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XL - Incógnito


Nem todas as canções que se escreviam, produziam e se finalizavam acabavam na lista de faixas de um disco. Cada tema era tratado com todo o empenho, profissionalismo e criatividade, cada tema pertencia-lhes individualmente e ao grupo, cápsulas sonoras que continham toda a sua energia e dedicação – acabavam por ser músicas tão finalizadas como quaisquer outras. O que acontecia era que um disco era limitado, por razões físicas e por razões comerciais.

Quando chegava a altura de se fazer escolhas e de tomar a decisão difícil de abandonar esta ou aquela canção, Chester nunca estava presente. Para ele, todas as canções eram importantes e válidas, obras com mérito próprio, peças de arte que importava preservar e acarinhar e nutrir e ajudar a caminhar pelo mundo até que fossem entoadas por milhares de vozes em uníssono. Ele amava fanaticamente cada canção sua e cada canção do grupo e toda a música do mundo. Doía-lhe a forma leviana e despiedada com que as grandes empresas, orientadas pela cupidez, tratavam o seu esforço e o esforço dos seus companheiros. E pensava, angustiado, em quantas canções excelentes tinham ido parar ao lixo só porque alguém tinha decidido que não eram boas o suficiente – quando podiam ser o próximo hino de toda uma geração.

Ele já havia sentido esse tipo de rejeição no corpo e na alma, quando o recusaram dizendo que ele não tinha o que era preciso para vingar naquela indústria, que a sua música era banal e aborrecida. Ele quase que havia desistido... e o que teria acontecido se ele não tivesse podido cantar as suas dores?

Durante a gravação do primeiro disco, Chester quisera participar ativamente, ansioso por demonstrar o que era capaz de fazer. Estavam a começar e era tudo intenso, urgente, necessário, fugaz, magnífico, deprimente. Ou agarrava-se a bolha de sabão ou iria perder-se uma galáxia inteira de possibilidades. Altos e baixos, tédio e êxtase. Cometera um erro crasso ao ter opinado que não gostava de "In The End", votara pela sua exclusão da lista de canções e resolveu que, a partir dessa experiência um tanto ou quanto amarga, se iria esquivar da responsabilidade da decisão suprema que condenava ou salvava canções. Podia enganar-se redondamente outra vez, "In The End" era um dos enormes êxitos dos Linkin Park, e não desejava essa responsabilidade de carrasco.

Então, acabava por ser acusado de indiferença.

- Chaz, a reunião de hoje é importante – dizia-lhe Mike, ao telefone. – Hoje vamos fechar a lista para o álbum. Estamos com algumas dúvidas e precisamos de desempatar. Vamos a votos e já sabes que só se todos concordarem é que avançamos.

- Está bem, já percebi... confio em ti. Votas por mim.

- Preferia que fosses tu mesmo a votar.

- Já me deixei disso há tanto tempo, meu...

- Chaz, tu pertences ao grupo. Ainda te lembras?

- Lembro-me, claro que me lembro. Acho que estive aí, no estúdio, nestes últimos meses, a cantar umas coisas... canto sempre tudo o que me pedes, Spike. Depois disso, cabe-te a ti e aos produtores decidirem o que fazer com o que eu cantei. Agora, preciso de ir. Tenho uma peça de teatro da escola do Tyler para ir ver e já estou atrasado... A Tali está a fazer-me sinais desde a porta. Sim, já vou, querida. Estou a terminar aqui!

- Chester...

- Já te disse que confio em ti, meu. Tu fazes um excelente trabalho e nunca desiludes. Vota por mim. Eu dou-te o meu voto. Se quiseres uma declaração por escrito, mando-te a mensagem.

- Não vou votar por ti. Vão acusar-me outra vez de querer monopolizar a reunião, usando dois votos quando me cabe apenas um. Da outra vez, o Phoenix inventou que era eu que te convencia a desistir de compareceres, para que eu pudesse ter mais peso do que os outros na altura da votação... não quero outra discussão desse tipo. E se não estás, não suporto que falem de ti, nas tuas costas. Sabes que falam de ti, não sabes?

- Então, não votes por mim e pronto. Ficas só com um voto. Podem falar de mim quando não estou. Acontece isso todos os dias, no mundo todo. Falam de mim!

- Não desconverses.

Desligava, simplesmente, disfarçando a frustração com um sorriso angelical e uma tranquilidade forjada nas fornalhas da sua irritação interior. Quando sabia que não estava a ser observado, mordia os lábios e praguejava mentalmente.

Ele não era indiferente. Pelo contrário. Doía-lhe descartar as canções gravadas, depois de tanto trabalho e ideias maravilhosas, como se lhe estivessem a arrancar com uma pinça pedacinhos de carne, numa tortura lenta, até que o seu sangue fosse todo drenado, gota a gota e ele se rendesse pela fadiga.

E sabia que aquela canção, em particular, seria uma das descartadas – com o seu voto ou não. Ele não iria conseguir demover ninguém da decisão mais do que óbvia de que a canção não merecia pertencer ao novo álbum da banda, pois não estava terminada e já não havia tempo para burilarem o tema. E isso causava-lhe um sofrimento esquisito, diferente das outras vezes. Ele adorava a canção e se lhe pedissem a razão de ele a querer no álbum, simplesmente não conseguiria explicar, nem podia, sem revelar o grande segredo que partilhava com o Mike.

A gravação aconteceu em poucos takes, numa das primeiras sessões que os reuniram no estúdio que ainda funcionava na mansão de Laurel Canyon. E aconteceu depois de uma noitada em que todos foram saindo e quando ele se apercebeu, estava sozinho com o Mike que esfregava os olhos e bocejava, cheio de sono, à frente da imensa consola de produção. Nem sequer estava ali o produtor principal e dono da casa, o lendário Rick Rubin.

- Ei, meu... acho que vou pirar-me. Está muito tarde e a Tali já perguntou por mim.

Mike olhou-o atarantado, como se tivesse acabado de acordar naquele momento e ainda se estivesse a situar no espaço, depois de um sonho intenso que replicara a realidade, ou algo assim.

- Hum?

Chester mostrou o telemóvel na mão esquerda.

- A Tali. Perguntou por mim.

- Vais-te embora?

- Vou. Já passa da meia-noite.

- É assim tão tarde?

- Yep.

Guardou o telemóvel no bolso de trás das calças. Mike perguntou-lhe:

- Disseste que estavas a trabalhar numa canção...

Hesitou. Era só uma letra, algumas palavras que poderiam fazer sentido, uma linha melódica muito crua e simples que ele trauteara enquanto ia juntando as palavras, lembrando-se da sensação que se afundava na sua alma quando se punha a cogitar naquilo. Olhava para o Mike e ficou estarrecido porque era o amigo a razão do seu desabafo.

- Escrevi qualquer coisa num papel... acho que ficou ali atrás, naquela salinha pequena.

- Vai buscar, por favor.

- Ei, Mike... é tarde.

- Sim, eu sei. – Levantou-se, enérgico. Espreguiçou-se. Tinha a camisa de flanela fora das calças, desalinhada e enrugada. – Mas agora já despertei e quero ver essa canção. Podemos gravá-la amanhã. Imagina que será o próximo grande sucesso dos Linkin Park e estamos aqui a ignorar a conspiração dos astros.

Chester forçou uma risada.

- Estiveste a fumar umas ganzas? Não costumas dizer essas coisas.

Mike semicerrou os olhos, claramente rabugento.

- Despacha-te a ir buscar o papel... não queres ir para casa?

- Se eu o encontrar. E se não estiver na tal sala que...?

- E não te lembras do que estiveste a compor?

- Mais ou menos... Ok, espera aqui.

Regressou com a folha rabiscada. Havia desenhos de círculos sobrepostos e de estradas que se estendiam até ao infinito, terminando em linhas sinuosas nas margens físicas do papel. Pelo meio das garatujas havia a letra. Era assim que ele gostava de escrever, a viajar por um mundo caótico de riscos. Mike estava com uma guitarra acústica em mãos. Sentaram-se os dois num sofá de couro, que se afundou com o peso deles. Ficaram de frente um para o outro. Mike colocou uma perna debaixo da outra, assentou a mão direita sobre as cordas.

- Canta. Tentarei acompanhar-te, na guitarra – disse. – Assim ficaremos logo com uma ideia do que fazer amanhã, quando a mostrarmos aos outros.

- Não pensei muito na melodia. Tu também me vais orientando à medida que eu for cantando.

- Combinado.

- Vamos mostrar aos outros? Não está finalizada...

- Terminamos amanhã o primeiro esboço que faremos agora. Começa, por favor.

Chester fechou os olhos e começou a murmurar. Mesmo estando sozinhos, mergulhados num silêncio completo, Mike teve de se debruçar para poder escutá-lo e conseguir ir dedilhando os acordes iniciais.

A canção era apenas um conceito, com buracos vazios no início e no meio, onde não havia letra, nem música. Mas havia um refrão, onde Chester estava mais confiante e cantava com outro afinco.


So this is how we fall apart, this is how the ending starts

And when we find we've lost our minds,

We fake what we don't know.

Então é assim que nos separamos, é assim que o fim começa

E quando descobrimos que enlouquecemos,

Fingimos aquilo que não conhecemos.


Mike apanhou depressa a tónica dominante, aquela que residia, subliminar, na composição inventada naquela tarde. Chester sentia-se cada vez mais à vontade com o apoio dele, que se empenhava em repetir os acordes que formavam os pilares básicos da estrutura melódica. Simples, poderosos, assertivos, estimulavam a voz de Chester que aumentava de tom, embalado pela certeza cada vez mais pungente de que estava ali uma canção nova – os rabiscos tinham ganhado asas e voavam sozinhos no firmamento das cantigas maduras. Ele continuava de olhos fechados, declarando aquele desapontamento num registo de queixume orgulhoso.


I never asked to let go, I never thought I could sink so low

I never let myself down, until the second I did right now.

Nunca pedi para largar, nunca pensei que eu pudesse ir tão fundo

Nunca me desiludi, até este preciso instante.


Calou-se, de repente. Mike ficou a tocar a progressão de acordes. Abanou a cabeça, estimulando-o a continuar. A boca de Chester fechava-se numa linha ríspida. A letra era demasiado... pessoal e o Mike ainda não tinha percebido. Daí que a tivesse disfarçado entre círculos e traços, corações despedaçados e outras ruínas de coisas informes que havia desenhado naquele papel que ele amarrotava na mão esquerda.

- Continua. Estavas a ir muito bem – pediu Mike, tocando ainda a guitarra.

Chester respirou fundo e declamou, sem cantar.


And if our doubt begins again, the answers find us in the end

So in the meantime we'll pretend,

And fake what we don't know.

E se a nossa dúvida começar outra vez, as respostas encontram-nos no fim

Então, entretanto, nós iremos fazer de conta,

E fingimos aquilo que não conhecemos.


No fim, a sua garganta moveu-se quando engolia em seco. A guitarra aquietou-se, abruptamente. Restou uma última vibração que ficou a volitar no estúdio quieto, entre eles, no espaço que se abriu e que se preencheu de vácuo.

Chester e Mike entreolhavam-se.

Finalmente, o amigo teria percebido...

No silêncio, a compreensão foi tão densa que era possível apanhá-la, moldá-la, diminuir-lhe o volume e apertá-la num punho fechado. Era palpável e visível e tinha cheiro e até som. Era a canção transformada em objeto, declaração e acusação do que eles tinham e que estava, algures, adormecido, porque o tempo tinha passado e o mundo, o seu mundo, havia mudado. E eles agora olhavam, estupefactos, para a grande mudança.

Chester fixou a boca entreaberta de Mike. Os lábios grossos, húmidos e com certeza muito quentes. Levantou a mão direita, trémula, pousou-a no rosto dele. Mike estava imóvel e retraído, mas também curioso e ansioso. Esperava e queria, sem ousar pedir o que tanto lhe preenchia o pensamento.

Chester inclinava-se. Devagar, centímetro a centímetro, ia apagando a distância entre eles. O couro do sofá rangia e estalava com aquele movimento lento e deliberado.

Um beijo podia ser o começo. Aqueles beijos proibidos que nunca existiam sempre que se tocavam com intimidade. Era nisso que Mike pensava, era isso que Chester imaginava. Um beijo.

Quando conseguia sentir o hálito quente junto ao seu, Chester acobardou-se e fez um desvio. O seu nariz roçou-se languidamente pela pele da bochecha de Mike que estava ainda mais parado, enfeitiçado naquele assomo de sedução improvisada. Os seus dedos acariciavam, enquanto cheirava cada nesga de pele daquela cara tão adorada. Mike arrepiava-se com esse toque, com a promessa velada, com o instante que se adivinhava.

Recuperou a coragem e fez a inflexão necessária para cometer a imprudência. Chester travou a sua boca junto da de Mike. Ficou a saborear o alento morno com o seu, enchendo-se daquele sopro de vida. Mike dava-lhe forças, energia, vontades, sangue, suor, alegria e música. Dava-lhe tudo o que ele precisava, quando precisava daquilo. A sua alma agitava-se num frenesim excitado, como as cordas de uma guitarra elétrica num solo esganado de heavy metal.

Chester repuxou levemente o lábio superior de Mike. Este gemeu e abriu mais a boca, a ponta da língua assomando-se em busca do contacto. Chester também abriu a sua boca e, estrangulado pelo desejo, a mente totalmente em branco, incapaz de conjurar uma moral coerente que lhe exigisse o travão necessário, fez aparecer também a sua língua. E ia para encontrar a de Mike, num beijo lascivo e langoroso, quando sentiu uma impressão na nádega e saltou no sofá.

- Porra!

Depois escutou-se o toque histriónico do seu telemóvel e ele retirou-o do bolso de trás das calças, atarantado e nervoso. Primeiro vibrou, depois tocou e no visor ele leu o nome da mulher. Atendeu, ofegante.

- Sim, Tali... estou a sair agora. Sim, sim... estou no parque de estacionamento. Ia abrir o carro... Estive só a arrumar as coisas com o Mike. Sim, o Mike ainda cá está... Porra, não ia deixar o estúdio de pantanas, nem ia deixar o Mike a arrumar tudo sozinho. Eu não sou assim, porra... Sim, eu sei. Não, está tudo bem. Estou a chegar, coelhinha. Amo-te. Até já. – Desligou, ainda mais atarantado e nervoso. Rodopiava como uma marioneta, no centro da sala. – Tenho de me ir embora. Tenho de ir agora... a Tali sabe o tempo que levo daqui até casa. Se não me ponho a caminho já, ela vai perguntar-me onde estive.

Mike tinha-se posto de pé e pousava a guitarra no sofá.

- Sim, claro. Já ouvi a tua canção. É muito boa. Repetimo-la amanhã.

Estava demasiado calmo quando falou. Chester passou a mão pela cabeça, sem o encarar.

- Sim... yeah. Amanhã gravamos a canção, então.

- Como é que se chama?

- "What We Don't Know".

- Certo. Até amanhã, Chaz.

Chester agarrou no casaco e abriu a porta do estúdio.

- Obrigado.

Ouviu Mike a dizer e ainda voltou o pescoço.

- O que foi?

- Obrigado, Chaz. Por escreveres essa canção... para... Bem, amanhã vamos mostrá-la ao Brad. Ele vai gostar muito. Não te preocupes, eu arrumo as coisas aqui sozinho e não te vou cobrar por isso. Vai lá para casa. A Anna é mais compreensiva com os meus atrasos.

Chester fez um aceno atabalhoado e saiu. No parque de estacionamento, o ar frio da madrugada ajudou-o a serenar. Sim, ele tinha escrito aquela canção para o Mike. E era também para ele. Para os dois.

Como a podia descartar? Não podia...

Mas "What We Don't Know" foi mesmo descartada, juntamente com outras quatro canções e não fez parte do alinhamento do disco Minutes to Midnight. Ele não votou, não estava presente para salvar a canção ou para concordar com o cumprimento da sentença de morte. Nem o Mike votou por ele. Apenas um voto e não houve grande discussão a rebater os tiques ditatoriais do japonês mandão.

Mais tarde contaram-lhe que o Mike nunca defendeu a canção, que fora o Brad que ainda colocara a dúvida e que sugerira recuperá-la, depois, para outro trabalho deles. Acabou por ficar apenas naquela versão demo que gravaram no dia seguinte ao do primeiro ensaio e que foi incluída num dos álbuns underground que eram disponibilizados para o clube de fãs. Pois, o Mike também não podia fazer essa defesa, sendo ele a segunda parte daquela dança implícita na letra...

Tudo isso foi esquecido, pouco tempo depois.

Os Linkin Park voltavam à estrada, com projetos grandiosos para uma digressão mundial e havia mais coisas em que pensar.

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