3| Jeon Jeongguk é uma garota?
Kim Hyeri sempre dizia que Taehyung herdara sua personalidade sensitiva de sua falecida avó. Ele se lembra vagamente de sempre ouvir histórias de como a velhinha de vez em quando reclamava de dores nos joelhos e jurava de pé junto que era previsão de uma tempestade se aproximando — mesmo que fosse apenas sua artrite atacando —, o pior era que mesmo com os noticiários anunciando dia ensolarado, ela nunca errara em suas previsões.
Taehyung não sentia dores quando tinha alguma sensação estranha, mas ficava incomodado e estranhamente também nunca errara em suas paranoias. Como o dia que teve a estranha sensação que Namjoon estava sendo perseguido por um calouro de artes e no dia seguinte o garoto pegou seu hyung sozinho na saída da faculdade. Fora assustador, tanto que Namjoon jurou denuncia-lo para polícia se continuasse com aquilo.
Portanto, se Taehyung estava se sentindo incomodado com alguma coisa, certamente era motivo de preocupação, por isso ele não ignorou aquela sensação conhecida quando acordou ainda de madrugada naquele sábado sentindo-se sufocado. Alguma coisa tinha ou estava para acontecer e ele esperava que não fosse ruim.
Como era sábado, sua rotina era justamente ficar na cama até mais tarde, apesar de não sentir um pingo de sono, ele se manteve deitado até o relógio apontar quase onze horas. Foi para o banheiro, escovou os dentes e ainda de pijama resolveu tomar café antes de qualquer coisa. Embora não tivesse bebido demais na festa, ainda assim sentia que necessitava de um café fortíssimo para se manter de pé.
A sala de seu apartamento estava um breu, as cortinas estavam todas fechadas, a única coisa que ajudava Taehyung chegar na cozinha sem esbarrar em nada era a luz que vinha do corredor. Agindo no automático, ele preparou o café, entretanto antes que pudesse tomar um mínimo gole da sua bebida ardente, ouviu um barulho vindo da sala, como se algo tivesse caído causando um estrondo incomum fazendo o rapaz de fios castanhos parar a xícara no meio do caminho até a boca e olhar confuso para a porta da cozinha.
Não podia ser Tannie, seu cachorrinho, até porque o animalzinho estava passando um tempo na casa da mãe, pois estava em um período estressante na faculdade e temia não ter tempo para cuidar do bichinho, e lembrar daquele fato fez Taehyung soltar a xícara na pia e pegar uma das frigideiras que estavam ali.
Qual é, Taehyung não era lá a pessoa mais corajosa do mundo, morava sozinho desde que entrara na faculdade, e mesmo que tivesse se acostumado com sua nova vida sem sua mãe dormindo no quarto ao lado, pronta para salva-lo caso gritasse por ajuda, ele vivia em constante paranoia.
Quando saia de casa; "será que desliguei o gás? "
Quando finalmente seu corpo pedia algo além do que um pote de rámen; "não acredito que não fiz a compra do mês"
Quando era madrugada e ouvia algum barulho vindo de dentro do apartamento e ele nem podia imaginar que fosse sua irmã ou mãe.
Então ouvir aquilo era uma coisa enorme na cabeça de Taehyung, ele não tinha os músculos e a habilidade em luta de Jeongguk caso fosse um ladrão, a frigideira seria sua arma e nada importava. Ele nem se lembrava se tinha trancado a porta na noite passada quando chegara da festa, droga.
Em passos cautelosos, Taehyung se aproximou da entrada da sala, segurando a frigideira com as duas mãos na altura da cabeça, pronto para atacar o que é que fosse, botou apenas a cabeça para dentro do cômodo e observou a sala escura.
— Quem 'tá ai? — perguntou alto o suficiente para ser ouvido, mas logo cerrou os olhos ao imaginar o quão ridículo estava parecendo naquele momento.
Entrou completamente no cômodo quando não recebera resposta nenhuma, então rapidamente foi até o interruptor acender a luz. Quando a sala foi iluminada completamente, a primeira coisa que Taehyung viu foi um corpo jogado em seu sofá com as pernas abertas e grunhindo pela a luz no rosto atrapalhando seu sono.
— Puta que pariu! — gritou consequentemente assustando a pessoa também que se levantou exasperada olhando para os lados perdida.
Quando ela enfim se tocou onde estava e quem estava gritando, relaxou e rolou os olhos.
— Não grita assim, idiota. Isso é hora de acordar? Estou aqui há um tempão. — a pessoa resmungou sonolenta e Taehyung franziu o cenho confuso.
Olhava para os lados apenas para ter certeza que aquela garota - que tinha certeza que nunca vira na vida - estava falando consigo.
— Olha, eu não sei que tipo de brincadeira é essa, mas esse apartamento é meu e se não sair agora chamarei a polícia. — soltou de uma vez, a garota não parecia nem um pouco preocupada com a ameaça explicita, ela lhe encarava com tédio evidente e isso apenas deixou Taehyung ainda mais perdido. — Como entrou aqui, afinal?
A garota resmungou algo incompreensível enquanto levantava os braços finos para se espreguiçar, a manga da camisa larga que usava deslizava pelos braços branquinhos, só então Taehyung percebeu a roupa que ela usava; um moletom preto que parecia grande demais para si, pois precisou dobrar a barra até o tornozelo e apertar o barbante no quadril, uma camisa enorme cinza com uma estampa de um filme de super-herói que Taehyung podia jurar já ter visto seu amigo usando várias vezes, principalmente porque foi ele quem deu de presente. E nos pés um par de chinelos que deixava boa parte livre nos calcanhares.
— Eu tenho as chaves, bobão. — respondeu petulante.
Taehyung soltou uma risada, mas nem de perto era de divertimento, estava mais para nervosa e desacreditada. Abaixou a frigideira, pois era impossível que aquela garota baixinha e magrinha fosse algum tipo de psicopata, ele conseguiria lidar sem usar meios bruscos.
— Tudo bem, não sei quem é você, não sei como entrou aqui. Mas agora preciso que saia, pelo seu estado deve ser alguém que acabara de fugir de casa e eu posso até te levar na delegacia e procurar seu-
— Taehyung. — interrompeu, a garota lhe fitava com desinteresse, Taehyung viu quando ela abriu os braços e suspirou. — Sou eu. Jeongguk.
Taehyung ouv—u bem o que a garota disse, mas demorou cerca de cinco minutos para absorver a informação, Jeongguk apenas esperava pacientemente quando ele estivesse pronto. Ele entendia que fosse difícil para o amigo acreditar em si e teria que ter paciência.
Por fim, quando enfim pareceu pensar naquilo, Taehyung caiu na risada, largou a frigideira em cima do móvel ao lado da porta e se curvou ainda gargalhando, chegando até mesmo em ficar vermelho. Jeongguk observava tudo com as mãos no quadril e respirava fundo a cada segundo que o som exagerado da risada do mais velho invadia o apartamento.
— Agora eu entendi tudo... aquele bastardo... — murmurou rindo desacreditado enquanto tentava acalmar o pequeno surto, Jeongguk franziu o cenho quando o mais velho lhe encarou e apontou o dedo em sua direção. — Aquele idiota, te mandou aqui para fazer essa brincadeira sem graça, né? Pois fale pra aquele babaca que ele já foi melhor e aproveita e diz que pode morrer com a ressaca que eu não vou cuidar dele hoje.
Jeongguk bufou audivelmente.
— Taehyung... Jeongguk não mandou nada, porque eu sou o Jeongguk. — falou desesperado. Taehyung deu risada.
— Claro, e eu sou o Leonardo DiCaprio. — respondeu divertido. — Isso está muito divertido, mas agora quero que vá embora, a promessa de a polícia ser chamada ainda está de pé.
Quando Taehyung caminhou até a porta e abriu como um convite claro para que saísse, Jeongguk se desesperou.
— Eu sei que parece loucura, e acredite, eu achei que estava louco hoje de manhã quando acordei num maldito corpo de uma garota. Mas eu preciso que acredite em mim e me ajude, Tae. Eu não faço ideia do que fazer. — confessou em um choramingo que quebraria o coração de Taehyung se a história não parecesse bizarra demais para engolir.
Taehyung engoliu em seco.
— Agora eu estou preocupado, vou ligar para a polícia. — ditou por fim já se aproximando do celular que ele deixou no pequeno suporte atrás do sofá.
Jeongguk do outro lado do sofá arregalou os olhos e em um surto de desespero simplesmente correu até o mais velho e enquanto ele discava o número da polícia, não percebeu o corpo pequeno se jogando nas suas costas.
— Mas que porr-
Era uma cena engraçada para quem visse de fora, Taehyung estava perplexo com a ousadia daquela criatura pequena, porém determinada. Enquanto tentava inutilmente discar o número no telefone, a garota se agarrava em suas costas como um bebê coala, pernas torneadas e cobertas pelo moletom largo lhe abraçavam pelo quadril de maneira firme, um braço estava quase estrangulando o rapaz enquanto a outra mão estava ocupada tentando tirar o telefone das mãos alheias.
Taehyung se remexia tentando tirar a garota de suas costas, mas ela estava lhe agarrando tão firmemente que provavelmente ele poderia fazer todos os seus afazeres do dia normalmente e ela continuaria ali tranquilamente.
Vencido pelo cansaço, ele parou de se remexer, e tal ato foi o que Jeongguk precisava para conseguir pegar o telefone do outro, então só assim se soltando do corpo alheio.
Ainda sem entender muito bem o que diabos tinha acabado de acontecer, Taehyung se virou pronto para fazê-la explicar, mas encontrou um rosto emburrado enquanto mantinha as mãos atrás do corpo, numa tentativa de deixar o telefone fora da vista do mais velho.
Era o ridículo o fato de Taehyung começar a notar a semelhança da garota com o amigo e culpava ela mesma por colocar aquela besteira em sua cabeça. Os cabelos pretos, os olhos negros de corça, o lábio inferior mais cheinho do que o superior, e ele podia jurar ter visto a pintinha idêntica embaixo da boca. Estava ficando louco e só percebeu isso quando viu a garota fazer um biquinho emburrado, exatamente como Jeongguk fazia quando não conseguia o que queria.
Balançando a cabeça pronto para esquecer aquele pensamento ridículo, abriu a boca para manda-la novamente embora, mas ela foi mais rápida ao desatar a falar:
— Você precisa acreditar em mim, Tae. Eu sou o Jeongguk, seu melhor amigo. — continuou pressionando a mesma tecla e Taehyung respirou fundo a procura de paciência. — S-se eu não fosse seu amigo, como eu saberia que tem uma marca de nascença na bunda em formato de cachorrinho?
Taehyung abriu a boca perplexo, Jeongguk podia jurar que conseguiria convencer o amigo, mas se enganou quando ele suavizou a expressão e deu de ombros.
— Quando eu e Soyeon transamos pela primeira vez, ela fez questão de contar esse detalhe para as amigas e em poucas horas a universidade toda sabia, isso não é um segredo extraordinário. Vai precisar de mais do que isso, baixinha.
Jeongguk bufou baixo. Então arregalou os olhos ao lembrar de algo que o fez sorrir malicioso na direção do mais velho, já o rapaz de fios castanhos franzia o cenho desconfiado.
— Aos quatorze anos você assistiu seu primeiro pornô, e durante a noite quando foi dormir na minha casa, acabou sonhando e tendo seu primeiro orgasmo dormindo. -— falou sem vergonha alguma enquanto caia na gargalhada ao lembrar do acontecido.
Naquela fatídica madrugada, Taehyung acordou incomodado e quando se descobriu sua calça do pijama estava completamente melada, ficou tão envergonhado por ter acontecido aquilo, principalmente com Jeongguk dormindo bem ao seu lado na cama, que foi correndo para o banheiro todo atrapalhado, caindo algumas vezes ao tropeçar nos sapatos jogados no chão.
Ele queria se esconder para sempre, mas precisou contar aquilo ao amigo quando se limpou, pois precisava de uma cueca e calça emprestadas, além da sua promessa que nunca contaria aquilo para ninguém. Seria mais um dos milhares de segredos que compartilhavam.
— Aquele desgraçado... ele prometeu que isso seria levado para o nosso tumulo. — Taehyung estava extremamente irritado com a traição, nem percebeu o dito cujo revirar os olhos.
— Como você é burro, puta que pariu.
Taehyung nem ouvira a ofensa, estava mais preocupado com a maneira que mataria Jeongguk quando o visse.
— Eu posso ter muitos defeitos, mas fofoqueiro não é um deles. — resmungou cansado. Não pensou que seria tão difícil convencer Taehyung que de fato aquela garotinha ali era ele. — Lembro que prometemos levar para o tumulo também que seu primeiro beijo... não foi com uma garota.
Alfinetou e sorriu endiabrado quando Taehyung arregalou os olhos e abriu a boca em completo choque. Ele não tinha vergonha do fato de já ter beijado um garoto na vida, mas sim da situação que foi posto quando isso aconteceu, e era bem obvio quem o meteu nessa.
Quando Taehyung estava no primeiro ano, Jeongguk teve a brilhante ideia de chamar algumas pessoas da sua turma e da turma de Taehyung para jogarem o jogo da garrafa atrás da escola durante o intervalo — até o presente momento o mais velho não faz ideia de como o amigo conseguiu o convencer a fazer aquilo, era ridículo —, seria um jogo normal envolvendo adolescentes cheios de hormônios, seria legal... se Jeongguk não tivesse esquecido de chamar as garotas.
Só garotos compareceram e de uma maneira estranha Jeongguk conseguiu fazer com que todos — inclusive Taehyung — a não irem embora correndo e ficarem para jogarem, o garoto possui um estranho poder de manipulação que faz todos fazerem o que ele quer sem perguntarem uma segunda vez e isso sempre surpreendeu o Kim.
O fato é que naquela tarde, seu primeiro beijo, um selinho todo desajeitado, tímido e cheio de estranheza foi dado em Park Bogum, um garoto de sua turma que não trocara mais que duas palavras na vida, e aquilo diminuíra ainda mais depois do ocorrido, pois ambos ficavam constrangidos demais até de manter contato visual.
Jeongguk também estava no jogo, mas não beijou ninguém, quando sua vez chegou o sinal do fim do intervalo tocou. Maldito sortudo.
— Quando eu ver aquele pirralho dos infernos, eu vou matar ele. — grunhiu com raiva, Jeongguk apenas observava de braços cruzados o surto de seu hyung. O sorriso que mantinha no rosto desmanchou quando Taehyung lhe encarou de cara fechada. — Agora chega, você vai embora e diga àquele bastardo que não quero ver a cara dele na minha frente até o fim de semana acabar.
— Taehyu-
Não teve tempo de correr para longe, quando deu por si, as mãos enormes de Taehyung lhe agarraram pelos braços, forte o suficiente para não machucar, mas também não deixa-lo fugir e ignorando os protestos da menina baixinha, ele a levou até a porta já aberta e a empurrou sem brutalidade para fora.
Com um sorriso de canto ainda falou:
— Diga para Jeongguk que mandei um 'oi' — então bateu a porta na cara da garota que estava chocada demais para conseguir agir.
Piscou aflito enquanto encarava a porta branca do apartamento do amigo, Taehyung era literalmente sua única esperança, não tinha ninguém a quem recorrer. Poderia ligar para Jimin, que também é próximo, mas não era a mesma coisa, existia coisas que Jeongguk confiava apenas a Taehyung e a ninguém mais, e aquilo era uma dessas coisas.
Choramingando, lutando contra a vontade de chorar de frustração, Jeongguk encostou a testa na porta e fungou baixinho enquanto começava sua última tentativa, torcendo mentalmente para que Taehyung estivesse do outro lado da porta ouvindo tudo.
— No meu aniversário de treze anos, você ficou triste por não ter conseguido me comprar um presente, então eu falei que qualquer coisa que você inventasse eu aceitaria e consideraria o melhor presente da minha vida. — soltou um sorriso nostálgico ao se lembrar daquele dia. — Então você inventou que nós fizéssemos uma capsula do tempo, só nossa, totalmente diferenciada, onde ao invés de escrevermos sobre nosso presente, escreveríamos o que desejávamos para o futuro. A ideia era que dali a trinta anos, voltássemos lá para descobrirmos se conseguimos conquistar nossos sonhos.
Jeongguk fez uma pausa apenas para tomar fôlego, então respirou fundo. Ele não sabia se Taehyung conseguira ouvir, não conseguia ouvir nenhum barulho dentro do apartamento e temia muito que tudo aquilo fosse em vão.
— E nós fizemos isso, escrevemos em um papel, colocamos dentro de uma garrafa e enterramos no quintal da minha mãe. -— Jeongguk dá uma risada soprada. — Todo ano eu agradeço pela minha mãe nunca trocar de endereço, porque seria estranho voltarmos lá para cavar o quintal de um estranho.
Murchando a expressão novamente, Jeongguk fungou.
-— Tae, prometemos nunca contar isso para ninguém, era algo nosso e ninguém deveria fazer parte além de nós. E eu nunca quebrei essa promessa.
Silêncio, foi o que Jeongguk recebeu em resposta. Com uma expressão visível de derrota, se afastou da porta e estava pronto para ir embora dali e acabar com toda aquela humilhação, mas o barulho da tranca fez com que ele fincasse os pés no chão de olhos arregalados.
Quando a porta se abriu e um Taehyung de expressão desconfiada e dura apareceu, Jeongguk soltou a respiração que nem sabia que estava segurando, talvez ele não estivesse totalmente convencido, mas com certeza conseguira colocar a pulguinha atrás da orelha.
— Eu estou falando a verdade, Taehyung... — murmurou em um fio de voz, que não passou despercebido pelo rapaz de fios castanhos. — E eu não sei o que fazer, esperava que você pudesse me ajudar, você é o único capaz disso.
Taehyung nada disse, não bateu a porta na cara dele e muito menos pareceu caloroso quanto a situação, ele simplesmente franziu os olhos, como Jeongguk bem sabia que ele só fazia quando estava analisando a situação. Ele lhe fitava de uma maneira tão fixa que começava a se sentir tímido diante do olhar intimidador.
Por fim, o rapaz suspirou, fechou os olhos por um momento enquanto sussurrava apenas para si mesmo um "isso é loucura, Taehyung". E para a surpresa de Jeongguk, o mais velho saiu da frente da porta e abriu espaço para si, não deixou que ele pensasse muito quanto a isso, pois no exato momento já estava dentro do apartamento novamente antes que Taehyung mudasse de ideia.
— E-eu... vou pegar um... copo d'água 'pra você. — murmurou perdido, a situação toda por si só era estranha e era notável o quanto Taehyung não sabia lidar com ela. Jeongguk arqueou as sobrancelhas quando seu hyung apontou para o sofá todo desajeitado. — Se sinta em casa, ou nem tanto... enfim.
E correu para a cozinha, Jeongguk deu uma risada antes de se sentar no sofá e apenas esperar, seus olhos automaticamente foram para a estante onde Taehyung deixava amostra os porta-retratos. Ele tinha o costume de arruma-las em nível de prioridades, mas apenas Jeongguk sabia daquele detalhe. Normalmente fotos dele sozinho ficava dentro da estante protegidas pela portinha de vidro, assim como fotos dos amigos.
Fora dela, a vista de todos, ficava as fotos importantes e que possuíam alto valor sentimental; uma foto com seus pais e irmã, uma foto sua com seu cachorrinho e Jeongguk não pôde deixar de sorrir quando viu ao lado uma dos dois, tirada no aniversário do ano passado de Taehyung.
Taehyung voltou segurando um copo com água até a metade e Jeongguk sorriu ao pegar, observou o amigo se sentar do outro lado do sofá, o mais longe possível de si e quis revirar os olhos.
— Tudo bem... — Taehyung começou, respirou fundo antes de continuar: — Digamos que eu acredite que você é o... Jeongguk.
Taehyung ainda soltava risadas nervosas e desacreditadas ao dizer aquilo, e Jeongguk entendia a situação, era algo inusitado demais e não esperava que seu hyung agisse normalmente.
— Como acha que isso tenha acontecido? — Jeongguk bufou ao tentar organizar a mente, como estava tentando fazer desde que acordara aquela manhã.
— Eu não sei, talvez você se surpreenda, mas eu nunca tinha acordado no corpo de uma garota antes, sou meio novo nisso, sabe? — falou com sarcasmo e Taehyung riu.
— Okay, agora parece o Jeongguk.
Jeongguk bufou.
— Já tentou, sei lá... refazer todos os acontecimentos do dia anterior? — indagou tentando ajudar, podia não acreditar muito naquelas coisas, mas a sementinha da desconfiança estava plantada e ele começava a ficar curioso.
— Dia normal, treinei basquete, almocei com você e os meninos, fui 'pra casa de tarde e fiquei jogando até dar a hora de começar a me arrumar para a festa.
Taehyung ficara surpreso em como a garota baixinha dizia tudo aquilo e ele conseguia ver Jeongguk ali, em carne e osso, a maneira de falar, a maneira de agir e sua rotina que ninguém saberia dizer, apenas se fosse uma stalker. Seu vício por jogos de vídeo game não era de conhecimento geral.
— E depois? — incentivou.
Jeongguk não entendia o porquê da pergunta, Taehyung ficara ao seu lado a noite inteira, mas talvez ele ainda quisesse que provasse alguma coisa então rolou os olhos antes de continuar.
— Não sai do seu lado um minuto se quer, e no fim quando combinamos de ir embora, recebi uma mensagem sua dizendo que já tinha ido embora e era para eu arrumar outra carona. — narrou todos os acontecimentos que Taehyung já sabia, mas precisava apenas confirmar. — Inclusive, péssimo amigo você, idiota.
— Fale isso 'pra boca da Nayeon...-— alfinetou, mas antes que Jeongguk tivesse a chance de rebater ou perguntar o que aquilo significava, Taehyung não deixou que o assunto aprofundasse. — E depois da mensagem? Você pediu a carona?
— Não. Não sei. — falou e franziu o cenho ao perceber que depois daquilo, tudo na sua mente não passava de borrões. -— Talvez.
Taehyung observou a garota passar a mão exasperada na cabeça, tentando de alguma maneira se lembrar de algo, mas ao não dar certo grunhiu de frustração. Ele começava a se compadecer.
— Tudo bem, seja lá o que tenha acontecido, aconteceu durante a madrugada, depois que fui embora. Precisamos fazer você se lembrar então saberemos como prosseguir. — falou e Jeongguk assentiu cabisbaixo, aproveitando o momento para tomar o resto da água. — Mas eu acho que precisamos de ajuda.
Jeongguk arregalou os olhos e o encarou, ele segurava o copo com as duas mãos e Taehyung começou a notar similaridade com o amigo.
— Com o que? — Taehyung apontou para as roupas que a menina usava.
— Eu aceito te ajudar mesmo com o pé atrás, mas não vou andar com você usando isso, parece que te resgatei da rua. — falou e Jeongguk abriu a boca completamente ultrajado.
— Eu sempre usei isso. — o rapaz apenas deu de ombros.
— E se Deus quiser, finalmente vou me livrar dessas coisas horrendas que você chama de roupa.
— Vai se foder. Foi você quem me deu essa camisa.
— E eu me arrependo todos os dias.
🏀💄
Com a saída de Jeongguk da sala, Taehyung aproveitou a ida dele no banheiro para pensar com coerência, ele estava extremamente perdido, enquanto se sentava no sofá e afundava o rosto nas próprias mãos, tentou raciocinar tudo que aconteceu naquela manhã estranha.
Uma garota invadiu seu apartamento;
Uma garota que sabia muito de sua vida e de coisas que apenas Jeongguk sabia;
Uma garota que falava, agia e possuía semelhanças incontestáveis com o seu melhor amigo;
Uma garota que dizia com certeza ser Jeon Jeongguk, seu melhor amigo, um garoto, até onde sabia;
E droga, Taehyung começava a acreditar em toda aquela besteira, mas ainda era um pouco difícil de aceitar que algo assim tinha acontecido, não era religioso e nunca acreditou em misticismo, mas começava a considerar qualquer hipótese.
Com Jeongguk demorando, Taehyung se viu ainda mais paranoico, e se aquela garota não passasse de uma louca qualquer, que stalkeou muito bem sua vida e a de Jeongguk apenas para ir ali e engana-lo? Teria que ter certeza onde estava se metendo, certo?
Com esse pensamento, seus olhos foram diretos para o copo que Jeongguk estava tomando água, com uma ideia doida se passando pela sua mente, não demorou a pegar o telefone e fez exatamente o que ia fazer inicialmente, ligar para a polícia.
Enquanto mantinha os olhos castanhos fixos no copo, esperou os três toques da chamada até que uma voz bem conhecida por si soou. E Taehyung sorriu, pois era exatamente quem queria.
— Em que posso ajudar? — já atendeu perguntando, sem rodeios.
— Hyuk, exatamente a pessoa que queria falar. — sorriu inocentemente mesmo que o rapaz não pudesse vê-lo.
— Taehyung? Se estiver procurando pelo seu pai, ele foi acompanhar um interrogatório, precisa que eu o chame? — indagou preciso.
— Oh não, você será o suficiente...
— Eu?
— Uhum...— murmurou entortando a cabeça ligeiramente para olhar o corredor, apenas para ter certeza que Jeongguk não estava voltando. — Preciso de um favor. Um favor que inclui invadir dados, coletar digitais e toda essa parada que vocês fazem.
— O que? Eu não tenho permissão para fazer algo assim, Taehyung! Eu posso perder meu estágio. — Taehyung suspirou.
— Tenho certeza que você pode dar um jeito, se meu pai descobrir ou algo assim eu alivio sua barra, pode confiar. — o garoto do outro lado da linha parecia incerto, era apenas um estagiário afinal, qualquer deslize seria demitido.
— Eu não sei não, Taehyung.
— Será que devo te lembrar que me deve isso? — sorriu ao perceber o garoto prender a respiração de repente, com certeza tinha se lembrado do ocorrido. — Eu posso aliviar seu lado se for pego fazendo esse favor, mas o que você fez Hyuk... hm, não sei se posso fazer algo a respeito.
— O-okay, tudo bem, preciso de material para ser coletado.
Sorrindo vitorioso, Taehyung se levantou e com um pedaço de papel jogado na mesinha de centro, pegou o copo com cuidado, levantando-o até a altura dos olhos.
— Tenho marcas de dedos e dos lábios, serve?
— Mais que o suficiente, eu posso fazer isso, mas se eu me encrencar você toma a responsabilidade. — Taehyung deu risada.
— Como preferir.
Quando a chamada foi encerrada com o combinado do copo ser levado no dia seguinte até o fundo da delegacia onde o garoto estaria esperando, Taehyung respirou fundo, pois o resultado seria crucial para a conclusão de toda aquela baboseira. Quando estivesse em mãos a prova que a garota não passava de uma doida que sabia demais, talvez pudesse finalmente se livrar dela, entretanto, se o resultado for preocupante, ele ainda não sabia o que fazer quanto a isso.
Fora muita sorte conseguir convencer Hyuk a participar daquela loucura, mas sabia que era apenas medo de Taehyung abrir a boca para seu pai sobre o que tinha visto há alguns meses antes. Fora uma coincidência infeliz Hyuk estar fuçando as gavetas da mesa do delegado quando o filho do próprio chegou na mesma hora e viu tudo.
Para não ser denunciado, teve que contar a verdade a Taehyung, e talvez conseguir sua piedade. A verdade era que teve a brilhante ideia de baixar vídeos e fotos nada "decentes" em um pendrive, que coincidentemente era idêntico ao pendrive usado para guardar os relatórios que deveriam ser feitos por si e entregados na mão do delegado Kim. E bom, no momento de entregar, acabou trocando os objetos, e torcendo para que o Sr. Kim não visse toda aquela sem-vergonhice, se esgueirou para dentro do escritório do chefe na intenção de trocar os pendrives antes que alguém abrisse.
Ele teria saído impune, se Taehyung não tivesse visto tudo e não começasse a chantageá-lo a cada oportunidade que surgia.
Era irônico o fato de Taehyung viver julgando Jeongguk por sua péssima conduta, mas não era flor que se cheirasse tanto quanto ele. No fim, ambos eram perfeitos um para o outro.
Quando Jeongguk voltou para a sala, Taehyung montou um sorriso convincente que não denunciasse que estava aprontando, Jeongguk com certeza percebeu, mas preferiu deixar para lá, talvez ele estivesse agindo assim por conta de tudo que estava acontecendo, não iria julgar se ele começasse a surtar do nada.
Jeongguk e Taehyung se entreolharam em silencio, o Kim de um lado da sala, ainda com seu pijama azul quadriculado e do outro Jeon com sua calça enorme, camisa larga e cabelos pretos completamente bagunçados, ambos com pensamentos conturbados e sem saberem como prosseguir, então sorriram, um para se convencer que tudo seria resolvido logo e o outro para acalmar o próprio coração que palpitava de nervosismo por não saber o que o esperava.
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