
LII - Rendição
Mandou-lhe uma mensagem curta, dizendo:
"É hoje. Vem".
O Mike vai perceber. Não lhe vai responder e esse será o sinal de que percebeu.
Chester tomou um duche prologado. Deixou-se estar na água tépida, quase fria, de cabeça vazia e músculos tolhidos, a ver se relaxava, mas por cada minuto que passava, mesmo que debaixo de uma cortina mansa de água, ele acendia-se mais e mais, a antecipar o encontro como uma virgem na sua noite de núpcias.
Desligou o duche. Agarrou na toalha, limpou-se devagar e até com o seu toque ele se excitava, alterando a respiração para arquejos esporádicos. Olhou-se ao espelho e notou os sinais. Olhos húmidos, faces coradas, lábios vermelhos, o sangue que palpitava nas veias do pescoço, a pele arrepiada, os pelos eriçados. Ele queria tanto aquela noite que nem precisava de explicar nada – bastava que olhassem para ele. A sorte era que não iria sair do quarto até ser de manhã. Depois de enviada a mensagem, a engrenagem tinha sido posta em movimento e era só aguardar.
Perfumou-se e vestiu uma roupa confortável. Camisola interior branca de alças, uns calções de corrida, meias curtas. Era o suficiente. Já soprava cheio de calor, ia de vez em quando verificar se o ar condicionado estava na marca dos dezanove graus e mexia no termóstato para escutar o apito a indicar a mudança de temperatura. Se vestisse mais roupa, tinha de tomar um segundo banho.
Ligou a televisão com o comando remoto, sentou-se na cama. Desativou os alarmes do telemóvel – já não iria receber os avisos sonoros de quando entrava uma notificação. Voltou-o com o ecrã para baixo e deixou-o na mesa de cabeceira. Não tocaria mais no telemóvel por aquela noite. O Mike não iria mandar mensagem. Ele iria aparecer.
E apareceu, passados uns longos quinze minutos de uma espera torturante.
Duas batidas na porta do quarto de hotel.
Estavam outra vez na Europa, início de mais uma digressão. O sétimo álbum de estúdio iria ser lançado em maio e eles promoviam as novas canções, com espetáculos por algumas cidades europeias. Foi na Europa que o relacionamento entre ele e Mike se firmara, tantos anos antes. E era também na Europa que Chester iria dar aquele passo muitas vezes adiado de se entregar a Mike, como ele sabia que o amigo tanto queria.
Por isso era hoje. E por isso Mike tinha vindo.
O japonês esgueirou-se furtivo para dentro do quarto, através da fresta que Chester abriu com a porta. O corredor do hotel estava quieto. Ninguém à vista. Mike apertou os próprios braços e queixou-se que ali dentro estava um gelo. Ao verificar que o ar condicionado laborava para arrefecer o compartimento até uns outonais dezanove graus, praguejou.
- Meu, vou congelar aqui dentro!
- Está bem... eu desligo.
- Podes deixá-lo ligado. Tenho o meu para vinte e quatro graus. Vinte e quatro graus é uma temperatura razoável, estou de manga curta... Vês?
- Eu desligo! – exclamou Chester e deu um soco no controlo do aparelho, que se fixava na parede.
O zunido desapareceu.
- Ei, Chazy... não fiques chateado.
De costas para Mike, descansou as mãos na cintura, espetou os cotovelos. Bufou ruidosamente.
- Não estou chateado.
Estava muito nervoso e Mike percebeu. Calou-se.
Calaram-se.
O som da televisão sobrepôs-se ao ar arrefecido do quarto. Um noticiário noturno. Acontecia um debate e ficaram as vozes excessivas dos intervenientes que comentavam uma qualquer reportagem sobre política. Um programa entediante. Mike aproximou-se de Chester devagar. Os seus passos foram abafados pela alcatifa, mas Chester arrepiou-se até ao tutano ao imaginá-lo naquela aproximação de predador. Prendeu a respiração.
Mike abraçou-o por detrás. Cheirou-lhe a nuca também devagar.
- Vou apagar a televisão, se não te importas... não estou a gostar do que estão a dizer ali. Estão a desconcentrar-me – sussurrou-lhe.
- Estás a ouvir a televisão? Para mim... para mim é só ruído de fundo.
- Eu sei.
Enquanto Mike buscava o comando e carregava no botão vermelho que apagava a televisão, Chester regressou à cama. Sentou-se mais ou menos a meio do colchão, de pernas cruzadas pelos tornozelos. Observou Mike a voltar-se para ele, depois de pousar o comando junto aos óculos que tirou do rosto – sim, o Mike estava sem as lentes de contacto – junto ao seu telemóvel e de também deixar aí o dele. Tinha vindo com o smartphone e ele franziu a testa ligeiramente, para depois limpar o pensamento de qualquer indício de desconfiança. Não se vivia sem telemóvel e o Mike tinha de fingir que estava contactável, mesmo que estivesse ocupado... com ele... na sua cama... a dar-lhe prazer... a possuí-lo...
Engoliu a saliva que tinha na boca. Forçou esse movimento e a garganta doeu-lhe. Merda! Talvez não tivesse sido uma boa ideia ter enviado aquela mensagem. Só que agora, na antecâmara do acontecimento, não podia desistir. Olhou para Mike num quase pânico, aquele arrependimento típico da noiva inexperiente, de última hora... O medo de que tudo se saldasse num tremendo fiasco.
Fechou os olhos quando sentiu a mão de Mike pousada na sua face. Um carinho era sempre bom e ajudava-o a acalmar-se. Ofegou ao sentir o colchão a oscilar e, nisto, tinha o Mike sentado no seu colo, de frente para ele, de pernas abertas. Os joelhos dele estavam perto das suas orelhas.
- Spike?...
- Tens tudo o que é preciso? Vamos começar por fazer assim...
- Assim? Assim, como?
- Assim, nesta posição.
- Queres que seja eu... a começar?
O rosto de Mike ensombrou-se.
- Estás com dúvidas, eu vou-me embora. – A sua voz ficou mais carregada. – Não te quero forçar a nada, nunca quis. Ou é para gozares o momento ou não vale a pena. – E sem esperar uma resposta sua, apanhou-lhe a boca num beijo.
Chester gemeu e entreabriu os lábios. A língua cobiçosa procurou a de Mike, mas este quebrou o contacto e ele ficou a arfar em seco. Os beijos continuavam a ser uma noção estranha entre eles, embora os dois praticassem mais do que um inocente boca com boca quando faziam sexo.
As mãos de Mike enfiaram-se por dentro dos calções, das cuecas e apanharam-lhe o pénis que estava a endurecer, estimulado por todo o ambiente que ele tinha estado a definir naquela última hora, mesmo com receios à mistura. A curiosidade e a vontade sobrepunham-se a qualquer dúvida que a sua razão lhe pudesse estar a construir para o fazer recuar.
Não, ele não iria recuar. Naquela noite iria entregar-se ao Mike. Dar-se todo.
E com as mãos do Mike, o seu pau ficou muito duro e pronto.
Antes de se dar, iria ter para si...
Precisaram de se afastar por breves instantes para se despirem. Livraram-se das roupas à pressa, atirando-os para todos os cantos do quarto. Chester abriu a gaveta da mesa de cabeceira e retirou uma caixa de preservativos e uma embalagem de lubrificante. Corou ao abrir a caixa, desviando o olhar de Mike.
- Consegui trazer isto às escondidas... desta vez, foi mais difícil.
- Sempre confiei em ti para estares bem preparado. E sempre estiveste...
- Yeah...
Tremia ao colocar o preservativo e Mike ajudou-o. Roçou o nariz no dele para o fazer encará-lo. Sorria-lhe.
- Ei... sou eu, Chazy. E vais começar tu.
Deu-lhe um segundo beijo, enquanto retomava a posição inicial. Sentou-se sobre as suas coxas, joelhos fletidos outra vez quase a lhe tocarem nas orelhas. Da boca, passou para o pescoço. Mike trincou, beijou e chupou. Chester deitou a cabeça para trás, queixo apontado para o teto e deixou-se trincar, beijar e chupar. A mão esquerda de Mike massajava-lhe o falo lentamente e ele gemia em consonância, num registo rouco, prolongando o som com a carícia. O seu sexo roçava-se no de Mike e ele começou a imaginar levá-lo à boca, como tinha feito tantas vezes. Numa mamada de levar o japonês aos confins do Sistema Solar, para além de Plutão.
Mas hoje, não. Hoje ele não vai ter a tua boca... ele vai ter o teu...
Um apertão mais vigoroso no pénis e ele uivou, de dor e de prazer. Mike mordiscava-lhe o lóbulo da orelha esquerda e Chester estava a perder o juízo com aqueles preliminares.
- Spike...
- Agora.
Olhou para baixo e viu-o a passar uma dose de lubrificante no seu pau que já estava vestido com a camisinha. A seguir, Mike chegou-se mais à frente e enfiou-o todo até ao fim, a soltar pequenos grunhidos. Chester quedou-se estático, a sentir como o buraco do Mike se contraía em redor do seu pénis duro, um calafrio gelado de pura delícia a invadir-lhe o corpo e o espírito e todos os seus sentidos. A sua visão desfocou-se.
- Ah... Spike, isso é...
- Chiu! Deixa-me... controlar... deixa-me fazer...
Mike começou a mexer-se em cima dele, para cima e para baixo, apoiado nos seus ombros. Chester movia a anca, igualmente para cima e para baixo, para ir mais fundo, para sentir-se mais dentro de Mike, com os braços esticados, abertos para trás. Estiveram nessa posição, sentados, a gemer e a arfar, até que Chester veio-se num urro. Estremeceu demoradamente, em espasmos de gozo selvagem.
- Mike! – disse entre dentes, abafando o grito. – Oh!... Mike... Mike...
Mike sorria-lhe, suado e satisfeito. Os cabelos colavam-se-lhe à testa e tinha os olhos mais escuros do que o habitual.
Chester agarrou-lhe no pénis e moveu a mão, frenética. Ele afastou-se com um safanão, separando-se dele. Mike gemeu ao sentir o fim da penetração. Arquejou insatisfeito, pois ainda não tinha ejaculado. Chester ia para agarrar-lhe no pénis outra vez, para o masturbar, mas o outro esquivou-se. Em vez disso, sentiu o seu próprio pénis agarrado e olhou para baixo. Foi Mike quem arrancou o preservativo cheio de sémen, deu-lhe um nó e pôs-se de joelhos sobre o colchão. O seu pau era um mastro gigantesco e apetecível. Chester lambeu os lábios, mas Mike tornou a recuar.
- Não, não... não vai ser assim, Chazy! Hoje a tua boca é para outras coisas.
- Porra... que coisas?
- É para a minha boca.
Inclinou-se e deu-lhe outro beijo. Chester não o deixou fugir. Prendeu-o com uma mão na nuca, puxou-o e conseguiu enrolar a sua língua na de Mike, num linguado lascivo e cheio de saliva. As suas bocas estiveram unidas durante mais tempo do que o razoável, mas o pecado já morava ali, eles só tinham era de vivê-lo em toda a sua maravilhosa perdição. Mike levantou a mão direita, depois de um pequeno beijo.
- Vou só deitar isto no caixote do lixo da casa de banho e já venho. É a tua vez. Prepara-te.
- Preparo-me?
- Hoje é só perguntas... estás a deixar-me cada vez mais doido por ti. Parece que nunca fizeste isto comigo.
- Sóbrio... não.
Quando Mike regressou, ele estava deitado de costas e hesitante, a estimular o seu sexo que voltava a endurecer, a lembrar-se de como tinha sido bom comer o Mike daquela maneira diferente. A olharem um para o outro, quase como se ele fosse uma gaja – não fosse a glande do outro a tocar-lhe acima do umbigo e ele podia efabular que estava na cama com uma mulher.
Mike enfiou um preservativo no seu pau que continuava gigantesco. Entreolharam-se e Chester sabia que tinha chegado o momento. A mensagem fora dele, o convite partira dele. Hora de se dar, já que tinha recebido.
Colocou-se de gatas, o peso do tronco assente nos antebraços. Cerrou os dentes, respirou fundo. Escutou o restolhar dos lençóis, o Mike que se colocava na posição adequada, atrás de si.
Primeiro, as mãos. Uma em cada nádega. Uma carícia breve, cuidadosa. A seguir, sentiu o toque na sua abertura, muito suave, lento, singelo. Um dedo do Mike explorava, sem pressa, a sua elasticidade. Entrou devagar e Chester arqueou as costas.
- Mike... – gemeu, a tremer.
- Chiu. Confia em mim. Não te vou magoar.
- Mike.
O seu ânus latejou, quente. Sentiu um segundo dedo a entrar também lentamente e derreteu-se para cima do travesseiro, a conter os gemidos. A garganta apertava-se e tinha o pénis dorido de tão rígido. Nem parecia que tinha acabado de ejacular. Estava pronto para outra. A sua líbido incendiou-se. A sua mente focou-se naquela sensação imensa de estar a ser invadido e de como desejava aquilo com fanatismo e paixão, como se a sua vida dependesse disso.
- Mais... mais – disse num soluço.
- Devagar, Chazy – sussurrou Mike, debruçando-se sobre as suas costas suadas. Mexia os dois dedos para dentro e para fora, nunca os retirando totalmente. – Devagar. Quero que me peças, primeiro.
Na neblina fosca que lhe toldava os sentidos, ele tentou compreender.
- Pedir-te... pedir-te o quê?
- Pede-me, Chazy. Pede-me para que eu te possua.
- Spike, estás a... estás a...
As palavras não saíam. Não conseguia formular uma declaração coerente. Ele tentou engolir, mas desistiu. A garganta continuava apertada, a sua mente baralhada e ele era todo sentidos e febre. A saliva escorreu-lhe pelo queixo.
- Spike...
- Pede.
- Fode-me, Spike – ele pediu.
Deixou de sentir os dedos. Um instante de frescura, de espaço... A sua entrada foi tomada por um volume duro e húmido. Para além do preservativo, Mike tinha lambuzado o pau de lubrificante, entretanto. Ele arrebitou as nádegas, expondo-se, muito, muito relaxado. Confiante de que seria maravilhosamente fácil deixar-se foder. Fora ele que pedira. Vem. E o Mike tinha vindo.
E ele queria muito. Naquele estágio de desejo e de imoralidade, era o que ele mais queria no mundo. Condenando-se voluntariamente naquele inferno lascivo.
Fechou os olhos. Sentiu o pénis do Mike a penetrá-lo, cada centímetro, cada pedaço, aquele pénis maravilhoso que ele tinha tantas vezes chupado, acariciado, envolvido, amado. Gritou. Agitou-se quando julgou que o Mike estava a recuar.
- Não pares! Porra, se parares... se parares, mato-te.
- Chazy, eu...
- Não pares – chorou, cheio de tesão. – Ai, Spike...
- Estás tão apertado. Não vou aguentar muito mais tempo.
- Fode-me e cala-te.
E o Mike fodeu-o. Chester fechou os dois punhos no lençol, arrepanhando o tecido, amarrotando-o, torcendo-o, quase o rasgando. Cerrou os dentes durante o coito. Escutava os gemidos do Mike e nisto era também ele a gemer.
Ejaculou longamente, pela segunda vez naquela noite, a clamar:
- Mike! Mike, oh, Mike... Mike...
A esfrega durou outros tantos segundos, dentro dele, numa invasão deliciosa. Mike empurrou-se tosco de encontro ao seu cu e também ejaculou, murmurando o seu nome num gorgolejar rouco.
- Chester. Chester... Chazy, és... é muito bom. Muito bom! Ai...
Ele deixou-se abater, de barriga para baixo sobre a cama. Depois de ter ido atirar o segundo preservativo para o lixo, Mike deitou-se ao seu lado, na mesma posição, próximo, tão próximo que lhe passou um braço por cima das omoplatas. Era pesado e estava molhado do suor. Lembrou-se que tinha de ir ligar novamente o ar condicionado, mas estava exausto demais para se levantar daquela cama. Murmurou:
- Eu sei que sou uma boa foda.
- Idiota.
O sono dominou-os e adormeceram juntos.
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