Prólogo
Rol Fisher:
Se há muitas coisas das quais me arrependo nesta vida, é de ser quem sou neste momento ou dessas circunstâncias. A esperança, por vezes, revela-se como uma faca de dois gumes em diversos aspectos. Não queria ter nutrido esperança em nenhum acontecimento, muito menos acreditar em algo que se mostra impossível.
Recordo-me de uma vez em que mergulhei nas páginas de um livro, uma narrativa que desvelava a epopeia do mundo sobrenatural e das guerras que assolaram cada espécie submundana, arrasando civilizações e infligindo dor tanto aos submundanos quanto aos mundanos.
Nesse cenário, especialmente para os submundanos, a névoa que encobria o mundo mortal da magia e do oculto criava um véu que os impedia de perceber a destruição causada por seres verdes e vivos, por monstros demoníacos que surgiam para desolar cidades, ou mesmo quando uma pessoa que você conheceu por pouco tempo desapareceu sem deixar rastros. Neste caso, a pessoa em questão era um submundano que sucumbiu em uma guerra ou uma criatura que almejava algo.
Essas guerras são predominantemente travadas por demônios, feéricos, espíritos, e outros seres. E nelas, destacam-se os "jovens soldados" – indivíduos treinados desde a infância, dotados de habilidades especiais que superam em dobro as de qualquer criatura comum. Eles conquistam o respeito de muitos, inclusive da guarda sobrenatural.
Dentro da raça dos lobos, entretanto, apenas Alfas e Ômegas se destacavam como jovens soldados, enquanto os betas eram relegados a uma posição subalterna, considerados capachos. Qualquer pessoa proveniente de uma família militar ou lutadora, desde os primórdios de sua linhagem, sonha em tornar-se um jovem soldado. São reverenciados por todos os submundanos, destacando-se em treinamento corporal, transformação mágica, manejo de venenos letais e até mesmo no reconhecimento de armas encantadas.
Este era o meu sonho, até o momento em que descobri que era um beta. Minha própria família me renegou, tentando eliminar-me sem que ninguém descobrisse. A jornada revela-se mais complexa do que imaginava, com as nuances da traição e as cicatrizes emocionais que carrego desde então.
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Meu nome é Rol Fisher, um lobo beta dotado da habilidade singular de enxergar e manipular a magia antiga conforme minha vontade. Essa dádiva peculiar confere-me uma conexão intrínseca com os mistérios arcanos, permitindo-me explorar um universo de possibilidades além da compreensão comum.
Originário de uma linhagem onde todos são ômegas ou alfas, provenientes de uma tradição profundamente entrelaçada com guerreiros militares. Desde tempos imemoriais, nossa família empenhava-se em treinamentos incessantes, preparando-se para enfrentar possíveis guerras contra nossa alcateia. Essa alcateia, por sua vez, subdividia-se de tal maneira que quase se assemelhava a um território sob a sombra de um imponente castelo. Nesse ambiente, a disciplina e a força eram valores sagrados, moldando meu destino de lobo beta com uma perspectiva única e desafiadora.
A decepção foi avassaladora quando, após séculos de alfas e ômegas em minha linhagem, eu me tornei um lobo beta. Essa reviravolta inesperada resultou na exclusão por parte da minha família, que passou a me tratar como uma aberração da natureza. O peso da rejeição, carregando consigo séculos de tradição e expectativas, tornou-se uma carga emocional que moldou minha jornada de uma forma dolorosamente única.
Tenho uma irmã mais velha, uma alfa neutra, que desfrutou de luxos e privilégios, desde o carrinho dos nossos pais até os mimos dos amigos deles. Nossos pais nutriam a esperança de que ela se casasse com os filhos abastados de seus amigos, buscando consolidar ainda mais o poder da família Fisher e expandir nossos domínios.
No entanto, poucos desses filhos ricos estavam dispostos a se unir a ela em um matrimônio. Rotulavam-na como excessivamente violenta, afastando tanto homens quanto mulheres ômegas, e minha irmã enfrentava dificuldades em encontrar um parceiro adequado. Foi então que meu pai teve uma ideia, utilizando meu segredo mais profundo como moeda de troca.
Ao revelar minha habilidade de controlar a magia antiga dos deuses, todos passaram a desejar me casar com seus filhos. Meu pai vislumbrou um aumento significativo de poder através dessa revelação. Pela primeira vez, ele me olhou com certo orgulho, mas a verdade é que aquilo não estava certo para mim e apenas provocou um sentimento de enjoo profundo.
Ciente de que a qualquer momento meu pai poderia me vender para quem oferecesse o lance mais alto, fui destinado a um casamento arranjado, aprisionado como se fosse um animal enjaulado. Para evitar esse destino, decidi fugir a tempo, escapando das amarras que poderiam restringir minha liberdade e autonomia.
Não almejava essa vida, concedendo poder a uma família que nunca me ofereceu nada para que eu retribuísse. Jamais fui tratado com o respeito que merecia, e a ideia de me submeter a uma existência em que minha liberdade seria trocada por privilégios tornava-se cada vez mais insuportável.
Sem hesitar, fugi de casa, deixando para trás uma realidade que não mais suportava. O conhecimento sobre os humanos, adquirido através dos livros da biblioteca de casa, tornou-se meu refúgio e único passatempo entre aquelas paredes opressivas.
Utilizando esse conhecimento a meu favor, até que iniciei meu trabalho como assistente de um homem milionário chamado Santiago Dawson, que possuía perspicácia sobre o submundo. Logo após me conhecer, ele afirmou que compreendia quem eu era, mas seus olhos não refletiam pavor; em vez disso, brilhavam com uma intensa curiosidade.
Santiago revelou que sua empresa desempenhava um papel crucial ao fornecer alimentação para alguns submundanos, o que aumentou ainda mais minha intriga em relação àquele universo oculto. Ele foi a primeira pessoa a me tratar com carinho e compaixão, algo novo e surpreendente.
Continuei trabalhando para ele em uma cidade grande até que decidimos mudar para uma localidade menor, onde a possibilidade da existência de sobrenaturais tornava-se mais palpável. Essa transição marcava o início de uma nova fase repleta de mistérios e descobertas.
Santiago trouxe-me consigo quando mudamos de cidade, mantendo-me ao seu lado para trabalhar juntos. Sempre que possível, ele me referia como seu filho às pessoas ao nosso redor, reforçando um laço de confiança e intimidade que transcende a relação de empregador e empregado. Consciente de que ele verdadeiramente precisava de mim e da minha ajuda, abracei esse papel sem esperar nada em troca.
Desde o primeiro encontro, Santiago tratou-me como seu filho, e só assumi o papel de assistente após insistir incansavelmente no assunto, revelando minha teimosia em algumas ocasiões. Essa dinâmica estabelecida entre nós refletia não apenas uma relação profissional, mas sim um vínculo afetivo genuíno, baseado em confiança mútua e apoio incondicional.
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Santiago me incentivou a ingressar na faculdade, uma maneira de evitar olhares curiosos dos mundanos, já que, com dezoito anos, eu possuía conhecimentos mais avançados do que muitos que haviam estudado por vários anos em instituições como escolas e faculdades. Embora a maioria dos jovens de minha idade devesse conhecer apenas um terço do que eu sabia, ele sugeriu essa abordagem para não atrair atenção indesejada.
Entre nós, acredito que ele tenha incentivado isso não só para manter as aparências, mas também porque, em uma ocasião, fiz uma observação crítica sobre um contrato de parceria que ele havia elaborado. A expressão que ele fez naquele momento sugeriu que, apesar de meu conhecimento avançado, eu ainda precisava aprender a escolher as palavras certas.
Motivado pela curiosidade e o desejo de fazer amigos, especialmente entre os mundanos, decidi alegremente me inscrever na faculdade da cidade para a qual havíamos nos mudado. Enxergava essa oportunidade não apenas como um meio de aprofundar meus estudos, mas também como uma chance de explorar o mundo dos mundanos e estabelecer conexões além do círculo sobrenatural que havia conhecido até então.
Foi assim que conheci Scott, a pessoa que agora posso chamar de meu melhor amigo com orgulho. Em meio à intensidade das emoções ao ter a oportunidade de fazer meu primeiro amigo humano, transformei-me em lobo diante de seus olhos. A princípio, pensei que tudo estivesse perdido, que Scott surtaria e revelaria meu segredo aos outros alunos da faculdade. No entanto, para minha surpresa, ele aceitou de forma tranquila.
Quem poderia imaginar que existem mundanos capazes de aceitar os submundanos com tamanha naturalidade, sem entrar em pânico? Essa revelação foi um divisor de águas, mostrando que, mesmo no mundo dos humanos, há espaço para aceitação e compreensão além das expectativas convencionais.
Anteriormente, acreditava que Santiago era o único mundano capaz de aceitar e compreender o sobrenatural. No entanto, Scott provou que estava equivocado. Sua receptividade e crença na existência de seres além do mundo humano foram uma revelação surpreendente, ampliando minha visão sobre a aceitação que alguns mundanos são capazes de oferecer ao universo sobrenatural.
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Mesmo em meio às descobertas positivas, nem tudo na vida é um mar de rosas. No mesmo dia em que fiz amizade com Scott, fui atacado por um lobo maior que eu. Em um momento de desespero, meu amigo ficou apreensivo até que duas pessoas apareceram e ofereceram ajuda, utilizando uma flor mágica para me salvar.
Inicialmente, essas pessoas não pediram nada em troca por sua ajuda, o que parecia reconfortante. Contudo, no desenrolar dos acontecimentos, percebi que algo estava errado, revelando que nem sempre as boas intenções vêm sem custos ou consequências.
Carmuel So-jeff, um alfa dominante, foi quem me ajudou, mas cobrou a dívida pelo uso da flor mágica. O preço foi alto: tornar-me seu escravo e receber uma marca de aprisionamento, que força a obediência ao mestre até que o contrato seja desfeito. Para me fazer aceitar essa condição, ele usou Santiago como chantagem, ameaçando revelar que o líder da empresa que ajuda os submundanos é, na verdade, um mundano.
Esse desdobramento revela um lado sombrio e complexo do mundo sobrenatural, onde alianças e dívidas podem cobrar um preço alto, envolvendo até mesmo aqueles que inicialmente parecem aliados confiáveis.
Poucos têm conhecimento de que Santiago é mundano, e aqueles que não sabem nutrem uma intensa aversão aos humanos. Carmuel, ciente dessa verdade, ameaçou revelar o segredo, o que traria problemas sérios para Santiago, pois perderia o apoio de muitos submundanos que investem em sua empresa para melhorar as condições.
Surpreendentemente, nem mesmo Santiago acreditou que Carmuel iria tão longe. A irmã dele, Tri, olhou em sua direção, chamando-o de louco. Isso se deve ao fato de que Santiago ajudou muitos submundanos a sobreviver após batalhas imprevistas. Mesmo diante da resistência, a única maneira de impedir que Carmuel cumprisse a ameaça foi aceitar a marca e tornar-me seu escravo.
Nada do que eu pudesse dizer poderia mudar a situação, pois o acordo feito por Carmuel era a cobrança da ajuda prestada quando fui ferido. No final, ele saiu vitorioso, fazendo-me seu escravo de qualquer maneira.
Mesmo diante dessa situação desafiadora, não cogitei fugir, afinal, Santiago foi meu apoio crucial quando rompi com minha família. Jamais viraria as costas para ele, e mesmo se quisesse, a marca incrustada em minha pele serve como castigo, queimando cada vez que desobedeço ou me afasto do mestre sem permissão.
Apesar de ter perdido minha liberdade momentaneamente, estou determinado a recuperá-la e a salvar a empresa daquele que cuidou de mim. Carmuel vai perceber que está mexendo com o lobo beta errado. Mesmo que seja um jovem soldado, não conquistará meu respeito tão facilmente.
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Gostaram?
Até a próxima😘
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