Capítulo Quarenta e Dois
Rol Fisher:
Após levar Carmuel de volta para seu quarto e garantir que ele estava confortável, me deitei em minha própria cama, deixando-me envolver pelos pensamentos que ecoavam em minha mente. Refleti sobre tudo o que havia acontecido comigo nos últimos dias, tentando dar sentido aos eventos que mudaram minha vida de maneiras inesperadas.
Parecia quase irreal perceber que já haviam se passado quase dois meses desde que cheguei a este lugar. O tempo parecia ter escapado por entre meus dedos, sem que eu sequer percebesse. Claro, havia conversado com Santiago sobre o tempo que passava, mas mesmo assim, as coisas pareciam ter voado em um piscar de olhos.
Enquanto eu me via imerso nessas reflexões, as lembranças dos momentos compartilhados com Carmuel, Santiago e os outros ocupavam um lugar central em meu coração. Cada experiência, cada conversa e cada desafio enfrentado haviam moldado minha jornada de uma maneira única, deixando uma marca indelével em minha alma.
E assim, mergulhado nesses pensamentos, adormeci, permitindo que os sonhos me levassem para longe, para um lugar onde o tempo não tinha poder, e apenas o presente importava.
Enquanto me preparava para enfrentar o dia seguinte, decidi explorar um pouco mais os arredores, deixando-me levar pelos caminhos bem cuidados que se estendiam ao redor da mansão. Foi então que avistei um jardineiro suando enquanto podava as flores do jardim, que já exibiam uma beleza exuberante. Era evidente o esforço dedicado à manutenção daquela área, com quase uma dezena de jardineiros trabalhando em pares para dar forma ao jardim e limpá-lo logo em seguida.
Por ser fim de semana, tudo parecia mais tranquilo do que o normal. Na mansão silenciosa, apenas os meus passos ecoavam pelo ambiente, interrompendo a quietude reinante. Mesmo assim, ainda podia sentir a presença dos fantasmas ao meu redor, algumas vezes os percebendo conversando animadamente ou agindo de maneira peculiar, como se estivessem encenando alguma comédia para uma plateia invisível. A cena era tão sem graça que me vi desviando o olhar, optando por me concentrar em outras coisas.
Com as crianças ocupadas em algum lugar com Santiago e seu namorado, finalmente me vi com um pouco de tempo livre. No entanto, ao invés de aproveitar essa oportunidade para relaxar ou fazer algo produtivo, me vi inundado por uma sensação de inquietude e desconforto. Desde quando eu tinha tanto tempo livre só para mim? A ideia parecia tão estranha que quase me fazia questionar minha própria sanidade.
Tentei ocupar minha mente com diferentes atividades, mas nada parecia satisfatório. O tempo parecia se arrastar lentamente, e a sensação de ansiedade só aumentava a cada minuto que passava. Era como se eu estivesse à beira de um surto, incapaz de encontrar uma saída para essa montanha-russa emocional que estava vivenciando.
Respirei fundo, tentando acalmar os pensamentos tumultuados que me assombravam. Talvez fosse hora de dar uma chance para o desconhecido, para algo que eu nunca havia tentado antes. Talvez, assim, pudesse encontrar um pouco de paz interior e escapar desse turbilhão de emoções que me consumia.
— Rol, até que enfim te encontrei —disse Alana, aparecendo ao meu lado com um ar de urgência. Ela estava ofegante, como se tivesse corrido até ali com pressa. — Eu acho que você precisa ver algo! — continuou ela, me puxando rapidamente alguns metros para trás antes de parar para descansar, apoiando-se na parede.
— O que está acontecendo com você? — perguntei, embora soubesse que não seria necessário ela responder, pois, naquele momento exato, dois homens surgiram alguns metros à nossa frente, carregando malas e sacolas muito bem decoradas. — Leonardo, Klauons já estão indo embora?
Compltei minha pergunta, já antecipando a resposta. A cena diante de nós deixava claro que algo estava acontecendo, e eu estava ansioso para descobrir o que era.
— Isso que eu iria contar para você — disse Alana, entre suspiros, ainda se recuperando do esforço. — Disseram que vão partir imediatamente. — Percebi o desespero em sua voz, e sua preocupação era palpável. — Tri precisa deles mais do que nunca, especialmente com o Carmuel, que ainda não está totalmente recuperado depois de tudo. — Ela continuou, pedindo minha ajuda para convencê-los a ficar um pouco mais.
A urgência em sua voz era evidente, e eu sabia que precisávamos agir rápido se quiséssemos persuadi-los a ficar.
Leonardo olhou na direção dela com ternura.
— A Tri não precisa da nossa ajuda. Minha sobrinha tem você ao lado dela. Tenho total certeza de que eles vão saber o que fazer — Leonardo disse calmamente, seus olhos brilhando na nossa direção. — Precisamos tratar de alguns de nossos assuntos particulares. E lembre-se de que as vias da morte ainda estão em desordem. Temos que discutir isso com os outros e decidir o que fazer, já que os ceifeiros não estão respondendo.
— Mas ela precisa da família para ajudá-la a se tornar uma líder forte, especialmente enquanto o Carmuel ainda se recupera de seus problemas — suplicou Alana, quase em desespero. Segurei seu ombro para impedi-la de se ajoelhar. — Rol, por favor, me ajude com isso.
— O que podemos fazer? Ambos têm suas vidas fora da alcateia e suas próprias responsabilidades. Eles podem ficar, mas a vida longe desse lugar ou os assuntos deles serão deixados de lado por ainda se preocupar com os sobrinhos — falei, sentindo como se tivesse jogado Alana de um penhasco com minhas palavras.
Ela me encarou, os olhos carregados de desapontamento e preocupação. Uma discussão acalorada se seguiu, onde Alana argumentava que eu deveria priorizar mais o auxílio à alcateia do que apenas estender a mão para Carmuel. Suas palavras ecoavam em meus ouvidos, tocando em pontos sensíveis que eu preferia ignorar. A culpa se misturava com a frustração, enquanto eu lutava para encontrar uma resposta satisfatória para aquela situação desafiadora.
— Chega, vocês dois — interveio Leonardo, trazendo um tom de autoridade para a conversa. — Alana, a Tri tem você para ajudá-la com esses assuntos. Ela não precisa de nós para resolver todos os problemas políticos que surgirem. Você foi amiga dela, sua parceira, e pode cuidar de tudo. E quanto a Carmuel, ele tem o Rol para ajudá-lo em sua recuperação, e está sendo muito útil quando você ou a Tri precisam. — Para minha surpresa, Leonardo colocou suas mãos em cima de nossas cabeças, bagunçando nossos cabelos com um gesto carinhoso. — A Tri e o Carmuel têm vocês dois para ajudar. Me digam, quando foi que a Tri nos chamou para ajudar em algo nos últimos dias? Se me lembro bem, foi só no primeiro dia.
Suas palavras ecoaram em nossos pensamentos, trazendo uma nova perspectiva para a situação. Era verdade que tanto Alana quanto eu havíamos assumido um papel ativo em ajudar Tri e Carmuel, mesmo sem sermos convocados oficialmente. Era hora de confiar em suas habilidades e nos afastarmos um pouco, permitindo que eles encontrassem seu próprio caminho.
Alana ponderou por um momento, refletindo sobre as palavras de Leonardo. Então, lentamente, ela assentiu, concordando com sua avaliação. Um sorriso suave iluminou os lábios de Leonardo, satisfeito ao ver que suas palavras haviam sido compreendidas e aceitas.
— Podem confiar quando digo que vão ficar bem — disse Leonardo, afastando-se. Em um giro de seus dedos, um portal surgiu a poucos centímetros dele. — Podem escrever para que saibamos o que está acontecendo com nossos sobrinhos e, principalmente, com vocês.
Klauons atravessou o portal, dando um aceno de cabeça para nós antes de desaparecer.
— Não estou nada bem em relação a isso, mas acho que teremos que aceitar — disse Alana soltando um suspiro, e eu a abracei de lado.
— Estou aqui para ajudar também, pode confiar que iremos nos sair muito bem — falei, sorrindo amplamente.
— Se cuidem, minhas crianças — disse Leonardo, pegando as malas e passando pelo portal. — Até!
O portal se fechou, e percebemos que as coisas estavam realmente sérias em relação a tudo.
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Eu estava lendo um livro na biblioteca particular de Santiago quando Carmuel me encontrou, segurando um buquê de lírios brancos. Não havia como saber se ele realmente os preparara com antecedência ou se alguém o ajudou.
Ao olhar por cima do ombro dele, vi Santiago e as crianças rindo para nós. Assim que nos avistaram, saíram correndo para longe, espalhando risadas pelo corredor.
— Oh meu Deus! Como você sabia que essas flores tão lindas e frescas são as que mais amo? — falei, sorrindo para ele. — Obrigado. Santiago, vá rapidamente e leve essas flores para o meu quarto.
— Sim, posso fazer isso! — respondeu ele, pegando o buquê da minha mão e se virando para chamar as crianças para ir com ele.
Santiago e eu tivemos que aprender várias vezes sobre esse assunto, e lidar com muito cuidado com as flores que recebíamos das crianças para não magoar ninguém.
Olhei para Carmuel. Ao contrário dele, que estava bem vestido da cabeça aos pés, eu usava roupas caseiras muito simples e os cabelos levemente desgrenhados.
— Isso foi tudo esquematizado pelo Santiago, não é? — falei, e Carmuel sorriu sem graça. Eu não queria enfrentá-lo com aquelas roupas cafonas.
— Eu caí na armadilha dele e das crianças sem nem perceber — Carmuel murmurou.
Eu havia esquecido de piscar, os olhos surpresos fixos nele. Lentamente, virei a cabeça para desviar da sua ação repentina quando ele segurou minha mão com delicadeza.
Meu coração disparou. Estava tão acostumado com o jeito de Carmuel, e agora que ele havia mudado para alguém doce e gentil, antes estava olhando diretamente para mim e não fazia nenhum gesto, agora estava fazendo exatamente isso. Ele convidou-me a sentar ao seu lado neste momento.
Não conseguia nem limpar o suor das mãos para receber o olhar dele. Então, recuperei minha compostura e cumprimentei-o com extrema educação. Embora a distância entre nós não fosse muito significativa, ainda era estranho vê-lo sendo gentil comigo.
Ele também parecia voltar a si, como se tivesse saído de algum tipo de transe. Havia cautela em suas ações, especialmente em relação às minhas. E eu o entendia perfeitamente.
— Eu só havia pedido uma ideia para fazer algo romântico, e acabei pedindo para que me dissesse quais eram as suas flores favoritas. Aproveitei que conheço alguns feitiços, e com minha magia de volta, as criei para te presentear. — Ele disse, finalmente se sentando ao meu lado com um sorriso simples e olhos brilhantes. — Me diga o que achou da minha ideia de te conquistar? Seja sincero.
— Foi bastante doce da sua parte me dar flores. Mas talvez devesse ter pensado em algo que o Santiago e as crianças não pudessem enganar — Falei, soltando uma risada. Ele me olhou em choque, como se não acreditasse nas minhas palavras. — Mas devo dizer que foi realmente fofo.
— Também preparei uma comida apetitosa. Há muitos vegetais que você pode gostar, então poderá apreciá-los. — Ele disse, sorrindo. — Se arrume e poderá desfrutar da deliciosa comida que fiz.
Curioso, levantei-me e fui direto para o quarto, arrumando o cabelo e trocando de roupa. Com um perfume refrescante de aroma de sabonete nos cabelos, dirigi-me ao local onde Carmuel pediu que o encontrasse.
Quando ele me viu entrar, seu rosto ficou completamente abobado e ele segurou o garfo congelado na frente da boca.
— Desculpa pelo atraso, precisei escolher a roupa certa. —Falei, sentando-me ao lado dele enquanto ele ainda me analisava. Ele largou o garfo no chão sem perceber, parecendo uma estátua.
— Oh, meus Deuses! Acho que você está ainda mais bonito do que nunca te vi antes. — Ele disse, e minhas bochechas esquentaram instantaneamente.
Peguei um prato que continha uma salada polvilhada com molho azedo.
— Você fez isso? — Perguntei, surpreso, e Carmuel assentiu.
— Eu realmente sei cozinho um pouco. Tenho que saber o básico para sobreviver — Ele disse, e dessa vez eu ri.
Um sorriso involuntariamente se espalhou pelo meu rosto, encantado com o jeito de Carmuel. Era difícil não se sentir cativado por ele naquele momento.
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Gostaram?
Até a próxima 😘
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