15| Garotas não sentem medo
As 22h da noite, Jeongguk já estava no ponto de ônibus pronto para ir embora, não teve treino do time porque o treinador Kang queria que todos os jogadores fizessem teste físico, alguns tinham ido ao médico fazer exames e outros tinham sido mandados ao nutricionista da universidade depois de encontrar embalagens de fastfood escondidos atrás dos armários. Treinador Kang colocou toda a culpa do mal desempenho do time na alimentação, Jeongguk ouviu quando o treinador começou a falar os males das frituras e do refrigerante enquanto mastigava um hambúrguer na arquibancada.
Se ele soubesse sobre a vida nada saudável do seu jogador estrela, ele ficaria doido, Jeongguk pensou divertidamente.
Entretanto, Jeongguk teve que ficar até mais tarde organizando a bagunça da sala de equipamentos, e como havia muitas coisas pesadas, Minho se ofereceu para ajudar, quando acabaram a maioria das aulas já tinham terminado e a universidade estava quase vazia.
Enquanto o ônibus não chegava, Jeongguk suspirou cansado e retirou o celular no bolso do moletom que usava, apertou os olhos em tristeza quando viu as dez ligações perdidas de sua mãe, um pouco mais de oito mensagens e três delas eram áudios que ele temia apertar e ouvir os gritos de sua mãe, fazendo-o se imaginar dentro do universo de Harry Potter onde com certeza ela seria capaz de lhe enviar um berrador.
Mas ele sabia que ignorar era muito pior, então respirando fundo já se preparando para o que viria, apertou o primeiro áudio.
"Um mês que não me dá notícias, Jeon Jeongguk. Se eu souber que está aprontando eu vou te buscar pelas orelhas, garoto. Eu sabia que não deveria ter deixado você ir morar sozinho sem nenhuma supervisão, nunca mais ouço o que seu pai diz, ele nunca diz algo que preste mesmo. "
"Se você aparecer na minha frente, eu arranco seu couro, seu moleque. Um milhão de wons em roupas de mulher e nem era pra mim. Vai ser seu pai a pagar essa fatura porque é culpa dele você ser assim, de mim que você não puxou. Eu deveria tirar esse cartão de crédito das suas mãos, era pra estar comprando algo útil, apenas aceitei que tivesse um pra não morrer de fome, estou começando a me arrepender. "
" Jeon Jeongguk! Não ignore sua mãe, quando eu morrer você vai se arrepender de não ter me dado atenção quando tinha chance. Seu ingrato! Também não precisa mais responder, dá pra ver quais são suas prioridades, mas pode deixar que o carma vem. "
A cada áudio ouvido, Jeongguk franzia a testa um pouco mais, apertava os olhos a cada grito e xingamento que já era acostumado a ouvir desde pequeno quando aprontava, mas eram ignorados junto a um sorriso sapeca. Então ele tirou o fone de ouvido antes que seus tímpanos estourassem.
— Eu odeio cidade grande, os ônibus sempre demoram uma eternidade — de repente alguém falou ao seu lado, fazendo Jeongguk dar um pequeno sobressalto no banco e tocar o peito para checar se o coração ainda batia.
— Porra, que susto! — resmungou baixo, olhou de esguelha para o idoso de sorriso gentil que se sentou ao seu lado, Jeongguk ainda olhou para os lados tentando entender de onde ele tinha vindo.
— Está sozinha aqui, mocinha? Está tarde e é perigoso pra moças ficarem sozinhas assim — o senhor parecia preocupado, ele se sentou o mais longe possível e nas mãos se distraía manuseando uma moeda, ou outra coisa pequena e metálica, Jeongguk não conseguia ver daquela distância.
— Eu não sou uma moç- — pigarreou quando se lembrou, o senhor ainda lhe olhava sorrindo esperando uma resposta, então Jeongguk teve que sorrir de volta. — O ônibus vai chegar em breve.
— Mesmo assim, você deveria ter mais cuidado, vi no noticiário que tem um maníaco a solta aterrorizando mulheres... — Jeongguk sorriu e concordou apenas para dar algum crédito ao senhorzinho simpático, mas não acreditava realmente, talvez ele tenha visto uma notícia falsa em alguma rede social. O senhor notou seu desdém, entretanto, e apertou os olhos em sua direção — Você não parece ter medo.
— Não tenho, costumo voltar pra casa tarde da noite — "Quando era homem" Jeongguk pensou, ninguém mexia com ele e felizmente não havia acontecido nada parecido agora como Jungha, já teve sim experiências desagradáveis como no ônibus com Jisung e os comentários irritantes de seus colegas de time, mas nada que o deixou verdadeiramente com medo, apenas raiva.
O senhor acenou pensativo, ela ainda brincava com o objeto, fazendo-o ir de dedo em edo com uma habilidade impressionante.
— Eu tenho uma netinha, nunca presenciou nem passou por momentos assim, mas ainda assim tem medo porque a mãe dela ensinou desde cedo que mulheres estão vulneráveis a isso o tempo todo — Jeongguk encarou o velho desconfiado, ele não sabia o que o velho queria com aquele papo estranho, se sua intenção era colocar medo ou algo mais, disfarçadamente Jeongguk arrastou a bunda para mais longe, se o homem notou não fez comentário sobre isso — Provavelmente você não tem medo porque nunca presenciou algo do tipo.
Jeongguk olhou para o lado contrário ansioso, desejando que o ônibus chegasse logo para que ele se visse livre daquele maluco
— Talvez.
— Bom, pra tudo tem uma primeira vez.
— O que? — confuso sobre o que isso deveria significar, ele se virou, mas o banco estava vazio e o velho havia desaparecido sem deixar rastros, Jeongguk virou o corpo em 180⁰ para tentar ver por onde ele foi, mas sem sinal, ele voltou para frente completamente atordoado — Mas que merda?
Ele ainda estava estático tentando entender o que tinha acontecido quando ouviu passos se aproximando, Jeongguk distraidamente olhou para a direção do som pensando ser o velho, mas viu uma mulher se aproximando do ponto e logo atrás um homem com capuz preto, não passou despercebido para Jeongguk as vezes que a mulher olhava para trás e apressava o passo para manter distância. Intrigado, Jeongguk observou petrificado a expressão amedrontada da mulher e a maneira que o homem disfarçava parando apenas para olhar em volta então continuar a segui-la nenhum deles notava sua presença até o momento que passaram pelo ponto e o único que lhe notou foi o homem.
Jeongguk sentiu um calafrio quando o contato visual aconteceu e o homem lhe olhou de cima a baio como se olhasse um pedaço de carne, de alguma maneira Jeongguk sabia quais eram os pensamentos que se passavam na mente dele e sabia o que significava ele estar seguindo aquela mulher e o olhar dela de medo.
Jeongguk sentiu medo por ela e imaginou que ele também não estava imune quando foi olhado daquela forma. Sua mente ficou em branco e não sabia o que fazer mesmo que soubesse que não deveria fazer alguma coisa. Quando a mente pareceu se clarear novamente, ele agiu na impulsividade ao se levantar e gritar o primeiro nome que veio a cabeça.
— Chaeyong!
Tanto o homem quanto a mulher se viraram confusos com o repentino grito, sorridente, 'Jungha' passou pelo homem o ignorando e foi direto em direção a mulher que lhe encarava surpresa.
— Chae, quanto tempo. Quase não te reconheci. — exclamou animada, a mulher lhe olhava de cenho franzido, não entendendo o que era aquilo, mas quando viu a garotinha olhar disfarçadamente para o lado indicando o homem, ela entendeu rápido e resolveu entrar no teatro.
— Eu também mal te reconheci! Não acredito que nos vimos de novo. — exclamou falsamente, sorrindo uma para outra, as duas olhavam vez ou outra para o lado apenas para ver se o homem ainda estava ali, o homem estava de maneira desvergonhada disfarçando, atuando como uma simples pessoa parada na calçada olhando o movimento.
— Eu estava indo encontrar... meu namorado em uma lanchonete aqui perto, vamos comigo, podemos colocar o papo em dia. — falou e a garota foi rápida em concordar já entendendo a intenção da estranha.
Duas mulheres não espantavam aquele tipo de gente, mas ao ouvir a palavra 'namorado' — um homem — ele finalmente viu que não conseguiria nada, seu alvo já não estava mais sozinho então foi embora rápido. Ao ver que ele já não estava mais ali, a mulher suspirou aliviada e sorriu para 'Jungha'.
— Ele estava me seguindo desde que desci no outro ponto, pensei que teria que entrar no campus pra me livrar dele. Foi uma sorte você ter percebido. — a mulher murmurou tranquilizada — Obrigada.
'Jungha' sorriu.
— Qualquer um faria o que eu fiz. — ela balançou a cabeça no mesmo instante.
— Nem todos, alguns preferem ignorar e não se envolver. Eu não julgo, pra falar a verdade. — explicou com um dar de ombros conformado com a situação, Jeongguk engoliu em seco imaginando o quão recorrente aquilo parecia ser — Nós mulheres temos que ser unidas, porque se não nos ajudarmos ninguém fará por nós.
Jeongguk abaixou a cabeça pensando no assunto, então sorriu ao voltar a encarar a mulher que não aparentava ter mais do que 30 anos. Era bonita, usava uma calça giz preta, uma camisa de botões branca por baixo de um terninho cinza, não havia nada chamativo demais nela que justificasse os olhares que aquele homem estava lhe dando, mas logo Jeongguk constatou que o erro não era a roupa que ela estava usando e sim a mente do homem, mesmo que ela estivesse coberta dos pés a cabeça, ele ainda a veria como uma possível presa e isso era repugnante.
— Você tem razão.
A mulher sorriu, fuçou a bolsa até encontrar um bolo de cartões, entregou um a Jungha.
— Meu cartão, me ligue para que eu possa te compensar de alguma forma — no cartão dizia que ela era Cho Hyoyon, advogada. Levando em consideração o quanto Jeongguk era apto ao talento de se envolver em confusões, ter a amizade de uma advogada não seria ruim. Mas ainda assim ele tentou rebater.
— Não é necessário!
— Eu insisto — completou não deixando brechas para que 'Jungha' recusasse.
Quando a mulher partiu deixando Jeongguk sozinho, ele se viu pela primeira vez se sentindo inseguro e com medo, ele olhava para os lados, principalmente para onde o homem foi e mesmo que ele não estivesse mais ali, Jeongguk não saberia o que fazer se ele voltasse, então pegou o celular e ligou para Taehyung, ele atendeu no terceiro toque.
— Jeongguk? — atendeu perguntando, Jeongguk olhava para os lados ansioso.
— Hyung, você já está em casa?
— Sim, voce já voltou?
— Estou na universidade — Taehyung exclamou no outro lado da linha.
— Ainda?! Treinador Kang está pegando pesado com você — Jeongguk soprou um riso, o treinador só não gostava de tratar 'Jungha' com moleza apenas por ser mulher, ele sempre tenta trata-la de maneira mais imparcial possível, não como se fosse uma dama indefesa com medo de quebrar as unhas e ele sabia que 'Jungh' não era esse tipo de garota, ele tinha muito respeito por ela, não precisava ser delicado também, ai já era pedir demais.
Ela não estaria trabalhando como sua assistente se não aguentasse o tranco.
— Pode vir me pegar, por favor? — perguntou depois de um pigarreio desconfortável, Taehyung fez um silencio de 5 segundos estranhando o tom.
— Está tudo bem? — Jeongguk hesitou, contaria o que tinha acontecido, mas depois, quando não estivesse mais com o coração batendo igual uma britadeira.
— ... sim — falou —, está muito tarde, nenhum ônibus vai passar aqui a essa hora. Mas se estiver ocupado eu peço carona pra alguém por aqui. Acho que o Minho ainda está na quad-
— Eu já estou indo! Me espere no lado de dentro, eu ligo quando chegar, ficar aí fora sozinho é perigoso.
Não precisava dizer duas vezes, Jeongguk tinha voltado para dentro enquanto falava com ele no telefone.
— Você é o melhor, hyung! — exclamou aliviado, tinha certeza que Taehyung revirava os olhos no outro lado.
— ... claro. Estou indo, me espere.
— Sempre.
🏀💄
— Você não falou nada ontem a noite quando te busquei. Vai me dizer o que aconteceu? Você estava estranho — Taehyung perguntou depois de não aguentar mais segurar a curiosidade, Jeongguk estava andando na sua frente, respirou fundo e se virou.
Quando Taehyung o buscou, passaram a viagem toda em silêncio, Jeongguk não quis falar o que o incomodava e Taehyung também não insistiu, mas sabia que tinha algo e se esse algo o incomodava, ele queria saber. Jeongguk iria contar, ele só não estava no clima na noite passada, mas ali, ele decidiu falar.
— Uma mulher estava sendo seguida por um cara, ela estava apavorada, Taehyung. E eu também fiquei porque eu sabia o que aconteceria se eu não fizesse alguma coisa. — Taehyung parou o carrinho abruptamente, Jeongguk parou na sua frente, se apoiou no carrinho e encarou a prateleira enquanto falava — O desgraçado me viu, ele olhou nos meus olhos, não demonstrou medo algum por ser visto e teria continuado a seguir se eu não tivesse inventado que eu conhecia ela na hora.
Taehyung se moveu até estar ao seu lado, lhe olhou inteiro, de cima a baixo a procura de alguma coisa incomum, algum arranhão que não tenha visto.
— Ele fez alguma coisa? — Jeongguk negou.
— Quando ele ouviu que eu estava indo encontrar um namorado, o filho da puta foi embora. Sério, eu ver ele seguindo a mulher não causou medo, mas saber que tinha um homem esperando sim. Vai se foder! — exclamou irritado, Taehyung ainda não parecia convencido que não tinha acontecido algo a mais, olhava o tempo todo para Jeongguk, então viu quando o garoto franziu a testa pensativo e lhe olhou. — Mas sabe o que é mais estranho?
— O que? — perguntou atento.
— Antes de tudo acontecer, tinha um velho muito esquisito, ele veio com um papo meio estranho de que eu precisava tomar cuidado em andar sozinho porque eu era mulher, então ele sumiu — Taehyung arqueou as sobrancelhas meio perdido.
— Como assim "sumiu''?
— Sumiu, evaporou, puff, sumiu. Em um segundo ele estava lá e no outro não estava mais — explicou eufórico — E logo depois a mulher apareceu com o cara atrás, isso não é estranho?
Taehyung assentiu pensativo.
— Muito.
— Você acha que ele pode ser, sabe... o meu Guia Espiritual? — perguntou animado, Taehyung revirou os olhos.
— Você acreditou mesmo no que o Seokjin falou?
Jeongguk deu de ombros, agarrou o papel com sua lista de compras e voltou a andar pelo corredor.
— Faz sentindo com o que está acontecendo.
— Não faz não! Guia Espiritual, Jeongguk?! — Taehyung exclamou indignado seguindo-o com o carrinho já cheio, Jeongguk assentiu com desinteresse, estava com toda sua atenção no papel com a lista de compras — Você me chamou de doido quando te contei sobre as minhas pesquisas, mas chega um mais doido ainda e te fala sobre Guia Espiritual e você acredita tão fácil assim?
Jeongguk assentiu prontamente.
— Ele foi mais convincente que você. — Taehyung soltou uma risada desacreditada.
— Sinceramente. Isso nem faz sentido, por que você teria um Guia Espiritual? Não é tão importante assim. — Jeongguk levantou o olhar do papel e lhe encarou bravo.
— Está com inveja? E é claro que faz sentido. Eu já venho agindo como mulher por todo esse tempo e nada aconteceu, talvez não seja isso que ele quer. Eu preciso perceber o que ele quer que eu perceba.
— Que seria? — Jeongguk revirou os olhos, chegaram no corredor de produtos de limpeza e a 'garota' pegou um vidro de amaciante de roupas, colocou no carrinho que Taehyung empurrava.
— Se eu soubesse, a Jungha não estaria aqui falando com você, boboca.
— Rude. — resmungou com uma carranca enquanto observava o amigo checar a lista e pegar os produtos e colocar no carrinho.
Obviamente Taehyung estava ali simplesmente para ser usado como burro de carga, Jeongguk de repente ligou para si pedindo ajuda, seu tom parecia tão desesperado que Taehyung saiu de casa correndo, até esquecera de amarrar os cadarços. Quando chegou ao apartamento de Jeongguk, o encontrou na cozinha com as portas do armário todas abertas, assim como a da geladeira e ele dramaticamente resmungava enquanto escrevia em um papel rasgado o que estava faltando — que era basicamente tudo.
"Estou parando de procrastinar, hyung. Eu vou as compras e você vai comigo" foi o que ele disse quando Taehyung parou totalmente chocado que aquele garoto o fez correr ali como se tivesse sofrido um acidente gravíssimo para no final ser apenas mais um de seus exageros.
"Eu realmente não mereço isso" lembra-se de pensar naquele momento. Mas ainda assim, estava ali empurrando o carrinho enquanto Jeongguk pegava tudo que precisava e enchia o carrinho de comida, produtos higiênicos e de limpeza. Taehyung se perguntava como ele estava vivendo todo esse tempo, porque estava faltando literalmente tudo.
Chegaram no corredor de bebidas e Jeongguk encheu o carrinho de garrafas de cerveja, uma de vodca outra de saquê, Taehyung apenas assistia chocado as bebidas entrando e Jeongguk não parecendo satisfeito. Quando chegaram no próximo corredor, Jeongguk fez Taehyung pegar o saco de arroz depois de tentar e não conseguir levantar, rindo Taehyung colocou o pacote no carrinho. Há alguns metros dali duas senhorinhas observavam a cena e sorriam uma para o outra.
Apenas Taehyung percebeu os olhares, as duas senhorinhas sorriram quando perceberam que ele estava olhando, Taehyung acenou em respeito. Jeongguk por outro lado, estava riscando os itens da lista quando olhou para seu hyung e o viu olhando para o fim do corredor. As duas senhoras vieram em sua direção e passaram por eles, Jeongguk pôde ouvir com clareza uma delas murmurar para a outra.
— Que casal adorável.
Casal? Jeongguk perguntou em pensamento com a testa franzida, observou confuso as duas senhoras se afastarem para só então encarar Taehyung que tinha desviado o olhar para os produtos na prateleira, Jeongguk sabia que ele estava apenas disfarçando porque quem iria encarar com tanto afinco uma embalagem de molho de tomate?
Rindo silenciosamente, Jeongguk balançou a cabeça adorando a repentina timidez do seu hyung.
Com um suspiro, Jeongguk continuou a andar e Taehyung veio atrás.
— Sempre fazemos as compras juntos, mas nunca falaram que somos um casal adorável. — Jeongguk observou sem olhar para Taehyung, mas sabia que o rapaz tinha corado porque ouviu um pigarreio atrás de si.
Entretanto, o que foi dito como resposta fez com que seu sorriso morresse gradativamente.
— Claro, somos dois homens.
— Pois é, somos dois homens. — repetiu em um tom baixo, sentiu o peito doer de repente, mas ignorou, como sempre.
Embora Jeongguk soubesse que Taehyung estava certo, que as pessoas olhariam para os dois e nunca relacionariam a um casal real, ele não evitou se sentir um pouco desanimado porque aparentemente Taehyung também pensava daquela maneira. Taehyung sempre namorou garotas, desde o colegial nunca tinha se relacionado com nada além de lindas garotas.
Jeongguk tinha se tornado uma garota da noite para o dia e subitamente Taehyung também começou a mostrar interesse em si, não era difícil ligar os pontos. A insegurança pela primeira vez o atacou como um murro no estômago.
O resto da compra fora feito em silêncio, Taehyung estranhou quando Jeongguk parou de fazer comentários cínicos durante o percurso pelos corredores, falava o necessário, perguntava algo quando precisava, mas seu humor tinha piorado de repente e Taehyung não fazia ideia do que estava errado.
Na volta para casa, Taehyung colocou as compras no porta-malas do seu carro e durante todo o trajeto até o apartamento de Jeongguk, ele ainda não falara como normalmente fazia. Ele se manteve com o rosto virado para a janela e mordia a pontinha do dedo perdido em pensamento. Taehyung queria perguntar alguma coisa que fizesse Jeongguk voltar a tagarelar como sempre fazia quando estavam juntos, ele calado não era um bom sinal e Taehyung odiava vê-lo assim, mas sentia que deveria deixa-lo no seu canto, algo no seu íntimo dizia que se quisesse manter a harmonia entre eles, deveria se manter calado.
Chegaram no apartamento e Taehyung ajudou Jeongguk a guardar as compras, Jeongguk continuava calado, e Taehyung começava a ficar preocupado.
— Você 'tá bem? — resolveu perguntar quando terminaram de encher a geladeira, Jeongguk lhe encarou surpreso e forçou um sorriso tranquilo, ele deveria saber que Taehyung reconheceria todos os seus sorrisos.
— Claro, hyung. Só estou cansado, odeio fazer compras. — murmurou tentando soar convincente, Taehyung ainda não estava convencido, queria insistir até que Jeongguk lhe contasse o que estava de errado, mas ele fora mais rápido. — Eu vou tomar um banho.
E saiu da cozinha sem esperar a resposta de Taehyung. O rapaz encarou com afinco o caminho que Jeongguk seguira sem olhar para trás, se encostou na bancada e cruzou os braços pensativo, relembrando todos os momentos tentando encontrar algo que tinha acontecido que explicasse o mal humor do mais novo, mas tudo parecia absurdamente normal para Taehyung.
Taehyung terminou de guardar as coisas que Jeongguk tinha deixado no chão da cozinha, e o resto que era guardado em outro lugar, ele pegou nos braços e levou ao quarto de Jeongguk. Quando entrou no cômodo, ouviu o barulho do chuveiro, se ocupou em arrumar os produtos que o amigo tinha comprado em cima da mesa, já estava cheia de maquiagens e produtos de beleza que Jisung tinha comprado para si, agora ele havia comprado mais, como se tivesse pêgo gosto por toda essa coisa de cuidar do próprio corpo.
Ele terminou de arrumar no exato momento que o barulho do chuveiro cessou e minutos depois a 'garota' saiu com uma toalha em volta do corpo e outra sendo usada para secar os cabelos longos e absurdamente pretos.
Jeongguk pareceu surpreso por ver seu hyung no seu quarto, mas tentou ignorar e se sentou na beirada da cama enquanto mexia a toalha nos cabelos tentando seca—los.
— Quer ajuda? — Taehyung perguntou deixando a sacola vazia em cima da cama e se aproximando de Jeongguk. — Cadê o seu secador?
— Queimou... — falou baixo, quando Taehyung ameaçou pegar a toalha de suas mãos para que ele mesmo secasse, Jeongguk se afastou por reflexo. — Tae, eu não estou bravo com você.
— O que? — perguntou confuso, Jeongguk sorriu sem humor.
— Você só age assim quando acha que eu estou bravo e tenta me agradar pra que eu te perdoe. Eu não estou bravo. — "apenas decepcionado, mas comigo mesmo" pensou.
Taehyung deu uma risada desacreditada, puxou a toalha das mãos alheias aparentando irritação e mesmo a contragosto de Jeongguk, ele se encaixou entre as pernas torneadas e começou a secar os fios molhados.
— Eu não faço isso apenas quando você está bravo, eu ajo assim a todo momento, mas você nunca percebe essas coisas.
Jeongguk se calou no mesmo instante, não tendo resposta à altura para refutar, Taehyung estava certo, afinal de contas, ele sempre estava cuidando de si, sempre o tratando como prioridade, mas Jeongguk nunca percebia esses gestos sutis e agora que estava nesse corpo, estava tendo muitos momentos de esclarecimentos.
Em silêncio, Taehyung secava com delicadeza os cabelos de Jeongguk, por um momento ele acreditou que o mais novo tivesse cochilado porque não fazia som algum em todo o processo. Quando terminou, jogou a toalha molhada em cima da cama e antes que Jeongguk pudesse se levantar para terminar de se arrumar, se ajoelhou na sua frente. Jeongguk arregalou os olhos surpreso vendo seu hyung entre suas pernas lhe olhando atentamente.
— Não vai mesmo me dizer o que está errado? — Taehyung perguntou calmamente, olhava para Jeongguk com tanto carinho que o mais novo sentiu-se a pior pessoa do mundo.
Jeongguk abaixou os olhos para seus dedos entrelaçados em cima da perna, ele brincava distraidamente enquanto murmurava:
— Eu só estou confuso com algumas coisas. — Taehyung acenou como se entendesse. Mas Jeongguk sabia que ele não entendia.
— Eu sei que esses dias vem sendo difíceis, mas eu acredito que estamos perto de resolver tudo isso. Você está agindo bem, só aguente mais um pouco.
Jeongguk assentiu sem olha-lo, sua garganta doía, seu peito parecia que iria explodir, ele estava em conflito e por um momento desejou que aquele beijo não tivesse acontecido, provavelmente seus pensamentos não estariam em total bagunça como estava naquele momento. Se ele se permitisse ir mais a fundo nesse pensamento, perceberia que esses problemas já tinham se iniciado bem antes do beijo, mas ele não estava pronto para admitir isso.
Na sua cabeça, tudo aquilo começou a desandar quando começou a relacionar o que Jisung disse sobre seu relacionamento com Yoongi, com o seu próprio relacionamento com Taehyung, mas apenas piorou e virou uma bola de neve quando o beijo aconteceu.
Ele não queria acreditar que estava sentindo medo, não queria se sentir inseguro por pensar que tudo aquilo nunca aconteceria senão tivesse se tornado uma garota. Sua cabeça estava uma bagunça.
Relutante, Jeongguk ergueu o olhar para Taehyung. O mais velho ainda lhe observava em silêncio, suas mãos tinham ido para cima das suas e acariciavam seus dedos delicadamente.
Tão bonito, Taehyung era tão bonito que tirava o fôlego de qualquer um, Jeongguk sempre pensava naquilo. Ele cresceu ao lado do mais velho, viu de camarote o rapaz amadurecer e se tornar aquele garoto atraente e extremamente apaixonante, e agora era esse mesmo garoto que estava fazendo seu coração e mente entrarem em uma briga feia.
— Eu posso tirar um duvida, hyung? — resolveu perguntar, Taehyung franziu a testa, mas assentiu rapidamente.
— Claro.
Respirando fundo e tomando coragem, Jeongguk soltou suas mãos que eram seguradas pelas do mais velho e segurou o rosto alheio, não se permitiu ver a expressão de surpresa de Taehyung, ele simplesmente se curvou com os olhos apertados e beijou o rapaz, se ele estivesse de olhos abertos, poderia ver a pele de Taehyung se tornando escarlate, e os olhos arregalados de surpresa.
Ficou uns segundos assim, apenas prensando os próprios lábios nos dele, esperando o momento que Taehyung se afastaria, mas ele não fez, Jeongguk entendeu aquilo como consentimento então entreabriu os lábios, Taehyung suspirou.
Apenas quando sentiu também os lábios do mais velho se remexem nos seus foi que Jeongguk se tocou que aquilo fora uma péssima ideia, ele esperava que aquilo respondesse algumas questões, mas acabou que o deixou mais eufórico do que resolvido. Taehyung tocou sua cintura e Jeongguk o abraçou pelo pescoço, queria parar o beijo, mas ao mesmo tempo o puxava para mais.
Jeongguk se afastou minimamente e ofegante, encostou a testa na de Taehyung de olhos fechados, o mais velho ficou em silêncio por uns segundos até decidir quebrar o silêncio.
— Sua duvida foi tirada? — sussurrou, Jeongguk soltou um resmungo baixo.
— Ela apenas aumentou.
Por estar de olhos fechados, Jeongguk não viu Taehyung se afastar para lhe olhar, nem mesmo viu quando ele sorriu minimamente e abaixou o olhar para seus lábios. Jeongguk fez aquilo apenas para ter certeza se o que estava sentindo era real ou apenas coisa da sua cabeça, mas o que se confirmou na sua mente foi muito mais assustador. Antes mesmo de pensar um pouco mais sobre isso, Jeongguk sentiu os lábios alheios tocarem os seus novamente e com muito mais desejo que outrora.
Eles não sabiam o que estavam fazendo, não faziam ideia do que aconteceria como consequência daqueles atos, mas no momento não se importavam. Enquanto para Taehyung, era como tocar algodão com os lábios, era como encontrar água no deserto. Para Jeongguk era um aumento em sua insegurança.
Se fosse o Jeongguk ali e não a Jungha, será que Taehyung corresponderia aquele beijo? Provavelmente não.
Jeongguk queria se afastar, parar o beijo e esquecer que tentou aquilo, mas Taehyung agora o segurava pela nuca como se o proibisse de parar o beijo, as línguas se entrelaçavam, salivas se misturavam, Taehyung sugava seu lábio inferior sem pretensão nenhuma de parar e Jeongguk não tinha forças para falar que não queria, porque seria mentira.
Era um contato tão bom e perigoso, Jeongguk percebeu que estavam à beira de perder o controle quando Taehyung se levantou o levando junto, Jeongguk agarrou a camiseta que o mais velho usava quando Taehyung segurou o corpo pequeno contra o seu com tanta vontade que seus pés se desencostaram do chão.
Taehyung queria muito aquilo, Jeongguk podia sentir, os toques firmes, o beijo gostoso que ele lhe dava. Taehyung não parecia se importar com mais nada quando deitou o corpo pequeno no colchão e se deitou por cima sem descolar os lábios, Jeongguk estava tão embriagado que simplesmente lhe agarrou pelos cabelos e levantou uma das pernas quando Taehyung tocou sua coxa, alisando por um caminho perigoso por dentro da toalha.
Quando suas mãos estavam prestes a invadir o pano felpudo, Jeongguk percebeu o quão errado aquilo parecia e segurou o pulso do mais velho, parou o beijo e ofegante encarou os lábios inchados de Taehyung.
— Desculpa. — Taehyung murmurou respirando com dificuldade, ele umedecia os lábios vermelhos a cada segundo, aquilo prendia a atenção de Jeongguk mais do que deveria.
— Tudo bem. — suspirou, seus dedos ainda acariciavam os cabelos de Taehyung, o mais velho não se afastou mesmo o beijo sendo cessado, continuou a lhe fitar com intensidade, como se quisesse urgentemente voltar a beijar Jeongguk. — O que estamos fazendo, Tae?
Taehyung abaixou o olhar para sua mão que ainda segurava a perna alheia, então subiu pelo corpo feminino até chegar aos lábios cheinhos que agora estavam vermelhinhos e inchados. Respirou fundo, apertou os olhos então balançou a cabeça.
— Não sei, eu realmente não sei. — cansado, Taehyung soltou a cabeça em cima de Jeongguk, seu rosto se enterrou no pescoço alheio. — Mas eu não quero parar.
Jeongguk encarava o teto branco do seu quarto inexpressivo, mas quando ouviu a última fala do seu hyung, soltou uma risada sem humor que fez até mesmo Taehyung se mexer em cima de si.
— Droga... — ofegou, soltou mais uma risada soprada, Taehyung levantou a cabeça e o encarou em questionamento. — Eu também não faço ideia do que está acontecendo.
Os dois olhos se encontraram, Jeongguk respirou fundo.
— Devíamos parar por aqui.
— Sim. — Taehyung concordou. — Devíamos.
Embora eles dissessem isso com a boca, os olhos diziam outra coisa bem diferente. Deveriam se levantar da cama para começo de conversa, afastarem os corpos, pararem de misturar os calores. Depois deveriam parar de se olharem como se quisessem fazer completamente ao contrário.
O olhar de Taehyung nos lábios de Jeongguk não era de alguém que estava disposto a parar aquilo que estava acontecendo e o coração batendo descompensado dentro do peito de Jeongguk não era de alguém que pararia qualquer contato íntimo entre seus corpos.
Jeongguk suspirou em desistência, contrastando a todos os seus conflitos internos e as suas palavras anteriores, ele agarrou os ombros do mais velho e o jogou para o lado, o corpo de Taehyung caiu de costas no colchão e sua expressão se tornou absolutamente chocada quando Jeongguk passou a perna pelo seu quadril e se sentou em cima de si. Com as mãos apoiadas no peitoral alheio, Jeongguk falou:
— Está ciente que iremos nos arrepender disso mais tarde? — perguntou, ofegou quando sentiu as mãos grandes de Taehyung agarrarem suas coxas com um sorriso mais confiante do que Jeongguk pensou que viria.
— Fale por você.
"Os papeis se inverteram ou eu estou ficando louco? " Jeongguk pensou com diversão quando sentiu Taehyung lhe puxar para um beijo novamente.
Jeongguk era sempre o que estava disposto a se aventurar, se isso acontecesse em seu próprio corpo, provavelmente seria ele a instigar o mais velho até ter o que queria, mas naquele momento, ele era o receoso, ele era o cuidadoso que tinha certeza que aquilo daria ruim. Taehyung era quem não estava pensado nas consequências, ele estava obcecado por aqueles lábios e não se importava se daria problema mais tarde, ele não se importava se aquilo confundiria os sentimentos de alguém.
Na cama de Jeongguk, os dois ficaram aos beijos, o único som dentro do quarto era dos estalos molhados que os lábios faziam ao se chocar. Não foram mais adiante que isso, mas sentiam que apenas aqueles toques já eram suficientes, por enquanto. Para Taehyung, era suficiente apenas tocar o rosto delicado de Jeongguk enquanto se beijavam lentamente, era suficiente sentir o corpo pequeno em cima do seu. Jeongguk por outro lado, decidiu tratar aquilo como tratava a maioria das coisas na sua vida, aproveitando o momento e não se importando com o futuro.
Jeongguk se esqueceu por um momento de suas inseguranças, porque quando pensava nos pós e contras, embora sentisse medo, não importava que Taehyung estivesse lhe beijando por ser a Jungha, o que importava era que estava acontecendo.
Entretanto, ele também sabia que aquele pensamento era momentâneo e talvez a praga que ele lembra de Taehyung rogar para si uma vez, se torne mais real do que pensa. Ele sentirá muito e se machucar se tornará inevitável
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