Capítulo I - O fim é o início
A história do reinado de sangue se inicia com a aurora reluzindo como um diamante no delicado lençol celeste. As estrelas-gêmeas emergem do horizonte, iluminando os seres absconditus, como o novo rei, que saiu da noite para governar o seu amado povo.
Uma cerimônia solene, onde todo este reino que localiza-se no mesmo planeta do reino humano, todavia, em um plano de existência diferente, é convidado, desde os onze duques até os mais insignificantes cidadãos. A festividade que ocorre no ducado dos nórdicos recebe a presença de inúmeros seres vivos, exceto a do soberano deles, que está atrasado.
O novo rei, Adriel Hazael, anda por um quartinho mal iluminado, que possui quase nenhuma lâmpada funcionando, um monte de sucata e diversas máquinas, algumas quebradas e outras não, tudo isso meio organizado e meio bagunçado em quatro corredores cercados por prateleiras. Ele caminha de um lado para o outro pelos corredores, procurando por uma das incontáveis tecnologias desenvolvidas por sua mãe.
Adriel encontra um armariozinho que possui o pé torto e a porta estufada, situado no canto do cômodo, e o abre, derrubando incontáveis dispositivos mal colocados que quase lhe acertam.
Apesar da desordem das máquinas no chão, ele encontra um belo robô com a aparência de um jovem que possui longos cabelos negros amarrados em uma trança na lateral direita com uma franja no lado oposto e roupas verdes-escuras de mesma tonalidade que as íris dele, refinadas como as de um príncipe que são cobertas por uma capa rubra. O robô aparenta ser seu gêmeo.
Adriel fixa o seu olhar nele e se abaixa para tentar ligá-lo. Um minuto inteiro de espera escorre para a inalcançável escuridão e se perde da existência, e finalmente o robô coloca-se de pé. A máquina encara Adriel e ajusta as feições animadas que possui, semelhantes às de uma criança, para se assemelharem às dele, que são sérias e serenas. O rei retira o seu novo tapa-olho verde-escuro, coloca-o no robô e refaz o penteado dele, consertando a trança que estava quase solta.
- Você irá em meu lugar na coroação.
- Coroação? Você é rei? - o tom de voz é empolgado, entretanto, seu rosto ainda possui feições sérias.
Adriel abandona o robô no lugar em que está, ignorando-o, e caminha para outro lado da sala onde há um painel de controle para reprogramar a sucata, entretanto, ele é seguido por essa coisinha que acredita ser seu cachorrinho e faz inúmeras perguntas sem receber nenhuma resposta.
Uma projeção de luz azulada emerge nos ares, transformando-se em uma espécie de tela. Adriel não despende muito tempo para ajustar as configurações do robô que estava com a personalidade de quando ele era mais novo, entretanto, a máquina não responde imediatamente, o que é resolvido por uns socos e chutes. Adriel, através da tela de programação, envia o cabeça de parafusos à coroação e apenas o observa pela câmera, preparado para dar ordens, se necessário.
"Adriel" atravessa a porta e caminha com uma postura imponente, digna de um governante poderoso, seus passos ressoam nos gigantes corredores do palácio que são alvos como a neve e adornados de detalhes dourados.
Aparece em sua frente um garoto que em idade humana possuiria dezesseis anos, de baixa estatura, não ultrapassando os um metro e sessenta centímetros, porque ainda crescerá bastante, e retentor de cabelos brancos esvoaçantes enfeitados com mechas castanhas. O pequeno druída veste uma camisa branca do século dezoito coberta por um colete marrom de mesma coloração que a calça e uma capa verde escura jaz nos ombros dele. É o melhor amigo do rei e um novato conselheiro da corte real, que andava por todo o palácio à procura de Adriel.
- Todos estão te esperando, onde você esteve por todo esse tempo? - seu olhar é gentil e empolgado.
- Desculpe-me, estive ocupado com uma sucata.
- Você brigou com um robô de novo? - e ri - Enfim, não importa, apenas vamos rápido para a festa, se não todos vão pensar que você morreu - diz, apressando seus passos.
- Não acho que seria uma má ideia os cidadãos normais pensarem que eu morri - ele anda mais rápido, para acompanhar o garoto.
- É impossível apenas os nobres saberem da verdade, a informação iria vazar facilmente.
- Sim, é uma pena.
- Hm, estranho, eu ainda quero entender suas idéias. Parece que você seguiu uma estratégia oposta à essa que falamos para se manter seguro, milhares de absconditus estão lá fora para te ver - ele ri, se lembrando do ocorrido na corte - Isso fez os conselheiros ficarem doidos, não sei como eles concordaram em deixar você convidar todo o reino.
- Depois eu posso explicar, aqui não é um lugar apropriado para falar sobre algo confidencial. E falando de segurança, você não pode aparecer ao público, talvez alguém queira se vingar da morte daquele mérope¹.
- Eu te obedecerei, meu rei - e se curva, depois ri, disfarçando sua tristeza utilizando essa brincadeira.
- Agradeço a você, meu súdito preferido.
"Adriel" acompanha Arthur Eyrwisdom até um cômodo do palácio, preparado com antecedência para proteger o pequeno druída, que é cercado por inúmeros militares competentes. O robô continua andando calmamente e sai do palácio.
"Adriel" teletransporta-se, utilizando uma das fendas que conecta todo território absconditus, ao ducado governado pela casa Alver, que se ofereceu para realizarem a cerimônia no território dela, e ao chegar, a visão mais deslumbrante que o horizonte infinito do cosmos adornado por incontáveis galáxias inunda a sua alma, sendo mais exuberante que o palácio do mais rico ser que existirá nesse breve suspiro que chamam de vida.
Há oceanos de montanhas mais verdejantes que esmeraldas reluzindo sob as estrelas-gêmeas pela primeira vez após escapar das profundezas de uma caverna, onde a luz é incapaz de alcançar. Diversos arcos-íris constituídos de flores adornam os caminhos e árvores. As poucas construções são harmônicas com a natureza. E apesar da beleza de Alfheim que os absconditus contemplam, ela não se compara com o espetáculo que esta cidade é durante a noite, onde ocorre uma resplandecente dança de ondas esmeraldas no céu. Este é o esplendoroso e estimado lar dos elfos, a capital do ducado nórdico.
Uma multidão de seres absconditus de diversas espécies estavam aguardando ansiosamente pelo rei, que decide proferir suas primeiras palavras ao seu povo. As doze principais casas do reino estão presentes. A família Hazael é posicionada na frente, e as onze, que governam os ducados, estão uma do lado da outra, acompanhadas de seus respectivos cidadãos. São incontáveis seres que estendem-se além do horizonte, entretanto, não há muitos méropes porque eles odeiam sair da água, estão presentes apenas poucos membros da casa de Okeanós, que certamente foram obrigados a comparecer devido aos seus cargos políticos.
- Perdoe-me pelo atraso e agradeço pela paciência - Adriel, que fala através do robô, pausa sua fala para pegar um papel ao seu lado, onde está escrito o discurso, e continua a falar por um longo período de tempo - Eu convido-lhes para este banquete, onde iremos compartilhar uma refeição como prova de nossa união.
Não há mesas ou cadeiras para eles se sentarem porque os elfos recusaram-se a trazer essas bugigangas aos gloriosos santuários nomeado de natureza que eles possuem abundantemente no território deles, entretanto, não é problema algum, a grama macia é confortável e a sensação de comer sentado nela assemelha-se aos mais agradáveis sonhos que confortam os corações agitados em uma noite pacífica.
Os doze líderes das casas principais sentam-se em um planalto localizado em cima de uma alta montanha. "Adriel" reclina suas costas em uma árvore que é responsável por criar uma sombra que o protege da luz das estrelas-gêmeas. Ao lado dele, está a quieta duquesa de Alver, uma bela elfa retentora de longos cabelos loiros que utiliza um longo vestido alvo como a neve, exibe ternos olhos verdes-claros e possui gentis feições maternas.
O duque de Eyrwisdom está timidamente desejando aproximar-se da duquesa de Alver, cada vez mais diminuindo a distância entre eles. Este druída de cabelos castanhos na altura do ombro aparentemente utiliza algo que se assemelha a uma máscara de cervo, entretanto, talvez isto faça parte de seu corpo. Suas vestes são das cores da casa Eyrwisdom, a camisa branca do século dezoito, capa verde, calça e acessórios marrons.
O duque de Yacy, um garoto pardo retentor de feições travessas, que possui cabelos ruivos como se estivessem em chamas e veste roupas de um caçador em tons escuros; o duque de Djinn, um gênio da lâmpada em sua forma humana - todos os absconditus possuem uma forma humana, que, na maioria das vezes, perde certos atributos de sua forma original - de um garoto que possui a pele escura, como seus curtos cabelos ondulados, retentor de feições igualmente travessas às do outro duque e utiliza uma camisa preta coberta por um colete escarlate que sobrepõe uma larga calça bege; o duque de Long, que obrigatoriamente utiliza sua forma humana, por ser um dragão gigantesco, é um chinês que já alcançou a idade adulta, retentor de longos cabelos castanhos-avermelhados que contrastam com sua esvoaçante túnica azul adornada por detalhes prateados e joias; estão conversando sobre assuntos triviais e sorrindo. Mais tarde, o extrovertido Curupira Yacy convida o duque de Yokai, que está na forma de uma raposa negra, para se juntar a eles.
Em um canto, a duquesa de Teniov, uma metamorfa na falsa aparência de uma mulher idosa que utiliza um vestido branco e chalé escarlate, tradicionais da cultura eslava, desfruta da refeição pacificamente enquanto observa as pessoas ao seu redor.
A maioria sorri e possui feições tranquilas, com exceção de alguns. "Adriel" está demasiadamente sério, entretanto, se esforça para aparentar amigável, falha, e a sua expressão fica um forçada - o que é compreensível para os duques -. O duque de Lupus está na coroação apenas por obrigação, exceto durante a lua cheia, ele é apenas um humano normal que, agora, está vestindo o uniforme de seu trabalho em um escritório japonês, possui cabelos curtos que foram pintados com uma escura coloração apenas para não destacar-se em um país estrangeiro e detém pesadas feições cansadas. O misterioso duque de Menece apenas permanece invisível em um canto. O duque de Nanook, que utiliza a aparência de um humano indigena retentor de longos cabelos lisos, que possuem uma escura coloração acastanhada, e usa vestimentas clássicas do ártico, ao invés de estar em sua forma de ursão overpower, permanece quieto porque, Diarmuid Eyrwisdom, o seu único amigo duque, apenas flerta com Elin, enquanto seu discípulo, Daisuke Yokai, está distante. Entretanto, percebendo a solidão de Ulloriak Nanook, Curupira Yacy e Ifritte Djinn o convida para se juntar a eles. E desapontado por não estar no mar, assim como os outros méropes presentes ali, o duque de Okeanós apenas está deitado na grama em cima de seus longos e ondulados cabelos azulados como as ondas que dominam o oceano, sua camisa branca semelhante a de um pirata se suja com a vegetação do solo, assim como sua calça índigo tão escura quanto o céu noturno.
Horas decorrem incessantemente e ninguém ataca o robô que está no lugar do rei, servindo de isca para os mal intencionados serem desmascarados ao tentar assassiná-lo, e apesar da facilidade de o encontrar, ninguém ousa feri-lo durante toda a cerimônia.
Logo após a festa acabar, "Adriel" despede-se de todos e utiliza a fenda para retornar ao palácio. O robô apenas caminha para o depósito e encontra-se com Adriel, que desliga-o, pega de volta o tapa-olho e o coloca em si mesmo. Depois, enfia a sucata de qualquer jeito dentro do armário e fecha aquela porta para nada mais cair como se fosse um tsunami, entretanto, a força utilizada quebra o pé do armário e o faz tombar de lado, todavia, a parede o mantém equilibrado. Adriel suspira, por não haver derrubado nada, e sai da sala secreta porque precisa comer. Anoiteceu e ele ainda não se alimentou desde quando acordou.
Entretanto, antes de cuidar de si mesmo, Adriel decide encontrar-se com Arthur. Ele atravessa uma porta e, logo ao ouvir o som dela abrindo, Arthur corre em direção ao seu amigo e abraça-o sem possuir qualquer noção de delicadeza enquanto derrama lágrimas. É raro ele chorar, ainda mais, na frente de outra pessoa.
- O que aconteceu? Fizeram algum mal para você?
- A culpa é toda minha - ele abraça mais forte.
- Acalme-se, resolveremos o problema, o que aconteceu?
- Eu matei um ser vivo, um ser vivo como eu.
- Já se passaram dias desde a revolta, porque ficar triste agora? Aconteceu algo?
- O duque de Okeanós virá ao palácio amanhã. E se ele estiver bravo comigo por ter assassinado um mérope?
- Eu te defendo.
- Como você defenderá um culpado? Você é o rei, seus julgamentos devem ser justos e imparciais.
- Por que eu te condenaria por me salvar? Você não fez nada contra a lei.
-
Notas de rodapé:
¹Nome de uma deusa grega, filha de Atlas, nesse livro é o nome usado para referir-se aos gregos que vivem no mar.
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