Carmuel So-jeff:

— Realmente, é verdade, os líderes da alcateia So-jeff sempre vão enlouquecer com a maldição da joia — minha irmã disse enquanto saía e bateu a porta com força.

Tento me equilibrar novamente e olho para a janela do meu escritório. Consigo ver o brilho mágico da joia So-jeff, que se une ao do sol ao longe da cidade, formando uma mistura encantadora. Me aproximo do vidro e, fechando os olhos, lembro da história que meu pai e mãe me contaram quando comecei meu treinamento para ser o líder da alcateia. Foi então que tive idade suficiente para conhecer o maior segredo que apenas nossa família deveria guardar.

A história da joia So-jeff era uma narrativa que ecoava desde os primórdios da alcateia, um conto passado de geração em geração. Enquanto eu permanecia diante da janela, as lembranças fluíam como uma correnteza, transportando-me para um passado distante.

A joia era mais do que uma simples pedra preciosa; ela possuía uma magia ancestral e um poder que conectava cada membro da alcateia So-jeff. Na história, minha família foi abençoada pela própria deusa das alcateias, que concedeu essa joia única como um símbolo de unidade e força.

No entanto, a benção vinha com um fardo. A joia também carregava uma maldição, uma que afligia os líderes da alcateia, tornando-os vulneráveis à insanidade com o tempo. Era um preço a ser pago pela magia extraordinária que a joia proporcionava.

Eu, como líder atual, era confrontado com a dualidade de um presente cheio de responsabilidades e um passado cheio de segredos obscuros. Me deixei vagar para as minha memórias do passado que era tão distante.

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— Quando a joia sentir que já chegou o seu momento de ser o líder, ela o desafia para mostrar que é digno de seu poder — meu pai disse sério, colocando a mão em meu ombro. Sua aparência já estava se deteriorando cada vez mais, a loucura quase dominava sua mente. Foi um dos últimos dias que tive com ele antes dele se afastar de uma vez por todas, e minha mãe teve que assumir o papel dele, se trancando para nos proteger.

Depois que ele se afastou, minha mãe surgiu e me encarou com os olhos calmos e doloridos. Sentou-se na minha cama, pegando minha mão. Seus olhos estavam carregados de dor, mas ela fazia o possível para disfarçar sempre que estava perto da minha irmã ou de mim. Eu conseguia enxergar através disso, mesmo antes dela fazer a melhor expressão para esconder que algo estava errado.

— Ele contou, não foi? — Ela perguntou e assenti. — Mas há algo que você não sabe sobre a joia e a maldição que ela tem. Há muitos anos atrás, com o primeiro líder da alcateia, a deusa da magia Ísis o presenteou com uma joia que escolheu aqueles que são merecedores de seu poder. Com uma maravilhosa força, a alcateia cresceu em fertilidade e magia, em uma grande oportunidade que ninguém nunca pensou ser possível. — Suspirou e passou a mão nos meus cabelos. — Após a morte do Primeiro líder e o início do comando do seu primogênito, no ritual em que o novo líder da alcateia recebe a benção da joia, a mesma lançou uma maldição. Cada um que estava na frente dos So-jeff acaba enlouquecendo até se perderem para a loucura por completo, tornando-se cada vez mais bestas sanguinárias do que seres racionais.

— Cada um dos líderes do passado se perdeu graças à loucura, até serem mortos ou matarem todos que estiveram à sua frente, como se fossem movidos por esse instinto feroz e sem nenhuma piedade — minha mãe continuou. — Ninguém sabe o porquê disso acontecer. Tentaram pedir ajuda a Ísis, mas ela nunca respondeu e só dizia que nossa alcateia traiu a confiança que ela depositou. No dia em que foi concedido ao seu pai o título de líder, uma profecia foi dita pela deusa Luna, a contragosto de Ísis. Me lembro bem das palavras!

Olhei atentamente para ela, esperando ouvir a profecia que moldaria o destino da alcateia So-jeff.

— Num futuro próximo, a alcateia passará por uma crise, Rímel So-jeff. Só se lembre de uma coisa. Não importa o que aconteça, você cairá na maldição da joia e enlouquecerá, e o mesmo destino terá seu primogênito. Ambos mataram várias vidas dentro e fora da alcateia, e no final, um deverá matar o outro — minha mãe murmurou cada palavra, mas tinha um olhar distante. — Em um futuro próximo, um rapaz surgirá e se tornará o salvador da alcateia, capaz de mudar tudo. Uma vez que ele conquistar a devoção de cada pessoa na alcateia, terá a habilidade de alterar os acontecimentos passados e corrigir tudo o que ocorreu durante séculos. Ele trará grandeza para os So-jeff, que foram amaldiçoados por serem loucos por completo e a cada segundo perder sua capacidade de raciocinio . As pessoas irão se referir a ele como 'o salvador dos So-jeff'.

— E o salvador chegou? — Perguntei, na ingenuidade de alguém que sempre acreditou no que os deuses diziam. Minha mãe suspirou e me olhou carinhosamente.

— Ainda não, mas quando ele chegar, me prometa que será amável com ele e demonstrará sua compaixão - Minha mãe disse docemente. — Você deve ver tudo como é, nunca deixe o rancor tomar seu coração. Não se torne o que seu pai e eu somos, nunca deixe sua escuridão ser maior que a bondade em seu coração.

Ela beijou minha testa.

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Naquele dia, prometi a ela que iria lutar contra a maldição da joia, mas não resolveu nada. Os efeitos aconteceram, e no final, nem mesmo a promessa de nunca deixar minha escuridão ganhar eu mantive.

Suspirei, afastando-me da janela, mas antes que pudesse me sentar, uma dor aguda me invadiu, tão intensa que meu corpo travou no lugar. Levantei rapidamente a manga da camisa e vi as veias se tornarem roxas e elétricas.

— Não, agora não — murmurei para mim mesmo.

Virei-me, e a dor latente me invadiu, ouvindo os sussurros das pessoas que matei, dos líderes passados querendo minha alma e dizendo para desistir de viver. Caí no chão, sentindo todo meu corpo tremer. Então, a pior voz veio até mim.

Estava vendo ele ao meu lado dizendo para desistir de tudo e se entregar, ele disse isso pegando meu queixo e dando um sorriso.

A joia desejava minha vida e me chamava de falso líder, dizendo que esse é o castigo daqueles que não são líderes de verdade. Tentei me levantar, mas foi em vão; meu corpo começou a ficar mais dolorido até que as veias roxas chegaram até minha mão. Sem mais nada, desmaiei antes de gritar pela dor.

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Quando recuperei a consciência, meu corpo estava de volta ao normal. As veias roxas tinham desaparecido, mas a lembrança da sensação delas queimando cada músculo e nervo do meu corpo permanecia, como se tivesse sido marcado por um fogo interno que ainda ardia em minhas memórias.

Percebi que estava de volta ao meu quarto, e a noite já havia caído.

— Ele vai ficar bem? — Ouvi uma voz perguntar na porta, e Tri se apoiava no batente, impedindo a visão do outro lado.

— Claro que ele vai — Tri respondeu com voz calma. — Não se preocupe, senhora Railane.

Perdi-me em pensamentos ao ouvir o nome da governanta e cozinheira desta casa, que sempre fiz o possível para evitar que me visse ou que não tivéssemos muito contato. Tri fechou a porta e veio até meu encontro, sentando-se numa cadeira ao lado da cama.

— Sei que está acordado — Tri disse, mas não respondi. — Então, há quanto tempo você está sem que a poção esteja fazendo efeito?

Essa poção que a Tri havia criado para retardar um pouco a maldição da joia geralmente fazia com que ela não se manifestasse durante dias, mas era para ter esse efeito até um certo tempo atrás.

— Há três meses! — Falei seco, e Tri assentiu.

— Então, você estava sofrendo disso escondido nos últimos meses e não me contou —Tri disse irritada. — Se tivesse feito isso, com certeza eu poderia tentar preparar outra poção mais forte. Carmuel, você quase morreu, seu coração estava parando...

Fechei os olhos e a cortei bruscamente.

— Como você sabe, há uma idade limite para os líderes viverem como loucos... — Comecei, e minha irmã me cortou.

— Sei que não quer fazer o mesmo que no passado — Tri disse. — Mas está lutando cada vez mais contra isso, e usar a poção está piorando os efeitos que seu corpo pode aguentar. Parece que a própria maldição se adaptou e se modificou para fazer você pagar por tentar trapacear contra ela.

Não respondi, sabendo que era verdade. A maldição estava me castigando por tentar burlar as regras da jóia e ir contra o que sempre teve em minha família.

— O que queria que fizesse, esperasse esse Salvador? Ele não vai vir, aprendi isso a oito anos atrás e sabe qual é a pior parte disso tudo? Eu sou o único que essa maldição veio cedo antes do previsto — falei e soltei um rosnado. — Pelo que você sabe, os deuses só querem brincar conosco. Se divertindo e rindo das desgraças de nossas vidas. Esse Salvador pode ser uma mentira, Talvez seja o Rol ou não, mas quem liga.

Estava tão cansado de toda essa merda que tenho que aturar nos últimos que já estou frustrado. Quero apenas desistir.

— Carmuel, não diga isso... — Tri disse como a espécie de um aviso.

— Chega disso, me diga onde estavam os deuses quando nosso pai surtou por completo e matou milhares de pessoas da alcateia? Onde eles estavam quando nosso pai matou meu ômega, que era o mais devoto aos deuses? Onde estavam quando me fizeram enlouquecer e matar inúmeras vidas, eu era a bosta de um adolescente — Falei irado. — Onde esses desgraçados estavam quando nosso pai e os betas que o seguiam mataram Valmir Railane?

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Até a próxima 😘