
— Obrigado — ele estende sua mão para pegar o pergaminho, e depois, a duquesa desaparece.
Adriel desenrola o papel, distante de si — e se aquilo explodir? —. Uma suave luz azulada que traça as finas linhas do mapa constituem o desenho de todo o solo russo e ao sudeste há uma marcação. Ele encosta no x e uma projeção criada pelas linhas azuis erguem-se nos ares, compondo uma imagem tridimensional de uma câmara antiga em ruínas. Ele meramente já se esqueceu que está sozinho dentro de uma densa floresta e apenas explora o mapa tecnológico, estudando todo o interior dessa câmara e o caminho para chegar até ela. Depois de decorar essas informações necessárias, ele guarda-o em suas vestes e sai da floresta
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